Há tarefas impostas por dever profissional que deviam ser proibidas pela mesma lei que nos obriga a cumpri-las. Oh, caraças, que seca tão grande temos nós de aturar quando reunidos em assembleia para decidir, ponto por ponto, dezenas de regras e regulamentos.
Pois, é uma seca tremenda, uma seca que desorienta o mais pintado e faz desesperar o mais corajoso. São montanhas de palavras escritas e revoadas violentas de palavras ditas. Talvez haja quem tenha nascido para isto.
Após umas horas deste trabalho extenuante saio para a rua que entretanto anoiteceu e tem agora bolinhas de luz, sóis pequeninos pendurados no topo dos mastros dos candeeiros. O ar está fresco. É agradável. Quando entrei na sala de reuniões estava calor, o casaco pesava-me nas costas e agora o casaco parece-me leve.
Hoje de manhã, o dia seguinte, pensei: quem é capaz de passar a vida a fazer aquilo? Estar fechado dentro de uma sala com umas quantas pessoas dispostas em círculo, com um vazio no meio, um vazio para onde se atiram ideias e palavras tentando construir ali uma coisa comum, uma coisa que se compreenda e faça sentido. Porra, que modo de vida seria esse!
Mas não é assim que se governa o mundo? Pessoas fechadas em salas, homens engravatados mulheres com laca na cabeça, todos a preencher o vazio entre eles com ideias que governem o mundo. Pessoas que passam a vida a falar, a olhar para gráficos e papéis, a tentar encontrar uma determinada ordem que ponha algum sentido na vida delas, que faça do mundo aquela coisa que põem ali no meio, entre elas.
Cá fora está-se muito melhor mas não se governa nada.
4 comentários:
ah, então é assim!...
Ah pois é! Como haveria de ser !?
não temos saída. eu quem diga, aqui são horas, que nos reunimos no trabalho, na escola, no bairro, enfim para ´decidir, ponto por ponto, cada detalhe, dezenas de regras e regulamentos´, com sol e chuva datas diferentes e fiquemos ligados. mas é como vc concluiu, sem horas deste trabalho não se governa NADA!
madoka
Também se governa na rua. A ideia dos gabinetes especializados é coisa recente, para burocratas partidários e funcionários vazios e untuosos.
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