domingo, dezembro 18, 2005

O deserto


Tenho andado a matutar nesta coisa da arte ser para todos ou nem por isso.

Se é preciso frequentar as belas-artes para não nos sentirmos como bovinos numa saleta em Serralves vou ali, já venho.

Afinal de contas de contas haverá algum fundo de verdade na percepção de Leonel Moura sobre a possibilidade uma arte sem artista, realizada pelos seus robôs pintores (na imagem uma observadora parece esmagada pela evidência do objecto de arte), ou aquilo é mais ou menos como a história das pulgas acrobatas?

O estucador é um artista? O marceneiro? O artista conceptual? Onde começa e onde acaba a fronteira desta coisa? Um retábulo na parede do museu é mais empolgante que um golo do Sporting no écran plano pendurado na parede da tasca da esquina? Ainda haverá quem se preocupe verdadeiramente com esta treta?

Desde que a arte deixou de se debruçar sobre narrativas comuns e se deixou cair no interior do artista, passando a "ilustrar" a sua interioridade, a sua interpretação particular, a sua percepção, a intuição, etc., começou a travessia do deserto. A arte perde-se demasiadas vezes no mais tenebroso deserto, o deserto das ideias e germina uma estranha floresta de poses mais ou menos fotogénicas.

Não sei se tudo começou no Romantismo, se no Simbolismo, não sei sequer se alguma vez começou ou se terá, até, acabado entretanto. O que sei é que, no deserto, a arte se transformou em algo menos claro, mais místico e críptico. No entanto as dúvidas permanecem.

Não foi sempre assim? Alguma vez a arte deixou de ser elitista? Alguma vez foi verdadeiramente popular? Quando? Em que época?
Alguma vez esteve fora do deserto?

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