terça-feira, janeiro 30, 2007

Grande Gato!!!





O professor Marcelo dá uma lição de demagogia e desonestidade intelectual para enganar papalvos.
O Gato Ricardo responde e ultrapassa largamente o original demonstrando que a cópia pode, por vezes, superar o modelo.

Vota "SIM" no referendo de 11 de Fevereiro à proposta de alteração da lei do aborto.

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Babel

Apesar dos conselhos dos críticos de cinema do jornal Público (que classificam Babel como filme a evitar ou, com alguma benevolência, dispensável) fui ver este filme candidato a uma mão-cheia de Oscares. Tive o cuidado de, como sempre, não ler as críticas já que, por vezes, os gajos que as escrevem têm o desplante de narrar a acção para melhor explicarem as suas razões e perspectivas e eu gosto de cinema, não vivo de dizer baboseiras nem de armar ao pingarelho a propósito da 7ª arte. Sou um sortudo.
De pé atrás, apesar de ter a crítica em fraca consideração, lá me aventurei na sala VIP 4 das Amoreiras na sessão das 14 horas. Pouquinha gente, cadeiras confortáveis, um écrã aceitável e um sonzinho agradável, lá passei pelas apresentações e pela publicidade.
Depois... bom, depois veio Babel.
No final senti que me tinham esfolado a alma e a haviam esfregado com vinagre. O filme é um monumento!
Uma vez regressado a casa dei-me ao trabalho de procurar o texto crítico de Mário Jorge Torres no Cine Cartaz do Público on-line. O tipo não percebeu nada do que viu. Por falta de sensibilidade ou por mero preconceito, isso não sei, reduz o filme à sua perspectiva abstrusa do mundo que o rodeia. Como pode este homem dizer, a respeito da personagem da adolescente japonesa, que é ninfomaníaca!? É preciso ser muito tapado para reduzir a complexidade desta personagem a algo que apenas ele foi capaz de descortinar. Estupidez pura e muito, muito dura. Todo o texto tropeça numa imbecilidade boçal e altaneira, própria de alguém que deveria tentar olhar os objectos fílmicos com olhos de ver e não com lunetas deformadoras que ele imagina serem binóculos hi-tec. Uma miséria. Como é possível?
Não li textos dos outros escrevinhadores do Público mas imagino que não queiram ficar uns atrás dos outros nas suas concepções provincianas, embrulhadas num intelectualismo diletante que os faz confundir um cagalhão numa gaiola com um canário cantor.
Enfim, por aqui me fico.
Termino aconselhando quem tiver tomates ou estômago rijo a não perder o filme. A coisa merece ser vista apesar da dureza absoluta e da densidade dramática que, a espaços, atinge a consistência de uma tigela de lama espessa.
Absolutamente extraordinário. Portanto tenham cuidado.

Coisa de homens

Realmente, ele há coisas que são complicadas como o raio que as parta!
Vendo o telejornal, lendo artigos de opinião e reportagens sobre a pré-campanha do referendo que se avizinha, confirmo que a maior parte das intervenções são feitas por homens.
Eles sofrem, eles desejam, eles esperam, eles jorram bondade e preocupação pelas mulheres deste país. Eles pegam nas bandeiras, mostram fetos e escrevem manifestos. Ameaçam, apoiam, deitam-se e levantam-se todos os santos dias com uma vontade indómita de participar.
Não tenho nada contra (afinal também sou homem) mas faz-me um bocado de confusão.
Já ia sendo tempo de entregar um maior protagonismo às mulheres. Ou talvez não. Mas lá que a coisa parece um tanto estranha...

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Anos 80 (em Serralves)

A exposição "Anos 80, uma topologia", patente na Fundação de Serralves, é uma daquelas que deixam o visitante mais incauto com a cabeça à roda.
Arte contemporânea pura, dura e algumas peças alienígenas, ocupam a totalidade do espaço de exposição (aproximadamente 4000 m2). Salas atrás de salas e em cima de outras salas carregadas de peças de uma montanha de diferentes artistas, oferecem-se ao olhar num imenso e intenso bric-à-brac.
A densidade informativa desorienta o mais pintado e a variedade de linguagens, técnicas e propostas estéticas é um desafio aos estômagos mais blindados.
No meio de tudo aquilo houve um artista que me prendeu mais a atenção. Jimmie Durham, um Cherokee meio alucinado, tem um conjunto de peças de fino recorte em exibição que proporcionam uma ideia barbuda do seu imaginário. O seu "Dead Deer" (na imagem) sangrando estrelas da boca, esfolado e descarnado, num misto de terror e caricatura anedótica, foi das peças que mais me impressionaram. Por ali me demorei um pouco apesar de já estar meio estonteado pela overdose que estas exposições sempre me provocam. Saí com a firme intenção de me informar um pouco mais e melhor sobre este mostronço. Brevemente tentarei voltar a ele com maior atenção.
Resumindo, uma grande exposição (a large one) capaz de confundir ainda mais quem não estiver particularmente informado sobre o fenómeno artístico contemporâneo e que certamente fará as delícias dos outros, os que se interessam pelo fenómeno. A não perder ou até mesmo antes pelo contrário.
Quanto mais não seja constitui motivo suficiente para (mais) um passeio nas entranhas do edifício de Siza.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Chatos como a "putaça"

Quem trocou a PT por outra operadora de telcomunicações sabe do que vou falar. Os gajos não largam um tipo da mão! Atirados para a frente na vertigam de recuperar clientes, os "masters" dos telefones da PT andam numa roda viva.
Eles telefonam, eles enviam publicidade juntamente com as facturas da assinatura e hoje tive mesmo uma senhora (imagino) a tocar à campaínha do prédio para me oferecer um ano de chamadas grátis, redução no preço da assinatura e, futuramente, chamadas para fixos e telemóveis ao preço da uva mijona!
Recusei. E recusei porque me metem um bocado de nojo. A lógica do mercado não me convence, sou um tipo rancoroso. Mesmo perdendo uma mão-cheia de euros todos os meses não quero saber destes gajos para nada. E porquê? Porque se agora me oferecem tanta benesse fico a pensar nos anos todos em que detiveram o monopólio e me trataram como se fosse caca, com a sobranceria de um chulo. Se tendo perdido tantos clientes podem oferecer serviços tão baratos o que andaram estes coirões a cobrar-me ao longo de tantos anos? Quanto dinheiro me roubaram (o termo peca por defeito, não é nada exagerado) sem apelo nem agravo?
Podem vir aí prometer-me uma ida para o paraíso, um apartamento em troco do regresso à sua lista de clientes que eu não quero!
Posso perder dinheiro, posso estar a desaproveitar as oportunidades luminosas da concorrência numa sociedade capitalista. Certamente estou a ser burro. Mas isso não me interessa nem incomoda minimamente. É a minha vingançazinha particular. Poder dizer a estes gajos que não estou interessado nas suas ofertas douradas sabe mesmo bem. Perceber como ficam quase indignados perante a minha recusa de uma proposta irrecusável proporciona-me um gozo imenso. Sou livre de escolher e não escolho segundo a lógica destes chupistazitos. A minha escolha obedece a outra lógica que um chulo não pode compreender pois é o oposto total da lógica dele.
PT que os pariu!

Scoop

O mais recente filme de Woody Allen, Scoop, é uma daquelas películas que me levam a pensar como deve ser complicado ter bons projectos uns atrás dos outos e unhas para tocar a viola do bom gosto e da eficácia sem dar notas ao lado nem partir nenhuma corda num movimento menos conseguido.
Allen aí está, naquele seu estilo imparável de gags consecutivos, a deixar o espectador meio estonteado na vertigem do humor que destila com a mesma facilidade com que um homem gordo sua fechado numa sauna.
O filme é engraçado, segue em velocidade de cruzeiro com piscina e entretenimento para plateia sossegada. A personagem interpretada pelo caixa-de-óculos mais adorado no cinema actual (Groucho Marx é história) tem mesmo oportunidade de nos mostrar como Allen vê quem o vai ver e sorrir com as suas histórias mais levezinhas. Ele é um mágico medíocre que, em palco, executa magias absolutamente pueris mas a plateia aplaude cada movimento, cada frase feita (e disparatada) que vai debitando. É um público maravilhoso e disposto a divertir-se com as momices do mágico de pacotilha, tal como nós estamos disponíveis para sorrir e até para rir com as (in)esperadas piadas de Allen.
O argumento (da autoria de Allen) tem consistência q.b., personagens mais ou menos previsíveis e um final algo frouxo. O elenco conta com a omnipresente e adorável Scarlett Johansson e um Hugh Jackman bem mais compostinho que em "The Prestige". Londres é, mais uma vez, o pano de fundo e o sotaque "british" brilha, outra vez, em contraste com o americano de Allen e Johansson.
Enfim, um filmezinho divertido capaz de pôr o exigente (e sorumbático) Mário Jorge Torres, crítico do Público, a ver estrelas ao ponto de lhe escarrapachar 4 na sua apreciação.
Eu (mas quem sou eu!?) seria mais unhas-de-fome e ficava-me aí pelas duas, vá lá, 3 estrelitas que o Woody até parece ser um gajo mais ou menos porreiro.
Já agora um conselho, não leiam a "crítica" de Mário Jorge Torres se quiserem ver o filme. O gajo conta tudo, tintin por tintin e ainda fala do Capitão Haddock e explica o desaparecimento das jóias de Castafiore. A leitura desse texto assassina por completo o interesse que o espectador ocasional possa ter ao longo do filme.

domingo, janeiro 21, 2007

Outra razão

Se mais razões para votar SIM no referendo de 11 de Fevereiro faltassem eis um novo e fortíssimo argumento: Marques Mendes vota NÃO e explica o que o leva a tomar esta posição num texto publicado no Correio da Manhã. http://www.correiomanha.pt/noticia.asp?id=228283&idselect=93&idCanal=93&p=200

O líder do PPD (ou será líder do PSD?) lá vai desfiando uma série de considerações mais ou menos piedosas, mais ou menos enroladas, até encontrar os argumentos que a seguir reproduzo:

"Também é difícil combater a corrupção, mas combatêmo-la. Não a legalizamos.
Também é difícil combater o tráfico de droga, mas combatêmo-lo. Não o legalizamos."

Combatemos, pois, com os resultados que se sabem. Mas, antes do mais, gostaria de tentar imaginar a corrupção legalizada. Talvez até não fosse má ideia criar uma tabela que pusesse alguma moralidade na corrupção que por aí grassa, porque a droga está, mais ou menos tabelada e os preços de mercado podem ser controlados pelos consumidores.
Assim, quando um honesto cidadão precisasse de uma licança para fazer obras em casa ou fazer desaperecer uma multa por excesso de álcool, saberia exactamente o montante a investir sem se arriscar a ser vigarizado por algum funcionário... corrupto.

Voltando à questão inicial deste post, as razões de Marques Mendes eram absolutamente desnecessárias. Lendo aquilo percebemos que são apenas justificações de um tipo que não se quer comprometer por aí além. A cada afirmação corresponde uma justificação que implica a compreensão do seu contrário. Mendes parece querer dar uma palmadinha nas costas a deus e manter relações cordiais com o diabo. O resultado é uma coisa sem sal à qual nem um quilo de pimenta valerá se se lhe quiser dar algum sabor.
Ai Marques, Marques, estás mesmo com os sapatinhos prá cova.

sábado, janeiro 20, 2007

SIM


O "debate" público em redor do referendo tem sido lamentável. Começam a chatear as trocas de galhardetes entre os dois lados da contenda, as vaidadezinhas individuais, os golpes baixos, as insinuações infundadas, vale tudo e ainda hão-de ir uns quantos olhos pró maneta! No meio da peixeirada há tendência a subalternizar a questão que iremos encontrar nos boletins de voto e que é, afinal, aquela que importa debater: o aborto deve ou não ser considerado um crime até às 10 semanas?
Eu voto SIM mas isso não quer dizer que sou a favor do aborto. Ninguém, no seu perfeito juízo é a favor do aborto. A questão é demasiado complexa para ser tratada à paulada tal como tem acontecido e, à medida que se for aproximando a data da votação, as coisas tenderão a piorar. Quem pensa que o nível do debate anda rasteiro que se prepare para a fase em que se tornar subterrâneo.
Os adeptos do NÃO deveriam assumir que estão a pugnar pela manutenção da legislação em vigor e deixarem-se de golpes baixos como os que têm sido aplicados pela padralhada por esse país fora. A igreja católica volta a mostrar a sua face intolerante e fundamentalista quando usa o púlpito para fazer campanha de forma desavergonhada.
No fundo a questão fundamental é essa; devemos ou não alterar a lei actual? Comparar os defensores do SIM a nazis só mostra a falta de inteligência e de ética de quem é capaz de arrotar semelhante posta de pescada. Com bispos capazes de tais dislates não há igreja que sobreviva aos tempos que correm.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

O Dia do Carneiro


clica na imagem

Quíron dá uma prendinha ao Sr. Silva; A Rarat Tumba Bara; Suspeito; Miss do Mundo; Eu não sei quem tu és; O Homem-Dúvida; The last living souls; Red Right Hand; In God we trust; Bons amigos maus amantes; O Libertino passeia por Braga, a Idolátrica, o seu esplendor; Dia de Todos os Santos; Ave Gratia Plena!; Um caso bicudo; Se morresse gostava de ir ao céu; Negócio fechado; Nós Vida, Allahu Akbar; Arrumando o Cordeiro mal morto; Afastar a morte; Orpheu sou eu !!!; Lázaro fede; Giotto em Cape Town; Sociedade Recreativa ou José, o Virgem Pai; São João Paulo num segundo; Lá no fundo somos todos boa gente.

Painel de 27 desenhos tamanho A3 em sumptuosa técnica mista com prevalência de aveludada tinta-da-China combinada com colagens muitíssimo refinadas e um pouco de cor (dominante ocre) com porta incrustada e aberta sobre fundo sem luz.
Aid El Quebir- O Dia do Carneiro é o título genérico da peça (saltar ao blog Pobre e Mal Agradecido para melhor compreender, o link está aí acima do lado direito).

A imagem representa o esquema de leitura da dita peça e por baixo estão os títulos de cada desenho (que os têm individualizados). Enfim, uma peça ilustrativa do meu trabalho mais recente misturado aqui e ali com desenhos mais antigos ("Lázaro fede", por exemplo, é de 1995).
Ainda não vi a totalidade das obras que compõem este Decrescente Fértil que tem inauguração marcada para mais daqui por um bocado. Estou a beber um café e a fumar um cigarrito antes de meter botas ao caminho.

Boa noite.

Crise


No seu texto de hoje no Público, Vasco Pulido Valente põe o dedo numa ferida que ando a lamber vai para bastante tempo. Reflecte acerca da "crise" que Portugal atravessa concluindo que a dita cuja não é mais que uma velhíssima tradição nacional. Concordo.
Realmente já muitas vezes tinha perguntado a mim próprio quando estiveramos num tempo que não fosse de "crise". Sim, porque para estarmos a "atravessar uma crise" isso implicaria um ponto de partida fora dela e outro ponto, de chegada, igualmente afastado da tormenta uma vez finda a travessia. Como aquelas personagens nos desenhos animados que se arrastam a suar as estopinhas ao longo de uma complicada travessia do deserto.
Pensando um pouco a nossa querida "crise" é, na verdade, um composto explosivo e altamente inflamável de uma série de "crises" mais pequenas e diferenciadas.
Ele é a crise económica (a que parece preocupar mais as cabeças pensantes), mais a crise da educação, a crise de valores, a crise cultural, a crise ecológica, enfim, tudo misturado e posto em repouso resulta na grande "crise", a mãe de todas as maleitas e dores de parto com que se dabate a nossa sociedade.
Ora isto parece-me mais feitio que defeito, verdadeiro modo de vida. Sem a "crise" não saberíamos o que fazer das nossas vidas. É a "crise" que nos faz lutar por um mundo melhor. Em última análise, a "crise" encerra o mistério último do sentido da vida e da existência humana.
Quando começou a "crise"? Quando terminará? Temo que nunca termine, que seja eterna.
Fui de súbito assaltado pela ideia de que a própria ideia, a essência de Deus (assim mesmo, com letra gorda) deriva da constatação da "crise". Deus seria simultaneamente representação do mal que nos ensombra a vida e da esperança (fé) em conseguir encontrar um modo de a ultrapassar. Até porque a saída da "crise" conduzirá decerto à porta do Paraíso. Sem "crise" estará tudo bem.
Deus queira!



quinta-feira, janeiro 18, 2007

Obikwelu

Obikwelu recebe «leão de ouro»
Francis Obikwelu, campeão europeu de 100 e 200 metros e melhor atleta europeu, foi hoje homenageado pelo Sporting com a entrega do «leão de ouro».


Este atleta é português. Não nasceu em Portugal mas é português.
Por muito que isso custe aos puristas da "raça", mesmo que faça torcer narizes mais sensíveis a coisas como a cor da pele, não há nada a fazer. Ainda por cima e para orgulho dos que se orgulham com estas coisas, foi considerado o melhor atleta europeu de 2006!

Os nacionalistas bacôcos que imaginam um mundo escortanhado por fronteiras e marcado por folclores mal amanhados terão de rever a História consultando manuais menos emporcalhados pelos ideais salazarentos que ensombraram as suas aprendizagens.

Obikwelu revelou que tem como objectivo marcar presença nos Jogos Olímpicos de 2008, em Pequim, ao mesmo tempo que manifestou o «sonho» de criar uma Academia destinada a jovens sem família. «Será uma forma de retribuir a Portugal. Quando isso acontecer, sentir-me-ei realizado.»

Caso consiga realizar o objectivo acima citado, Obikwelu mostrará a quem quiser ver quanto vale viver com o espírito aberto. Nacionalistas e outros seres viventes lá terão de meter a viola no saco e ir destilar o seu veneno para outra freguesia.
Ah grande Obikwelu!

À procura da beleza (4)

















terça-feira, janeiro 16, 2007

Decrescente Fértil


clicar nas imagens torna-as gigantescas!
Acabei de montar um painel de desenhos na Plataforma Revólver (Rua da Boavista, nº 84 em Lisboa, pertinho da esquadra da PSP), parte da exposição Decrescente Fértil com a participação de Andrea Brandão, Artur Duarte, Isabel Ribeiro, João Fonte Santa, Joseph Kosuth (!!!???) e eu próprio.
Arte contemporânea pura e dura!
A inauguração é na próxima 6ª feira, 19 de Janeiro, por volta das 22 horas, mais para lá do que para cá.
As imagens acima são do convite e fica o convite feito a quem quiser dar um ar da sua graça. Conhecidos ou desconhecidos serão bem vindos se (como diz o outro) vierem por bem.
Também poderão vir por mal mas, nesse caso, a música pia mais fino.


segunda-feira, janeiro 15, 2007

1.33 gramas

Ainda a matutar sobre o episódio da terrível sentença proposta a Luisão por conduzir sob o efeito de álcool (uma contra-análise realizada algumas horas após ter acusado 1.44 gramas de álcool por litro de sangue viria a mostrar que, afinal, não estava tão "grosso" quanto isso uma vez que o valor então registado desceu para 1.33) imaginei que a GNR "catava" outro figurão. Sei lá, um ministro, por exemplo.

Cocei a cabeça, semi-cerrei os olhos, cheguei mesmo a fechá-los com força e em esforço, mas não saiu nada de especial da minha imaginação. Nadinha mesmo a não ser uma continência, um bater de tacões e um sorrisinho nervoso a pedir desculpas pelo incómodo. Da maneira como as coisas se passam duvido mesmo que o ministro chegasse a soprar no balão ou que isso lhe fosse, sequer, proposto pelo agente da autoridade (autoridade?).

Haverá memória de algum guarda ou polícia que tenha ficado sem carta por acusar excesso de álcool? Posso garantir a quem me leia que esse teste já me foi feito por um GNR a cambalear, meio suspenso no topo das botas de montar, com um hálito de pipa por lavar e umas faces vermelhuscas como o cú de um babuíno. O oficial que supervisionava a operação stop olhava o ébrio colega com olhos de meter medo mas o outro estava tão concentrado no exercício de manutenção do equilíbrio que parecia não ver nada. Literalmente.
O resultado foi zero.zero já que eu não bebera mesmo nadinha e lá fui mandado à minha vida. Se pudesse ter ordenado que o guarda soprasse no balão que segurava (caso conseguisse acertar com a beiçola no canudo) aquilo havia de ser de estalo!

Mas não. Com a autoridade não se brinca nem que seja a sério. Os guardas lá ficaram prontos a multar quem estivesse com os copos mesmo que o seu imbatível companheiro caísse de costas a roncar como um porco ali assim, no meio da estrada.

A Lei não tem um braço tão longo como nos querem fazer crer. Depende daquilo que quiser apanhar e, em Portugal, escolhe bem demais os objectos para colheita seleccionando com rigor quem deve ou não deve ser chamado ao banco dos réus. Há tanto rabiosque que devia ir aquecê-lo e anda por aí a apanhar o fresco da liberdade.

Ai, ai...

domingo, janeiro 14, 2007

1.44 gramas

O episódio da condenação de Luisão a 40 dias de trabalho comunitário por ter sido apanhado a conduzir embriagado (1.44 grams de álcool por litro de sangue é obra de trabalho aturado a verter copos na garganta!) é elucidativo.

Talvez estivessem apenas benfiquistas na sala de audiências onde foi decidida tal enormidade, quem sabe? A sentença não passa ainda de uma proposta que terá de ser confirmada noutra instância judicial. Aguardemos para ver o resultado desta infâmia.

No mesmo dia foram "catados" mais uma série de cidadãos em condições semelhantes. Uns mais embriagados, outros menos, outros ainda, acredito, nem por isso. O caso mais mediático foi o de um actor da nossa praça (não me lembro agora do nome mas estou mesmo a ver quem ele é) a quem foi, de imediato, apreendida a carta de condução. Será escusado tentar saber o que aconteceu aos outros. A maioria (talvez mesmo todos) ficaram a andar a pé e de transportes públicos durante uma temporada.

O que tem Luisão de especial? O facto de ser jogador do Benfica será atenuante num caso desta natureza? Se a carta de condução não for apreendida a este cidadão estaremos perante nova prova da merda de justiça que temos. E, mesmo que isso venha a acontecer, já ninguém limpa mais esta mancha malcheirosa ao seu manto esburacado nem convence o pessoal que a venda dela não é transparente.

Há quem não acredite, mas alguns deles são Criadores

Imagem retirada do site das Visões Úteis http://www.visoesuteis.pt/criacoes/criacoes.html


No seu editorial de Domingo, 14 de Janeiro, José Manuel Fernandes (JMF) afadiga-se a dar mais umas pauladas no ceguinho que designa por “criador”, assim mesmo, com aspas tremendas e arrasadoras.
Começando por enumerar uma série de situações que, em seu entender, provam a existência de um público interessado nos mais variados eventos culturais, JMF conclui que “o nosso problema não é criar públicos para a cultura” mas sim oferecer ao público eventos de qualidade garantida que ele logo acorre em grande número. Prova disso seriam as longas filas de visitantes que aguardaram pacientemente a sua vez de entrar na exposição dedicada a Amadeo e às vanguardas artísticas do início do século passado que, finalmente, estão ao alcance de grande número de portugueses. Esquece JMF que muitos desses estóicos visitantes são, precisamente, fruto de um paciente trabalho de criação de públicos para a cultura para o qual a Fundação Calouste Gulbenkian, (juntamente com outras instituições e, pasme-se, o próprio ensino público) muito tem contribuído ao longo de décadas. Trabalho de criação de públicos começado, mais coisa menos coisa, após a revolução de 25 de Abril de 1974 que começa, finalmente, a dar frutos bem visíveis. Imagine JMF uma exposição de Francis Bacon em Portugal há 30 anos atrás. Quantos visitantes teria, por muito exemplar que fosse o trabalho de divulgação? Os públicos que tanto entusiasmam JMF não saem de baixo das pedras nem são resultado de um qualquer milagre de geração espontânea.
Esquece JMF que Amadeo, ou Van Gogh ou Pessoa, foram também, na sua época, considerados “criadores”, desses entre aspas e que apesar do desprezo a que foram votados pelos guardiães da verdade e do bom gosto aí estão prontos a deslumbrar multidões nos dias de hoje.
Teria alguma curiosidade em saber quais os eventos desses nossos “criadores” contemporâneos que foram brindados com a presença de JMF para poder ter uma noção mais aproximada daquilo a que ele se refere quando fala da “sobranceria de quem entende que é um “criador”(…) indiferente [a] ter ou não público desde que tenha dinheiro no banco ao fim do mês.” Há quem não acredite, mas alguns deles são Criadores.
Dizia a canção que “demagogia feita à maneira é como queijo numa ratoeira”. Ora nem mais.

Carta enviada ao director do Público

sexta-feira, janeiro 12, 2007

A saga continua

O caso da repetição dos exames de Física e Química do 12º ano é exemplar. Uma decisão aberrante do Ministério (de que cabeça terá saído a ideia?) veio subverter por completo as regras a meio do "jogo". Os alunos lesados têm visto coroados de êxito os seus recursos aos tribunais. Um após outro repetiram a prova e as Universidades deparam com a necessidade de os aceitar. Sob o ponto de vista académico estamos perante outra aberração; estes alunos irão entrar na Universidade com o comboio em andamento o que me parece, no mínimo, complicado. Espantoso? Nem por isso.

A prática do Ministério tem sido esta. Atira às cegas e vai depois verificar os estragos. A inépcia dos "pistoleiros" é tal que já não lhes devem sobrar mais pés para continuarem a praticar o seu perigoso passatempo.
Vi a ministra afirmar na televisão que não tem medo dos protestos. Esta afirmação mostra bem a falta de compreensão que a senhora tem das regras de uma sociedade supostamente democrática. Mal de nós se um ministro tivesse medo dos protestos! Não tem que ter medo, tem apenas que tentar compreender a razão de tais protestos e agir em conformidade. Pelo que se tem visto, Maria de Lurdes Rodrigues não só não compreende essas razões como parece não compreender nada que seja proposto fora do seu círculo restrito de colaboradores e conselheiros que são bem piores do que ela. O que não é nada fácil.

Na sua actuação o Ministério confunde bom senso com autoritarismo e ponderação com uma leviandade própria de um adolescente. A leveza com que foi tomada a decisão que conduziu à caricata situação actual deveria ser um toque de alarme aos ouvidos do 1º ministro. Uma equipa capaz de espezinhar assim os mais básicos direitos democráticos, favorecendo uns em detrimento de outros só porque os resultados obtidos na 1ª chamada dos exames foram abaixo do esperado, revela a face. Estão lá preocupados em premiar a excelência e castigar a preguiça! Se assim fosse teriam mais pudor nas decisões (pelo menos).

Os seres viventes e pensantes que encabeçam o Ministério ou são simplesmente nabos ou então são mal intencionados. Num um noutro caso só lhes restaria uma saída, caso tivessem um pingo de dignidade. Mas nem isso eles percebem e mantêm-se em funções como se fosse o resto do mundo que não conseguisse compreendê-los. Demitam-se, porra. Não prestam para nada.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Memória



Aqui há dias percebi que este vídeo foi realizado por uma equipa da Aardman que integrava Nick Park, sim, esse mesmo, o responsável pelo nascimento de Wallace e Gromit, pela Fuga das Galinhas e o Animal Comforts.
Hoje resolvi dar uma saltada ao You Tube e lá estava ele, fresco como um repolho em manhã de nevoeiro. Continua a ser uma obra prima de inventividade e absolutamente surreal. Rejuvenesci momentâneamente.
Agora estou de regresso mas o vídeozinho mantém-se eternamente jovem e pujante.
Do melhor!

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Charlatanice

Já começou!
Hoje tinha na caixa do correio este magnífico desdobrável bem demonstrativo das "forças" que por aí se movem na penumbra da estupidez e na escuridão mais atroz da crendice bossal.
O discurso é canhestro e obtuso. A tacanhez da mensagem está bem patente na forma contraditória como a ideia principal é veiculada. No 3º parágrafo (referente à 2ª imagem) a vertigem do redactor leva-o a apelar confusamente ao voto no NÃO podendo mesmo ler-se a frase com sentido contrário.
Apela-se ainda à oração utilizando o publicitado "Terço da Vida"que poderá ser adquirido mediante o envio de um donativo de 10 € em troca do qual o benemérito beato receberá também um livro ilustrado, "O Rosário da Vida" de 54 páginas. Quem não souber ler poderá contemplar os bonecos.
A imagem da "capa" mostra uma Virgem que chora, com uma lágrima a despencar em contraluz e o ar sofredor que caracteriza este ídolo de madeira pintada (aqui a preto e branco), numa tentativa descarada de humanizar aquilo que a própria igreja afirma combater: a mais rasteira idolatria.
Pelo exemplo ficamos elucidados da "elevação" do debate que se avizinha e da dimensão argumentativa de alguns dos movimentos defensores do "NÃO".
Estamos perante um exemplo da mais pura charlatanice dirigida aos pobres de espírito que confiam no Reino dos Céus.
Paz às suas almas.
O desdobrável tem ainda uma morada de e-mail accaofamilia@netc.pt para o qual irei enviar a morada do 100 CABEÇAS. Sinto que tenho o direito de lhes meter na caixa do correio aquilo que bem me apetecer, tal como eles fizeram comigo.

À procura da beleza (3)

Kant, ele mesmo


BELO“Não pode haver nenhuma regra de gosto objectiva, que determine por meio de conceitos o que seja belo. Pois todo juízo proveniente desta fonte é estético; isto é, o sentimento do sujeito e não o conceito de um objecto é o seu fundamento determinante. Procurar um princípio de gosto, que fornecesse o critério universal do belo através de conceitos determinados, é um esforço infrutífero, porque o que é procurado é impossível e em si mesmo contraditório.” (Crítica da Faculdade do Juízo, I, 17). Kant refere-se assim à tentativa de definição do belo (Das Schöne), categoria estética ou expressão maior da estética, tradicionalmente tomada por “ciência do belo”.

À procura da beleza (2.1)














À procura da beleza (2)



Sem comentários



terça-feira, janeiro 09, 2007

O processo (parte 3)

O Grande Quíron oferece uma prendinha ao Sr. Silva, técnica mista (2006)

Quem sabe o que poderá resultar do Processo?
Vai para uns anitos chamei-lhe "Hibridização Anárquica". A ideia é tão simples que até pode chatear mas acaba por fazer todo o sentido... digo eu.
O Processo consiste em deixar fluir ideias e acções com a maior liberdade possível. Os materiais quase se sobrepõem ao acto de os manipular.

Foi Ernst (o Grande Max ou Dadamax, como preferirem) que fez notar as potencialidades infinitas de certas técnicas de trabalho plástico verdadeiramente automáticas. Entre elas destaca-se a de lançar um trapo embebido em tinta sobre uma superfície e ficar a olhar, esperando que a mancha daí resultante revele ao pintor a sua essência. Entre a acção de lançar o trapo e a descoberta da imagem assim potenciada, medeia um tempo de contemplação mais ou menos atenta, mais ou menos silenciosa, mais longa ou, eventualmente, curta. O artista espera que o material lhe revele para onde poderão ambos dirigir-se. Há nisto qualquer coisa de mágico.
Em determinado momento o artista começa a actuar e, a meias com a sorte e a imaginação, vai descobrindo um sentido nas manchas e nas linhas que, poderia muito bem, ser outro, não aquele que se vai formando. É um trabalho magnífico. Mesmo que o resultado seja uma merda, o Processo é infalível na condução do pensamento por caminhos à partida inimaginados.

A Hibridização Anárquica consiste na condução do Processo introduzindo outros dados de forma consciente ou nem por isso. A música que ouvimos de manhã, a leitura que fizemos ao almoço, a conversa que tivemos à sobremesa, o sonho que sonhámos anteontem e já não podemos, de forma nenhuma recordar, a pancada incómoda do joelho na cadeira... todas estas energias serão transmutadas em formas nem sempre premeditadas, concentradas na superfície de trabalho e ali depositadas. O desenho, a pintura, o que quer que estejamos a criar, irá beneficiar desta força incompreensível, retendo-a para que fique à disposição do observador eventual.
Quando o observador cruza o seu olhar, a sua energia vital, com a imagem assim criada, despoleta um processo de identificação que resulta em algo absolutamente novo, maravilhosamente imprevisto e fecundo. A sua leitura do objecto plástico consiste num outro Processo, também ele infinitamente criativo e pessoal, resultando um híbrido incorpóreo e etéreo, como um fantasma que convidamos a sentar-se à nossa mesa.

Assim é.

segunda-feira, janeiro 08, 2007

À procura da beleza (1)

Uma criança que graciosamente colhe flores num campo banhado pelo sol do meio-dia é uma imagem de morte e destruição.
As flores estavam vivas antes da menina as recolher no seu sorriso.
Um ramo de flores que repousa na água, dentro da jarra, sobre a mesa é uma imagem de tortura o que ali vês.
Prolongas a agonia das flores que apodrecem lentamente.
Se pudessem falar, aquelas flores gemeriam.
Talvez gritassem, talvez te insultassem ou, mais simplesmente, talvez rezassem à sua divindade particular, triste e colorida, frágil, num altar feito de pétalas, submissa e resignada perante a força da beleza falsa que te dança no olhar.

Se é beleza aquilo que procuras mais depressa a encontras no brilho da lâmina que no caule da flor quando a preparas para o sacrifício.
E mais te digo: se não é beleza que procuras também não sei que porra andas por cá a fazer!

domingo, janeiro 07, 2007

Um Kokoschka

Está no "Diálogo de Vanguardas". Não posso dizer que discreto, por entrar tão nítidamente na retina, mas sóbrio no porte e nos processos, este cartaz de Oskar Kokoschka é um (de muitos) espaço de prazer no percurso da exposição na Gulbenkian.
Kokoschka (escrever o nome deste gajo é um estranho prazer) foi um artista apanhado no turbilhão do início do século XX, capaz de inventar uma forma de expressão pictórica muito especial, dando à representação do corpo (e do rosto) humano uma dimensão psicológica incomum.
Uma personagem a bisbilhotar.

O processo (parte 2)

Cadáver Aflito (O Libertino Passeia por Braga, a Idolátrica, o Seu Esplendor) técnica mista 2004

Colar, pintar, riscar, desenhar, recortar, colar outra vez... uma busca incessante de equilíbrio precário entre forma e significado. Suspensão!
Uma imagem nunca está definitivamente concluída. Suspende-se a acção num determinado momento, a imagem é encontrada, fica ali à disposição do olhar que a intercepte. Energia em bruto à espera de energia que a cruze e a complete. Transmutação de energias.
Da imagem para o observador e vice-versa. No cérebro forma-se um turbilhão de significados imprevistos. Com alguma sorte e algum mistério dar-se-á "a" Revelação.
É este o jogo que jogamos, é este o resultado do processo.
O processo tem qualquer coisa de caótico.




O processo


clicar sobre as imagens


O processo é meio estranho e tem qualquer coisa de caótico. Trata-se de encontrar uma disposição para um número de desenhos que se pretende ímpar (de momento serão 33). Fileiras em número ímpar, desenhos em número ímpar, não é por nada de especial. Acho que será, muito simplesmente, mania. Coisa herdada do professor de Estética, nada de mais.
Um dia a coisa parece resolvida mas depois surge outro desenho para encaixar e o conjunto engorda, o número acrescenta-se, lá volta tudo para próximo do início.
O processo é estranho e tem qualquer coisa de caótico. Trata-se de encontrar uma ordem que estruture a aparente desordem. Uma sequência de (pelo menos) 33 desenhos que acabam por formar uma única imagem. Barroca, excessiva, românica, vá-se lá saber. Uma confusa narrativa repleta de significados escorregadios como enguias gordas e lustrosas. Ainda agora pensei ter compreendido algo de especial. As coisas tiveram, por momentos, um sentido inesperado, total, preencheram-me sem querer. Mas logo percebi um furo no sistema, um buraco indisciplinado capaz de deixar escoar aquilo, rapidamente, o sentido das coisas a fugir, a perder-se. Adeus. Até amanhã.
Pode ser que a coisa volte.
Ou não.
O processo tem qualquer coisa de caótico...

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Um vídeo...


Pere Ubu em grande estilo!!!

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Outra coisa boa

Andava há que tempos para adquirir este disco dos Pere Ubu. Editado em 1978 surgiu-me já em plenos anos 80. Tive uma cassete de áudio com "isto" gravado e ouvi-a até à exaustão. Depois... depois as cassetes de áudio passaram à história (Pus todas as centenas de cassetes de áudio que tinha num saco de lixo de 100 litros, juntamente com mais uma catrefada de cassetes de vídeo e deixei tudo junto ao ecoponto enquanto fui tomar um café. Ao voltar para casa verifiquei que o saco já não estava onde o deixara. 10 minutos, se tanto, e alguém levara aquela espécie de tesouro meio marado para algum lugar. Terá ouvido todas as cassetes? Terá visto todos os filmes?) e nunca mais ouvi "isto".
Entretanto tinha comprado um ou dois CD's do grupo mas a nostalgia deste Modern Dancing continuava a assombrar de vez em quando o meu cérebro. Não passava de uma vaga recordação até que, unjs dias depois do Natal fui à FNAC e, por acaso, resolvi passar pelo escaparate onde (não) costumam estar os discos dos Pere Ubu. Espanto dos espantos, lá estava ele, resplandescente, à minha espera!!!
Saudades mortas, posso agora voltar ao disco tantas vezes quantas quiser. Um luxo.
Para quem não conhece os Pere Ubu fica um aviso: não é muito fácil gostar deles mas, penso, esta é uma boa porta de entrada para o seu universo desconexo e meio paranóico, até por ser o seu álbum de estreia, um OVNI caído que permaneceu intacto.

http://www.ubuprojex.net/historical.html

terça-feira, janeiro 02, 2007

Gasolina na fornalha


Procurei no Youtube a execução de Saddam.
Voyeurismo mórbido ou gula por imagens da história do futuro? A primeira gravação que vi foi aquela que agora tanta celeuma tem provocado.
Numa filmagem tenebrosa, a fazer lembrar o Blair Witch Project, com as imagens a fugirem para o chão e para o tecto, senti-me chocado com a crueza do enforcamento.
Há diálogos entre carrascos e condenado, agitação e tensão dramática, o alçapão do cadafalso que se abre no vazio da morte. Tudo muito feio, muito tosco, selvagem.
O vídeo termina com imagens do ditador, já sem vida, ainda com a corda em redor do pescoço e alguma vozearia indistinta para quem não compreenda iraquiano (hoje soube algo daquilo que diziam. Os vivas a Moqtada Al Sadr, os insultos, o Inferno nas bocas daquelas pessoas mascaradas (seriam demónios?) afadigadas em cortar o ar ao tresloucado carniceiro de Bagdad).
Mais tarde vi as imagens "oficiais", muito mais comedidas e sem o "picante" da queda final de Saddam.
Depois a leitura (no Público, claro está) da descrição do funeral de Saddam na sua Awja natal confirmou a pior das premonições: nasceu um santo mártir, capaz de potenciar ao mais alto grau os instintos assassinos de legiões infinitas de fanáticos. Deram aos potenciais bandidos (mais) outra justificação para atentarem contra a humanidade onde quer que seja, contra quem quer que seja.
Saddam ganha um novo fôlego (longe de mim querer ser irónico) e podemos esperar por novas atrocidades cometidas em seu nome juntamente com o nome de Deus.
A pena de morte não tem lugar num mundo civilizado. Esta execução vem confirmar que o horror da violência serve apenas para gerar mais horror e muito mais violência. Não se apaga um incêndio vertendo gasolina no centro da fornalha. E foi isso que foi feito!