domingo, julho 06, 2008

Lixo

A Ratazana das Botas, colagem em Adobe Photoshop


Volta à ordem do dia a questão da construção de um museu dedicado ao Estado Novo ou mais simplóriamente ao seu cabeça de cartaz, António, em terras da Beira Alta, mais concretamente em Santa Comba Dão.

De imediato se levantam vozes indignadas que gritam impropérios contra vozes vibrantes de júbilo e saudade. Umas vozes soam da esquerda, outras respondem, vindas da direita, e nisto se anda, a discutir uma coisa de somenos, no meu entender.

Querem erguer uma pirâmide para encerrarem a memória da múmia salazarenta? Que ergam. Querem fazer romagens de saudade com os bracitos esticados em saudações nazi-fascistas? Que façam. Para o Santacombadenses será pretexto para abrirem mais uma tasca ou outra, podendo dedicar-se com maior afinco ao seu desporto favorito, a copofonia à desgarrada. Seja tinto ou seja branco uma só palavra de ordem: CHEIO!

Os bêbados lá do sítio terão mais uma razão para se embebedarem, para horror da beatas e dos chefes de família benfiquistas. Todos os salazaristas unidos na vontade de louvar saudosamente a memória do seu santinho mumificado, o Tóino das Botas. Se é isto que o povo lá do sítio deseja, se é com isto que alguns vendedores de sonhos fatelas acenam ao pessoal para desenvolver o turismo local, qual é o problema?

É claro que eu vivo bem longe de Santa Comba e só vou à minha terra natal, Viseu, uma meia-dúzia de vezes por ano. Não terei de aturar a boçalidade perigosa de tudo quanto é skinhead, ávido de encontrar outra razão para existir que não seja a sua estupidez natural, em romaria a esse santuário da mesquinhez pequenina que será, inevitavelmente, um museu dedicado ao Botas. Para os Santacombadenses que sintam náuseas perante o espectáculo degradante dos neonazis em pleno esplendor será complicado. Mas aqui, como noutras situações, deverá prevalecer a decisão da maioria.

Penso que um museu dedicado ao Ministro-Sopeira não dará muito mais que uma tasca infecta com "nacionalistas" gordos e tatuados a mijarem contra as paredes enqunto entoam hinos à estupidez humana. Se é isso que Santa Comba deseja que o tenha. E lhe faça bom proveito. Afinal de contas é sempre doloroso mas necessário decidir onde localizar os aterros sanitários destinados a despejar o lixo. Neste caso o lixo da memória recente de Portugal.

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