"Um espectro paira sobre a Europa, o espectro do comunismo." Começava mais ou menos assim o célebre Manifesto Comunista da autoria de Marx e Engels, publicado em Fevereiro de 1848.
O espectro pairou, rondou, sobrevoou o espaço europeu mas nunca chegou a materializar-se, de facto. Ficou-se por algumas tentativas mais ou menos abstrusas, abortos horrendos que nunca fizeram justiça à essência do espectro em causa.
Hoje é outro fantasma que ensombra os sonhos dos europeus. É o fantasma da única Internacional que verdadeiramente triunfou, o da Internacional Capitalista. "Proletários de todos os países, uni-vos!" exortavam os autores do Manifesto. Olhando os dias que vivemos podemos constatar que a única verdadeira união a que este mundo assistiu não foi a dos proletários, foi a dos seus amos.
É triste observar a derrocada do sonho europeu, visto de dentro. Imagino que, olhado de outros ângulos, visto do lado de fora, o caso não seja dramático. Visto dos países que outrora designámos como o Terceiro Mundo, visto dos países que outrora colonizámos e explorámos, talvez este ocaso Europeu tenha cores garridas e tons de festa que contrastam fortemente com o cinzento a pender para o negro nocturno que a coisa ganha cá em casa.
Houve quem acreditasse que o destino da Europa seria o de espalhar o pensamento Humanista pelo planeta. Afinal fomos apenas capazes de infectar os outros com a gula capitalista e, agora, pagamos o preço devido pela nossa soberba civilizacional.
O Capital não tem Pátria nem sonha com um mundo melhor. O espectro paira sobre a Europa. O resto do mundo pode esperar pela sua vez.
segunda-feira, março 25, 2013
sábado, março 23, 2013
O “ensebentado”
Cavaco Silva passa
grandes temporadas calado. Ele diz que tem de trabalhar e, por isso, não tem tempo para falar ao povo. Sinceramente não me parece que se cale por estar a trabalhar, uma
coisa não implica a outra.
Parece-me que se cala para não falar do sorriso das vacas, para
não fazer piadas torpes sobre o valor do seu próprio silêncio ou da sua reforma, que mal lhe permite fazer face às despesas do quotidiano. Apesar de tudo, de vez em quando, resolve falar de cátedra.
O nosso Presidente sente-se seguro quando fala daquilo que
vem nos livros e que, segundo o seu ponto de vista, é palavra divina. Cavaco
não parece capaz de pensar um bocadinho que seja, para lá daquilo que os livros
ensinam sem escorregar no seu próprio discurso. Não parece capaz de aprender
com os erros nem fazer o mais ténue exercício de imaginação. Ou vem nos livros
e pode aprender-se, ou não vem nos livros e é incompreensível, impossível de
acontecer.
Sempre me fez confusão o conceito islâmico de que Deus se
transformou em Livro, o Sagrado Corão. Segundo essa tradição Deus “enlivrou”.
Na efabulação católica Deus encarnou, o que parece, à partida, mais aceitável. Quando
olho para Cavaco Silva, fico com a sensação de que também ele é a transformação
de um livro em pessoa.
Ou, melhor, sendo ele um emérito professor de Economia
será a personificação de uma sebenta. Cavaco Silva “ensebentou” em Presidente.
Talvez isso explique a razão pela qual quando ele pretende explicar-se aos
mortais comuns o faça sempre daquela forma que nos parece desastrada mas que,
na verdade, é uma forma críptica de comunicar, apenas ao alcance de um pequeno
punhado de iniciados.
Etiquetas:
escárnio,
ódio de estimação
quinta-feira, março 21, 2013
Vergonha
Cumpriu-se ontem o 10º aniversário da invasão do Iraque pelas forças ocidentais comandadas pelo exército americano.
Há dez anos atrás o debate foi violento e apaixonado. Estive do lado dos invasores embora discordasse em absoluto com a guerra e tivesse a certeza de que a manipulação da opinião pública fazia de nós pouco mais que simples marionetas.
A afirmação anterior pode parecer contraditória; como pude estar do lado dos agressores discordando das suas aviltantes razões? Mera questão geográfica e civilizacional, creio. Ainda hoje sinto alguma vergonha por isso.
Fiquei absolutamente dividido. Odiei profundamente todos os mentirosos que nos empurraram para essa aventura irresponsável liderada por um louco demente como George W. Bush mas não podia sentir compaixão por um tirano odioso como Saddam Hussein.
No meio de tudo o que se seguiu as vítimas foram, como seria previsível, todos os inocentes que sofreram na pele a violência e a morte. Agora, guerra finda, o Iraque continua a ferro e fogo. A exportação do sistema democrático, imposto à força da bala e da bomba, frutifica do modo que todos conhecemos.
O balanço dessa guerra não podia ser mais negativo.
Há dez anos atrás o debate foi violento e apaixonado. Estive do lado dos invasores embora discordasse em absoluto com a guerra e tivesse a certeza de que a manipulação da opinião pública fazia de nós pouco mais que simples marionetas.
A afirmação anterior pode parecer contraditória; como pude estar do lado dos agressores discordando das suas aviltantes razões? Mera questão geográfica e civilizacional, creio. Ainda hoje sinto alguma vergonha por isso.
Fiquei absolutamente dividido. Odiei profundamente todos os mentirosos que nos empurraram para essa aventura irresponsável liderada por um louco demente como George W. Bush mas não podia sentir compaixão por um tirano odioso como Saddam Hussein.
No meio de tudo o que se seguiu as vítimas foram, como seria previsível, todos os inocentes que sofreram na pele a violência e a morte. Agora, guerra finda, o Iraque continua a ferro e fogo. A exportação do sistema democrático, imposto à força da bala e da bomba, frutifica do modo que todos conhecemos.
O balanço dessa guerra não podia ser mais negativo.
Etiquetas:
efemérides,
guerra
terça-feira, março 19, 2013
Pai babado
Como hoje é Dia do Pai deixo aqui o link para uma página do Facebook onde a minha Filha vai colocando alguns desenhos da sua autoria.
Sou um pai babado!
:-)
Sou um pai babado!
:-)
domingo, março 17, 2013
sexta-feira, março 15, 2013
segunda-feira, março 11, 2013
Um cadáver em tribunal
A notícia surpreende pela situação extraordinária que descreve: "Sergei Magnitski é o primeiro morto a ser julgado na Rússia" (ler aqui). Não sei se há muitos mortos a serem julgados em tribunal por esse mundo fora mas, a fazer fé na notícia, na Rússia é estreia absoluta.
O caso é rocambolesco. Magnistski foi contratado para provar que o seu ex-patrão era um vigarista que lesara o erário público russo em vários milhões mas, ao investigar o caso, o agora réu-defunto concluiu que havia vigarice, sim, mas os bandidos eram outros. Para seu azar o líder da bandidagem era um polícia.
Magnitski, advogado de profissão, acabou preso e após uns meses de cativeiro sem acusação formal (nunca foi mais do que suspeito) apareceu morto na penitenciária onde o haviam engavetado. O caso complica-se com acusações de que o advogado trabalharia para o MI6 britânico, a aprovação de uma lei pelo congresso norte-americano que impõe sanções de vária ordem a todos os implicados, tendo Putin retaliado com a suspensão de um acordo que permitia a adopção de crianças russas por cidadãos dos EUA.
Pergunto-me qual será o desfecho deste processo. Que tipo de condenação poderá ser aplicada a um cadáver? O que está aqui a ser julgado? Qual poderá ser o objectivo disto? Tudo indica que Putin e os seus "muchachos" querem apenas limpar alguma porcaria atirando responsabilidades sobre a memória de alguém que não poderá defender-se.
De uma coisa está livre o defunto; não poderão condená-lo à morte. Quando muito poderão desenterrá-lo do cemitério e voltar a sepultá-lo num recinto prisional para sempre.
O caso é rocambolesco. Magnistski foi contratado para provar que o seu ex-patrão era um vigarista que lesara o erário público russo em vários milhões mas, ao investigar o caso, o agora réu-defunto concluiu que havia vigarice, sim, mas os bandidos eram outros. Para seu azar o líder da bandidagem era um polícia.
Magnitski, advogado de profissão, acabou preso e após uns meses de cativeiro sem acusação formal (nunca foi mais do que suspeito) apareceu morto na penitenciária onde o haviam engavetado. O caso complica-se com acusações de que o advogado trabalharia para o MI6 britânico, a aprovação de uma lei pelo congresso norte-americano que impõe sanções de vária ordem a todos os implicados, tendo Putin retaliado com a suspensão de um acordo que permitia a adopção de crianças russas por cidadãos dos EUA.
Pergunto-me qual será o desfecho deste processo. Que tipo de condenação poderá ser aplicada a um cadáver? O que está aqui a ser julgado? Qual poderá ser o objectivo disto? Tudo indica que Putin e os seus "muchachos" querem apenas limpar alguma porcaria atirando responsabilidades sobre a memória de alguém que não poderá defender-se.
De uma coisa está livre o defunto; não poderão condená-lo à morte. Quando muito poderão desenterrá-lo do cemitério e voltar a sepultá-lo num recinto prisional para sempre.
Etiquetas:
mundo,
quotidiano delirante
segunda-feira, março 04, 2013
Dadaísmo eleitoral
O resultado das eleições italianas enervou os mercados e
muitos políticos de carreira. Parece que eleger um palhaço como Beppe Grillo
desagrada aos que acreditam que a Democracia só funciona se forem sempre eles a
desempenhar os papéis de maior relevo, em alternância, é bom de ver. Por cá
PSD/CDS e PS torceram o nariz à coisa. Sim, porque a Democracia tem custos,
como fez notar Zorrinho, o Relvas de Seguro, que pensa que é um Audi de alta
cilindrada que lhe confere credibilidade. Quanto a palhaços ficamos
conversados.
As manifestações contra a Troika e os seus Miguéis de
Vasconcelos juntaram muitos milhares de portugueses em protesto pelas ruas da
nação. Os manifestantes foram tantos e tão variados que, nos últimos actos
eleitorais, muitos deles terão, inevitavelmente, votado ora em Relvas, ora em
Zorrinho ou noutros seres vivos de idêntico calibre. Pelas ruas os portugueses arrastaram
no passado Sábado a sua amargura, mas o que irão fazer quando forem de novo
chamados a cumprir o frete do voto? É que, se somos governados por gente que
ninguém suporta, é preciso ver que esses governantes foram legitimados por
sufrágio universal e voto popular. Quantos dos que hoje protestam a liderança
de Passos Coelho votaram nele ainda ontem?
Desde que vivemos em Democracia (se exceptuarmos o PREC)
sempre fomos governados pelos partidos chamados do Arco do Poder. A cada novo
governo as negociatas foram a norma, umas vezes cor-de-laranja, outras
cor-de-rosa, com o camaleão CDS a raspar o fundo ao tacho. Agora até o PCP se
vem juntar à indigna interpretação da “lei” da limitação de mandatos. Cada qual
defende como pode a respectiva capelinha.
O que vamos nós, tristes manifestantes de fim-de-semana,
fazer quando formos de novo chamados a escolher os nossos homens-do-leme? Até
que ponto estaremos dispostos a arriscar uma votação tão dadaísta como a que
elegeu Beppe Grillo para o parlamento italiano? Cantar a Grândola é bonito,
comove até às lágrimas, mas não chega. É preciso inventar uma nova canção e
arriscar um futuro diferente.
Carta enviada à directora do jornal Público
Subscrever:
Mensagens (Atom)