Ainda há muito quem recorde que chamamos ao bacalhau "o fiel amigo". É uma designação algo estranha para um peixe, não acham? Dizemos também que o melhor amigo do ser humano é o cão mas o bacalhau bate-se bem com o quadrúpede, aqui por estas bandas. O bacalhau tem desde logo uma vantagem sobre pastores alemães, chiuhauas e buldogues, a gente come-o! Ainda por cima há mil e uma (ou duas) maneiras de cozinhar o bacalhau o que dá para satisfazer praticamente todos os gostos, mesmo os mais esquisititos.
Nesta época de Natal, em Portugal, pelo menos, come-se bacalhau ás toneladas. Cozido, assado na brasa, com natas e couves e batatas, as maneiras de cozinhar este amigo de longa data esgotam a imaginação do português humano.
Ainda ontem comi bacalhau. Nem gosto muito de ver o bicho deitado no meu prato mas enfim, Natal obriga e, vamos lá, até nem sabe tão mal quanto poderia parecer quando era criança e fugia dele como o diabo foge da cruz. O Natal é daquelas épocas em que um gajo parece não resistir a certas tradições. A árvore de Natal (tenho uma artificial "made in Vietnam!!!), as prendas, a reunião de família... o bacalhau. A quadra natalícia sem estes ingredientes não sabe bem, muito menos fica completa. Acabo de regressar de casa dos meus pais onde fui passar os últimos dias. Três ou quatro dias passados a comer e a beber em frente à lareira. A conversar, a rir. Três ou quatro dias a sentir que sempre houve, há e haverá um lugar onde o tempo não passa da mesma forma que passa noutros lugares, onde as recordações de muitos anos se cruzam com premonições de diferentes futuros. Os filhos, os sobrinhos, a criançada toda. Os familiares, os vizinhos, a casa.
E ele lá estava, como sempre, deitado e à espera que lhe espetasse o garfo. O fiel amigo, sempre presente, dê lá por onde der, cozido, assado, com natas, couves, batatas...