um trabalho de Vhils algures em Lisboa (parece-me)
Li um interessante artigo num dos milhentos suplementos do Público sobre a forma como o grafiti e a arte da rua se estão a transformar em negócios com futuro promissor. Há inclusive uma empresa londrina que oferece "tours" privados para grupos até 5 pessoas pelas ruas do East End por 186€. Aquilo que em Portugal ainda pode dar problemas legais aos grafiteiros, está já ao nível do investimento comercial lá para as bandas de Londres e arredores. É por essas e por outras que uns crescem e outros sofrem de ananismo económico.
É claro que um gajo como Banksy dá muito jeito para publicitar e convencer as forças vivas da nação da importância da arte da rua no panorama cultural contemporâneo. Mas há, decerto, um milhão de artistas com as mesmas potencialidades à espera do momento oportuno para explodirem dentro deste mundo. O garafiti é uma espécie de super-artesanato, uma forma de expressão popular espontânea e de cariz absolutamente urbano, uma materialização espêssa e viscosa da cultura global que se pretende asséptica e liofilizada.
Agora que está já a chegar aos museus e galerias, que as obras dos artistas mais vistosos começam a ser cobiçadas não pelos putos da rua mas pelos putos da mansão em frente, a arte da rua conseguirá manter a sua fúria criativa? Veja-se o que aconteceu com a música popular. O que restou do Rock ou do Punk? Uns velhinhos que andam por esse mundo em digressão, umas poses, uns penteados, umas modas mais ou menos genuínas e pouco mais. Coisas que se vendem, aquilo a que chamamos "merchandising". Desde que se tornou um negócio que a selvajaria da música popular ficou ao nível da do ursinho de peluche. O objectivo de produzir um hit formata de tal modo as pessoas que só são capazes de criar música que não fica a dever nada às latinhas do Manzoni.
Com o tempo, a arte da rua haverá de conhecer novos fenómenos e inventará outras direcções que agora nem somos capazes de imaginar. Entretanto haverá quem nos surpreenda e fascine, quem nos faça sorrir ou simplesmente abanar a cabeça para espantarmos alguma mosca mais insistente que não nos queira deixar em paz. Entretanto convido-te a dares uma olhadela a este vídeo de Vhils em pleno acto criativo. Penso que não darás o teu tempo por perdido.