Estamos em época primaveril, no que a cinema diz respeito. A proximidade da cerimónia de entrega dos Oscares faz com que as estreias se sucedam com um pouco (muito) mais mediatismo do que é habitual ao longo dos restantes dias do ano.
Talvez pelos títulos entusiásticos e imaginativos que vão rondando as páginas dos jornais ou pelos programas da "especialidade" que passam na TV, onde as vedetas e os realizadores dão entrevistas "exclusivas" umas a seguir ás outras, a vontade de enfiar a caveira na escuridão do cineminha aumenta e um gajo faz-lhe a vontade. Com prazer.
Nos últimos tempos fui ver mais 4 filmes 4, todos bem diferentes uns dos outros.
Começo por referir "
A minha semana com Marylin", uma impecável produção da BBC Films em ritmo de valsa dançada num salão luxuoso ou, pelo menos, bem arrumadinho, com os cantos limpos de pó e soalho encerado. Sai-se mais ou menos da mesma maneira como se entrou mas, pessoalmente, saí com a sensação de que não tinha perdido o meu tempo se bem que também não tenha guardado nada de muito especial nos arquivos desarrumados da minha mente.
Razoável, eficaz e aerodinâmico. Despretensioso.
Depois fui ver a versão americana de "
Millennium 1: Os Homens Que Odeiam as Mulheres-A rapariga com a tatuagem do dragão". Muita gente se questiona sobre a necessidade de fazer um "remake" de um filme tão recente quanto a versão original, de origem sueca. Ora aí está a resposta, um filme sueco não penetra facilmente o mercado de língua inglesa, particularmente o mercado norte-americano onde a esmagadora maioria das pessoas não tem noção da localização geográfica da pátria de Ingmar Bergman. Esta versão tem a assinatura de David Fincher (autor de "Se7en" ou "Clube de Combate", entre outros) o que, só por si, seria razão suficiente para merecer a curiosidade do espectador. E também este filme se revela um objecto correcto e pleno de sapiência narrativa. Acrescenta algo de inolvidável a uma mente cinéfila? Duvido. Mas não deixa de ser um filme escorreito e certinho como a dentição de uma qualquer vedeta de Hollywood.
Segue-se nesta pequena lista "
Os descendentes". Aqui já há mais qualquer coisinha. À saída fica-se com um travo agradável a cineminha de boa colheita. Com um George Clooney a mostrar que tem muito mais para oferecer do que um sorriso maroto à maneira do
Nespressoman apoiado num conjunto de actores de suporte muito bem escolhido. O filme rola em velocidade de cruzeiro, levando-nos a viajar numa história sem personagens extraordinárias nem acontecimentos capazes de abanar as fundações deste mundo. Tudo se passa entre pessoas banais, com problemas banais que encontram soluções muito... banais e, com isso, nos confortam e aquecem o coração nestes dias de Inverno. Curioso (no mínimo).
Finalmente uma palavra para a sensação do momento: "
O Artista". Este é, sem sombra para dúvidas, um filme extraordinário. Digo extraordinário na medida em que não obedece ás regras normais (ordinárias) da narrativa cinematográfica contemporânea, propondo sobre o cinema um olhar inesperado e repleto de sorrisinhos. Cada plano é uma peça de relojoaria, cada expressão dos actores um jogo de sinais, cada sequência narrativa um arrepio de prazer. Não será um assombro de conteúdo, não é, mas que é um assombro de realização e montagem, isso é. Muito bom.
Resumindo e concluindo: vai ao cinema, leitor amigo, tens muitas razões para o fazer e, em breve, estrearão mais umas quantas, o que poderá dificultar a tua intenção de ver cinema decente.