O recente tiroteio no bairro da Quinta da Fonte entre grupos de ciganos e negros trouxe para a mesa de jantar das classes médias uma realidade que, até aqui, lhe era estranha. A da violência latente nas periferias das grandes cidades.
Agora estamos todos espantados com a quantidade de armas de fogo que por aí andam e na facilidade com que elas saltam para o meio da rua, disparadas a torto e a direito.
Começamos a perceber que os realojamentos em bairros sociais foram feitos à martelada, como é de bom tom em Portugal. Pegou-se nas pessoas à molhada e, muito simplesmente, trasladaram-se dos bairros de lata para edifícios monstruosos e construídos com materias de 5ª categoria. A degradação das condições de vida nem chega a existir visto que degradadas já elas estavam à partida!
Se existiam problemas sociais graves entre as populações quando habitavam bairros com ruas de terra batida e esgotos a céu aberto, estes não se resolvem com paredes de betão e arruamentos alcatroados. As pessoas são as mesmas e os seus problemas de integração social mantêm-se absolutamente inalterados.
Basicamente, o problema principal é o facto de vivermos como sardinhas em latas, uns em cima dos outros com o mínimo de despesa na organização do espaço habitável comum e o máximo de lucro para construtores e autarquias locais. A velha sina nacional de obter lucro rápido e, de preferência, fácil.
Noutro campo, completamente diferente, vem aplaudir-se a iniciativa do Ministério da Educação que pretende reduzir o número de professores por turma no 2º ciclo do ensino básico. Segundo os "especialistas" a soldo do Ministério, um problema terrível seria o de os alunos, aos passarem do 4º para o 5º ano, se confrontarem com um exagerado número de professores. Deixam de ter apenas um professor para se verem obrigados a conviver com uma dúzia deles, mais coisa menos coisa.
Ninguém se lembra de pensar que o problema poderá ser o do exagerado número de alunos por turma? É que, com muitos ou poucos professores pela frente, serão sempre à volta de 28 meninos a pulular pelo espaço da aula. E, mesmo no 1º ciclo, há demasiadas alminhas por sala. É frequente, nos dias que correm, um aluno do 5º ano de escolaridade não saber ler e, por consequência, apresentar gravíssimas dificuldades em escrever mais do que o nome próprio.
Estamos perante mais uma operação de cosmética para disfarçar os furúnculos na ponta do nariz.
O Estado não tem capacidade de resolver com eficácia os problemas com que se depara e opta pela contenção orçamental como se isso fosse uma espécie de varinha mágica. Seja no caso do realojamento social ou no da organização escolar existe a síndroma da sardinha enlatada. E enquanto continuarmos a resolver os assuntos à martelada as coisas hão-de continuar amolgadas e demasiado tortas.
5 comentários:
Problemas... Como reverter tantas situações?...
Parabéns pelo texto!
Grande abraço
Temos de começar de algum modo e por algum lado...
sa escolas s�o mesmo pessoal em latas de sardinha, apertadinhos!!Viva Sevilha,
SEVILHA me MATA!!!(como n�o conhe�o MADRID; fico-me por SevilhA).
como sardinhas na lata? q naaada! Estamos como palitinhos na caixa de fósforo e salve-se quem puder!
Jo-Zei, essa ultrapassou-me pela direita em excesso de velocidade!
Ana B., palitinhos sempre são mais limpinhos!
:-)
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