Ontem realizaram-se eleições em Inglaterra. Quero dizer, na Grã-Bretanha que os escoceses e os galeses também votam naquela eleição. Ou melhor, votou-se no Reino Unido, uma vez que a Irlanda do Norte é considerada parte da coisa e não um país ocupado e por lá também há quem tenha direito a votar. Pronto, deixando de lado precisões escusadas e irritantes, quero eu dizer que se votou para eleger o parlamento inglês.
A percentagem de participação dos eleitores até foi interessante, 65,1%. Bem bom! Mas, segundo as notícias, houve centenas (milhares?) de eleitores que deram com o narizinho na porta da sua "polling station" e não puderam enfiar o boletim na urna. As mesas de voto encerravam às 22 horas lá do sítio e, segundo as regras, depois dessa hora só pode votar quem tiver o boletim na mão. Rezam as crónicas que, conforme os locais, houve diferentes atitudes. Uns meteram o pessoal todo dentro dos edifícios, outros distribuiram boletins aos que faziam fila lá fora permitindo-lhes que votassem e, finalmente, houve quem simplesmente mandasse para casa os eleitores que esperavam pela sua vez que, assim, não puderam exercer o seu direito fundamental.
Ok. Este episódio deixou-me a pensar numa coisa. Se em Inglaterra (ou Grã-bretanha, ou Reino Unido) as coisas se passam assim, como será no Iraque ou no Afeganistão, só para citar dois exemplos recentes de democracias enxertadas em territórios sem tradição democrática? No fim o que conta são os números, as percentagens e os deputados eleitos. Mas o sistema parece não funcionar lá muito bem (lembram-se como Bush foi eleito com aquela vigarice das recontagens dos votos na Florida?).
As perguntas são incómodas:
A Democracia existirá de verdade?
A eleição democrática tem alguma possibilidade de funcionar na realidade, sem trafulhices nem erros grosseiros?
Ou será que o sistema é mantido apenas para garantir a aparência de que funciona?
Estaremos a viver num mundo de faz-de-conta onde o que importa é que a Economia funcione de acordo com o seu desregramento inumano e predador?
Mais uma vez sinto que a Verdade e a Realidade coexistem mas é impossível que coincidam. São coisas diferentes e a vida é algo que se passa algures entre elas. A Verdade é o que nós imaginamos e a Realidade é aquilo que acabamos por receber em troca dos nossos sonhos. É confuso não é? Também me parece.