sexta-feira, abril 29, 2011

Vivam os noivos!



Neste dia de histeria mediática em que todos os canais públicos de televisão estão a babar-se para fora dos écrãs com imagens do casamento do puto mais velho da princesa Diana com uma boazuda qualquer, o 100 Cabeças oferece o seu pequeno presente aos noivos (com legendas em espanhol).
Que tenham muitos meninos e tudo o mais, etc e tal.

quinta-feira, abril 28, 2011

Para reflectir


The Istanbul Manifesto

Marcel Duchamp’s idea was to make art with the already made.
Our idea is to make art that makes art.

Manufacturing is obsolete. Manual skill leads only to a senseless waste of time. The human artist is not a maker, but a creator. Art is a mind extension, a prosthetic, a machine that just waits to be triggered. The role of the artist is to push the ON button, giving rise to an autonomous product.

Art is fundamentally biological and evolutionary. Art is everywhere. Each life form generates a particular kind of art that spreads from simple patterns to complex symbolic communication. Organisms use chemicals, odors, touch, sounds and vision to produce art. Termites build mud structures; birds make colorful installations; whales sing. Humans assemble machines. These machines produce new designs, elaborate forms and compose images. They play music, dance and perform. Soon they will engender astonishing ideas and have futuristic visions. How can a human artist keep on making drawings, paintings or sculptures with his own hands? How can anyone still believe that art is an exclusive human feature?

A new kind of art is emerging out of proto-artificial life forms. These new artificial organisms are biological in essence. Some have tissues, some mechanical parts and others a combination of both. They think and create. Soon they will reproduce and evolve without human intervention. They will be entirely autonomous. The role of the human artist is to give birth, to activate, to let it go, to lose control. We can make the artists that make the art.

Isn’t it a marvelous sensation to see a machine creating a painting on its own? To show, before our eyes, a competence that our ancestors thought to be exclusively human? Isn’t such a painting the most amazing art work since the first cave etchings? Isn’t it the superb output of a freshly arrived intelligence on earth?

Art is everywhere. Natural life do it. Artificial life do it too. Art is beyond humankind . How can we be insensitive to this extraordinary proliferation of creativity? Why be fearful of what adds, doesn’t subtract? How not embrace enthusiastically this non zero sum game?

Human artists are part, not the whole. Human artists can make a difference by exploring the full extension of creativity.

The great artist of tomorrow will not be human.

Leonel Moura
Henrique Garcia Pereira

Ken Rinaldo




The Manifesto was launched on April 7th, 2011, at Galata Perform, Istanbul

Consultar mais informação clicando aqui

sexta-feira, abril 22, 2011

Leituras



Tenho andado às voltas com Roberto Bolaño. Concluí a leitura de mais um livro da sua autoria "Os Dissabores do Verdadeiro Polícia", uma estranha obra que o malogrado escritor não chegou a concluir mas que acabou por ser compilada e organizada para edição, seguindo um conjunto de pistas e sinais mais ou menos decifráveis. É um livro estranho pois surgem diversas personagens de outros livros, principalmente de "2666", que mudam completamente de aspecto, nuns casos, ou são aqui completadas, através da narração de cenas que não foram descritas no livro anterior.


Mais uma vez é o puro prazer da literatura que impele o leitor a deambular por estas páginas sem conclusão, nem moral da história,  nem horizonte para alcançar. Tal qual a vida! Sem tirar nem pôr.

Entretanto, entre um Bolaño e outro, fui lendo "As Aventuras de Robinson Crusoe", leitura que não fiz na minha adolescência, mais dedicada a Júlio Verne ou Mark Twain, só para dar dois exemplos e que hoje concluí.

Dificilmente poderia encontrar tão notável contraste. A obra de um escritor do século XVIII e a de um contemporâneo, lidas em paralelo, mostram bem a evidência de como o tempo e o lugar determinam o aspecto do objecto artístico.

Crusoe é uma narrativa em disparo de escopeta, sem paragens nem descrições minuciosas.As personagens distinguem-se pela ausência de grandes (ou pequenas) subtilezas psicológicas. É a aventura que conta, o puro fascínio pela capacidade de sobrevivência, a descoberta da força que nos mantém vivos nas mais adversas circunstâncias. Uma história em linha muito recta, uma narrativa com princípio meio e um fim a prometer novas façanhas. Um clássico, como me parece que serão os clássicos desta natureza.

Já Bolaño é um verdadeiro artista sem estilo definido, capaz de tocar uma série de instrumentos em simultâneo, criando uma narrativa repleta de texturas diferentes, deixando o leitor cair nuns buracos atrás de outros, armadilhando cada palavra, provocando explosões ineperadas e magníficas a cada passo.

Enfim, leituras! O prazer de ler é quase tão grande como o prazer de correr e saltar ou gritar a plenos pulmões. O que lerei agora? Estou a olhar ali para as duas edições que tenho do Dom Quixote de que nunca concluí a leitura.

terça-feira, abril 19, 2011

Merdas que trepam


Há merdas que trepam pelo juízo de um gajo acima e o deixam a pairar, sem apoio nem prós pés nem prás ideias. É mau, que um gajo fica assim, entre o completamente estúpido e o meio abananado. Até parece que levou um soco no meio do cérebro! Seja lá como for, há coisas bem piores.

Levar um bofetada é mau mas ser enganado é muito pior. Comer carne um pouco podre é mau mas passar fome é capaz de ser um pouco pior. Parece que tudo depende de uma escala de valores que sejamos capazes de estabelecer.

É a Teoria da Relatividade aplicada ao nível da sobrevivência humana. A nossa capacidade de encontrar aquilo que queremos para as nossas vidas. Pode ser obra do acaso ou resultar de uma profunda reflexão, fruto da nossa experiência de vida.

Há quem se sinta confortado por não ter uma vida pior que a do seu vizinho, ainda que seja uma vida aquém das suas expectativas. Há quem nunca esteja satisfeito com a vida que leva, mesmo que, aos olhos do vizinho, seja uma vida muito boa. É tudo relativo. Mas lá que há coisas que nos trepam pelo juízo acima e fazem vacilar a nossa capacidade de compreensão, disso não restam dúvidas.

segunda-feira, abril 18, 2011

Música portuguesa que eu ouço com prazer (desmedido)-1



Manuel da Cruz num dos temas do seu projecto "Foge, Foge Bandido"
(esta sequência de posts é dedicada a Madoka que me perguntou um dia que música portuguesa eu ouvia:-)

domingo, abril 17, 2011

Era noite de lua cheia (não era?)


Ontem a lua, se não estava cheia, parecia estar. Foi noite de teatro, ou, pelo menos, noite de uma coisa muito parecida com teatro.

Primeiro: o espaço.
A sala do Teatro Municipal de São Luiz é uma daquelas salas onde, aconteça o que acontecer, será sempre teatro. Nem que seja um gajo a serrar troncos de pinheiro com uma motoserra, a berrar indecências, se for lá dentro, em cima daquele palco aberto naquele espaço, é teatro. O cenário era um cais encalhado na sua própria decrepitude. Com 3 músicos em 1º plano e um nevoeiro cerrado, cortado por focos luminosos vindos do alto, castelos no ar.

Segundo: o que se passou no palco.
A Lua de Maria Sem é um híbrido. Cruza teatro e fado. Mesmo o fado dentro do espectáculo é um fado estranho, com arranjos magníficos e a voz planante de Manuela Azevedo, é um fado que aconchega o desconforto, que ajuda a suportar toda a dor e toda a melancolia que vêm lá do fundo. Uma coisa. Maria João Luís, sabe quem já viu, é um fenómeno estonteante sempre que pisa um palco. A forma como diz, como esculpe as palavras, transportam o espectador, melhor dizendo, transportam a sala inteira, para um espaço diferente. No caso deste espectáculo, são duas vozes de magia.

Terceiro: a lua.
Resumindo e concluindo; acabado o espectáculo ficou a lua que, se não estava cheia, era exactamente como se estivesse.

sábado, abril 16, 2011

Mezinha soporífica para um tempo de crise



Uma pessoa só sente a falta daquilo que já teve ou daquilo que é capaz de imaginar poder vir a conseguir um dia. O resto não é mais do que o inimaginável e o inimaginável não faz parte das nossas vidas, ainda que exista e possa um dia entrar-nos pelos olhos dentro. Entrar-nos pelo coração e ser distribuído pelo resto do corpo e alojar-se na nossa alma, como um velho inquilino que não sabíamos existir no edifício das nossas vidas. Um inquilino que sempre lá esteve mas nunca pagou a renda. E nós, modestos senhorios da vida que levamos, nunca apontámos aquela dívida, nunca soubemos que podíamos cobrá-la. Na verdade, com o inimaginável nunca perdemos nada, que uma pessoa só sente a falta daquiko que já teve ou é capaz de imaginar poder vir a conseguir um dia.

sexta-feira, abril 15, 2011

Ai, ai, isto já é preocupante!

 Pornografia chinesa...


Primeiro a acusação era de prática de crimes económicos. Ai Weiwei foi riscado do mapa. Agora, ao que consta, os crimes do artista chinês terão sido outros: bigamia e pornografia. Um filho ilegítimo e fotos dele próprio com menos roupagem do que mandam as regras do bom senso chinês servem de pretexto para manter Weiwei em prisão secreta desde o passado dia 3 do corrente mês de Abril, quando foi retirado de circulação pela polícia do regime.

Ao que parece, nem a família de Weiwei sabe muito mais do que isto, o homem parece ter deixado de existir. Que sorte o espera? Vá-se lá saber...

As autoridades garantem ter provas contra Weiwei, provas que mostrarão ao mundo o monstro que ele é. No entanto, as ditas provas continuam sem aparecer e nada garante que, uma vez expostas, essas provas impressionem por aí além. Um filho fora do casamento? Nunca pensei que pudesse ser crime grave. Tal como nunca imaginei que mulheres pudessem ser detidas por usar burqa ou apedrejadas até à morte por darem umas curvinhas fora da estrada da moral e dos bons costumes.

A humanidade não tem cura? Quando poderemos deixar os outros viver na paz das suas opções individuais? No caso de Weiwei a coisa soa mesmo a desculpa esfarrapada.

segunda-feira, abril 11, 2011

Caminhos de salvação


O tema não é novo e já o devo ter abordado antes por estas bandas. Trata-se da salvação da alma. Melhor dizendo, trata-se de reflectir sobre as vias que conduzem o ser humano no caminho da salvação da alma.

O monopólio religioso parece estar definitivamente afastado. Com a sedimentação das sociedades laicas no mundo ocidental a arte veio reclamar um papel importante nesta luta pela descoberta do caminho que orienta o ser em direcção à Luz. Muitos são os que encontram conforto na beleza pura que são capazes de vislumbrar num objecto artístico, de forma (talvez) semelhante aos que se sentem puros em meditação dentro de uma igreja.

Seja a igreja católica, protestante, um templo budista ou uma mesquita, a sensação de plenitude e comunhão com o todo representado pela divindade, esvazia a alma humana de angústias e medos que a devoram se não estiver protegida. Também a arte, nas suas múltiplas formas e manifestações, conforta e protege, tanto os hereges quanto os crentes.

A novidade é a crescente vontade de participação dos crentes e dos amadores de arte, uns na vida das respectivas igrejas, outros na construção de objectos artísticos com maior ou menor intensidade estética. A palavra de ordem é: PARTICIPAR.

A fotografia digital, os milhentos cursos particulares de teatro, pintura, guitarra, workshops das mais variadas linguagens e meios de comunicação, vão espalhando alegria e realização pessoal entre um número cada vez maior de cidadãos. Podemos estar desapontados com a democracia enquanto sistema político mas não temos esse direito quando a democracia se revela na multiplicação das possibilidades de acesso à cultura ou ao conhecimento artístico (e outros tipos de conhecimento).

No meio de toda esta confusão em que se vai transformando a nossa organização política e social, um bem maior emerge, luminoso e enorme: a liberdade de expressão! Quando tudo o mais fenece ou perde vigor, a liberdade de expressão impõe-se como via de ascensão da alma aos prados verdejantes do paraíso intelectual. É esse caminho que vos proponho, meus irmãos leitores e visitantes ocasionais, libertai-vos, purificai-vos, a arte é o caminho da salvação!

quarta-feira, abril 06, 2011

Uma parábola


 À liberdade inicial foram impostas regras restritivas

Nem de propósito. Logo após ter escrito o post anterior dou de caras com a notícia da detenção e subsequente desaparecimento em parte incerta do artista chinês Ai Weiwei.

Conhecido no Ocidente como co-autor do "Ninho de Pássaro", o estranhamente espantoso Estádio Nacional de Pequim, e de uma abstrusa instalação escultórica de milhões de sementes de girassol feitas de porcelana em exibição na Tate Modern em Londres, Weiwei é um crítico público e notório do actual regime "social capitalista" chinês.

O artista foi surripiado por agentes policiais e engavetado em local indeterminado. O crime dele? Nenhum, aos olhos de um regime democrático, algo grave, decerto, segundo os parâmetros dos poderosos chineses. Como podemos aceitar uma coisa destas? Ou encolher os ombros ou desviar o olhar? Como podemos partilhar um mundo global com regimes que não respeitam a dignidade humana nem compreendem o que sejam direitos de cidadania? Como podemos competir no processo de globalização com países que jogam o mesmo jogo que nós mas com regras completamente diferentes? Neste jogo estamos em nítida desvantagem e derrotados logo à partida.

Como tenho vindo a explicar nos últimos tempos, tenho a sensação de que a nossa sociedade deu início a um processo de "sinificação" irreversível (transformação do nosso sistema sociopolítico ocidental em algo próximo do sistema sociopolítico chinês). Este processo é confuso porque é composto de sinais contraditórios. Por um lado Xiaogang, o grande pintor, triunfa. Por outro Weiwei, o artista contestatário, esfuma-se. Por um lado os trabalhadores ocidentais reclamam condições de trabalho que consideram decentes e salários correspondentes ao que imaginam ser justo para eles, por outro os trabalhadores chineses dão o exemplo do que teremos num futuro muito próximo: mais horas de trabalho, menores salários e boquinha calada se não quisermos ir fazer companhia a Ai Weiwei.

Weiwei torna-se um símbolo deste estranho fenómeno de fusão sociopolítica à escala planetária.

O "Ninho de Pássaro" será adaptado para se tornar, preferencialmente, uma espécie de gigantesco centro comercial. Sintomático!

A instalação na Tate Modern, que Weiwei concebeu como um imenso tapete para ser pisado pelos visitantes, que também se poderiam submergir nas sementes de girassol de porcelana, acabou por ser declarada potencialmente prejudicial para a saúde dos visitantes. Ao que parece, a coisa liberta um pózinho que, se inalado repetidamente e durante um período de tempo alargado, poderá ter consequências nefastas.
Por isso, a Tate e o artista decidiram “não permitir membros do público a andar por cima da escultura”.(vale a pena ler aqui).

A instalação de Weiwei torna-se, assim, uma inquietante parábola do processo de "sinificação" do ocidente. É coisa para se ver ao longe por ser potencialmente perigosa para a saúde se por ela nos deixamos seduzir ao ponto de nela nos embrenhamos.

segunda-feira, abril 04, 2011

Sinais



A "sinificação" global prossegue, agora no mercado da arte. A crise que se sente na União Europeia (fala-se mais na crise económica que na crise dos regimes democráticos, mas uma coisa leva a outra) não parece afectar outras paragens.

Um leilão de arte contemporânea chinesa deu lucros muito para lá dos sonhos mais selvagens dos leiloeiros (ler aqui). Os holofotes incidem sobre um tríptico de Zang Xiaogang que foi vendido por um preço daqueles que deixam um gajo com a cabeça a rodar no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio.

Já há uns anos (quando, não sei bem) tinha notado a beleza estonteante de algumas imagens deste pintor chinês, aqui no 100 Cabeças. Nunca vi nenhuma obra dele ao vivo mas sei que não hei-de morrer sem ter essa oportunidade. Não posso.

Mas não é apenas Xiaogang que emerge lá das bandas do Oriente para nos assombrar a imaginação. Muitos outros artistas chineses vão ocupando o lugar que merecem na constelação das artes plásticas.

A "sinificação" prossegue tomando umas formas mais agradáveis que outras. Sinais cada vez mais evidentes das mudanças inevitáveis que se estão a operar neste mundo que, por enquanto, habitamos.

sexta-feira, abril 01, 2011

Vazio (parte 2)



Após o comentário de Madoka ao post anterior fui procurar o Grande Cartola Elton Medeiros nos arquivos do Deus Google, subsecção de memória Youtube. Aqui fica o que encontrei. Subscrevo o que ele canta e sorrio... um bocadinho. Obrigado Madoka.