"Um espectro paira sobre a Europa, o espectro do comunismo." Começava mais ou menos assim o célebre Manifesto Comunista da autoria de Marx e Engels, publicado em Fevereiro de 1848.
O espectro pairou, rondou, sobrevoou o espaço europeu mas nunca chegou a materializar-se, de facto. Ficou-se por algumas tentativas mais ou menos abstrusas, abortos horrendos que nunca fizeram justiça à essência do espectro em causa.
Hoje é outro fantasma que ensombra os sonhos dos europeus. É o fantasma da única Internacional que verdadeiramente triunfou, o da Internacional Capitalista. "Proletários de todos os países, uni-vos!" exortavam os autores do Manifesto. Olhando os dias que vivemos podemos constatar que a única verdadeira união a que este mundo assistiu não foi a dos proletários, foi a dos seus amos.
É triste observar a derrocada do sonho europeu, visto de dentro. Imagino que, olhado de outros ângulos, visto do lado de fora, o caso não seja dramático. Visto dos países que outrora designámos como o Terceiro Mundo, visto dos países que outrora colonizámos e explorámos, talvez este ocaso Europeu tenha cores garridas e tons de festa que contrastam fortemente com o cinzento a pender para o negro nocturno que a coisa ganha cá em casa.
Houve quem acreditasse que o destino da Europa seria o de espalhar o pensamento Humanista pelo planeta. Afinal fomos apenas capazes de infectar os outros com a gula capitalista e, agora, pagamos o preço devido pela nossa soberba civilizacional.
O Capital não tem Pátria nem sonha com um mundo melhor. O espectro paira sobre a Europa. O resto do mundo pode esperar pela sua vez.
7 comentários:
pois... quer dizer...
Dear Zé, a tua eloquência deixa-me sem palavras.
:-)
peço desculpa, mas é como eu fico com esta coisa...
Não serei tão eloquente quanto o Zé ( The dear ) mas você tem razão quando diz que a percepção de quem esta fora da Europa é equivocada. Só sabe o tamanho do furacão quem esta no olho dele.
A queda de qualquer império demora séculos ou décadas. A Europa, como império, começou a cair com as descolonizações, agravadas com as guerras germanas (duas guerras mundiais); tentou ainda restaurar-se com o conceito da União Europeia; mais uma vez não resiste aos nacionalismos. Penso que será isso que vai destruir a Europa e não propriamente o capitalismo. Não há uma cultura europeia, não há uma língua europeia, o norte não gosta do sul e vice-versa. Estamos condenados ao fracasso. O motivo última da derrocada pode ser uma invasão bárbara (muçulmanos) ou um incidente não expectável e imprevisível. Pode demorar anos ou décadas, mas está arrumado. Portugal devia pensar noutras alianças.
Há uma coisa que nos une na Europa, que é o ódio que temos todos uns pelos outros. Sempre o tivemos mas ficou escondido debaixo do tapete enquanto houve dinheiro a correr. A Europa é um clube de aristocratas falidos, de gente snob que acha que tem o direito a viver bem só porque sim, mas a verdade é que nunca fomos nada à nossa própria custa. Nunca tivemos autonomia energética, nem autonomia na defesa e só temos autonomia alimentar porque deitamos dinheiro aos magotes para os agricultores produzirem. Estávamos à espera de quê?
Eduardo, vai uma ventania dos diabos!
Jorge, na base de toda a discórdia parece haver uma forte influência do vil metal. Seja porque for, a coisa esboroa-se.
Rui, a pergunta que se impõe é: mais que raio de merda é a Europa?
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