Perante o descalabro da situação no Afeganistão muitos analistas concluem que os valores civilizacionais não se impõem pela força. Mas que merda de conclusão. Quantas guerras inúteis foram necessárias para lá chegarem?
Ao longo dos anos tenho escrito aqui, no 100 Cabeças, sobre várias guerras promovidas pelos EUA com a anuência dos "aliados" ocidentais. Todas essas guerras foram motivadas por cobiça, ganância ou, não sei se pior um pouco, motivadas por uma boçalidade a toda a prova, fruto de uma ignorância sobranceira que, entretanto, se foi tornando uma maneira de estar dos poderosos (com Trump a representar o seu ápice).
Acreditar que a invasão do Iraque se deveu a motivos relacionados com direito internacional é o mesmo que acreditar que os Descobrimentos foram levados a cabo por um impulso civilizacional. Não, apesar dos séculos que medeiam estes acontecimentos, ambas as aventuras tiveram motivações essencialmente económicas. As questões religiosas ou políticas surgem por acréscimo, resultando inevitáveis na sequência da agressão. São mundos diferentes que entram em rota de colisão e depois... logo se vê.
O que pretendemos nós, ocidentais, exportar para países tão diferentes dos nossos como o Iraque ou o Afeganistão? Levamos num bolso os Direitos Humanos e no outro resmas de contratos manhosos nas mais diversas áreas da actividade económica. Primeiro arrasamos e depois reconstruímos passando a factura aos derrotados que contratam as nossas empresas para levarem a cabo a tão ansiada reconstrução.
Apostamos neste carrossel macabro de morte, destruição e dinheiro. Tentamos tirar-lhes o seu Deus e substituí-lo pelo nosso: o dólar todo-poderoso. Por que razão obscura haveriam os povos de caírem alegremente nesta armadilha fajuta?
Parece estúpido (e é) que haja quem só agora conclua que, se calhar, andamos há séculos a fazer merda da grossa por esse mundo fora. Que o nosso modelo de sociedade e as nossas guerras contribuem para a degradação das condições de vida da Humanidade, que os nossos valores não vingam em todo o mundo, que nunca seremos capazes de viver num planeta onde todos os povos tenham uma perspectiva de vida unificada e justa, segundo os nossos parâmetros. Se nem sequer conseguimos isso dentro das nossas fronteiras...