sexta-feira, agosto 31, 2007

Para toda a família

Escolher um filme para ver com a minha filha quando ela já assistiu a todos os que eu quereria ver levou-nos a este The Last Mimzy, para maiores de 6 anos(http://www.newline.com/properties_the_last_mimzy.html) .
A sala tinha poucos espectadores, algumas crianças e muitos baldinhos de pipocas. Espectadores que se levantavam e saíam para logo voltarem a entrar, enfim, ambiente de sala de estar em sessão de Sábado à tarde, na TV lá de casa.
À parte este ambiente descontraído e muito pouco cinéfilo, o filme revelou-se uma fábula com sabor de ficção científica, apimentado com uns pózinhos ecológico-moralistas. Tudo muito misturadinho e com apresentação cuidada ao ponto de saber bastante bem sem nunca correr o risco de enjoar.
Fez-me lembrar qualquer coisa entre o ET e os Encontros Imediatos do 3º Grau, muito spielbergueano, portanto, o que é mais um elogio do que um reparo. Um filme agradável para ver acompanhado por menores de 18 anos.

quinta-feira, agosto 30, 2007

Never Ending Story

A guerra no Iraque continua sem que se lhe vislumbre qualquer desfecho.
Os grupos rivais batem-se de forma encarniçada. As tropas americanas andam lá no meio sem saberem para que lado se hão-de virar, levando e dando porrada a torto e a direito, elevando diariamente o número de vítimas mortais e os estragos provocados obrigarão a investimentos de recuperação com valores astronómicos mas não tão astronómicos quanto os gastos de manutenção da carnificina. Uma verdadeira confusão.
Estamos perante um dos maiores erros de avaliação da história recente. Quando se lançou na aventura iraquiana, Bush, seguramente um dos homens mais estúpidos ao cimo da Terra, estava convicto da supremacia americana a todos os níveis: militar, político e moral.
Estava de tal modo confiante que não hesitou em inventar desculpas esfarrapadas para justificar a invasão. A vitória esmagadora com que contava serviria para camuflar essas mentiras uma vez que, isso é ciência certa, são os vencedores quem escreve a História. Só que Bush, neste caso, está longe de ser um vencedor, bem antes pelo contrário.
Vai sendo tempo de retirar todo e qualquer apoio a este doido varrido. Aqueles que apoiaram a guerra no seu início, convencidos da justeza da agressão, enganados pelas mentiras de Bush (lembram-se daquele número patético de Colin Powell na ONU, exibindo provas inequívocas da existência de armas de destruição maciça?) deveriam reconhecer o logro em que caíram e voltar atrás nas suas posições belicistas. Antes que a guerra no Iraque se transforme em mais uma Never Ending Story (ler os textos de Rui Tavares em http://ruitavares.weblog.com.pt/).
Em toda esta história de terror há um pormenor que me incomoda e inquieta. Falo da aparente facilidade com que se tomam decisões tão graves, como declarar uma guerra de consequências imprevisíveis, baseadas em informações distorcidas ou erradas fornecidas pelos serviços secretos norte-americanos. A CIA é, supostamente, uma máquina de recolha e tratamento de informação, uma máquina altamente eficaz e bem oleada. O que podemos agora constatar é que se trata, afinal, de um grupo de tótós, capaz de cometer e ampliar erros de avaliação tão grosseiros como aquele que levou a guerra do Afeganistão para o Iraque lançando o Império Americano naquele que será o seu derradeiro estretor.
Quando esta história conhecer o seu epílogo o que restará dos EUA? Qual a credibilidade das futuras administrações americanas em termos de política internacional?
Bem pode o eixo China-Índia começar a preparar os seus planos de dominação à escala planetária. É ali que vão nascer os Senhores que se seguem.

quarta-feira, agosto 29, 2007

Transmutação



The Eurythmics - Sweet Dreams (Are Made of This)



SWEET DREAMS - Marilyn Manson

Comparar estas duas versões do mesmo tema musical poderá dizer-nos algo sobre uma certa transmutação de imaginários no mundo ocidental entre os anos 80 e a actualidade.
A uma certa luminosidade e algum humor sucede agora uma espécie de sujidade glamourosa e estilosa, carregada de nuvens negras. Eu sei que Manson abusa e adora exibir-se em poses mais ou menos fantasmagóricas, que os meios técnicos e de produção actuais estão a anos-luz dos que tiveram à sua disposição Annie Lenox e parceiro mas não deixa de ser curiosa a forma como sonhos cor-de-rosa podem gerar objectos mediáticos tão distintos.
Sinais dos tempos?

terça-feira, agosto 28, 2007

O milagre

Olhando para os preços dos manuais escolares e as quantias que é necessário investir neste início de ano lectivo fica-se de boca aberta. Segundo notícia do Público o custo total dos manuais para um aluno do 7º ano de escolaridade obrigatória pode chegar aos 192 euros.
Teoricamente o ensino obrigatório é gratuito mas perante valores deste calibre bem vemos que não passa mesmo de teoria. Além dos manuais há toda a restante parafrenália de materiaizinhos para o menino e para a menina e aí vão mais umas notas valentes pelo cano abaixo. Isto é muito caro. Quase pornográfico de tão agressivamente horroroso!!!
Se pensarmos nas médias de ordenados que os pais das criançolas auferem e nos lembrarmos que ainda há rendas de casa, contas de bens essenciais, alimentação, etc., facilmente percebemos que o regresso de férias é um pesadelo a todos os níveis. Como conseguem as famílias portuguesas equilibrar os seus orçamentos?
Mas há mais. Com os juros dos empréstimos bancários que não param quietos e teimam em subir, com os ordenados que não sobem, como é possível sobreviver nesta selva consumista? Pagamos a gasolina caríssima, os preços das telecomunicações começaram finalmente a descer mas foram, durante os anos de monopólio da PT, dos mais caros da Europa. Os bens de consumo essenciais não parecem estar ao alcance da maioria da população.
Neste panorama não é de admirar que os teatros estejam às moscas e os bens culturais, de um modo geral, sejam coisa para as elites que por eles se interessem. Tudo fica cada dia mais caro e os ordenados estagnam em valores quase ridículos!
Pensando nisto não é fácil perceber como conseguem as famílias portuguesas viver com a dignidade que pensamos que merecem. A menos que haja por aí algum milagre.

sábado, agosto 25, 2007

EPC

Após ter postado o texto anterior, saltei até à página do Público online e deparei com esta inesperada notícia:Faleceu Eduardo Prado Coelho, intelectual público (ler em http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1303165).
Agora vai ser tempo de elogios fúnebres. Toda a gente irá descrever a grandeza intelectual de Prado Coelho e louvar a excelência dos seus textos bem como a argúcia dos respectivos argumentos. O costume.
Quero apenas referir que sempre li com razoável atenção as suas crónicas. Algumas vezes pareceram-me excelentes, outras uma desgraça completa. Escrever diáriamente num jornal com a aura de excelência como o Público não é tarefa para qualquer um mas Prado Coelho fê-lo com qualidade e atrevimento. O seu Fio do Horizonte funcionava como uma espécie de Blogue. Acaba amanhã.

Fazendo a digestão

In Bed (2005) by Australian-born sculptor Ron Mueck

Há momentos em que a fronteira que separa o mundo visível daquilo que o rodeia parece abandonada à nossa sorte. Por vezes acontecem coisas incompreensíveis ou inacreditáveis, coisas tão fantásticas que abalam as nossas crenças mais enraízadas, pondo em causa a certeza de que existe uma realidade comum a partilhar entre todos, regida pelas leis da Física, da Química, da Matemática e de outras ciências que de exactas guardam o nome e, talvez, pouco mais do que isso.
Quando a alfândega da tal fronteira fica vazia, nem que seja por um momento apenas, fantasmas, sonhos e outras bizarrias aproveitam para se esgueirar discretamente fazendo-nos visitas de todo inesperadas e que nos levam a estremecer num arrepio de frio que logo se transmuta em calor e incómoda transpiração. O que aconteceu? Nada de especial, se bem que extraordinário. Apenas as fronteiras do mundo foram violadas e o nosso cérebro, habituado a encarar a realidade como sendo algo mensurável e razoavelmente explicável, fica confuso na busca instintiva de uma explicação para algo que, segundo as regras deste lado da fronteira, pura e simplesmente não tem qualquer tipo de explicação.
Nestes momentos de angústia em que nem o padre nem o cientista têm respostas que nos satisfaçam e apontem um caminho redentor, entra em cena o poeta que, sem explicar nada, nos coloca perante uma possibilidade nova, uma imagem improvável e perturbadora que, quanto mais não seja, tem o condão de nos sossegar.
Há quem diga que a salvação da alma não está na religião nem na ciência mas sim na arte. Como poderemos saber? Há também quem ponha em causa a existência dessa alma. E de Deus. E da ciência.
Fico por aqui. O guarda da alfândega regressou ao seu lugar. Acabou a sua hora de almoço. É tempo de fazer a digestão.

sexta-feira, agosto 24, 2007

Mais sangue que outra coisa qualquer

Finalmente vi este filme. Em casa, DVD pirata, bem instalado e melhor acompanhado.
Pareceu-me um filme bem intencionado. Um filme a pretender denunciar a falta de humanidade e regras básicas que aflige demasiados dos nossos no continente africano. Quando digo "nossos" estou a referir-me aos seres humanos que habitam aquela parte do continente esquecida por Deus mas bem referenciada pelas multinacionais do lucro fácil, dirigidas por vampiros de longe mais sedentos que Vlad, o Empalador.
O filme acaba por ser um produto industrial mais ou menos bem embalado. A figura de Leonardo Di Caprio acaba por enrolar a personagem que interpreta levando-a a transformar-se demasiado rapidamente, de demónio sedento de diamantes a anjo preocupado com o crescimento e a educação do pequeno Dia. Enfim, muitas fragilidades narrativas e pouca coragem na produção. Acabamos todos do mesmo lado. Os maus são castigados e os bons recompensados. Apenas a personagem de Di Caprio fica ali, a meio caminho da redenção. O mau que acaba por se tornar bom ou o bom que, na verdade, nunca foi realmente mau? Seja como for tem uma bela e santa morte.
Se não viste podes não ver. Se já viste, talvez possas acrescentar qualquer coisa a este post pouco entusiasta. Seja o que for.

quinta-feira, agosto 23, 2007

Gato escondido com o rabo à mostra

Já tinhas ouvido falar de um Blog intitulado Luís Filipe Menezes? Não? Ouviste falar recentemente? Pois, também eu. Nunca tinha ouvido falar desse obscuro lugar da Net até aqui há dois dias atrás, quando saiu uma notícia no Público que falava de apropriação descarada de textos alheios pelo suposto responsável do Blog http://luisfilipemenezes.blogspot.com/.

"O blogue de Luís Filipe Menezes é feito por um dos seus assessores, afirmou ontem António da Cunha Vaz - da agência de comunicação que foi contratada para fazer a campanha do autarca de Gaia para a liderança do PSD. Em causa está a notícia do PÚBLICO de ontem, que revelava que o presidente da câmara assinara artigos copiados, nomeadamente da Wikipédia, sobre Michelangelo Antonioni, Bergman, Hiroxima e Miguel Torga.Admitindo os erros de não-citação das fontes dos textos nele contidos, António da Cunha Vaz afiançou que se trata de um "blogue pessoal" e não de um blogue do candidato à presidência do Partido Social Democrata, que Menezes já tem há muito tempo. Não foi explicada a aparente contradição de Luís Filipe Menezes ter um blogue "pessoal" que é gerido pelo seu assessor. Nem o facto de os artigos sobre Miguel Torga, Michelangelo Antonioni, Ingmar Bergman e Hiroxima terem sido copiados de outras fontes, sem que a sua origem apareça referida. O blogue em causa era apresentado no Google como o "Weblog do candidato à Presidência da Comissão Política Nacional do PSD".
Público de 23.08.2007, Ricardo Dias Felner

Não sei se a notícia tinha como finalidade informar apenas ou se o seu autor caiu na esparrela e, inadevertidamente, acabou a prestar um servicinho ao Dr. Menezes, dando visibilidade ao seu (péssimo) Blog. Algo que, afinal de contas, eu também estou a fazer se bem que na escala mínima a que corresponde o 100 Cabeças.
Passar os olhos por aquela coisa serve para termos consciência da falta de qualidade dos candidatos a candidato que pretendem vir a sonhar com a governação de Portugal. Não é só o facto de se utilizarem excertos de textos alheios assinados pelo suposto autor do Blog que está em causa. Não é apenas o plágio grosseiro e descarado que causa repulsa. É também o pretensiosismo bacôco e a falta de perspectiva a roçar a infantilidade que enforma o pensamento de Menezes e de alguns dos seus supostos apoiantes que vão deixando mensagens no Blog, como ovelhas deixam caganitas no caminho que vão trilhando do pasto para o redil e vice-versa.
Este homem até poderá ser um bom médico, eventualmente terá inteligência suficiente para liderar o PSD mas parece evidente que, como político, não passa de um populista descarado que adora fazer-se de vítima para poder arrotar à vontade enormes e mal-cheirosas postas de pescada. O homem não presta.

segunda-feira, agosto 20, 2007

Friedrich

Uma visita à Alte Nationalgalerie em Berlim levou-me até ao último piso de um palácio deslumbrante. Entre mármores de toque subtil e estuques de formas fantásticas fui subindo, subindo, até que, entrando despreocupado numa sala, senti aquela coisa especial que se sente de vez em quando, aquela espécie de esquisitice forrada a veludo que de repente nos entra no estômago e assenta levemente, preenchendo e completando o nosso corpo. (Eu sei, esta frase também me soa pomposa e algo pretensiosa, mas é o que se arranja e, acreditem, adequa-se bem ao que pretendo descrever.)
Tinha ido "desaguar" à sala de Caspar David Friedrich, (http://www.artcyclopedia.com/artists/friedrich_caspar_david.html pode ver-se aqui ou procurar outros lugares na NET, há bués!) o célebre pintor das pessoas de costas. Deslumbramento, será a expressão adequada. O brilho dos óleos de Friedrich, a perfeição quase doentia das formas e dos contornos, a luz espectacular que define os espaços por ele representados, fazem das suas pinturas pequenas maravilhas. Uma sala repleta de obras deste artista romântico alemão é um lugar mágico que provoca no espectador um sobressalto.
Entre todas aquelas salas e salas, cobertas, barradas de pinturas, como torradas com demasiada manteiga, encontrar Friedrich foi verdadeira revelação.
Ainda guardo a memória de uma lágrimazita que não chegou a cair.
Soberbo.

domingo, agosto 19, 2007

Drogas

MAI exclui tranquilizantes dos testes de droga feitos na estrada
(Público online) 18.08.2007, Andrea Cunha Freitas
Autoridade Nacional deverá comunicar normas "claras e precisas" às forças de segurança
Já não há margem para dúvidas. O Ministério da Administração Interna emitiu ontem um esclarecimento onde definitivamente refere que as "benzodiazepinas não são incluídas no elenco das substâncias proibidas" previstas na portaria publicada a 13 de Agosto. Tendo em conta que os testes de despistagem de droga que entraram em vigor esta semana detectam a presença destas substâncias, o MAI sublinha que um resultado positivo neste caso não pode nem deve ser considerado pelas forças de segurança.

Esta decisão parece-me um pouco estranha. Então um gajo pode encharcar-se em benzodiazepinas e pegar no automóvel à vontade que não haverá qualquer tipo de penalização caso seja apanhado. Já se fumar uns charros o melhor é ir a pé ou pedir ao amigo drunfalhôco para ser ele a conduzir a carroça. Parece-me haver aqui uma espécie de injustiça, não sei bem, o que se pretende afinal com esta nova regra? Reduzir os riscos de acidentes na estrada prevenindo a possibilidade de haver condutores com reflexos diminuídos pelo consumo de certas substâncias ou moralizar o consumo de drogas através de uma nova ameaça de controlo sobre o seu consumo?
Para esclarecer um pouco as minhas dúvidas fui procurar "benzodiazepinas" no São Google e encontrei isto:


Efeitos (do consumo de benzodiazepinas)
Os seus efeitos ansiolíticos, provocam no indivíduo um estado de relaxamento muscular, sonolência, alívio da tensão e ansiedade, cansaço e letargia que podem ser acompanhados por desinibição, loquacidade, excitação, agressividade, linguagem afectada, sentimentos de isolamento ou depressão.
Doses elevadas poderão provocar náuseas, aturdimento, confusão, diminuição da coordenação psicomotora, sono, sedação excessiva, perdas de memória, lentificação do pensamento ou instabilidade emocional.

Bom, estes efeitos não me parecem muito aconselháveis para a condução de veículos motorizados. Se comparados com os efeitos provocados pelo consumo de erva, por exemplo, parecem-me até um pouco mais assustadores. O que levará o Ministério da Administração Interna a decidir que em caso de um condutor acusar este tipo de substância isso deva ser ignorado pelas forças policiais?
Todos sabemos que o consumo desta droga é, em Portugal, um verdadeiro problema de saúde pública. Há milhares de cidadãos "agarrados" a estas porcarias e caso passassem a ser penalizados na condução de veículos motorizados em breve teríamos as estradas meio vazias, o que até seria benéfico para o ambiente.
Como se trata de drogas legais e com dealers que são faramacêuticos autorizados não há problema. Mas os acidentes provocados por condutores drogados com receita médica não serão menos mortíferos que os outros.
Isto mostra até que ponto podemos ser cínicos nas medidas preventivas que tomamos para proteger a população de si mesma e dos seus desejos de evasão para qualquer paraíso artificial.

quinta-feira, agosto 16, 2007

Parvónia


Portugal em Agosto vê agravar-se a confirmação de ser uma autêntica parvónia.

Toda a gente está de férias. O Parlamento não funciona, os tribunais estão fechados e acumulam processos, os ministros andam por parte incerta (onde estás tu, mulherzinha da Cultura?), os políticos de um modo geral arrastam as bundas atrás das respectivas carcaças, os jogadores de futebol parecem estar a digerir refeições impossíveis e jogam a 10 à hora. Até os incêndios deixaram de fazer notícia (haverá menos ou, simplesmente, os jornalistas evitam dar-lhes aquela dimensão épica a que nos habituaram nos últimos anos?). O marasmo habitual acentua-se e a proverbial falta de capacidade de intervenção da população na coisa pública é tão absoluta que merece estátua de granito.

Talvez seja assim que as coisas funcionam. Em Setembro regressa tudo cheio de ganas e vigor, a prometer mundos e fundos, a afirmar que "Agora é que vai ser!" que as férias serviram para "Recarregar as baterias." etc. e tal. Em Setembro promete-se um mundo reformulado a curto prazo, o paraíso e a bondade vão parecer reais nas palavras do costume.

No fundo todos sabemos que as coisas vão continuar a boiar num mar de merda e que, na verdade, apenas queremos saber o que é preciso mudar para que tudo continue na mesma. Como de costume. E não é por aí que vem mal nenhum ao mundo que já tem mal de sobra.

Enfim, a parvónia vai manter as suas características principais e imutáveis até ao final do ano. Em Janeiro "ano novo, vida nova"... até Agosto. Depois virá Setembro outra vez.

Haja fé.

terça-feira, agosto 14, 2007

Bem-estar animal

Uma notícia de última hora dá a conhecer o estranho caso de dois suinicultores detidos por desobedecerem à Inspecção do Ambiente (ver notícia em http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1302227). Como de costume a coisa é bastante confusa uma vez que se trata de cumprir regras estabelecidas por leis. Ora as ditas regras teriam uma situação de excepção prometida pelo Governo durante um certo período de tempo e, imagino, fiados na tal situação extraordinária os ditos suinicultores ter-se-ão esticado um bocadinho na merdice que descarregam para o rio. Foram avisados, continuaram a encher o rio de merda e agora vão dentro que se lixam.
Mas a coisa não fica assim e está prometida uma manifestação "Vamos fazer uma concentração de suinicultores para manifestar a nossa preocupação", já que este tipo de fiscalizações pode conduzir ao "fim da suinicultura em Portugal". A concentração será junto ao Governo Civil de Leiria. As fiscalizações podem conduzir ao fim da suinicultura em Portugal!? Quer isto dizer que ou deixam os criadores de porcos fazer as coisas como muito bem entendem ou deixamos de ter costeletas e chouriças no mercado? Deus nos valha! A ameaça é grave e aterradora. Por um lado há a questão ambiental. Por outro a satisfação de uma necessidade básica da população que é a bela carnucha de porco. O meu coração balança.
No meio desta inquietante notícia há uma passagem que me deixa intrigado "Há um problema de licenciamento das suiniculturas em Portugal", mas aquelas "explorações têm declarações de bem-estar animal" que permitem aquele número de porcos, disse David Neves. que é o Presidente da Associação de Suinicultores lá do sítio. Declarações de bem-estar animal!!! O que quer isso dizer? Que os bichos vivem em condições óptimas até ao dia em que lhes cortam a gorja e os esquartejam em bifanas e presunto? Caramba, somos mais cínicos do que pensava.
Nunca mais vou comer escalopes descansado. Merda a boiar nas águas do rio e porcos de óculos escuros a gozarem um belo banho de lama num paraíso a prazo. Tal e qual como nós.

Partição

O conceito de partição aplica-se quando uma potência imperial decide abandonar um território habitado por diversas etnias ou mesmo antigas nações que, antes da ocupação imperialista, se organizavam segundo culturas ou credos religiosos diferentes. Os interesses imperialistas sempre provocaram "casamentos" indesejáveis ou improváveis entre antigos inimigos ou povos que nada tinham de comum antes da chegada das potências ocupantes.
A História mostra como a África ou a Ásia foram divididas, repartidas, reorganizadas, enfim, descaracterizadas, em nome dos interesses económicos das potências imperialistas. Durante séculos a "coisa" foi resultando com maiores ou menores problemas de convivência étnica normalmente amansados pelas forças militares e policiais ocupantes.
Ao longo do século XX assistiu-se ao sistemático surgimento de novas nações, resultantes da falência dos grandes impérios. Os processos de descolonização da maioria dos novos países tiveram como resultado imediato guerras civis sangrentas, processos de limpeza étnica arrepiantes, banhos de sangue intermináveis, alguns dos quais ainda perduram.
Vem isto a propósito do 60º aniversário do Paquistão, país saído de um dos processos de partição mais irresponsáveis de que há memória resultado da divisão da Índia entre hindus e muçulmanos após a retirada da Inglaterra em 1947, potência imperial mais interessada em lamber as feridas causadas pela 2ª guerra mundial do que manter um exército tão longe de casa.
Mas, pelos vistos, as lições da História custam a entrar nas cabeças duras dos grandes gulosos que governam as grandes potências mundiais. A actual guerra civil no Iraque aponta para um novo processo de partição. Após a invasão dos "aliados" ocidentais liderados pelos EUA e pela Inglaterra a degradação das condições de vida e de segurança nas principais cidades irquianas parecem não deixar alternativa que não seja dividir o país em 3 pedaços: uma zona de influência xiita, outra sunita e, finalmente, o temido Curdistão parece uma forte possibilidade para angústia da Turquia.
Mas há um pormenor curioso na maioria destes processos de partição. Normalmente resultam na separação das populações segundo credos religiosos. Católicos e protestantes na Irlanda, hindus e muçulmanos na Índia, xiitas e sunitas no Iraque e outras divisões ditadas por influências divinas menos reconhecíveis.
Para quem, como eu, pensava que os panteões divinos estariam a perder poder e influência nas orientações de vida das populações em detrimento da toda-poderosa Deusa Economia esta questão dá que pensar. Ou será que Economia, Alá, Jeová, Buda e outras divindades maiores fazem todas parte do mesmo estrato de uma realidade possível?

quarta-feira, agosto 08, 2007

Blue Man Group

Berlim oferece muitos motivos de interesse ao visitante ocasional. O "Blue Man Group" é um deles. Tive oportunidade de assistir a um dos seus espectáculos no Bluemax Theater na Potsdamer Platz. Um acontecimento difícil de classificar, algures entre o espectáculo de rock e a performance com muito humor à mistura. O único problema com que nos deparámos foi o de estarmos em Berlim e a língua alemã parecer mais ou menos inventada à medida que vai sendo falada.
De qualquer das formas foi uma noite bem passada e, no final, toda a gente saiu num estado de semi-euforia bem visível.
O clip que ilustra este post é de um espectáculo nos states que fez parte daquele a que assisti em Berlim. Em alemão, claro.

quinta-feira, agosto 02, 2007

Férias (Silly season)

Visitantes deslumbrados com o painel "As Tentações de Santo Antão", de Bosch, a pérola mais valiosa do espólio do MNAA, na opinião da minha centésima cabeça (os mais atentos não deixarão de observar a parte de trás dos volantes com magníficas cenas pintadas em grisalha, um luxo absoluto!)


O 100 Cabeças prepara-se para partir em viagem. Berlim é o destino. Durante 5 dias percorrerei, acompanhado da família mais chegada, a capital alemã, numa viagem que promete muitas imagens e um ambiente urbano diferente daquele que temos por estas bandas da Velha Europa.

Entretanto uma notícia deixa o 100 Cabeças de cabeça confusa, a confirmar em pleno o clima típico da silly season. O afastamento da directora do Museu Nacional de Arte Antiga, Dalila Rodrigues, é uma surpresa incómoda e que confirma o ambiente tacanho em que vivem as instituições públicas no Portugal actual. (ler mais em http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1301166).
O facto de ter feito subir o número de visitantes de uma média de 75 mil para 192 mil (em 2006) bem como ter captado mecenato para actividades e obras de remodelação bem visíveis e que muito contribuiram para a melhoria evidente da qualidade do espaço de exposição bem como das exposições temporárias apresentadas, parece ter pesado negativamente na avaliação do desempenho de Dalila Rodrigues.
A razão do afastamento da ainda directora do Museu prende-se com o desacordo público e notório que esta sempre manifestou relativamente ao modelo de gestão dos museus nacionais. Estamos perante mais uma decisão arbitrária e sem qualquer tipo de fundamento, levada a cabo por uma administração incompetente e mesquinha, de um provincianismo que faz corar os pastores da Serra da Estrela. Com uma ministra da cultura como Isabel Pires de Lima tudo pode acontecer. Mesmo aquilo que, à partida, possa parecer impossível. Uma ministra muito "silly" e completamente fora de qualquer "season".

quarta-feira, agosto 01, 2007

Nostalgia súbita!

Ia hoje de manhã no meu carro quando me lembrei de ligar o leitor de cassetes (sim, leitor de cassetes!!! Não tenho DVD no meu carro). A música de súbito irrompeu com uma energia que já me tinha esquecido que a música podia ter. Era Rock Lobster dos B52's. E lá fiquei meio aos pinotes meio nem por isso já que ia a conduzir e não dava para bater o pé sobre o pedal do acelerador. Fiquei-me pelo abanar a cabeça e esticar o pescoço ao ritmo alucinante deste tema. Aqui fica um dos vários vídeos que estão à disposição nessa espécie de montra divina que é o You Tube.