Dependendo das situações concretas a Fonte expele algo em conformidade. Neste caso a Fonte jorra violência e recalcamento.
segunda-feira, abril 30, 2007
Uma outra Fonte
Dependendo das situações concretas a Fonte expele algo em conformidade. Neste caso a Fonte jorra violência e recalcamento.
Onde está a fonte?
Esta mera inversão do objecto permite uma singela reflexão que proponho ao leitor eventual deste post. Imagine o leitor que podia utilizar este urinol na sua função de receptáculo. Ou seja, imagine o leitor (o do sexo masculino terá maior facilidade) que poderia mijar dentro deste urinol. O que iria acontecer?
Decerto que, dada a posição do objecto aliada ao facto de não ter tubagem, o seu mijo iria cair-lhe directo nos pés. Este pormenor não será desprezível para a reflexão que desejo propor-lhe. É que, sendo assim, "A Fonte" não é o urinol, mas sim o próprio espectador. É do espectador que jorra o liquído e é a ele que o liquído regressa, devolvido pela acção de Duchamp de descontextualizar e alterar as características físicas (e não só) do objecto industrial.
"Pois, sim, conversa da treta!" - estará a pensar, neste momento, o leitor menos versado nos enigmas e paradigmas da arte contemporânea. Os mais avisados estarão já a perceber onde pretendo chegar com a minha proposta de reflexão.
O que Duchamp vem mostrar é que a validação do objecto artístico não depende unicamente do artista ou do crítico especializado. Duchamp vem propor ao espectador que assuma a sua quota parte de responsabilidade no acto criativo.
Ver é, só por si, um acto criativo. Logo o espectador, o voyeur, é, também, fonte de inspiração e validação (ou não) para o próprio objecto exposto. O espectador é fonte de conhecimento e fonte de sensibilidade.
Duchamp alterou a relação do "consumidor" de arte com o objecto artístico, integrando-o na corrente de avaliação e validação estética, libertando em definitivo a arte das grilhetas do academismo e expondo ao ridículo todos aqueles que pretendem que "A Fonte" estética é algo inatingível, algo que existe para lá da nossa capacidade de entendimento. Duchamp democratizou a criação artística. Compete-nos a nós participar ou não desse processo democrático. Desde "A Fonte" que passámos a ter opção.
domingo, abril 29, 2007
Humor
Brutalidade
Como é que ninguém viu a polícia de choque hoje na Rua do Carmo?
Incrível como ninguém viu a polícia de choque, hoje, dia 25 de Abril de 2007, na Rua do Carmo, em Lisboa, cerca das 19h, carregar em força e indiscriminadamente sobre grupo de manifestantes "Contra o fascismo e o capitalismo.
Eu estava à porta da Fnac e vi com os meus olhos os manifestantes desfilarem à minha frente. Eram talvez uns cem, a gritar palavras de ordem contra o fascismo, mas sem qualquer violência, para além da que resultava das indumentárias negras e das caras tapadas por lenços pretos, sabe-se lá porquê... Que palermas, estes miúdos!
Passados poucos segundos, ia o grupo uns 30 metros mais abaixo, num ponto da Rua do Carmo de onde não era possível fugir, positivamente encurralados, ouvi gritos e pareceu-me ver alguns clarões. Logo a polícia de choque a correr, saíam da Rua Nova do Almada e do Chiado, e lançaram-se sobre os manifestantes, poucos metros abaixo do sítio onde eu e outros tentávamos ver o que se passava. Ouvimos gritos e o som dos bastões a bater, em pessoas, suponho. Confusão, muita. Ninguém entendia o que estava a acontecer e a polícia continuava a vir de todos os lados e a entupir a rua. A impressão que tive era de que havia mais polícias do que manifestantes. Depois foram três ou quatro carrinhas da polícia a entrar pela Rua do Carmo abaixo. Para além do condutor, iam vazias. Eu já nem percebia bem como cabia tanta coisa na Rua do Carmo. O alarido continuava lá em baixo e algumas pessoas subiam agora a correr na direcção da Rua Nova do Almada e diziam que a polícia de choque ia começar a carregar pela rua acima e que era melhor fugir. A minha filha de dez anos puxava-me para eu me ir embora. Estava, naturalmente, assustada. Há menos de meia hora tinha estado a brincar com outros amigos, no meio dos manifestantes que agora estavam a ser espancados, na relva com que a Câmara Municipal e o CEM tinham atapetado o Largo Camões para que os lisboetas pudessem gozar os dias da festa da liberdade.
Descemos pela Rua Nova do Almada e depois para a Rua do Ouro. Quando chegámos ao Rossio a confusão continuava. Fui-me embora.
Ao chegar a casa descobri que a minha filha de 21 anos tinha sido apanhada em plena confusão a meio da Rua do Carmo, depois de sair da Fnac. Por sorte, quando a polícia começou a bater em toda a gente, uma senhora de uma livraria puxou-a a ela e a mais três pessoas para dentro da livraria, mas uma das raparigas não escapou a tempo e levou uma bastonada na cara e o sangue jorrava-lhe da boca. A minha filha estava desnorteada, não acreditava no que estava viver, perguntava-se pelo país em que estava, enquanto via através da janela a polícia a bater em novos, velhos, rapazes ou raparigas. Chamaram o 112 para acudir à miúda ferida. Veio um polícia e perguntou o que lhe tinha acontecido, se tinha sido algum dos manifestantes que lhe tinha batido, responderam-lhe que não, que quem lhe tinha batido tinha sido um bastão de um polícia. Foi-se embora!
Em casa, ligo a televisão, procuro nos noticiários a notícia dos acontecimentos. Nada. Venho à internet e dou com o mesmo silêncio. Será que só nós é que vimos?
O que vos contei não é ficção, aconteceu mesmo hoje. Ou será que não?
Abraços,
Mafalda
A Foto que ilustra este post saíu na edição do Público de 27 de Abril e a notícia expõe os pontos de vista de pessoas que foram apanhadas na onda de violência bem como de fontes policiais. Como seria de esperar as perspectivas são radicalmente diferentes. No final resta uma certeza: houve violência gratuita e desmesurada para aquela situação concreta. Feridos, detidos e demasiada facilidade na forma como os bastões ainda descem e sobem e voltam a descer e voltam a subir, etc., etc., etc...
Um caso exemplar
Recebi esta historinha exemplar por e-mail que me foi enviado pelo Luís Lima, professor e arquitecto, alguém que sabe do que se fala aqui. No final não sei se deva sorrir ou fazer uma careta.
Aprendam...
sexta-feira, abril 27, 2007
Os porcos triunfam (por agora)
O ministério da educação recusou licenças aos professores eleitos como delegados ao congresso da FENPROF alegando que essa situação ia de encontro à lei. No entanto, na véspera das celebrações da Páscoa, o Parlamento alterou as votações agendadas uma vez que, no ano passado, os deputados tinham ido de férias mais cedo e o país inteiro assistiu envergonhado à falta de quorum no hemiciclo de S. Bento. As regras são iguais para todos?
Os funcionários públicos têm as carreiras congeladas vai para... quanto tempo? Há quanto tempo nenhum deles sobe de escalão? Para moralizar a coisa e voltar a pôr o sistema em andamento, o Governo (porque estou a escrever esta palavra com maiúscula?) decidiu que é necessário impor quotas nos diversos escalões. Agora vem dizer que, nos cargos de chefia, essas quotas e o congelamento de ordenados não são assim tão rígidos. Mas porquê?
Quer-me parecer que a nossa democracia se parece mais, a cada dia que passa, com um monte de merda. Há sinais de degradação evidentes e as chefias perderam definitivamente a pouca vergonha que ainda tinham.
Como na fábula de Orwell, também em Portugal "os animais são todos iguais, só que uns são mais iguais que os outros." Vivemos o tempo em que os porcos triunfam. Mas não hé triunfos absolutos nem porcos que deixem de o ser só porque caminham equilibrados nas patas traseiras. Apesar das suas habilidades extraordinárias e do esforço que fazem por parecer outra coisa, mesmo quando se olham no espelho, os porcos são porcos mesmo, não poderão nunca ser coisa diversa. Havemos de acabar a comê-los numa boa sandes de presunto. Até lá temos de os aturar. Mas isto não será eternamente uma pocilga .
Um Homem
A notícia de que Jorge Sampaio foi nomeado pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, como alto-representante das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações deixa-me profundamente satisfeito. Trata-se de um reconhecimento da dimensão humana do ex-presidente da república portuguesa, traduzido na esperança de que possa vir a contribuir com a sua experiência de vida e a sua inteligência para uma aproximação entre o Ocidente e o Islão.
Uma das suas novas funções será a promoção de valores que permitam a diminuição das tensões entre sociedades e culturas diversas, contribuindo desse modo para a paz internacional. Pelo seu percurso de vida e, principalmente, pelas qualidades humanas que o caracterizam, Jorge Sampaio decerto honrará plenamente as esperanças nele depositadas.
quinta-feira, abril 26, 2007
Clicar sem medo!
Encontrei este lugar através do Varal de Idéias (está aí ao lado na coluna dos links mas fica aqui o respectivo http://cimitan.blogspot.com/).
Excepcionalmente este post não tem imagem associada por ser absolutamente desnecessário.
Clicar, desfrutar e sonhar com uma educação visual capaz de pôr uma população a tripar e a investir de forma descontroladamente criativa no espaço que habita.
Força aí!
P.S. Este sítio está repleto de imagens espectaculares... um passeio bem agradável!
quarta-feira, abril 25, 2007
(R)evolução(!)
Em 1974 a Revolução foi política. Era necessário acabar como salazarismo (aquilo nem fascismo pode ser considerado) porque nos impedia de evoluir enquanto povo. Não podíamos continuar a viver num país governado conforme os sonhos de um saloio beato e amedrontado com a imensidão do mundo, capaz apenas de ter pesadelos. Salazar era um déspota de pacotilha, um frouxo intelectual incapaz de admitir liberdade de pensamento a quem quer fosse, ele próprio incluído. Um beirão do piorio! Acreditem que sei do que falo uma vez que, também eu, sou beirão e cresci na Beira Alta, tal como o ditador.
Recortes biográficos à parte, regressemos à mudança de paradigma revolucionário. Uma vez livres do regime salazarista e com Marcelo Caetano no exílio, ficámos entregues a nós próprios. A Revolução das instituições políticas foi penosa e estivemos à beira da guerra civil mas conseguimos evitá-la o que mostra um bom senso grandioso que alguns de nós associam ao que é normalmente designado por "brandos costumes" do povo português. Abençoados sejam esses costumes tão brandos.
Após a estabilização institucional deu-se a entrada na União Europeia cumprindo-se um dos desígnios revolucionários. A maioria da população viu as suas condições de vida extraordinariamente melhoradas e, apesar de todas as assimetrias e injustiças sociais a que assistimos diariamente, Portugal tornou-se um País, com letra maiúscula. Nesta parte da nossa História houve quem visse a Revolução concluída e quisesse deixar cair o "R".
Mas, na verdade, a Revolução é imparável. Uma vez posta em marcha nunca termina. Apenas se transforma, como na lei de Lavoisier. Agora a Revolução está dentro de cada um de nós. Se queremos viver num mundo melhor temos de fazer por isso. A Revolução não é um milagre, não é transcendente. Explica-se, pratica-se... vive-se. Nós podemos mudar o mundo. É claro que não temos a capacidade, enquanto indivíduos, de alterar tudo de um momento para o outro. Não.
Lembro-me de ver uma palavra de ordem anarquista inscrita em 1974 (ou terá sido em 75?)num muro próximo da minha casa em Viseu que dizia "A Revolução começa na cama!". Na época não compreendi o sentido da coisa. Hoje lembro-me por vezes dessas palavras. A Revolução está nos pequenos gestos, no quotidiano, nas relações que estabelecemos com os outros. A Revolução é a vida! Resta-nos a felicidade de a viver.
terça-feira, abril 24, 2007
Memória da Revolução
Esta noite é de festa. Celebramos em Portugal o Dia da Liberdade.
Ao rever as imagens desta pequena montagem documental não consigo evitar a emoção profunda que sempre me causa a recordação do 25 de Abril. Fico com os olhos a arder de lágrimas.
Penso que aquilo que mais me emociona é a percepção da imensa esperança que reside dentro de nós, a esperança de que exista na verdade uma força sobrenatural, uma espécie de magia que emana do colectivo, capaz de trazer à superficíe dos dias aquilo que nos faz ser humanos, bons e justos, ali retratada na multidão reunida em frente ao Quartel do Carmo. Muito "portuguesmente" o povo quer assistir, satisfazer a curiosidade, nem que para isso tenha de estar pendurado numa árvore em possível linha de fogo.
Sente-se a euforia, a alegria transbordante. Poucas vezes teremos sido tão belos enquanto povo, enquanto nação, como o fomos naqueles breves dias de 1974 quando os velhos repressores salazaristas foram afastados do poder. Sem sangue.
25 de Abril sempre.
Post Scriptum - É bestial a tendência para uma certa lamechice sempre que chega este dia. Por outro lado é bom não esquecer os derrotados nesta história até porque eles andam por aí.
O Homem Duplo
Acabei agora mesmo de ver "A Scanner Darkly" em DVD, "O Homem Duplo" em português, retomando o título da edição da Colecção Argonauta que tenho para ali na estante.
O filme tem aspectos interessantes, principalmente a técnica utilizada. As cenas filmadas são tratadas em computador, desenhadas por cima e coloridas à maneira dos Comics americanos. O resultado é visualmente estimulante, embora não resulte sempre bem (O trailer aí em cima não faz justiça ao brilho nem à definição das imagens no DVD). Há cenas menos felizes, outras mais conseguidas.
A narrativa segue o original de Philip Dick. Ao longo do filme fui assaltado por memórias absolutamente esquecidas. É incrível como as coisas nos ficam gravadas no cérebro. Está lá tudo, armazenado algures, à espera do momento em que nos recordamos. A maior parte da informação fica esquecida para sempre. Dizem que vem tudo de uma vez no momento da nossa morte. Quando soubermos se isso é verdade já não interessará muito para esta vida, pois não?
Voltando ao filme. Foi um fracasso comercial de tal modo estrondoso que nem chegou ao circuito comercial em Portugal.Houve uma ou duas sessões aí no Indie Lisboa e agora saíu em DVD. Após ver o filme percebe-se que a adaptação não resulta grande coisa. O fluxo narrativo tem alguns solavancos incómodos.
Resumindo e concluindo, não sendo nenhuma obra-prima não deixa de ser uma experiência curiosa. Para quem goste de Philip K. Dick e tenha lido "O Homem Duplo" será, decerto, uma interessante visita ao passado vestido com um fato do futuro.
Fico à espera de quem se atreva a pegar em "Os 3 Estigmas de Palmer Eldrich".
segunda-feira, abril 23, 2007
domingo, abril 22, 2007
Fascismo higiénico?
Não é preciso ser muito radical para considerar a proibição de fumar como (mais) uma intromissão na esfera individual dos cidadãos viciados. Um gajo pode ser viciado em muitas coisas desde que não empeste o ambiente. Pode ser viciado em pornografia, pode ser viciado em açúcar ou até mesmo em estupidez profunda. Não há leis que impeçam estes vícios talvez porque, sendo do foro íntimo mais recôndito, eles podem manter-se pacíficamente escondidos. Já fumar...
Como os argumentos e apelos ao bom senso dos viciados em tabaco não pegam a solução encontrada é a repressão. Legisla-se a torto e a direito, as ameaças ganham forma palpável. Multas e mais multas, ameaças e promessas do inferno em vida.
Eu, que sou fumador, sinto-me insultado. Não preciso que me ponham um bófia a olhar para mim com cara de poucos amigos. Sei bem quando devo e não devo puxar do cigarrito. Não preciso das exibições de força bruta e moral que os anjos anti-fumo vão desenvolvendo com os semblantes iluminados dos profetas.
O fascismo higiénico não passa de mais uma forma de intromissão perfeitamente dispensável praticada por um estado que se mostra incapaz de regular e reprimir os verdadeiros prevaricadores em tantos aspectos bem mais preocupantes que o dos fumadores activos.
Andamos a brincar às leis. E somos obrigados a isso mesmo que não queiramos brincar.
Repulsa
Os dados fornecidos pela empresa terão sido a base da acusação contra Xiaoning pelo "crime" de escrever textos críticos contra a actuação do governo chinês que publicava, sob anonimato, na Web.
Wang Xiaoning fiou-se na Virgem e acabou entalado. A Yahoo traíu-o sem apelo nem agravo e agora a esposa do recluso vem tentar colocar a empresa em tribunal, reclamando uma indemnização.
Tudo isto seria de bradar aos céus se outras grandes empresas não pactuassem com o despotismo selvagem do poder chinês. A Microsoft censura expressões supostamente ofensivas no seu serviço de blogues, o Google filtra a pesquisa no seu motor de busca limitando de forma inaceitável a liberdade dos cibernautas chineses e a Cisco vende às autoridades chinesas o materal necessário para a manutenção da chamada "Grande Cibermuralha" de forma a permitir o controle da comunicação via Internet com países estrangeiros.
É caso para dizer que vivemos em pleno e absoluto "Triunfo dos Porcos" nos mundo virtual. Os Cibernautas são todos iguais só que uns são mais iguais que outros. E pagam com a liberdade essa "igualdade".
Pelos vistos, neste mundo virtual em que nos encontramos, o respeito pela liberdade e o direito à privacidade dos indivíduos é ainda mais virtual, dependendo da "bondade" daqueles que controlam o sistema.
Não sou suficientemente versado nos segredos da informática para compreender os métodos nem as tecnologias que temos à disposição, a única coisa que sou capaz de retirar desta história tristemente exemplar é que, também neste mundo sem rostos nem objectos contundentes, valemos o que valemos em função do que pensamos e do que dizemos. Quase como "lá fora", quase...
sábado, abril 21, 2007
Mudanças
O processo de substituição de políticos idealistas por outros, digamos, mais pragmáticos, terá tido o seu momento mais emblemático na troca de Jorge Sampaio por Cavaco Silva no lugar de Presidente da República. Saiu o autor da célebre frase “Há vida para lá do défice.” Entrou o autor da enigmática máxima da “Má moeda, boa moeda.” Saiu um homem conhecido pelo seu percurso político de uma vida inteira dedicada à luta por ideais entrou outro que se dedicou à política por acidente, resultado da necessidade de rodar um automóvel novo entre Boliqueime e a Figueira da Foz.
O pragmatismo das actuais “elites” políticas é algo inquietante. Os ideais sociais e políticos são agora totalmente subordinados a questões económicas. A Economia surge sempre em primeiro lugar. De tal forma que o discurso político actual se dirige obedientemente para as questões orçamentais como se mais nada interessasse. A Justiça, a Educação, a Saúde só são colocadas em plano de destaque se as medidas propostas nestas áreas contribuírem para a boa imagem das contas públicas. Ouvimos constantemente falar em investimentos de milhões de euros nisto e naquilo sem repararmos que, na maior parte das vezes, ninguém nos explica como vão ser aplicados esses investimentos. Os números são mais importantes do que as acções. Vivemos um mundo de ilusões toscamente fabricadas. Satisfazemo-nos com sonhos pouco ambiciosos desde que sejam bem nutridos em termos económicos. Odete e Sampaio não são cartas deste baralho. Aqui, personagens como Sócrates e Cavaco são ás e rei de trunfo. Não nos interessa que os nossos dirigentes sejam incultos ou meras personagens de ficção, o mundo que eles dirigem também não prima pela excelência do argumento. É toda uma nova forma de vida baseada na capacidade de consumo dos indivíduos em que as questões humanitárias surgem amiúde como furúnculos que é necessário extrair numa boa operação plástica.
O debate entre Portas e Ribeiro e Castro é uma boa caricatura daquilo a que me refiro. A total ausência de substância não coíbe as personagens de reclamarem para si próprias um papel de relevo no desenrolar da acção. Ainda que as suas actuações não prometam mais que uma fraca audiência, ninguém os convence das suas fracas capacidades políticas. Um está convencido, com alguma razão, que uma imagem televisiva iluminada por um sorriso artificial vale mais que mil palavras verdadeiras, ao outro não se percebe muito bem o que o anima mas alguma coisa será.
O adeus a Odete e os elogios por ela recebidos são como um requiem pelo idealismo político entoado com alguma gravidade e melodia triste. Os que ficam vão sorrindo pois sabem que assim estão um pouco mais descansados para praticarem o pragmatismo político à vontade e assim tratarem dos seus negócios. Há quem lhe chame democracia capitalista. Eu acho que isso é um contra-senso.
sexta-feira, abril 20, 2007
Robô poeta (e pintor!)
Leonel Moura prossegue na senda da arte produzida por robôs. Detsa vez ISU, o robô poeta, foi encarregue de criar obras dedicadas à celebração do 33º aniversário da Revolução de Abril.
Junto informação adicional recebida por e-mail:
Convite para a inauguração que se realiza Terça-feira, 24 de Abril pelas 22.00 horas no Museu Arqueológico do Carmo, no Largo do Carmo em Lisboa
ISU pinta e escreve produzindo assim uma poética própria, numa mistura de aleatório e decisão, que desencadeiano espectador possíveis sentidos e interpretações.
Mais informação em: http://www.leonelmoura.com/index.html
quinta-feira, abril 19, 2007
Uma história
quarta-feira, abril 18, 2007
O filho da ilha
É licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, tendo sido professor nos ensinos técnico e secundário. É Professor Convidado da Universidade Independente.
terça-feira, abril 17, 2007
Contra o fanatismo
segunda-feira, abril 16, 2007
Lobo acossado!
domingo, abril 15, 2007
Ghost in the Shell
Dois temas musicais dos filmes de Animé "Ghost in the Shell". O primeiro tema (Tokyo) surpreendeu-me completamente quando vi o filme. Vi-o e revi-o (ao temazinho musical) vezes sem conta. A estranheza da língua japonesa (não faço ideia do que estão a cantar aquelas vozinhas) e a excelente animação de toda a cena fazem dela um momento cinematográfico nas proximidades da magia.
Não vi "ghost in the Shell-2" mas o tema musical (Festival) tem também pormenores excelentes.
O Animé (animação japonesa) tem-me vindo a captar a atenção muito por "culpa" de "A Viagem de Chihiro" (http://junior.te.pt/chihiro/viagem_chihiro.html), "A Princesa Mononoke" (http://mononoke.surf.to/) ou "O Castelo Andante" (http://disney.go.com/disneypictures/castle/), todos da autoria de Hayao Miyazaki. Um tempo narrativo diferente, um imaginário surpreendente e o aspecto quase artesanal da animação fazem destes filmes coisas muito especiais.
Ghost in the Shell vem num registo muito diferente. Algures entre "Blade Runner" e "Matrix" no tom e no argumento e com uma técnica de animação cativante.
Um universo a descobrir e a explorar.
Charlatanice total!!!
Entre Inimigos
Muito sangue e tiros na cabeça à boa maneira de Scorcese e Jack Nicholson a representar outra vez... enfim uma noite bem passada.
Nota: Resolvi escrever este post para equilibrar o anterior. Em termos de cinema (seja em casa ou na sala adequada) tenho um critério largo que me permite ver (quase) tudo. Ás vezes surpreendo-me, outras nem por isso. Vou ali ver um filmito e já volto!
:-)
Diabita
sábado, abril 14, 2007
Bombas
Pelo menos 34 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas depois de um atentado suicida com um carro armadilhado em Kerbala, informou Akhil Khazali, governador da cidade santa xiita, situada a sul de Bagdad.
Dois bombistas suicidas fizeram-se explodir junto a representações diplomáticas norte-americanas em Casablanca, principal centro de negócios de Marrocos. Horas depois, a polícia anunciou a detenção na cidade dos líderes dos grupos responsável por uma série de atentados na cidade.
O terrorismo do Magrebe preocupa a Europa
World Press Cartoon/Cristina Sampaio
quinta-feira, abril 12, 2007
Odete superstar
Diz a canção dos Stranglers que "todos te amam depois de estares morto" (everybody loves you when you're dead).
quarta-feira, abril 11, 2007
I'm a Thinking Blogger baby!
Não sei bem o que isto é mas não quero quebrar a corrente! Eduardo Lunardelli (http://cimitan.blogspot.com/ Varal de Idéias) achou que o 100 Cabeças seria um Blog com qualidades para entrar neste jogo e poder ostentar este simbolozinho. Com uma pontinha de orgulho, confesso. É um reconhecimento entre iguais, o que sabe sempre bem. Até porque os comentários no 100 Cabeças não abundam embora eu tenha a sensação que recebo algumas visitas de vez em quando.
Seja como for, mais uma vez obrigadão para o Eduardo.
Devo agora escolher 5 blogs da minha preferência para este "Thinking Blogger Award". Olhando para a coluna de links aí ao lado não é muito difícil.
Os meus preferidos são o Underworld da Alice Geirinhas http://alicegx.blogspot.com/, a incomparável Fada do Lar http://www.fairywonderland.blogspot.com/, o estranheco Opium Bombe do Gonçalo Pena http://www.goncalopena.blogspot.com/, a misteriosa Pandora Complexa do Rui Vitorino Santos e do Júlio Dolbeth http://pandoracomplexa.blogspot.com/, finalmente o verdadeiro Blogger Pensante que é o Pobre e mal Agradecido do Rui Tavares http://ruitavares.weblog.com.pt/.
Pronto, está feito. Não sei se estes meus admirados vão dar seguimento à corrente. Por mim vou colocar o bonequinho aqui ao lado. E deixá-lo ficar!
Viva Odete!
Nota retirada de http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/nacional/sociedade/pt/desarrollo/815861.html
Deputada cessa funções
Odete Santos fora do Parlamento
Por Manuel Agostinho Magalhães
O PCP informou que a deputada vai «cessar funções» em Abril. O anúncio ocorre dias depois de uma exuberante participação de Odete no concurso da RTP «Os Grandes Portugueses»
Nota retirada de http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Politica/Interior.aspx?content_id=27564
O grupo parlamentar do Partido Comunista Português (PCP) anunciou esta sexta-feira que a deputada Odete Santos vai renunciar ao mandato e abandonar o Parlamento no próximo dia 13 de Abril.De acordo com a nota emitida pelo partido, «a senhora deputada Odete Santos cessará funções como deputada no próximo dia 13 de Abril, sendo a sessão plenária do dia 12 de Abril a última em que participará», adianta a Lusa, citada pelo Diário Digital.O número dois na lista por Setúbal, Bruno Dias, substituirá Odete Santos e assumirá funções no dia 13 de Abril.Esta alteração tinha sido anunciada pelo líder da bancada parlamentar, Bernardino Soares, a 23 de Novembro do ano passado. Nessa altura, Odete Santos terá justificado a sua saída com o cansaço de algumas vertentes da actividade parlamentar, recusando divergências com o partido.
Notícia retirada de http://www.fabricadeconteudos.com/?lop=artigo&op=c81e728d9d4c2f636f067f89cc14862c&id=6f195ab14e32460ef99810068d25f721
Etc., etc., etc.
A notícia é importante, toda a gente comenta o assunto (pelo menos aqueles que sabem o que é a Assembleia da República comentam!). Nota-se uma certa rigidez irónica em algumas das notas acima transcritas. Perante uma personagem como Odete Santos é difícil manter a compustura. pela forma apaixonada e quase tresloucada como sempre defende as causas em que acredita. Mulher de convicções inabaláveis, abandona o lugar que ocupou no Parlamento ao longo de 26 anos!!!
Cá pra mim, que sou insuspeito uma vez que não morro de amores pelo PCP, vai ficar um lugar meio ocupado na bancada do partido quando ela sair. Aliás, o Parlamento tem vindo a ficar mais pobre com o passar dos anos. Têm saído alguns idealistas que vão sendo substituídos por autênticos carreiristas. A nossa democracia vai fenecendo como flor em jarra com água choca.
Mas este post pretende ser uma singela homenagem a Odete Santos pelo que termino dizendo que esta mulher me comoveu profundamente por ocasião de uma Festa do "Avante!" quando me cruzei com ela enquanto declamava um poema, ali mesmo, na berma do caminho. Fazia-o com tal assombro e paixão arrebatada que eu (e, decerto, todos os que a ouviam) senti uma comoção sincera como só costumo sentir quando me confronto com aquilo que me soa verdadeiro. Ah, grande Odete, estavas linda!!!
Obituário
terça-feira, abril 10, 2007
A coisa mais séria do mundo
segunda-feira, abril 09, 2007
Atenção gente!
BLOG SULISTA .
CENSURA CHEGOU A BLOGOSFERA
O assunto é sério e recomendamos que visitem e leiam a notícia.
Clique aqui
Vivam os Gatos, abaixo os cães sarnentos!
A Câmara de Lisboa vai mandar retirar um cartaz do grupo humorístico« Gato Fedorento», colocado «ilegalmente» no Marquês de Pombal, que satiriza outro cartaz contra a imigração colocado pelo Partido Nacional Renovador (PNR).
Esta história conhece desenvolvimentos lamentáveis. Como já era de esperar a Câmara Municipal de Lisboa mostrou, uma vez mais, a sua capacidade de meter nojo, à imagem do que acontece com a generalidade das instituições públicas da nossa praça.
Pior ainda, os energúmenos encapuzados do costume vieram ameaçar os "Gatos" de represálias infames, mostrando como não são capazes de conviver de forma decente num espaço democrático. Retiro o que disse alguns posts abaixo. Estes fascistas de trazer por casa não merecem sequer uma oportunidade de diálogo, não merecem nada a não ser desprezo e declaração de ilegalidade. Não prestam para nada e não podem ser aceites no convívio democrático. Não há nada a dizer a estas caricaturas de seres humanos.
Quanto aos "Gatos" fica o agradecimento de terem tido a coragem de tomar uma posição pública numa cidade que os não merece enquanto eleger representantes tão miseráveis como os que actualmente ali detêm o poder. Sim, porque se Carmona é Presidente da Câmara a culpa não é só dele, muito longe disso.
Vivam os Gatos, abaixo os cães sarnentos!
Magia!
Dois exemplos recentes: o concurso de professores e o processo de atribuição de subsídios para produções pontuais nos campos de várias formas de expressão artística (Teatro, Dança, Design, etc.) promovido pelo Instituto das Artes.
No primeiro caso temos o Ministério da Educação como responsável pelo processo. Não sei ao certo em que pararam as modas, sei, apenas, que, nos últimos dias de aulas do 2º período havia muita gente que não era capaz sequer de perceber o que se estava a passar. Professores a quem era impedido o acesso ao site do concurso, outros que reclamavam de irregularidades e desapareciam na virtualidade do espaço informático, enfim, uma montanha de problemas. Mais uma vez. Mas porque acontece isto? Não bastaram as péssimas experiências anteriormente acumuladas em processos similares? Os serviços do Ministério da Educação não aprendem nada com os próprios erros? Pelos vistos aprendem pouco (estou a ser benevolente na minha apreciação) uma vez que não são capazes de fazer o seu serviço sem desarranjarem os nervos dos concursantes por uma vez que seja!
No caso do Instituto das Artes (IA) aconteceu algo do género. O prazo da entrega das candidaturas já foi duas vezes adiado devido aos trambolhões dados pelo sistema informático que entupiu de forma ridícula, provocando o caos, como de costume.
Consultando o site do IA podemos agora ler:
PROGRAMA DE APOIO A PROJECTOS PONTUAIS 2007
GESTÃO ELECTRÓNICA DE APOIOS
AVISO
No âmbito do Programa de Apoio acima identificado, comunica-se a todos os interessados o termo dos prazos de apresentação das propostas, por área artística:
- Música e Artes Plásticas incluindo Fotografia: dia 11 de Abril;
- Arquitectura, Dança e Teatro: dia 12 de Abril;
- Transdisciplinaridade e Design: dia 13 de Abril.
Pois, estes prazos serão para entrega de projectos. Faltará depois apreciá-los, avaliá-los e atribuir as verbas devidas. Os problemas continuarão por aí adiante, uma vez que 2007 já vai quase a meio e ainda andamos nisto. Não deveria o prazo deste conscurso ter expirado para aí em Novembro de 2006, para que em Janeiro os candidatos pudessem ter a possibilidade de organizarem o seu trabalho com um mínimo de segurança?
Tudo isto se passa num clima de total impunidade e sem que se conheça qualquer responsável pelos sucessivos descalabros dos serviços. É fado.
quinta-feira, abril 05, 2007
Viva o Gato!
Os legionários
quarta-feira, abril 04, 2007
O Mostrengo
Também aí ganhou a medalhinha de ouro o que mostra como nos lembramos bem da personagem. Amado ou odiado, Salazar continua a assombrar Portugal com a sombra do seu nariz adunco. Talvez agora possa descansar em paz, comidinho que já foi pelos vermes de serviço, e deixar-nos seguir em frente sem termos de lhe prestar contas nem o insultar de vez em quando.
Vá lá, António, fica onde estás que é o teu lugar: morto e enterrado.
Excelente Coisa Ruim
O ambiente criado é bem português. A aldeia, os padres, a casa, a estranheza que tudo aquilo causa aos burgueses recém-chegados e que eles causam a tudo aquilo, são factores que contribuem para o adensar da narrativa que acaba por atingir momentos de "cortar à faca".
Excelentes interpretações de todos os actores com relevo para Adriano Luz e Manuela Couto.
Um argumento escorreito e uma realização cuidadosa, com enquadramentos irrepreensíveis, completam-se numa montagem eficaz.
A versão a que assisti apresenta apenas alguns defeitos no som que, decerto, são responsabilidade da editora do DVD e não da equipa que construiu tão esmerado objecto cinematográfico.
Em suma, mais um exemplo de que não é a produção industrial que confere selo de qualidade ao cinema mas sim a inteligência de quem o concebe e realiza.
Quem ainda não viu que veja!!!
terça-feira, abril 03, 2007
Problemas laterais
segunda-feira, abril 02, 2007
Heroísmo pós-moderno
Ainda estou meio confuso; o que terá o Dr. House de tão apelativo para a criançada? Não seria de esperar que tivessem outro tipo de preferências? Algo mais dirigido a eles? Há tanto "pedopsicólogo", tanto especialista em marketing e universos juvenis envolvidos na criação de conteúdos televisivos para aquela maltinha e logo haviam de se tomar de amores por uma série que não me parece, de todo, a eles dirigida! Mistério.
O Dr. House é vaidoso, convencido, assertivo, coxo e, como se tudo isto não bastasse, fala de coisas incompreensíveis, questões médicas estranhíssimas e farta-se de meter o nariz onde, à partida, não parece ser chamado. Estas qualidades da personagem poderiam parecer defeitos mas não parecem incomodar a catraiada, antes pelo contrário.
Lá vai a Era dos Heróis, do Tarzan e do Texas Jack, do Zorro e do Robin Hood, em que as aventuras se passavam ao ar livre, em tempos idos ou locais exóticos. O Herói dos "meus" miúdos passa o tempo fechado num enorme edifício, uma clínica ou hospital ou lá o que é aquilo e, em vez de um par de colts ou um arco-e-flechas anda apoiado na sua bengalinha a abanar seringas e sacos de soro.
Não há dúvidas que atrás dos tempos vêm tempos mas, depois de uma cena destas, sou incapaz de imaginar que outros tempos hão-de vir!
domingo, abril 01, 2007
1º de Abril (uma citação)
Não tenho a certeza que seja assim, muito menos que assim tenha sido. Interessa-me a suspensão que resta cá dentro depois de ler a frase. Uma suspensão semelhante à que se exige ao pintor de cada vez que pretende dar uma obra por concluída, um suster de respiração a provocar a tontura, uma vertigem de dúvida. Terminar uma obra é um momento complexo que não está ao alcance de todos e nunca ao alcance dos que acreditam que uma obra pode estar, alguma vez, concluída. Quanto mais não seja o espectador irá "pegar-lhe" de novo e, através dela (da sua mentira), tentar compreender alguma verdade que por ali ande meio esquecida.
Grande Picasso!