A vida tem destas coisas. Na
edição de hoje do Público vem uma noticiazinha bastante cinzenta sobre um inquérito feito em 33 países com o objectivo de medir a auto-estima dos povos. "
O trabalho, elaborado por uma empresa internacional de consultoria, o Reputation Institute, pediu a cidadãos de diferentes nacionalidades que pontuassem a confiança, o respeito, a admiração e o orgulho relativamente aos respectivos países."
Portugal lá está no fundo da tabela, em 4º a contar do fim, confirmando o que já se suspeitava: somos tristongas a gastar, os "latinos tristes", como alguém nos designou depois de passar cá um par de semanas a apanhar sol na mona. A notícia segue em ritmo zombie com declarações dos senhores do costume. De um lado Vasco Graça Moura a clamar contra o abandono da Cultura (bem pode ir pregar pró deserto) e do outro o sociólogo Manuel Villaverde Cabral que desbobina umas ideias mais curiosas sobre a forma como a auto-estima se manifesta. Tudo normal (bocejo) até reparar nos 3 últimos lugares da lista.
No fundo o Japão. Pronto, está certo, aquilo afinal é uma ilha grande e os japoneses levam a vida muito a sério e vivem mais tempo que os ocidentais e tudo, por serem tão capazes de fazerem as coisas bem feitas. Mas isso não proporciona felicidade a (quase) ninguém.
Em 2º a contar do chão está a África do Sul. Caramba, pudera, ainda devem andar a curtir a depra de terem vivido tantos anos num regime de apartheid e, uma vez saído do inferno, o país não consegue realizar os sonhos de igualdade, teimando em viver um pesadelo complicado.
Em 3º, mesmo atrás de Portugal... está o Brasil!!! Quem diria? Lendo o resto do jornal encontramos brasileiros em delírio absoluto graças à notícia da eleição do Rio de Janeiro para sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Uma festa carnavalesca. Além disso, a notícia enfatiza a ideia de que, por alturas dos Jogos no Rio, o Brasil será, provavelmente, a 5ª economia mais poderosa do planeta. Então porque está o Brasil atrás do país do Fado e do choradinho neste ranking mal amanhado? Por mais voltas que dê à cabeça só encontro uma explicação ou duas; é herança genética ou então a tristeza vem agarrada à língua portuguesa como lapa vai agarrada na rocha. Não somos nós que dizemos que não há tradução para "saudade" seja qual fôr a língua que tente explicá-la? Pois concerteza, se a saudade é um exclusivo lusófono muita coisa está explicada.