Her (uma História de Amor, na versão portuguesa) é um filme que nos coloca perante uma estranha história de paixão assolapada.
A acção evolui num ambiente moderadamente futurista onde as calças dos homens são demasiado subidas na cintura e a maioria anda de mala a tiracolo pelas ruas da cidade. É um mundo tecnológico e os computadores rondam o interior das cabeças das personagens.
A narrativa desenrola-se num tom melancólico, oscilando entre momentos de comédia e momentos de alguma tensão dramática. Joaquin Phoenix tem um desempenho excelente, como é seu hábito, Amy Adams e a voz de Scarlett Johansson cumprem os respectivos papéis com brilhantismo. Banda sonora a preceito e realização impecável de Spike Jonzee. Deve dar para perceber que gostei bastante do filme.
A história é de amor, como o subtítulo em português sublinha a traço grosso, um amor improvável entre um ser humano e outro que não se percebe muito bem o que é. Parece-me uma alegoria, por vezes quase pueril, sobre o que somos e aquilo em que nos estamos a transformar.
Uma visão plausível do futuro (do presente?) das relações entre seres humanos e outros... objectos. Ou talvez vice-versa...
sexta-feira, fevereiro 28, 2014
segunda-feira, fevereiro 24, 2014
A Princesa Jornalista
Eu não sei, sinceramente, não sei grande coisa sobre esta menina. Estou em crer que seja uma mulher. Grande. Uma grande mulher. Não a conheço nem creio que alguma vez venha a conhecê-la pessoalmente. Leio-a. Há muito tempo que a leio nas páginas do jornal Público.
De há uns anos para cá que ela foi para o Brasil. Agora escreve sobre o Brasil. Está no Brasil, vive no Brasil e escreve sobre a sua estadia, a sua vida, a vida do Brasil (olha ela rindo com seu Jô ali na foto).
Os textos de Alexandra Lucas Coelho vão sendo publicados semanalmente no suplemento 2, que acompanha o jornal todos os Domingos e podem ser lidos aqui, no blogue Atlântico-Sul, o título da sua página semanal na tal revista.
Alexandra é uma Princesa Jornalista. Não precisa de ter tido pai que fosse rei, a realeza de Alexandra é daquelas que se conquistam pela excelência.
Se eu vivesse no Brasil ia ficar feliz por ter uma Princesa assim a viver no meu país. Como vivo em Portugal fico triste por não ter a minha Princesa mais perto. Assim sendo vou vendo o Brasil (onde nunca fui) através dos seus olhos maravilhosos.
Que coisa extraordinária!
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sexta-feira, fevereiro 21, 2014
Apolos
Oh, quantas vezes esquecemos, quantas vezes ignoramos as divindades! É como com as fadas nas histórias infantis: se não se acredita nelas acabam por desfalecer e, no extremo, batem as botinhas e vão desta pra melhor. Adeus, até nunca mais...
Deus, o Tal, o Verdadeiro, o dos judeus, Jeová, acho, já sente, de vez em quando, uma tontura (com tanta vírgula não admira). Nada de muito grave, mas convém verificar os níveis de confiança na própria existência. É que, para nós, mortais, a Fé é uma coisa interior, pessoal e intransmissível. Quando alguém diz que tem Fé só nos resta acreditar e aceitar, ainda que a não tenhamos.
Mas Deus, o Tal, omnipotente e omnisciente, sabe bem da sinceridade de cada um, não tem como se auto iludir. E Jeová desfalece, toma vitaminas, vai ao ginásio e consulta um homeopata após sair da sessão de acupunctura mas a coisa está, definitivamente, a ficar feia. Os crentes são menos crentes do que seria suposto e já não O temem como deviam. Já foste, Jeová!
Isto vem a propósito da recente descoberta de uma estátua de Apolo no fundo do Mediterrâneo, resgatada por um pobre pescador palestiniano (ver aqui).
Apolo, um deus meio esquecido (entrada da Wikipedia) que regressa às bocas do mundo após ser pescado e trazido à superfície dos noticiários mundiais. Mas o que me chamou particularmente a atenção foi o lençol sobre o qual deitaram a imagem do dito para lhe tirarem as fotos da praxe: um magnífico estampado de Schtroumpfs (ou Smurfs, como lhes chamam agora).
Alguns milhares de anos separam a estátua de Apolo do Schtoumpf Amoroso ou da sensual Schtroumpfina estampados no lençol mas, quis o acaso (ou o capricho de algum deus), que viessem a encontrar-se numa imagem que corre mundo, comovente e improvável fusão de imaginários culturais.
Isto é uma das coisas que me fascinam: a hibridização anárquica de referências e imaginários, o universo de informação visual que está à nossa disposição, mesmo à frente dos narizes que nos guiam os passos, à espera de um olhar, à espera de uma visão, imagens prontas a usar, imagens ready made, que temos apenas de ser capazes de recontextualizar e... voilá!
Apolo e os Schtroumpfs, uma torrente de ideias...
Deus, o Tal, o Verdadeiro, o dos judeus, Jeová, acho, já sente, de vez em quando, uma tontura (com tanta vírgula não admira). Nada de muito grave, mas convém verificar os níveis de confiança na própria existência. É que, para nós, mortais, a Fé é uma coisa interior, pessoal e intransmissível. Quando alguém diz que tem Fé só nos resta acreditar e aceitar, ainda que a não tenhamos.
Mas Deus, o Tal, omnipotente e omnisciente, sabe bem da sinceridade de cada um, não tem como se auto iludir. E Jeová desfalece, toma vitaminas, vai ao ginásio e consulta um homeopata após sair da sessão de acupunctura mas a coisa está, definitivamente, a ficar feia. Os crentes são menos crentes do que seria suposto e já não O temem como deviam. Já foste, Jeová!
Isto vem a propósito da recente descoberta de uma estátua de Apolo no fundo do Mediterrâneo, resgatada por um pobre pescador palestiniano (ver aqui).
Apolo, um deus meio esquecido (entrada da Wikipedia) que regressa às bocas do mundo após ser pescado e trazido à superfície dos noticiários mundiais. Mas o que me chamou particularmente a atenção foi o lençol sobre o qual deitaram a imagem do dito para lhe tirarem as fotos da praxe: um magnífico estampado de Schtroumpfs (ou Smurfs, como lhes chamam agora).
Alguns milhares de anos separam a estátua de Apolo do Schtoumpf Amoroso ou da sensual Schtroumpfina estampados no lençol mas, quis o acaso (ou o capricho de algum deus), que viessem a encontrar-se numa imagem que corre mundo, comovente e improvável fusão de imaginários culturais.
Isto é uma das coisas que me fascinam: a hibridização anárquica de referências e imaginários, o universo de informação visual que está à nossa disposição, mesmo à frente dos narizes que nos guiam os passos, à espera de um olhar, à espera de uma visão, imagens prontas a usar, imagens ready made, que temos apenas de ser capazes de recontextualizar e... voilá!
Apolo e os Schtroumpfs, uma torrente de ideias...
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terça-feira, fevereiro 18, 2014
sábado, fevereiro 15, 2014
Viva Dada!
Ontem fui assistir ao concerto dos Mler If Dada no CCB. Passaram mais ou menos 30 anos desde a última vez que os tinha visto actuar ao vivo. De lá para cá tinha ouvido os CD's, principalmente "Coisas que fascinam".
Sinceramente, quando entrei na sala já ia à espera de algo transcendente mas estava longe de imaginar um espectáculo de tal forma magnífico! Sentadinho na confortável cadeira dei por mim a sorrir embasbacado, embevecido, completamente rendido. Terei viajado no tempo? Estou em crer que sim.
Anabela Duarte foi de uma expressividade deslumbrante, Nuno Rebelo mostrou o seu virtuosismo instrumental e genialidade enquanto compositor. A banda foi irrepreensível A sala veio abaixo várias vezes e sempre se reergueu pois havia mais música, mais espectáculo, mais milagres para acontecer.
Quando terminou a função o público ovacionou em pé os extraordinários artistas durante largos minutos. Toda a gente sorria embasbacada, embevecida, toda a gente a sorrir. Cá em baixo e lá em cima, no palco. Uma coisa mais do que bonita, um verdadeiro acontecimento Dada!!!
sexta-feira, fevereiro 14, 2014
Namoros
Hoje é dia de trabalho rotineiro para o Cupido em que ele faz horas extraordinárias. É suposto que ofereçamos coisas que, de algum modo, simbolizem e comemorem o amor.
Essas coisas terão um carácter pessoal, pequenos símbolos privados, significados secretos que apenas a nossa outra parte seja capaz de compreender. Pode ser um pedaço de tecido, uma música, uma simples palavra, um sorriso. O amor é assim, uma coisa extremamente complexa que se caracteriza pela sua extraordinária simplicidade.
Quem ama sabe o que deve oferecer: amor.
Há também a parte mercantil na comemoração deste denominado Dia dos Namorados. Os apaixonados recorrem às lojas para comprar o tal objecto simbólico. Mas, como se criam símbolos do amor que possam ser produzidos e comercializados em massa? Qual o denominador comum da paixão transformada em objecto?
Multiplicam-se os objectos em forma de coração ou decorados com coraçõezinhos de todos os tamanhos e o vermelho predomina. O amor comercial é de um kitsch a toda a prova, o gosto duvidoso dos objectos que se comercializam nesta data é proverbial.
Não é o amor sempre ridículo? Não são as palavras de amor algo que nos escapa boca fora e que só dizemos quando nos encontramos em estado de total estupefacção perante o mundo olhado desde o olhar cego do nosso coração?
O amor não tem cérebro, talvez por isso seja tão avassalador.
Essas coisas terão um carácter pessoal, pequenos símbolos privados, significados secretos que apenas a nossa outra parte seja capaz de compreender. Pode ser um pedaço de tecido, uma música, uma simples palavra, um sorriso. O amor é assim, uma coisa extremamente complexa que se caracteriza pela sua extraordinária simplicidade.
Quem ama sabe o que deve oferecer: amor.
Há também a parte mercantil na comemoração deste denominado Dia dos Namorados. Os apaixonados recorrem às lojas para comprar o tal objecto simbólico. Mas, como se criam símbolos do amor que possam ser produzidos e comercializados em massa? Qual o denominador comum da paixão transformada em objecto?
Multiplicam-se os objectos em forma de coração ou decorados com coraçõezinhos de todos os tamanhos e o vermelho predomina. O amor comercial é de um kitsch a toda a prova, o gosto duvidoso dos objectos que se comercializam nesta data é proverbial.
Não é o amor sempre ridículo? Não são as palavras de amor algo que nos escapa boca fora e que só dizemos quando nos encontramos em estado de total estupefacção perante o mundo olhado desde o olhar cego do nosso coração?
O amor não tem cérebro, talvez por isso seja tão avassalador.
sexta-feira, fevereiro 07, 2014
Ai, Miró!
Há 40 anos
era muito pior. Há 40 anos uma percentagem assustadora dos nossos não sabia ler
nem escrever embora fosse capaz de fazer contas. Uns contavam pelos dedos
outros faziam contas de cabeça.
Há 40 anos poucos (mas mesmo muito poucos) dos
nossos sabiam quem era Miró que ainda por aí andava a fazer coisas daquelas. Há
40 anos o nosso Secretário de Estado da Cultura actual já sabia ler e, decerto,
já saberia escrever.
Muitos de nós passavam uma fome de cão e tinham de se meter no comboio para “as franças” de garrafão em punho e chouriço no bolso.
Muitos de nós passavam uma fome de cão e tinham de se meter no comboio para “as franças” de garrafão em punho e chouriço no bolso.
Há
40 anos éramos um povo de pobres labregos, um país sem estradas nem comércio e,
apesar de termos já muitos ladrões de fato e gravata, estávamos longe de
atingir os níveis de corrupção de que hoje nos orgulhamos nas reuniões da
Internacional Capitalista.
Há 40 anos Portugal era a preto e branco, hoje já
vai havendo uns arco-íris a espreitar detrás da porta do armário. Há 40 anos éramos
governados por um bando de velhacos hoje… bom, hoje somos governados por um
grupo de senhoras e senhores que me abstenho de classificar.
Há 40 anos foi-nos permitido sonhar que a Educação haveria de pôr muita coisa no lugar que nos parecia devido mas não fomos capazes de imaginar que, 40 anos e 26 ministros mais tarde, a Educação haveria de ser considerada novamente um empecilho.
Há 40 anos foi-nos permitido sonhar que a Educação haveria de pôr muita coisa no lugar que nos parecia devido mas não fomos capazes de imaginar que, 40 anos e 26 ministros mais tarde, a Educação haveria de ser considerada novamente um empecilho.
Hoje, como
há 40 anos, poucos dos nossos (mas ainda assim muitos mais do que há 40 anos)
têm consciência de quem foi Miró e o que fez enquanto por aí andou. Hoje o Secretário
de Estado sabe ler, escrever e assinar despachos (deve ser lixado representar a
Cultura num governo como este!).
O pessoal já emigra de avião, com uma revista
científica debaixo do braço. Hoje temos muitas autoestradas e o Presidente da
República, embora pouco mais faça que descerrar placas comemorativas, é eleito,
efectivamente, por nós. Continuamos a ter muitos tubarões aldrabões mas isso é fado
de um país que vive junto ao mar.
Miró faz-me pensar no resto, no que era
realmente importante e ficou por cumprir. As 85 telas do mestre apenas servem
para mostrar quão surreal é o mundo em vivemos. O “caso” Miró lembra a quem
pode a urgência de uma verdadeira revolução, uma revolução Dadaísta, que faça
dos urinóis deste mundo peças de arte nas quais possamos mijar à vontade,
aliviando a bexiga à boleia do alívio da alma.
A sensação com que fico é que,
40 anos depois de termos imaginado um país decente e de alguns de nós, que
ainda por aí andam, terem sonhado com isso, falhámos completamente o nosso
objectivo.
Somos um povo que habita um país falhado. Precisamos de recomeçar tudo de novo mas agora os meninos maus ficam de castigo e os mais estúpidos não podem ser chefes de nada.
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