As viagens
de finalistas ao sul de Espanha funcionam como uma espécie de ritual contemporâneo
de passagem à idade adulta da juventude lusitana. Tal como noutras épocas e
noutras culturas, os nossos jovens são colocados à prova numa situação em que,
muitos deles, estão pela primeira vez entregues a si próprios, longe do ambiente
familiar, confrontados com a sua capacidade de responder a preceito a questões
desafiantes. Talvez aquilo a que vamos assistindo nestas viagens, ano após ano,
seja um reflexo da sociedade que construímos. O excesso, a boçalidade, a
ausência de espírito crítico, a vontade de explodir, de ultrapassar os limites,
sejamos justos, não são exclusivos desta geração, sempre fizeram parte da condição
da adolescência. Apenas têm crescido de intensidade.
Desde que se
tornaram um alvo para as campanhas publicitárias que excitam a vontade de
consumir, os jovens são bombardeados com mensagens cada vez mais excessivas. O apelo
à plenitude absoluta do prazer, a associação do prazer a situações extremas,
são factores corriqueiros no quotidiano mediático, há uma idolatria da loucura
que potencia comportamentos esquizoides. A coisa vai-se entranhando num
crescendo ansioso, as expectativas da viagem de finalistas vão sendo colocadas
em patamares altíssimos, a necessidade de viver tudo o que ainda não foi vivido
no curto período de uma semana faz com que os filtros sociais sejam desligados;
aqueles dias têm de valer a pena, têm de ser experienciados como se não
houvesse amanhã!
Depois há a
amplificação mediática (outra característica do tempo actual) e as notícias são
marteladas em ritmo de hip-hop, a toda a hora, uma e outra vez, com especial
ênfase na espectacularidade alarmista. Os meios de comunicação comportam-se
como aqueles jovens: pintam manchetes com frases bombásticas, atiram os factos
para dentro de serviços noticiosos que os mastigam como se fossem chiclete,
todos os jornais se transformam em correios da manhã. Dentro de alguns dias
tudo será esquecido, outros escândalos irão ocupar o espaço mediático, os
jovens regressarão à vida académica, agora pressionados pela aproximação dos
exames nacionais. Se tudo tiver corrido bem, as memórias destes dias loucos
irão contribuir para que se entreguem com maior afinco ao estudo. Afinal de
contas agora são adultos, já cumpriram o ritual.