É sempre um assombro quando algum de nós, portugueses, alcança reconhecimento internacional pela excelência do produto do seu trabalho. Ficamos em êxtase e sonhamos, mais uma vez, com a nossa missão messiânica no mundo: provar aos grandes e aos poderosos que os pequenos, mas imaginativos portugas, podem fazer tão bem ou melhor que eles, com muito menores recursos.
Menores recursos? Engano! É precisamente aí que nos descosemos em admiração pelos nossos. Nós temos o maior de todos os recursos: nós temos o desenrascanço que é coisa que a maioria dos povos não imagina sequer o que possa ser e nem tem palavra que sintetize o conceito.
Como pôde Portugal pretender descobrir o mundo e fazê-lo? Como pôde o povo português conquistar territórios nos 5 continentes e mantê-los durante séculos? Como pode Portugal existir há oito séculos sem ter desaparecido do mapa, engolido por Espanha ou pelo Oceano Atlântico? Como puderam os nossos cineastas arrancar dois prémios no Festival de Cinema de Berlim?
Estes feitos, tão afastados no tempo quanto no campo de acção, têm em comum o bom velho espírito do desenrasca que nos obriga a inventar todas as coisas, até as mais simples, como se elas não existissem e ninguém soubesse o que elas são. Como se apenas nós tivessemos o dom (oferecido por Deus) de compreender o mundo e o dizer, como se a nossa língua nos fornecesse a visão do mundo tal qual ele é e o inglês ou o alemão nada mais fossem que linguajares corriqueiros, bons apenas para fazer leis e fechar negócios.
Parabéns aos nossos jovens cineastas João Salaviza e Miguel Gomes. Parabéns.
Parabéns a nós próprios, por sermos suficiente estúpidos para continuarmos a ser o que somos.
6 comentários:
Concordo. (muitas letrinhas a dificultar o comentário).
PARABÉNS!!!!!!!
vibrei com os prêmios, agora quero ver Rafa.
madoka
Desenrascados somos, mas muito inconsequentes.
Não será por falta de rigor e persistência nos projetos e por falta de paciência para discutir com os parceiros, para afinar o que se planeou? Eu acho que é por aqui que rebentam as coisas. Quando surgem contrariedades as pessoas emudecem e vão desaparecendo aos poucos, deixando cair cumplicidades.
Pelo que me é dado ver, as pessoas confundem individualidade com individualismo. A primeira é fundamental, o segundo deve ser disciplinado. Por cá, a vontade de afirmação é muito superior às oportunidades para o fazer, o que acaba por corromper os esforços para desenvolver iniciativas. Ao fim de algum tempo as pessoas divergem e, frequentemente, preferem afastar-se a dar luta para se alcançar um patamar superior de atuação e de entendimento. Rigidez na visão do cumprimento de espetativas!
Dá trabalho e é preciso paciência (e ambição e visão)
É ser aquilo que o atual governo não é!
Não só descobriu como foi ao sexo em todos os continentes.
Sem preconceito e com muita vontade, o português foi o povo que mais maiscigenou pelo mundo.
Além dessa língua maravilhosa, herdamos de vcs (graças aos deuses!), entre outras coisas a capacidade de desenrascar-se; é preciso coragem e criatividade pra isso. Atributos que povos com "linguajares corriqueiros" e que só fazem leis, negócios, planos e cagadas,
não conseguem sequer imaginar.
Meus Parabéns!!!
(aiaiai... tb aqui as malfadadas letrinhas.)
Jorge, vivemos num belo jardinzinho (acho que as letrinhas já lá não estão a complicar...)
Eduardo, quando algum português ganha um prémio deste género é uma agitação tremenda. Ficamos comovidos mas, depois, logo volta a velha invejazinha. Nada de mais.
Também fiquei muito curioso com esse "Rafa". E quanto ao outro filme "Tabu" então nem sei que lhe diga. Venceu o prémio destinado ao filme que mais se distingue em termos de inovação e criatividade... o que poderá isto significar?
Luis M, deixa correr as águas que hão-de ir ter ao mar.
:-)
Se não forem... bebe um copo!
:-D
Li, dizem por aqui que Deus criou o homem e a mulher e os portugueses criaram os mulatos. Bela criação, digo eu!
(as letrinhas foram enviadas para Catmandu ou Bombaim, não sei bem, mas acho que já não estão por aí:-)
Enviar um comentário