O governo francês proíbe o uso da abaya nas escolas. O governo iraniano vai usar a Inteligência Artificial para detectar e punir mulheres que não usem o véu islâmico. Em ambos os casos assistimos a situações nas quais homens que detêm o poder criam regras para reprimir as mulheres que habitam nas suas zonas de influência. Uns em nome da laicidade do estado, outros em nome da lei religiosa, inventam regras e definem castigos dirigidos exclusivamente às mulheres. Seja em nome de Deus ou da República tudo isto é repulsivo.
A repressão machista é como uma Internacional, ultrapassa fronteiras e encontra expressão adequada em diferentes contextos civilizacionais. Esta Internacional do Macho congrega vontades independentemente do credo religioso e da organização política. Diferentes nos seus fundamentos, regimes democráticos, teocráticos e autocráticos parecem ter em comum essa estranha capacidade de pôr homens (normalmente) velhos ou envelhecidos a decidir o que as mulheres de todas as idades devem ou não fazer bem como aquilo a que podem ou não aspirar.
Seja onde e quando for, o machismo encontra sempre forma de manifestar o seu poder, dominando e moldando este Mundo e o outro. Vivemos num mundo macho e, depois de mortos, habitaremos um outro.
carta enviada ao director do jornal Público