A selecção do Iraque não faz jogos oficiais no seu país vai para 17 anos por imposição da FIFA, uma medida que se compreende já que, por exemplo, na sequência da vitória na meia-final desta Taça da Ásia sobre a Coreia do Sul, quando a população de Bagdad festejava nas ruas, houve 50 mortos em atentados bombistas. O nojo do costume. Os terroristas são verdadeiros animais irracionais no comportamento mas friamente racionais na preparação dos seus crimes.
Younis Mahmoud, o autor do golo, provocou uma explosão de alegria colectiva no seu país. Naquele momento a vida terá parecido quase "normal" em todo o Iraque. As fotos mostram pessoas eufóricas como acontece mundo fora quando se vive a alegria de um golo.
Esta vitória é considerada muito importante pelos actuais dirigentes iraquianos já que a equipa é constituída por sunitas, xiitas e curdos, numa raríssima união nacional em torno de objectivos comuns. Descortinam aqui uma oportunidade propagandística que poderá trazer alguns momentos de orgulho nacionalista. Mas é como pôr um penso rápido numa perna decepada. O próprio Younis Mahmoud afirmou que não quer voltar ao Iraque por temer retaliações por ter sido o autor do golo da vitória; "Não quero que os iraquianos se zanguem comigo, mas se regressar com a equipa, alguém pode matar-me ou tentar ferir-me".
Terá o golo de Younis Mahmoud o dom mágico de unir os iraquianos? Será possível que se venha a cumprir uma espécie de conto de fadas num país onde a realidade se assemelha mais a um conto de terror? Estou em crer que não. Tudo isto será rapidamente esquecido e afogado no mar de sangue que por ali cresce a cada dia. Mas acredito que muitos milhares de iraquianos sonharam com isso: um país onde o tétrico rebentamento das bombas desse lugar a explosões de alegria provocadas pelos golos de todos os Younis Mahmoud que nos dias que correm não podem brilhar nos estádios e se escondem com medo dos assassinos.
Que viva o Iraque!