Vindo de um painel de debate futebolístico, habituado à berraria e à canelada verbal, isentado da apresentação de argumentos válidos e verdadeiros, Ventura irrompeu com grande panache nos palcos mediáticos da política portuguesa.
À imagem dos seus ídolos, Trump e Bolsonaro, trouxe o estilo arruaceiro, o insulto, a mentira e a meia-palavra, a falta de escrúpulos, a provocação repulsiva, enfim, tudo aquilo que muita gente acredita ser a essência do ser humano, se bem que na sua versão animalesca. E a coisa pega, a coisa faz sentido, mostrando-nos a verdadeira imagem da nossa sociedade. Ventura é o reflexo no espelho de um país que não é racista, nem misógino, nem fascista, um país que odeia vigaristas.
Olhamos para o mundo todo e vemos muitos líderes como este, gente que põe a pátria acima de tudo e deus acima de todos, como se cada povo fosse uma claque de futebol embrutecida e pronta a ser orientada no ódio absoluto ao outro, ao adversário. Alguém lucra com isto.
Portugal entrou neste clube de povos ansiosos por derrotar e humilhar aqueles que não são humildes como nós, que não são crentes como nós, que não clarinhos de pele nem possuidores de sentimentos puros, que não são gente de bem. Se isto não fosse preocupante seria apenas motivo de escárnio. As classes sociais irmanam-se num único e grandioso objectivo: manter a pureza histórica da nação valente, glorificar a pátria imortal e os seus símbolos, ajoelhar, rezar e acreditar. Berra-se A Portuguesa em todo o lado como se fosse hino de estádio de futebol.
Entramos na era da luta de claques.