O texto que segue é retirado da edição portuguesa de "
Grandes Ideias Impossíveis de Provar" saída em Fevereiro deste ano com a chancela da
Tinta da China. É da autoria de
Nassim Nicholas Taleb, aqui apresentado como "
ensaísta, devoto das belles lèttres e praticante da incerteza(i.e., um trader matemático) dedicando-se aos atributos de eventos inesperados, aos desvios extremos da norma e à nossa consequente incapacidade de fazer previsões".
Somos bons a encaixar explicações no passado, ao mesmo tempo que vivemos na ilusão de compreender a dinâmica da história.
Acredito que existe uma séria sobrevalorização do conhecimento naquilo a que chamo as disciplinas históricas «ex-post», ou seja, quase todas as ciências sociais (economia, sociologia, ciência política) e as humanidades - tudo o que assenta na análise não experimental de dados do passado. Estou convencido de que estas disciplinas não fornecem uma vasta compreensão do mundo - nem tão-pouco dos tópicos a que se dedicam. Encaixam-se sobretudo, numa narrativa que satisfaz o nosso desejo (necessidade até) de uma história. As implicações desafiam a sabedoria convencional: não ganhamos grande coisa por ler jornais, livros de história, análises, relatórios económicos; tudo o que conseguimos é ter confiança ilimitada naquilo que sabemos. A diferença entre um motorista de táxi e um rofessor de história é apenas de grau; o segundo é, provavelmente, melhor a expressar-se.
Na economia e nas finanças, por exemplo, há numerosos peritos (muitos dos quais ganham mais de um milhão de dólares por ano)que publicam previsões para benefício dos seus clientes. Experimentem comparar as previsões que eles fazem com os resultados reais. As suas projecções são pouco melhores do que se fossem feitas ao acaso, o que significa que as suas «histórias» são convincentes, mas não parecem ajudar-nos mais do que se dessemos ouvidos ao tal motorista de táxi. Uma leitura atenta dos jornais também não faz a mais pequena diferença para a nossa compreensão daquilo que a economia ou os mercados vão fazer. Testes realizados na década de 1960 por empíricos das finanças, visando o efeito das notícias sobre os preços, chegaram à mesma conclusão. Se examinarmos os dados de perto, podemos verificar que as pessoas tendem a prever (embora com pouca precisão) as flutuações regulares, mas não antecipam os grandes desvios que têm um impacto desproporcionadamente fortes nos resultados finais totais.
Estou convencido, embora não possa prová-lo quantitativamente, que tal sobrevalorização do nosso conhecimento pode ser generalizada para qualquer género de narrativa baseado em informação do passado, e à qual falte verificação experimental. Os ecoomistas foram apanhados porque dispomos dos dados e dos meios para verificar a qualidade dos seus conhecimentos; os historiadores, os novos analistas, os biógrafos, os gurus podem, todos eles, esquivar-se durante mais algum tempo. Diz-se que «Os sábios vêem as coisas antes de elas acontecerem». Para mim, sábios são aqueles que sabem que não conseguem ver as coisas antes de elas acontecerem.
Sábia conclusão a de Nassim Taleb. Entre os analistas da actual era dos computadores e os leitores de entranhas de galinhas pretas de épocas perdidas na noite de tempos de barbárie não há uma diferença assim tão acentuada. Acreditamos nos nossos adivinhos porque os imaginamos praticantes de ciências seguras. Mas podemos estar enganados.