segunda-feira, julho 30, 2007

Que viva o Iraque!!!

A vitória da selecção de futebol do Iraque na final da Taça da Ásia por 1-0 sobre a da Arábia Saudita constitui um feito histórico. O jogo decorreu em Jacarta, capital da Indonésia, perante 50 mil espectadores que, segundo rezam as crónicas, torceram na sua maioria pela equipa iraquiana.

A selecção do Iraque não faz jogos oficiais no seu país vai para 17 anos por imposição da FIFA, uma medida que se compreende já que, por exemplo, na sequência da vitória na meia-final desta Taça da Ásia sobre a Coreia do Sul, quando a população de Bagdad festejava nas ruas, houve 50 mortos em atentados bombistas. O nojo do costume. Os terroristas são verdadeiros animais irracionais no comportamento mas friamente racionais na preparação dos seus crimes.

Younis Mahmoud, o autor do golo, provocou uma explosão de alegria colectiva no seu país. Naquele momento a vida terá parecido quase "normal" em todo o Iraque. As fotos mostram pessoas eufóricas como acontece mundo fora quando se vive a alegria de um golo.

Esta vitória é considerada muito importante pelos actuais dirigentes iraquianos já que a equipa é constituída por sunitas, xiitas e curdos, numa raríssima união nacional em torno de objectivos comuns. Descortinam aqui uma oportunidade propagandística que poderá trazer alguns momentos de orgulho nacionalista. Mas é como pôr um penso rápido numa perna decepada. O próprio Younis Mahmoud afirmou que não quer voltar ao Iraque por temer retaliações por ter sido o autor do golo da vitória; "Não quero que os iraquianos se zanguem comigo, mas se regressar com a equipa, alguém pode matar-me ou tentar ferir-me".

Terá o golo de Younis Mahmoud o dom mágico de unir os iraquianos? Será possível que se venha a cumprir uma espécie de conto de fadas num país onde a realidade se assemelha mais a um conto de terror? Estou em crer que não. Tudo isto será rapidamente esquecido e afogado no mar de sangue que por ali cresce a cada dia. Mas acredito que muitos milhares de iraquianos sonharam com isso: um país onde o tétrico rebentamento das bombas desse lugar a explosões de alegria provocadas pelos golos de todos os Younis Mahmoud que nos dias que correm não podem brilhar nos estádios e se escondem com medo dos assassinos.
Que viva o Iraque!

sábado, julho 28, 2007

Tragédia de Congonhas


Este post é copiado de http://cimitan.blogspot.com/ e tem o objectivo de fazer com que esta tragédia fique bem vincada no mundo real.


Tragédia de Congonhas Jornal espanhol faz a melhor reconstituição animadaVeja aqui a reconstituição animada da tragédia de Congonhas feita pelo jornal espanhol El Pais. Preste atenção que ela permite ver como foi o desastre de vários ângulos. Para isso, basta continuar clicando em um botão que tem lá.

Eu posso não existir

Um elemento básico da mecânica quântica é que o homem cria a realidade ao observá-la. Antes dessa observação, o que verdadeiramente existe são todas as situações possíveis. Só um olhar atento concretiza a possibilidade, revelando-a ao observador que, assim, acaba tomando partido por uma hipótese entre muitas. As restantes ficam "lá", permanecem, aguardam nova observação, outra hipótese de virem a fazer parte do universo real, aquele que somos capazes de perceber ou tivemos a sorte de conseguir materializar.
A ser assim, o mundo é muito mais vasto e surpreendente do que aquilo que jamais seremos capazes de entrever com os nossos cérebros obstinados e tímidos.

A parte do texto a bold é uma transcrição adaptada de uma passagem de O Pintor de Batalhas de Arturo Pérez-Reverte, livro que me foi emprestado pela Margarida Lucena e que ando a ler com longuíssima paciência, como é meu hábito (coisa que à Margarida faz alguma confusão). Meia-dúzia de páginas por dia, ao deitar ou ao levantar, bem saboreadas e melhor digeridas que este livro tem um sabor forte e condimentado mas é absolutamente delicioso. Do melhor que tenho lido nos últimos tempos (e bem gostei de O Vendedor de Passados da autoria de José Eduardo Agualusa ou de A Sombra do Vento de Carlos Ruiz Zafón) . Ainda vou a meio do livro e já me interrogo sobre a possibilidade de ler outras obras deste espanhol inspirado.
Ver mais sobre o autor em http://www.capitanalatriste.com/

Voltando ao texto de entrada, lembrei-me de o ter lido quando confrontado com a sucessão de calamidades expostas nas páginas do meu jornal diário (o Público). Incêndios infernais na Grécia e cheias assustadoras em Inglaterra, no Sudão, Indonésia, Nepal, China e Índia. Combates mortíferos no Afeganistão, atentado bombista arrasador no Paquistão, falcatruas e vigarices em França e nos EUA, uma revista satírica apreendida em Espanha por ofender um casal de príncipes lá do sítio. Uma sucessão de notícias (possibilidades) à espera de contacto. Ao lê-las construo uma arquitectura particular do mundo em que vivo. As notícias que "passo" e os acontecimentos que não fazem parte do jornal não deixam de existir só porque não as contacto. E, no entanto, para mim é como se não existissem.

O mundo está uma desgraça, o caos reina em grande estilo, penso eu.
Mas... não terá sido sempre assim? A diferença reside no acesso que temos à informação. Em 1500, por exemplo, quantos incêndios devastadores e inundações horrorosas terá havido no planeta Terra? Bom, para os nossos antepassados, este mesmo planeta era algo muito diferente daquilo que é, hoje, para nós. Pronto, está bem, falemos, por exemplo, de... 1900! Quantas guerras genocidas foram ignoradas? Quantos crimes contra a humanidade foram perpetrados em nome da Ciência e do Conhecimento pelos exploradores europeus nos 4 cantos do mundo? Quem se ralou com isso?
Como propõe a mecânica quântica, o homem cria a realidade ao observá-la e isso prova, com toda a evidência, que a realidade não existe enquanto sistema absoluto. Não passa de uma hipótese abstracta que teve a sorte de ser nomeada, registada e exposta. Coisa pouca.

sexta-feira, julho 27, 2007

Haja paciência

Que Hergé nunca se distinguiu por ser um autor políticamente correcto não é de admirar pois a sua obra foi maioritáriamente produzida e editada numa época em que esse conceito não existia nem faria qualquer sentido.
Tintin nasceu numa época em que havia pretos e brancos, comunistas e fascistas e outras classificações cruas e cruéis. O colonialismo ainda não era encarado como um crime e o saque dos países africanos era feito com maior descaramento do que actualmente. Os europeus estavam convencidos da sua superioridade absoluta e dominadora. Muitas das aventuras de Tintin reflectem o estado do mundo na época em que foram criadas. Veja-se Tintin no país dos Sovietes, Tintin no Tibete ou mesmo Tintin na América, para citar apenas alguns exemplos reveladores da visão maniqueísta que sempre caracterizou a obra de Hergé.
A actual polémica relacionada com Tintin no Congo mostra como a hipocrisia vai ganhando terreno no mundo ocidental. Em Inglaterra e nos Estados Unidos esta aventura de Tintin vai ser colocada na secção de adultos de algumas cadeias de livrarias (será em todas?) por "poder ser considerado ofensivo por alguns clientes". Pobres crianças que se poderão chocar com algumas passagens "indecentes" desta BD. Estas mesmas crianças são potenciais espectadoras de séries televisivas como os geniais Simpsons ou o abrutalhado Family Guy (http://pt.wikipedia.org/wiki/Family_Guy), brincam possivelmente com jogos como Grand Theft Auto (http://pt.wikipedia.org/wiki/Grand_Theft_Auto) e não perdem um programa de Wrestling na TV sem que ninguém trema por um momento que seja. Como pode Tintin no Congo ser considerado ofensivo num mundo como este? Posso concordar que se trata de uma BD de fraca qualidade e bastante desinteressante. O problema é que, pelo facto de haver boas histórias de Tintin, a crítica tende a meter tudo no mesmo saco e pode pensar-se que todas as obras de Hergé são primas. Mas não, há por ali muita obra menor. A hipocrisia não tem limites.
Para manter o nível atrevo-me a sugerir que, sempre que surjam nos noticiários personagens como Bush ou Blair, as crianças sejam retiradas da sala ou se lhes tapem os olhos e os ouvidos por uma questão de sanidade geral.
Haja paciência.

quinta-feira, julho 26, 2007

Vida

Banksy

Um computador, um belo sofá. Ar condicionado e frango assado. Lá fora carros e mais carros, como um rio. Água na torneira, chuveiro e flores na varanda. Prédios inteiros e altivos. Aviões comerciais piscam ao longe. Cerveja fresca para matar a sede. Aqui só se mata a sede e a fome e as baratas com um spray implacável. Luzes acesas apenas para espantar a escuridão. Roupas confortáveis. Barriga proeminente e lâminas de barbear. Um dentista impecável, ausência de dor e, ainda assim, o receio de sentir. Jornais, livros, filmes na TV a horas certas. Férias. Viagens, hotéis, praias repletas de banhistas. Mulheres bonitas, bem vestidas. Homens simpáticos com sorriso afivelado e penteados. Gravatas cor-de-rosa. Vento e sol. Clima ameno. Tudo isto e muito mais. Mesmo assim andamos insatisfeitos. Isto ainda não chega. 10 minutos de publicidade na TV mostram até que ponto estamos incompletos, revelam tudo aquilo que precisamos ter e consumir e ainda não sabíamos que precisamos ter e consumir. Tenhamos e consumamos. Um computador, um belo sofá e um puto assado. Lá fora carros e mais carros de combate. Água estagnada e bactérias malvadas. Um jacto passa a rasar os telhados ausentes dos prédios semi-destruídos. Ódio puro para matar a sede de vingança. Aqui mata-se tudo o que mexe. A tiro, à bomba, à facada, à paulada, à pedrada e até ao estalo. Não há luz nesta escuridão. Apenas dor. Na praia uma cama de ferro enferrujada espera melhores dias. Como um cão deitado junto à campa do dono. Há quem esteja satisfeito pela simples razão de continuar vivo.

quarta-feira, julho 25, 2007

Puxar o Charrua

O que se segue pode parecer patetice mas se calhar até nem é.
O professor Charrua foi acusado, suspenso e posto a andar da Direcção Regional de Educação do Norte (DREN) por ter, supostamente, insultado José Sócrates, actual 1º ministro da nação portuguesa.
O professor foi "bufado" por um colega que, segundo ouvi dizer ao próprio Charrua em entrevista que passou no Telejornal da RTP1, acabou nomeado assessor directo da senhora que manda na DREN. Como classificar esta ascensão profissional de um bufo que vê premiado o facto lamentável de ser um refinado sacana? Dizem que o crime não compensa... depende daquilo que entendamos ser crime. A senhora que manda na DREN promove o seu cãozito-de-fila após expulsar o mauzão do Charrua. O caso deu brado e pôs toda a gente de bem a berrar na praça pública: que isto não pode ser, etc. e tal. Ao que parece a berraria até que deu resultado. Pelo menos começam a verificar-se resultados mais ou menos animadores.
Veio ontem a senhora ministra da educação dizer que não pode haver condenações por delito de opinião e que, assim sendo e num gesto de estupidificante magnanimidade, o processo disciplinar que a senhora que manda na DREN tinha instaurado ao professor Charrua será arquivado. Palmas, palmas, muito bem senhora ministra, até que enfim há razões para aplaudir uma medida tomada por Vossa Excelência. Mas, desculpe lá, estava aqui a pensar, então o que acontece à senhora que manda na DREN? Não acontece nada? E ao seu mais recente assessor (se Charrua falou verdade há um novo assessor da senhora que manda na DREN), esse animal de pêlo curto? Afinal de contas a senhora que manda na DREN abusou nitidamente do poder de que está investida pelo ministério que representa. Abusou, não abusou? Com as suas atitudes de saloia mal formada que se vê no papel de governanta do palácio, a senhora que manda na DREN merecia, no mínimo, ser demitida do cargo. Ou não? Se calhar estou a ser demasiado severo na minha apreciação.
Por outro lado quer-me parecer que a senhora ministra foi, desta vez, demasiado lenta a tomar uma atitude. Se tivermos em consideração o seu habitual modus operandi, ficamos com a sensação de que está a fazer de conta que não há problema nenhum com a senhora que manda na DREN, que até lhe aprecia as "qualidades" que revela em todo este processo digno da mais mesquinha tradição do Santo Ofício.
No actual ponto de rebuçado de toda esta salsada temos o Charrua a clamar justiça, com os dentes filados na senhora que manda na DREN e no seu mocito de recados e a senhora ministra a assobiar para o lado, a fazer de contas que, pronto, agora está tudo bem e podemos voltar a fingir que vivemos num sistema verdadeiramente democrático. Mas não me parece que isto possa ficar por aqui.
Para terminar este texto que já vai longo deixo apenas uma nota final sublinhada: a licenciatura de José Sócrates continua muito mal explicadinha e ainda vai fazer rolar muitas cabeças. Falta saber quais.

terça-feira, julho 24, 2007

Disputando a amizade de Deus


Ontem passou um documentário muito interessante na RTP2. Com o título "Friends of God" (ver mais em http://www.hbo.com/docs/programs/friends_of_god/) esse documentário revela-nos em toda a sua extensão o fenómeno do fundamentalismo cristão em plena expansão nas terras do Tio Sam.
Numa época em que, no mundo ocidental, somos constantemente bombardeados com notícias alarmantes relacionadas com o fundamentalismo islâmico e todo o fanatismo a ele associado que relacionamos com o terrorismo internacional, temos aqui uma oportunidade de vislumbrar um pouco da realidade norte americana que estará na base das atitudes agressivas e messiânicas da administração Bush.
A "National Association of Evangelicals" (http://www.nae.net/) é uma organização tentacular que, como podemos ver e ouvir no citado documentário, se gaba de estar largamente representada nos actuais centros de poder e decisão norte americanos.
Assim sendo estamos perante um confronto internacional de fanáticos religiosos que eternizam, agora à escala planetária, velhas inimizades irracionais herdadas do Mediterrâneo medieval e que, na Europa, julgávamos completamente ultrapassadas. Daí uma certa dificuldade em compreendermos a agressividade animalesca com que Bush se atirou ao Iraque. Mas, se olharmos a invasão do Iraque à luz destes fanatismos religiosos, a coisa ganha outra dimensão.
Agora Irão e EUA disputam a amizade de Deus, pondo em perigo todo o planeta e a sanidade mental de milhões de cidadãos por esse mundo fora.
Para quem interpreta a Bíblia de forma literal ao ponto de defender com unhas e dentes o designado Criacionismo será difícil compreender e aceitar que existam outras religiões com igual direito para defender o seu fanatismo. O Corão contra a Bíblia com armas nucleares não abona em favor da saúde de todos nós.
Há um vírus perigoso a alastrar entre os comedores de hamburgueres da McDonalds do Norte da América, que acreditam estar investidos da missão divina de catequizar o resto do planeta. Em nome da sua amizade particular... com Deus!
Onde é que eu já ouvi isto?
(corrigi este post pois falava da invasão do Irão quando devia refrir o Iraque. A essência do texto mantém-se.)

segunda-feira, julho 23, 2007

Estranhas sensações - parte 2


Esta manhã fui a um daqueles super mercados a que alguns, com uma ligeira tendência para a mania das grandezas, insistem em chamar hiper.
Na minha qualidade de homem tecnológico alimento-me do que encontro nas prateleiras dessas tremendas superfícies comerciais. Tal como os meus antepassados se deslocavam na floresta, à espreita de alimento, também eu me encho de coragem e lá vou. Suporto a luz branca e intensa, controlo os impulsos consumistas o melhor que posso, tento ignorar o barulho ensurdecedor e concentro-me ao máximo no trabalho recolector.
Cestinho de plático vermelho com rodas e pega extensível (o design de equipamento é maravilhoso!) atrás de mim e lá fui.
Uma das coisas que mais me costumam impressionar nos supermercados é a secção de frutas e legumes. Desde que me apercebi de uma estranha sensação nunca mais pude evitá-la.
Refiro-me à estranha sensação causada pela proximidade de centenas de pêssegos (talvez mesmo milhares) sem lhes sentir o odor. Um dia reparei nisso. Como podia nunca ter reparado! Uma coisa que me seduz nesse fruto, além do toque suave da pele, é o intenso e "saboroso" odor que exala. Pegar num pêssego e encostá-lo suavemente ao nariz é um momento de grande felicidade animal. Mas, naquele dia fatídico, reparei que não havia um cheiro particular. Nem dos pêssegos, nem das maçãs, nem de nehuma outra qualidade de frutos ali expostos em quantidades industriais. Horror dos horrores! Apesar do bom aspecto em tamanho e côr, os frutos não tinham cheiro!!!
Desde esse dia que me comporto como um cão, farejando tudo com pouca esperança de encontrar algo que me apeteça levar para o remanso do lar e aí devorar com volúpia.
Mas hoje de manhã tudo mudou. Perante embalagens de 6 pêssegos todos semelhantes como peças industriais, cobertos com película aderente transparente senti a indiferença habitual. Maquinalmente peguei numa embalagem, encostei-a ao nariz e... oh, alegria imensa, estranha sensação, um forte odor chegou até mim, mesmo através do plástico.
As regras comunitárias que tudo tendem a normalizar, liofilizar e empacotar com aparência saudável estão a tornar a nossa existência ainda mais indiferente e anódina. O pêssego que acabei de comer devolveu-me alguma esperança na possibilidade de virmos ainda a recuperar certos prazeres meio selvagens que vamos perdendo na paranóia quotidiana de olharmos pela nossa saúde em todos os pormenores possíveis e imaginários.
Fumar mata, comer faz mal, o álcool destrói e a droga enlouquece. Tudo nos atemoriza e nós evitamos, como se pudessemos contrariar a natureza humana. Afinal de contas desde o momento em que nascemos começamos a morrer! A vida é uma caminhada para a morte que pode ser mais rápida ou mais lenta, mas o desfecho é inevitável. Não temos que nos sentir deprimidos por isso... que conversa mais mórbida!
Vou comer outro pêssego daqueles. É preciso aproveitar as coisas boas que a vida nos oferece!
Pensamento positivo.

sábado, julho 21, 2007

Estranhas sensações

A exposição "O Corpo Humano como nunca o viu" (http://www.ocorpohumano.net/) é um espaço onde nascem estranhas sensações. Visitei-a hoje com a minha filha depois de termos passado pela extraordinária Igreja de São Roque. A Igreja está absolutamente espectacular. A "aridez" da fachada sobre o Largo da Trindade constitui uma discreta cortina, não deixando adivinhar, nem de longe nem de perto, a riqueza esfusiante do interior. Absolutamente deslumbrante!
Com "O Corpo Humano como..." passa-se algo vagamente semelhante. Também ali se descerra uma cortina para entrarmos num mundo estranho e perturbante.
Esfolados em posições dinâmicas ou de repouso, plastificados e recortados, expõem aos nossos olhos segredos que normalmente apenas suspeitamos. Numa sequência didáctica, com momentos de grande impacto visual ou interesse científico, a exposição oferece perspectivas verdadeiramente curiosas do que guardamos cá dentro, mostrando cruamente o aspecto de alguns dos nossos tesouros mais preciosos. Admirar um coração ou um cérebro é, certamente, uma actividade perturbante. Nós somos aquilo. Melhor, nós parecemos aquilo, porque o que somos não se pode plastificar, cortar às postas e expor ao público. Ainda não conseguimos materializar a alma ou o espírito, ou lá como se chama a coisa que põe todos aqueles ossos e músculos a funcionar com determinado objectivo.
O único senão poderá ser o preço dos bilhetes (consultar o link acima) mas, no meu caso, tive a sorte de a Célia nos oferecer 2. Foi por isso que a Ana ficou numa esplanada no jardim do Príncipe Real a conversar com a Célia, enquanto eu e a minha filha visitavamos a exposição. Lá no fundo, lá bem no fundo, talvez a vontade de ver corpos humanos retalhados e plastificados não produza o mesmo tipo de curiosidade em todos nós!

quarta-feira, julho 18, 2007

O milhão

A unidade de medida para aquilatar o sucesso de um filme, de um livro ou de uma obra de arte vendida em leilão é o milhão. O milhão de euros, o milhão de dólares, o milhão de discos vendidos, o milhão de espectadores, o milhão de vezes que o nome de alguém e repetido com uma caixa registadora de permeio.
Esta forma de "medir" o mundo que nos rodeia não deixa de ser curiosa e injusta, reveladora de uma certa esquizofrenia paranóica (que quererá isto dizer?) característica da sociedade de consumo cada vez mais desenfreado em que nos movemos como moscas volteando numa imensa e apetitosa lixeira.
O sucesso assim medido deixa-nos a quase todos na prateleira dos tansos incapazes de gerar milhões (do que quer que seja) e incentiva-nos a escarafunchar as nossas existências na busca de uma oportunidade para amealharmos o nosso tão ambicionado milhão (qualquer coisinha serve). Um problema complicado!
Há o Guiness Book of Records, há as listas dos mais ricos, os rankings de popularidade ocupados por legiões de semi-deuses, cada qual com o seu milhão particular do que quer que seja. Nos states os nossos primos americanos dividem com frequência os cidadãos em loosers e winners, sempre com os tais milhões a servirem de bitola.
Talvez vá sendo tempo de baixar um pouco a fasquia para os mortais comuns. Eu proponho a dezena (ainda pensei na centena mas...).
Assim todos teríamos maiores probabilidades de vermos realizados os nossos sonhos. "Ganhei vinte euros a jogar à lerpa! Estou tão feliz!" ou "Já fiz hoje mais de dez desenhos, acho que mereço uma boa cervejola fresca!".
É isso, vou fazer uns desenhitos para merecer a bujeca ao fim da tarde!

terça-feira, julho 17, 2007

Parece bruxedo!


Harry Potter gera receitas de 77,4 milhões no fim-de-semana de estreia
O filme "Harry Potter e a Ordem da Fénix" gerou 77,4 milhões de dólares em receita de bilheteira no último fim-de-semana, nas salas de cinema dos EUA e do Canadá, proporcionando à Time Warner a melhor sequência de cinco dias para um filme que estreou numa quarta-feira, desde "Homem-Aranha 2", em 2004.

Série Harry Potter dá origem a mundo paralelo na Internet
Por Mike Collett-White
LONDRES (Reuters) - A série de livros Harry Potter deu origem a todo um universo paralelo na Internet, e sites atraem milhões de fãs todos os dias, influenciando bastante o sucesso dos romances e das adaptações para o cinema da trama.
As histórias criadas por J.K. Rowling são tão famosas, assim como as páginas na Internet criadas em torno delas, que alguns fãs online acabaram virando astros.


Etc., etc., etc., Harry Potter é um fenómeno de popularidade. É um ídolo Pop na verdadeira acepção do termo e do conceito. Nunca li nenhum livro da série mas vi quase todos os filmes, incluindo o recente "A Ordem da Fénix" (a minha filha já viu duas vezes e prepara-se para ver, amanhã, a terceira). São filmes com efeitos especiais estonteantes e uma linha visual sóbria e muito bem conseguida. O universo sombrio de Harry Potter possui todos os ingredientes para apaixonar multidões de jovens que têm crescido com os actores protagonistas e vão sendo agradvelmente surpreendidos por cada novo filme.
Nem o facto de haver algumas falhas evidentes na passagem dos livros para o écran, mesmo para quem, como eu, nunca leu nenhum, impede o sucesso extraordinário da série cinematográfica. Basta olhar para os calhamaços escritos pela Senhora Rowlings para perceber que traduzir toda aquela literatura em cinema não daria filmes com menos de 5 horas (contas por baixo) o que não iria incomodar os fãs mais fervorosos.
Seja como for, ir ao cinema assistir a mais este episódio de Harry Potter, é um exercício agradável e refrescante que aconselho a quem tem filhos e a quem não tem. A quem gosta de cinema e a quem não se importa de ouvir mastigar pipocas nervosamente.
Uma espécie de pequena festa!

segunda-feira, julho 16, 2007

Ler e escrever


O alarme soou: os resultados nos exames de Matemática no 9º ano terão sido prejudicados pelas fracas competências dos estudantes no que respeita a leitura e interpretação das questões colocadas.
Se repararmos nos (aparentemente) excelentes resultados dos mesmos alunos na prova de Língua Portuguesa podemos ficar confusos. A análise das causas para a fraca prestação em Matemática não coincidem com a leitura "directa" dos resultados em Português. Em que é que ficamos?
Das duas uma; ou os graus de exigência das provas não foram semelhantes (o exame de Português do 9º ano foi nitidamente muito... acessível e o de Matemática nem tanto) ou então os alunos não se sentiram motivados de igual forma na maneira como encararam as provas realizadas.
Lá no fundo quer-me parecer que anda por aqui muita "engenharia" educativa. Tapa-se o peito destapam-se os pés, tapam-se os pés fica o peito a apanhar frio.
Resumindo e concluindo: os resultados dos exames não servem para grande coisa quando são analisados sem contextualizar os processos de ensino/aprendizagem. O que está errado talvez seja o currículo global do Ensino Básico com as suas 14 disciplinas apinhadas em horários semanais dignos de um operário do século XIX. Mas ir por aí dá demasiado trabalho. É mais fácil continuar a acusar os professores de incompetência e as escolas de má organização.
Lá no Ministério a rainha má não deve ter espelhos que lhe façam a justiça desejada. O costume.

domingo, julho 15, 2007

Lisboa ainda lá está!

Uma das coisas boas de viver em Almada é poder admirar Lisboa sem necessidade de lá entrar. Principalmente à noite é uma vista bonita. Da janela da minha sala vejo o Cristo Rei e os aviões que se fazem à pista do aeroporto da Portela a passarem-lhe sobre a cabeça, uns após outros, ininterruptamente. Sinto a capital a pulsar do outro lado do rio. Quando lá vou tenho sempre uma qualquer razão objectiva. Raramente me desloco a Lisboa apenas para passear mas isso também acontece.
Hoje foi o culminar do processo das eleições intercalares para a presidência do município alfacinha. A campanha foi o que se viu e ouviu. Teve de tudo. 12 candidatos fizeram discursos variados e para todos os desgostos. No fundo, no fundo disseram basicamente a mesma coisa conforme se inclinassem para a esquerda ou para a direita, sem correrem grandes riscos. Todos jogaram pelo seguro e os resultados finais confirmaram as previsões dos últimos dias.
O PS dramatizou a coisa e lá agitou com o fantasma da ingovernabilidade caso não tivesse maioria absoluta. Carmona conseguiu passar a imagem de rapazinho bem comportado e melhor intencionado. Negrão confirmou ser um bimbo emproado, incapaz de cativar o eleitorado lisboeta. Ruben de Carvalho, Helena Roseta e Sá Fernandes formam um trio de esquerdistas convictos. Tão convictos que tiveram de concorrer separados como é costumeiro entre os partidos de esquerda. Cada um mais puro que o outro nas formas e intenções que representa lá elegeram os respectivos vereadores. Fica a gora a curiosidade de ver quem irá apoiar António Costa nas diversas ocasiões.
Os partiditos mais pequenitos lá dividiram migalhas e não é com desagrado que vejo Garcia Pereira, o eterno candidato a todos os cargos que nunca será eleito para nenhum, ficar à frente daquele gajo sinistro do PNR, com o dobro da percentagem de votos que o homenzinho do cartaz conseguiu alcançar. O nazi-fascista pretendia ser o maior dos mais pequenos (o gajo tem mesmo necessidade de afirmação!) e ultrapassar a inimaginável barreira de 1%. Deus é grande e nem uma coisa nem outra. Espero que se esconda por um largo período de tempo e continue a dar entrevistas para blogs secretos e a iluminar a existência dos seus apagados partidários com cortes de cabelo à Adolf que o acompanharam pelas ruas de alguma Lisboa que este gajo não pode entrar em bairros onde vivam muitos pretos. Por razões óbvias tem de se ficar por zonas de brancos, de preferência transparentes e barbeadinhos.
Tanto barulho por nada! A abstenção chegou a 62%. A praia e as férias prejudicaram a Democracia afastando os eleitores do seu dever cívico. Fica a amarga sensação que a Democracia é coisa menor e deveras desinteressante aos olhos daqueles palonços que vêm fazer bichas infinitas nos caminhos da Costa, como se disso dependesse a sua felicidade e existência.
Tanta agitação mediática, tanto discurso e cartaz, para as colinas de Lisboa parirem afinal um rato miserando que proporcionou a Sócrates um discurso inflamado, com um brilhozinho nos olhos, a reclamar uma grande vitória para o Partido Socialista. Foi uma vitória, sem dúvida, mas não me parece que tenha sido tão grande como o 1º ministro nos quis fazer acreditar.
Fui à beira do rio olhar para o outro lado. Lisboa ainda lá está, igualzinha sem tirar nem pôr. Tenho cá a impressão de que assim vai ficar.

sábado, julho 14, 2007

Amor de cão


Uma coisa que me faz alguma confusão é ter animais fechados em casa. Um peixinho palhaço ou um canário ainda vá que não vá, mas um doberman ou um grand danois, meu Deus, qual é a ideia? Fechados todo o dia num apartamento, à espera que o dono os leve à rua para um chichi libertador ou um cócó reconfortante, que merda de vida têm esses bichos? Depois há o probleminha da caca no passeio. Vai um gajo a sair de manhãzinha para um belo dia de trabalho e, plof, pisa uma poia do tamanho de um pão alentejano. Caramba, há poucas formas piores de iniciar o dia. Digo eu.
Há aquela regra de civilidade que manda os passeadores de cachorros levarem um saquinho de plástico para apanharem os presentes dos bichinhos para depois depositar no caixote do lixo. Quantos cidadãos se dão a esse trabalho? Poucos. Muito poucos. Regra geral disfarçam. Olham as montras, assobiam para o lado, fazem de conta que não estão a ver o bicho a cagar no passeio.
Tudo bem. Até posso compreender que não seja a actividade mais edificante, apanhar a merda dos cães com a mão. O que me espanta mesmo é terem os animais fechados no apartamento. Que mal fizeram os bichos a Deus para merecerem tão entediante cativeiro?Aquilo só pode enlouquecê-los, deixá-los à beira de um ataque de nervos. A eles e aos cidadãos que patinam na merda e ficam a dizer mal da vida e a cheirar a caca.
Quem gosta de animais em casa deveria ficar-se pelo cágado ou pelo bicho-da-seda. Ou satisfazer-se consigo próprio, não sei. Não me parece que fechar os bichos em casa seja prova de grande amor. Muito menos de admiração ou respeito.

sexta-feira, julho 13, 2007

Quem é ele?

Familia: Bufonidae.
Género: Bufo
Especie: bufo
Nome comum: Sapo comum.


Gostava de saber quem foi o denunciante de Charrua. Tenho interesse em saber o que o levou a tomar a atitude de bufar o colega. Terá sido um assolapado amor à Pátria ou uma devoção quase religiosa pela figura do 1º ministro? Um impulso incompreensível mas grandioso ou mera mesquinhez e inveja? O que foi? O que pode levar um ser humano a descer ao nível animal de uma ratazana de esgoto? Como é o seu aspecto? Terá corcunda e sobrancelha única como Igor, o célebre coadjuvante do Doutor Frankenstein? Ou nada o distingue do mais inocente dos mortais?
O clima não anda particularmente ameno. Fala-se “deles”, aqueles tais que não sabemos quem são mas sabemos que andam por aí, a espiolhar e a falar baixinho, a apontar nomes no caderninho. Mas eles têm rosto e têm nome e nós, cidadãos honestos com gosto pela liberdade de expressão, temos o direito de saber quem são. A fotografia do denunciante de Charrua devia ser capa de jornal. N’O Crime, no 24 Horas, no Público, devia abrir os telejornais em horário nobre: “Esta é a face de Fulano Tal, bufo em actividade. Caso o veja por perto enxote-o ou tenha cuidado com aquilo que diz.” Isto seguido de entrevista tentando esclarecer as tais razões que levam um ser humano a descer ao nível animal de uma ratazana de esgoto.
A total impunidade de um bufo é uma afronta à Democracia.

Carta enviada ao director do Público em 13 de Julho de 2007

Aborrecimento


O mundo deve ser tenebroso aos olhos um analfabeto que desça as encostas da serra para tentar a sua sorte entre os muros da cidade.

Procurar um lugar ou um trajecto entre todas as tabuletas, sinais, avisos e outras formas gráficas de comunicação características da agitação visual da urbe deixará o nosso querido analfabeto com náuseas e a cabeça a andar à roda. Assaltado pela nostalgia do espaço familiar nas agrestes mas acolhedoras encostas repletas de calhaus e urze, o nosso amigo é levado a recordar reconfortantes conversas com as ovelhas, essas excelentes companheiras, e a singela limpidez da paisagem visual que deixou para trás.

De igual modo, um estudante sentado na sala de exame perante um teste que não é capaz de descodificar por não compreender a linguagem em que este se lhe apresenta, se sente algo perdido. Uma ligeira vertigem basta para o levar dali, a pairar num pensamento ligeiro e recordar reconfortantes conversas com amigos virtuais numa linguagem singela e límpida como um céu sem nuvens. O mundo que faz sentido e se completa em sinais descodificáveis, não o mundo escuro e frio daquele teste.

Pastor e estudante, perdidos em intrincados labirintos de sinais crípticos e significados extraterrestres, irmanados pelo mesmo doce paladar da iliteracia funcional, recordam com uma pontinha de angústia mundos onde são reis e tudo podem. Mundos que fazem sentido, onde o infinito é outra coisa que ali e agora não existem. Mas que permanecem.

quarta-feira, julho 11, 2007

Filantropia



Quantas pessoas se podem gabar de andar pelos museus deste mundo oferecendo obras às paredes de forma absolutamente graciosa, animadas apenas pelo mais puro dos amores ao seu semelhante?
Banksy. Apenas Banksy. Banksy e mais ninguém!

terça-feira, julho 10, 2007

Rei do Hamburger

Encontrei esta imagem num livro sobre a obra de Banksy. Perturbador, no mínimo, inspirador, no máximo. É estranho como as imagens de miséria têm esse poder imenso de actuar como pranchas de navio pirata nas quais avançamos devagarinho, mãos atadas atrás das costas, passinhos miudinhos, a fazerem crescer a prancha. Espicaçados nas costas pela espada implacável e insolente de um manhoso Capitão Gancho lá vamos andando, sabendo certo o mergulho no meio dos tubarões que sorriem dentro de água, debaixo da prancha.
Estamos fritos mas sabemos que tudo isto não passa de imaginação nossa, trabalho de um insuspeito Peter Pan que está ligado a nós como uma sombra eterna e poderosa. É essa sombra que nos permite o sonho, a percepção do bem e do mal que nos ajuda a sofrer com o infortúnio alheio e, no entanto, é também ela que nos ajuda a manter a calma, a perceber como está longe de nós essa miséria. Confundimos muitas vezes indignação com indiferença, talvez porque estas imagens nos chegam quase sempre através da TV. Não têm cheiro, nem som ambiente nem o olhar directo destes monarcas condenados à fome eterna. Sentimo-nos muito melhor por sermos capazes de nos imaginarmos solidários com os Reis do Hamburger por esse mundo fora.
No tal livro de Banksy, "Wall and Piece", este Burger King vem acompanhado pela frase "Por vezes sinto-me tão revoltado com o estado do mundo que nem sequer consigo acabar a segunda tarte de maçã." (tradução livre).
É, eu também...

domingo, julho 08, 2007

A cabeça à roda

O interesse redobrado nos combustíveis "verdes" tem enchido as manchetes dos jornais. Assim, à primeira vista, fica-se com a sensação de que, afinal, ainda poderá haver uma nesga de esperança para a sobrevivência do planeta Terra à nossa capacidade de destruição. A substituição dos combustíveis derivados do petróleo pelos designados biocombustíveis (propõe-se agora a designação de "agrocombustíveis" por uma questão de rigor) reduzirá a emissão de gases nocivos em percentagens estonteantes (terei lido menos 72% de CO2 ou sonhei com isso?). A camada de ozono teria a possibilidade de se refazer um pouco sem que o nosso modo de vida se alterasse substancialmente. Os agro-biocombustíveis permitiriam a manutenção dos hábitos de consumo e dos níveis de bem-estar das sociedades capitalistas (ou em vias de se tornarem nisso) sem que daí viesse grande mal ao mundo. Antes pelo contrário. Ler as tais manchetes sossega os mais cépticos e devolve um sorriso aos lábios mais maledicentes dos cérebros mais pessimistas. O paraíso na Terra é afinal uma possibilidade sem termos que deixar um planeta cadáver a pairar no universo. Ufa!
Mas, se lermos o resto das notícias, a sensação de alívio aperta-se-nos na garganta. Os preços das matérias-primas para produção dos combustíveis "verdes" tendem a aumentar tornando a vida (ainda) mais difícil para as populações dos países mais pobres. Isto numa perspectiva mais imediata. Numa perspectiva mais complexa será importante perceber de que modo o actual "equilíbrio" mundial será afectado. Como irão reagir os mercados internacionais apoiados na produção e comercialização de petróleo? Que transformações profundas e radicais se irão operar no mundo tal como o conhecemos actualmente?
A complexidade das questões expostas ultrapassa largamente a minha capacidade análise. Fico com a sensação de que a aposta nos biocombustíveis e nas energias renováveis só por si não bastarão para colocar um travão eficaz na destruição do planeta. Essas apostas só terão o efeito esperado caso sejam acompanhadas por alterações profundas nos nossos hábitos e modos de vida. Não podemos continuar a consumir recursos nos volumes actuais e pretender melhorar em simultâneo a saúde do planeta.
Assistimos aos primeiros passos numa nova direcção mas, ou modificamos radicalmente aquilo que somos ou nada disto terá valido a pena. Não precisamos só de novas fontes de energia, precisamos ainda mais de novos paradigmas civilizacionais.
Estou com a cabeça a andar à roda!

quinta-feira, julho 05, 2007

Celebração

Já passou um dia inteiro sobre o concerto dos Arcade Fire e ainda sinto uma espécie de prazer indescritível quando o recordo. Sem desprimor das outras bandas que actuaram na noite de anteontem no Superbrock, o grupo dos canadianos arrasou por completo. Arrasaram eles e arrasou o público, juntos numa celebração memorável de energia positiva e explosiva como já não me lembrava de alguma vez na vida ter participado. Foi um "daqueles" concertos que não se repetem, uma daquelas festas espontâneas que ultrapassam as mais loucas expectativas, não há palavras porque coisas assim experimentam-se ao vivo. Vivem-se apenas.
Um acontecimento como o concerto que aqui refiro é espelho perfeito de uma certa maneira de ser aquilo que normalmente designamos como "Mundo Ocidental". Uma multidão absolutamente pacífica, jovem, na maioria, bem de vida (para pagar os bilhetes é preciso alguma disponibilidade financeira) e disponível para a festa. Depois, bom, depois o milagre da transfiguração ali mesmo, perante os nossos olhos.
Ouvir os álbuns em CD, por muito bom que seja o aparelho, não se aproxima de forma nenhuma daquilo que os Arcade Fire ofereceram às 20 mil pessoas que ali estavam. Fui com a Ana para o mais perto possível do palco, muito perto mesmo. E deixámo-nos ir. A energia sonora, a grandiosidade do grupo, a simplicidade do aparato visual... não me alongo mais por não valer a pena, não há palavras.

terça-feira, julho 03, 2007

Festival

Daqui por um bocado vou arrancar com a família e mais uns amigos em direcção ao 13º Festival Super Bock Super Rock. http://www.superbock.pt/SuperMusic/SBSR/
A última vez que me lembro de ter ido a um festival de rock foi em 1982, quando fui em bando até Vilar de Mouros. É claro que, depois disso, assisti a inúmeros espectáculos de bandas mais ou menos rockeiras ou por aí perto. Mas festivais... que me lembre foi o único. Na verdade vou apenas hoje ao Super Brock, não vou "ao" festival propriamente dito.
Das 6 bandas que vão actuar "conheço" apenas duas. Os The Gift que vi aqui há uns anos no Coliseu dos Recreios em Lisboa e os Arcade Fire (na imagem) que conheço de ouvir os seus dois álbuns: Funeral e The Neon Bible. As restantes 4 serão absolutas surpresas embora duvide muito da minha capacidade para lhes prestar atenção a todas.
Enfim, 25 anos mudam muita coisa e o espírito com que me dirijo hoje ao recinto do festival é um pouco diferente daquele que me conduziu a Vilar de Mouros. Nessa ocasião os cabeças de cartaz eram os Stranglers e os Echo & the Bunnymen que actuaram logo no primeiro dia, mas o grande concerto veio lá mais para o meio do festival com uns tais de U2, à época uns quase desconhecidos para o grande público.
Pelo que vejo a coisa cresceu desmesuradamente e nos dias que correm um festival deste género representa um enorme volume de negócios. Aliás, os festivais de Verão multiplicam-se, todos eles com cartazes apetecíveis e organizações que se autoproclamam impecáveis. Os olhos dos actuais teenagers decerto brilham de emoção ao imaginarem as férias passadas a saltar de festival em festival, celebrando a grande festa do Rock com todo o entusiasmo. Deve ser bem empolgante.
Da parte que me toca tenho curiosidade por quase tudo o que imagino ir encontrar no Parque Tejo. Desde o ambiente ao espaço, passando pelas bandas e pela fauna espalhada pelo recinto, penso que será uma ocasião festiva. Tem tudo para isso.
Bom, está na hora de ir calçar os ténis e pentear a careca ao diabo(http://carrapaustaline.blogspot.com/2007/06/querida-senhora-rego.html).

7maravilhas7


Numa época em que multiplicamos diferentes ordens de maravilhas por 7, aqui ficam 7 maravilhas da blogosfera em português escritas.













Parece-me uma boa lista. É experimentar os diferentes links e confirmar (ou não) a excelência dos ditos cujos (blogs).

segunda-feira, julho 02, 2007

Implantes




19 horas (quase, quase) e escrevo este post na sala de espera do consultório do dentista. Hoje vim apenas mostrar ao doutor as minhas belas gengivas que cicatrizam de forma espectacular. Um assombro de cicatrização, uma maravilha da capacidade de regeneração do tecido animal, prova vivente da perfeição da máquina (desde que não haja avarias de maior). Assim sendo ficam agora as minhas gengivazinhas de pousio até estarem preparadas para receberem implantes e coroas e mais não-sei-quê, estando a minha boca eleita à categoria de rainha, tal o volume de investimento que se adivinha ser necessário para lhe restituir a dignidade perdida por anos e anos de descuido e incúria estomatológica que levaram uma mão-cheia de dentes à decadência total. Dentes que as fadas já não pagam por estarem fora do prazo. Estes dentes, antes pelo contrário, pagamo-los nós que é para aprendermos a não sermos palonços ao ponto de deixá-los estragarem-se tanto que já nem memória deles guardamos.

É assim que terei os meus primeiros parafusos na caveira. Isto é uma intervenção ao nível da cirurgia plástica? Talvez, sei lá, o que é que isso interessa? Como diz o slogan da clínica "Criamos sorrisos"... talvez fosse mais exacto afirmarem "Devolvemos sorrisos" ou talvez não. Eu podia querer um sorriso tipo Pernalonga. O médico só tinha mesmo de cumprir o meu desejo.

Automático

Pela manhã desloca-se um autómato. Vai descobrindo tarefas que executa sucessivamente sem uma ordem definida. O autómato não exterioriza hesitação nem entusiasmo perante os diferentes pequenos trabalhos que o amanhecer lhe vai oferecendo. Executa-os, apenas, porque não há outra razão que o anime. Os gestos parecem acontecer longe do corpo mas tudo se encaixa na maior das perfeições. As coisas vão-se completando em cada gesto, ganhando sentido após a conclusão de cada tarefa. Os contornos do universo desenham-se com maior nitidez, está quase tudo no devido lugar.
O autómato dirige-se para o duche. Quando a água jorrar dar-se-à o momento mágico em que se transformará outra vez naquele ser de carne e osso que vai viver o dia no seu lugar. O autómato sorriria, se compreendesse "sorriso", quando pensa em Pinóquio e na sua obsessão em ser um menino de verdade. Até adormecer o autómato vai parecer um homem normal. Com os sonhos mais profundos regressará. Até ao duche da manhã seguinte.