De imediato se levantam vozes indignadas que gritam impropérios contra vozes vibrantes de júbilo e saudade. Umas vozes soam da esquerda, outras respondem, vindas da direita, e nisto se anda, a discutir uma coisa de somenos, no meu entender.
Querem erguer uma pirâmide para encerrarem a memória da múmia salazarenta? Que ergam. Querem fazer romagens de saudade com os bracitos esticados em saudações nazi-fascistas? Que façam. Para o Santacombadenses será pretexto para abrirem mais uma tasca ou outra, podendo dedicar-se com maior afinco ao seu desporto favorito, a copofonia à desgarrada. Seja tinto ou seja branco uma só palavra de ordem: CHEIO!
Os bêbados lá do sítio terão mais uma razão para se embebedarem, para horror da beatas e dos chefes de família benfiquistas. Todos os salazaristas unidos na vontade de louvar saudosamente a memória do seu santinho mumificado, o Tóino das Botas. Se é isto que o povo lá do sítio deseja, se é com isto que alguns vendedores de sonhos fatelas acenam ao pessoal para desenvolver o turismo local, qual é o problema?
É claro que eu vivo bem longe de Santa Comba e só vou à minha terra natal, Viseu, uma meia-dúzia de vezes por ano. Não terei de aturar a boçalidade perigosa de tudo quanto é skinhead, ávido de encontrar outra razão para existir que não seja a sua estupidez natural, em romaria a esse santuário da mesquinhez pequenina que será, inevitavelmente, um museu dedicado ao Botas. Para os Santacombadenses que sintam náuseas perante o espectáculo degradante dos neonazis em pleno esplendor será complicado. Mas aqui, como noutras situações, deverá prevalecer a decisão da maioria.
Penso que um museu dedicado ao Ministro-Sopeira não dará muito mais que uma tasca infecta com "nacionalistas" gordos e tatuados a mijarem contra as paredes enqunto entoam hinos à estupidez humana. Se é isso que Santa Comba deseja que o tenha. E lhe faça bom proveito. Afinal de contas é sempre doloroso mas necessário decidir onde localizar os aterros sanitários destinados a despejar o lixo. Neste caso o lixo da memória recente de Portugal.
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