Leio no jornal que Madoff (sim, esse Madoff, haverá outro?) diz que é mais feliz na prisão. O exemplo fica mais claro com a transcrição da coisa: " Bernard Madoff, responsável por uma fraude que superou os 50 mil milhões de dólares, afirma que é mais feliz na prisão do que quando estava livre, porque não vive no receio permanente de ser preso. À jornalista Barbara Walters, Madoff confessou que chegou a pensar em sucicídio, mas recuperou a coragem e abandonou a ideia". Diz lá tu, caríssimo leitor, se não é isto uma coisa bonita!? Bonita de se dizer mas, mais linda ainda, bonita de se poder pensar. É ou não é?
Ler este excertozinho deixou-me próximo de um nirvana qualquer, nem sei bem qual (há diferentes nirvanas? O que é "O" nirvana?), comoveu-me mesmo. E comoveu-me porque as palavras de Madoff me permitiram compreender melhor uns seres que, até aqui, me estavam interditos em termos de compreensão. Para nos podermos sentir mais próximos de um animal nada melhor que outro animal que nos permita encetar essa extraordinária tentativa de aproximação entre espécies. Penso que agora compreendo melhor a passarada que, estando fechada na gaiola, salta, dança e ainda canta ou simplesmente chilreia alegremente, enchendo-me a imaginação de coisinhas indecifráveis mas quase boas e quase, quase bonitas.
Madoff explica-nos, na singeleza do seu pensamento retorcido, como é ser-se um bípede saltitante dentro do espaço reduzido de uma gaiola. Mas sentimos como é sê-lo alegremente, à semelhança de qualquer periquito que, apesar de ser difícil de compreender através da observação directa da sua fisionomia, nos parece um passarito suficientemente feliz e coiso e tal.
Sinto-me apaziguado. Meter bichos dentro de gaiolas não é, afinal de contas, uma atitude tão cruel quanto eu pensava.
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