Para onde vai o Tempo que perdemos? Imagino que para o mesmo lugar onde desaparecem as peúgas que, levando sumiço, nunca mais voltamos a encontrar. Há mistérios assim, mistérios desconcertantes (como é apanágio dos mistérios) que, sendo arrepiantes, não põem em causa a nossa segurança nem as nossas vidas.
Do mesmo modo que sou incapaz de imaginar onde cai o Tempo perdido não consigo compreender o que acontece com o Tempo que ganhamos. Se há Tempo que se ganha deveria poder ser acrescentado ao Tempo que vivemos! Mas não estou a ver que possa viver mais Tempo sempre que evito uma fila de trânsito ou consigo esquivar-me a cumprir um qualquer trabalho de merda.
Talvez o Tempo não se ganhe nem se perca, talvez o Tempo seja apenas ajustável, talvez seja plástico, moldável dentro de certos limites. Isso faria de nós artistas inesperados, modeladores de Tempo ao longo das nossas vidas. A ser assim, pronto, poderíamos finalmente afirmá-lo sem que nos tremesse a voz: SOMOS TODOS ARTISTAS!
No fim acabamos por morrer.