O mundo virado de pernas para o ar é uma coisa confusa de ser vista. Se porventura já duvidávamos do lugar ocupado pelo nosso corpo em cima do planeta, alterar hábitos e distrair costumes faz dos dias máquinas de lavar minutos, cada hora uma centrifugadora da alma. Nunca gostei de lançar as ideias na vertigem da montanha russa: abrir os olhos aterroriza, fechá-los agonia; os sentidos sempre a tremerem. Para um burguês acomodado, como eu sou, a alteração das rotinas é um purgante que se toma apenas como último recurso.
É assim que se alinham os dias próximos que haverei de viver. Obras em casa, mudança para habitação emprestada, sem os meus livros nem o meu atelier, sem os meus papéis, os meus pincéis, os meus pastéis nem as minhas canetas, sem os meus lápis nem as minhas telas. As coisas que temos por nossas fazem-nos falta mesmo que as não utilizemos todos os santos dias? Até que ponto nos tornamos escravos daquilo que possuímos? São os objectos que me pertencem ou acontecerá o contrário?
Lá se enfileira mais uma coluna de perguntas de merda, como se fossem soldados a marchar entediados para combaterem na minha patética guerra contra o mundo. A verdade é que faço esta luta sozinho, esta guerra que declarei por mero fastio.