Não sei bem quando aconteceu. Foi um processo discreto e silencioso. Ontem apercebi-me de que estou a tornar-me insuportavelmente tolerante e, pior ainda, que me esforço por fazer com que os outros sejam, também eles, uma espécie de aspirantes a anjinhos.
Estou a perder aquele prazer abrasivo de dizer mal de tudo, aquele impulso descontrolado de deixar fluir o verbo como se as palavras fossem facas afiadas a cortar o mundo em fatias fininhas. Espero que seja uma doença passageira.
Espero voltar a sentir o prazer de desfazer algo à força de palavreado robusto, usado como marreta, como morteiro, palavreado capaz de retalhar as coisas que me parecem erradas, as coisas que me desgostam. Como diz Scar, a malévola personagem de O Rei Leão: "É tão gostoso ser mau!"
Mas não, pronto, de momento sou bonzinho, um estado de alma sem graça nem pimenta, uma sensaboria monótona. Se não me acautelo ainda morro e vou para o Céu.
4 comentários:
Isso passa.
Espero bem que sim.
:-)
Espero que não, Jorge! Conheci o Rui de antigamente como ele se auto descreve. Prefiro-o agora mais sereno, mais justo, mais sábio, mais humano. Ainda que cheio de esperanças e tédio...
Eduardo, a serenidade não dura sempre.
:-)
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