Atente-se nas declarações que abaixo transcrevo retiradas desta notícia:
Anteontem à noite, o bispo auxiliar de Lisboa, D. Carlos Azevedo, falou dos casos de pedofilia entre membros do clero. Citado pela agência Lusa, afirmou: "É algo que nos faz ter vergonha que tenha acontecido. O povo de Deus sabe distinguir aquilo que são os falhanços de alguns membros do clero daquilo que é a vivência do mistério de Cristo e da vida em igreja e em Deus." Mas, acusou, há uma "campanha, que se transforma quase numa obsessão, numa caça às bruxas".
É interessante que D. Carlos Azevedo tenha utilizado a expressão "caça às bruxas" para vitimizar os padres acusados ou suspeitos de práticas pedófilas.
Por um lado está a colocar esses padres num plano pouco católico, comparando-os com bruxas, por outro lado está a reprovar a própria instituição que representa, uma vez que a igreja católica foi responsável pela caça e execução em praça pública de muitas bruxas por esse mundo fora, assunto que, na maior parte das vezes, prefere ignorar ou, mais simplesmente, esquecer. Pode ainda estar a referir-se aos processos levantados nos Estados Unidos nos anos 40 e 50 do século passado, contra os supeitos do "crime" de pertencerem a organizações de inspiração comunista.
Ultimamente a hierarquia católica tem-se desdobrado em pedidos de desculpas aos judeus, às crianças abusadas... não me lembro de ter ouvido um pedido de desculpas às mulheres-bruxas (ou aos homens-bruxos que também os há!).
São as célebres voltas que o mundo dá. Num dia estamos aqui, no outro podemos muito bem estar ali, no lugar onde anteriormente estava o outro, o inimigo odiado, transformando-nos nele próprio sem sabermos muito bem como nem porquê. O mundo está repleto de estranhos espelhos.
O cristianismo prega o perdão e, sempre que podem, as igrejas que se dizem suas guardiãs lá vão perdoando. A questão que queria deixar é esta: será que, não sendo católicos, podemos perdoar tudo, mesmo as monstruosidades mais abjectas como são estes crimes desumanos contra os fracos e os desamparados?