sábado, novembro 29, 2008

Escrito na Pedra


Escrito na Pedra é uma rúbrica do suplemento diário do jornal Público. Todos os dias vem à estampa um pensamento de alguém a propósito de alguma coisa. Digamos que é uma rúbrica que nunca falha. As frases são, quase sempre, sonantes apesar de profundidades variáveis na qualidade dos pensamentos.

Penso que a propósito dos ataques terroristas em Bombaim a frase de hoje, da autoria de Rudyard Kipling, diz o seguinte: "A Ásia não se vai tornar civilizada seguindo os métodos do Ocidente. É demasiado grande e demasiado antiga."

Fico a pensar que se George W. Bush tivesse lido esta frase talvez pudessemos estar a viver tempos ligeiramente diferentes. Sim, porque é conhecido o fascínio do ainda presidente dos EUA pela literatura infantil e Kipling foi um renomado autor de contos para crianças. Embora, mesmo assim, me pareça que a densidade narrativa das obras de Kipling possa ser demasiado para uma criançola com as características do pequeno Georgie Boy, nunca é demais sonhar com a possibilidade de termos homens à frente dos destinos do mundo capazes de se comoverem com as aventuras de um menino criado por uma alcateia de lobos. Ao menos isso.

O atestado médico (ou O elogio da mentira)


O texto que se segue foi-me enviado por Carlos Melo do blogue Kriu. Trata-se de um blogue com textos sobre temas muito variados com uma coisa em comum entre todos eles, são invariavelmente textos interessantes que reflectem sobre questões de extrema actualidade. Encontrei o mesmo texto num outro blogue E Esta, Hein? com data de 2006. Dois anos mais tarde continua tudo na mesma. Como a lesma. A actualidade é uma questão de acesso à informação.





Imagine o meu caro que é professor, que é dia de exame do 12º ano e vai ter defazer uma vigilância. (...) O despertador avariou durante a noite. Ou fica preso no elevador. Ou o seu filho, já à porta do infantário, vomitou (...) em cima da sua imaculada camisa. Teve, portanto, de faltar à vigilância. Tem falta. (...) A questão agora é: como justificá-la?

Passemos então à parte divertida.

A única justificação para o facto de ficar preso no elevador, do despertador avariar ou de não poder ir para uma sala do exame com a camisa vomitada, ababalhada e malcheirosa, é um atestado médico. Qualquer pessoa com um pouco de bom senso percebe que quem precisa aqui do atestado médico será o despertador ou o elevador. Mas não. Só uma doença poderá justificar sua ausência na sala do exame. Vai ao médico. E, a partir deste momento, a situação deixa de ser divertida para passar a ser hilariante.

Chega-se ao médico com o ar mais saudável deste mundo. (...) O médico sabe que ele não está doente. O presidente do executivo sabe que ele não está doente. O director regional sabe que ele não está doente. O Ministério da Educação sabe que ele não está doente.O próprio legislador, que manda a um professor que fica preso no elevador apresentar um atestado médico, também sabe que o professor não está doente. (...)

Um país assim, onde a mentira é legislada, só pode mesmo ser um país doente. (...) O problema é que em Portugal a ficção se confunde com a realidade. (...) adoramos fingir que aquilo é tudo verdade.

Somos pobres, mas vivemos como os alemães e os franceses.
Somos ignorantes e culturalmente miseráveis, mas somos doutores e engenheiros.
Fazemos malabarismos e contorcionismos financeiros, mas vamos passar férias a Fortaleza.
Fazemos estádios caríssimos para dois ou três jogos em 15 dias, temos auto-estradas modernas e europeias, mas para ver passar, a seu lado, entulho, lixo, mato por limpar, eucaliptos, floresta queimada, barracões com chapas de zinco, casas horríveis e fábricas desactivadas.
Portugal mente compulsivamente.
Mente perante si próprio e menteperante o mundo.
Claro que não é um professor que falta à vigilância de um exame porficar preso no elevador que precisa de um atestado médico.
É Portugal que precisa, antes que comece a vomitar sobre si próprio

URGE MUDAR ESTE ESTADO DE COISAS.
ESTÁ NA SUA MÃO, NA MINHA E DAQUELES A QUEM A MENSAGEM CHEGAR!

sexta-feira, novembro 28, 2008

Sem cabeça


Passam hoje três anos sobre o primeiro post do 100 Cabeças. Podia ter sido ontem mas não; é hoje. Choveu à brava todo o santo dia. Demasiadas coisas não encaixaram como deviam nas outras por forma a gerarem uma cadeia de acontecimentos harmoniosa, simétrica e equilibrada, como devem ser as coisas que são belas. Classicamente belas.
Este dia foi um dia confuso, assimétrico. Alguns momentos foram cortantes, outros pontiagudos, um dia lixado, a bem dizer. Dia de impulsos e improvisos, cálculos arriscados e gestos quase falhados. Enfim, um dia como tantos outros. Um dia sem cabeça. Um dia com demasiadas cabeças. Mais um dia. Apetece-me fazer a pergunta: quantos dias faltam para que ontem faça parte do futuro? Amanhã logo se verá. Espero que tenhas uma boa noite.

quinta-feira, novembro 27, 2008

Utopia matinal


Ponto prévio: Pedro Rosa Mendes é um homem especial. O trabalho jornalístico que realiza por esse mundo fora e, particularmente, no mundo que fala a nossa língua, é único. Ler Baía dos Tigres é uma experiência literária e narrativa excepcional.

Há dois dias atrás saiu no Público um artigo de Pedro Rosa Mendes sobre a actual situação de Timor que deixou muita gente perplexa (ou nem por isso). Rosa Mendes descreve um país sem identidade nem escrúpulos nem lei nem nada que o possa unir e sustentar. Uma espécie de Portugal parado no tempo e no espaço geográfico errado, onde "todos mandam e ninguém obedece" e os níveis de corrupção fazem corar de vergonha a Camorra napolitana.

Xanana Gusmão, de visita a Portugal, veio diplomaticamente dizer que respeita o trabalho do jornalista mas que Timor é governável. Disse ainda que aquele povo fragmentado, miserável e sedento nem sabe de quê, que Rosa Mendes descreve no artigo, é capaz de se governar governando a sua parte da ilha.

Lendo as suas declarações noto que as provas de capacidade de autogovernação e os motivos de esperança num futuro melhor se baseiam fundamentalmente numa aposta económica. Até nisto os timorenses são parecidos com os portugueses: acreditam no futuro desde que haja a perspectiva de "choverem" uns milhõezitos, uma enxurrada milagrosa que venha lavar a miséria das ruas e por os pobrezinhos a brilhar com telemóveis novos e governantes que se deslocam em veículos topo de gama.

É aí que se enganam Xanana, e Barroso, e Sócrates e todas as almas enfatuadas que governam este mundo (e parte do outro). Um futuro melhor não tem unicamente por base milhões de euros nem de dólares. Um futuro melhor só poderá ter por base cidadãos mais inteligentes, melhor informados e com uma perspectiva humanista. Claro que isto é uma Utopia. Mas é uma Utopia em nome da qual vale a pena tentar mudar o mundo.

segunda-feira, novembro 24, 2008

KGOY


KGOY quer dizer Kids Get Older Younger. É uma expressão que se utiliza, não para explicar algum inesperado fenómeno de entrada precoce na idade adulta por parte das mais recentes gerações de animais tecnológicos, mas sim para sublinhar o facto de esses bichinhos terem uma cada vez maior influência nas escolhas de certos e determinados produtos de consumo.

Os KGOY são, na verdade, extraordinariamente infantis em termos emocionais e sociais, mas desenvolvem muito depressa competências no campo do reconhecimento de campanhas publicitárias, tornando-se alvos preferenciais de publicitários sem escrúpulos. São um alvo fácil embora nos queiram fazer crer que se trata de um público especializado. Os KGOY são especializados em consumo e a sua incapacidade para resistir aos apelos consumistas mais primários é visto como uma qualidade, pelos publicitários mas, convenhamos, é uma qualidade de merda!

Os KGOY são, em grande parte dos casos, verdadeiros tiranetes no espaço familiar. Quando desejam algo podem tornar-se mais chatos que um vendedor de enciclopédias ao domicílio. A publicidade infiltra-se nos nossos lares como um vírus maligno. Nem damos por isso. Entranha-se no cérebro dos KGOY e atacam-nos pela rectaguarda. Os KGOY são autênticos cavalinhos de Tróia.

O conceito de KGOY é, só por si, revelador da imbecilização consumista que comanda a globalização. Os miúdos tornam-se consumidores activos mais cedo, isso não quer dizer que eles estejam mais maduros ou preparados para o mundo que os rodeia! Mas, se é o consumo que comanda a vida, então um puto de 3 anos capaz de levar a mãe a comprar-lhe um qualquer gadget tecnológico é encarado como um cidadão de pleno direito. Claro que é.

Que raio de sociedade esta em que a actual se está a transformar. Cada dia que passa, há mais consumidores e menos cidadãos. Mais Economia e menos Democracia. Mais KGOY e menos putos normais. Mais dinheirinho e menos amorzito, daquele saboroso amor de pacotilha com que podemos sempre fazer de conta que o mundo ainda tem hipóteses de salvação.

domingo, novembro 23, 2008

Imaculados


Ontem fui ao Teatro Aberto assistir à nova peça em exibição na Sala Azul, Imaculados da dramaturga alemã Dea Loher.

Deveria ter ido anteontem, à estreia, mas um colóquio na Galeria Municipal de Almada para reflexão conjunta sobre os objectos expostos na exposição "6 cadeiras e 1 mesa" obrigou-me a falhar, pela 1ª vez em mais de 20 anos de vida em comum, uma estreia da Ana Nave (este link abre sobre o currículo da actriz em cinema e TV, falta o brilhante currículo teatral como actriz e encenadora que pode ser encontrado aqui) sobre o palco.

A noite começou com um repasto germanófilo no restaurante Pano de Boca na companhia de Ana Nave e do nosso sobrinho, Eduardo. Um dos empregados do restaurante é o Virgílio, que foi meu aluno aqui há 3 ou 4 anos. A comida tem o seu quê de exótico para um gajo habituado à gastronomia cá do sítio. O ambiente é sossegado, sem exagerar em formalidades desnecessárias, e tem um organista largo de cintura e careca a tocar musiquinhas delicodoces. Enfim, fortes probabilidades de passar ali momentos agradáveis.

Com a barriga já bem aconchegada, foi hora de levantar os convites na bilheteira e verificar que os lugares eram na 1ª fila, junto ao palco. Sensação de tratamento 5 estrelas. Os espectadores foram chegando. Actores, actrizes, realizadores de cinema, músicos, escritores, uma plateia recheada de convidados, promessa de uma boa performance em cima do palco. Um público assim é, à partida, participativo e receptivo, capaz de estabelecer uma corrente positiva com os actores, o que viria a acontecer.

Imaculados é um espectáculo com um grupo de actores extenso (14 no total) e uma parafrenália técnica digna de nota. O texto divide-se em 19 cenas que acompanham diferentes personagens. Estas cruzam-se e descruzam-se, intersectam-se no espaço físico e psicológico, formando uma teia narrativa dinâmica com alguns momentos muito interessantes que permitem ao espectador mergulhar profundamente em algumas reflexões bastante complexas.

A variedade de cenas e a sequência de acontecimentos e mudanças de cenário sobre o palco acabam por fazer com que as 2 horas que dura a função, passem sem que se dê por isso. Os actores conseguem algumas interpretações dignas de nota (claro que, para mim, a performance de Ana Nave foi a melhor) e há um acordeonista permanentemente em cena, Rini Luyks, a pontear as mudanças, conferindo unidade ao espaço narrativo.

No final uma ovação sentida e merecida, tudo está bem quando acaba melhor.

Resumindo, um espectáculo a ver, numa época em que o Teatro passa por momentos que me parecem algo difíceis. Não haja dúvidas que os palcos nos oferecem momentos do melhor a que podemos aspirar, muito para lá do industrial-pipoqueiro do cinema e a anos-luz da modorra imbecilizante que é a TV com sofá agarrado ao cú. A ver (muitas estrelas...).

sábado, novembro 22, 2008

Recuperando posts antigos (3)

Blogue, blogue, blooooogue (publicado em 3 de Dezembro de 2005)

Li algures que no século XIX, quando a imprensa surgiu em força e em forma houve um boom terrível e todos os que puderam ou tiveram o impulso, publicaram o seu jornalzinho, a sua página, o seu panfleto, foi uma festa!
Assim me quer parecer, acontece nos dias que correm com esta coisada dos blogues. É uma verdadeira pequena maravilha qualquer marmanjo poder verter no esquecimento do espaço virtual o que muito bem lhe passa pela santa cachimónia.
Da parte que me toca fui resistindo até mais não poder. Aqui vou deixando este palavreado sem qualquer feed back nem intenção especial que não seja isto mesmo. Tem o seu quê de adolescente e talvez seja esse o encanto irresistível.
Já quando apareceram as rádio piratas me envolvi numa das mais obscuras que emitia em Almada, talvez apenas para o prédio em que tinhamos montado o emissor. Era a Rádio Besouro e eu passava a semana a preparar um programa de uma hora que ninguém ouvia a não ser o locutor, mas isso era o que menos importava.
Este blogue tem o condão de me fazer escrever, uma actividade que muito prezo mas que me provoca ondas de preguiça que, normalmente, transformo em absolutamente nada.
Lembro-me de ter lido na introdução à colectânea de contos Cyberpunk, Mirroshades (Reflexos do Futuro na inqualificável tradução em português da colecção Argonauta, publicada em 1988) um entusiasmado Bruce Sterling considerar o poder incontrolável da fotocópia como uma arma potente da contra cultura Pop, uma forma de afirmação das culturas urbanas alternativas. Ganda Bruce, como estavas longe de imaginar esta cenaça que agora temos em mãos.
Será possível que estejamos perto de encontrar o Significado da Vida?
Será esse o nosso destino, verter tolices para o mundo virtual? Encher o planeta com palavras luminosas, cobrir o mundo de informação inútil?
Bah, quem se importa com isto? O que importa o que quer que seja?

sexta-feira, novembro 21, 2008

Podia ser mais limpinho


Fui ver Righteous Kill, um filme que junta no mesmo écran Robert De Niro e Al Pacino, nos papéis de 2 polícias entradotes com muita manha e outras qualidades. A escolha do filme surgiu precisamente por isso. Pelos actores, não pela previsível manhosice das personagens por eles representadas.

Como seria de esperar, as contracenas entre os dois macacões maiores das artes cénicas holiúdescas, permitem a qualquer realizador deste mundo parecer que vive, por momentos, num outro. Mundo. Mas, no caso deste filme, nem me dou ao trabalho de fixar o nome do realizador. Não me parece que valha a pena. O filme será citado por ter reunido nos mesmos planos Pacino e De Niro e pouco mais do que isso. É um daqueles produtos de estúdio com argumento razoavelmente construído. Polícia bom, polícia mau, um assassino em série e ainda Carla Gugino a animar uma ou outra cena.

No final fica pouca coisa cá dentro. Dá para ver.

quinta-feira, novembro 20, 2008

Influenza


Passei os últimos dias sob forte influência maligna. Desde o vírus da constipação à ministra da educação, várias maleitas me atiraram para um estado semi-catatónico em que a cabeça deitada era a melhor das 100 que animam este blogue. Olhos ardentes, testa dura, nariz entupido e litradas de ranhoca esverdeada transformaram o meu quotidiano numa espécie de sonho suspenso, em que os acontecimentos não faziam, obrigatoriamente, sentido.
O computador parecia-me uma torre de Babel horrenda e pecaminosa. Ainda por cima, de cada vez que conseguia ânimo para o abrir verificava que a caixa de e-mail tinha demasiadas mensagens. Tentar responder-lhes não foi actividade com sucesso. As questões que actualmente me levam a trocar e-mails são, quase todas, relacionadas com a luta dos professores contra o mostrengo do ministério. Assim passei intermináveis minutos tentando responder a questões que mereceriam muito menos tempo e concentração em condições normais mas que, sob o signo do influenza, se tornaram autênticos quebra-cabeças de grau de dificuldade 5000 e quinhentos.
O Blogue? Nem pensar. O mundo virtual? Naquele estado a virtualidade é tudo, o real não pode existir quando os olhos têm dificuldade em se concentrar num écran eléctrico. Os medicamentos que o farmacêutico me aconselhou muito contribuíram para o afastamento total da minha alma em relação a este corpo que não pára de a insultar.
Enfim, lentamente fui regressando. Vindo de fora para dentro, cá estou de novo, teclando, redescobrindo o prazer de ter o nariz meio desentupido. A gripe foi um parêntesis, acho que estou de regresso. A ministra está diferente, parece mais mansa. O 100 Cabeças continua no mesmo sítio. Enfim, se esquecer o pormenor de a selecção portuguesa de futebol ter participado numa festa de inauguração de um estádio no Brasil, fazendo o papel de bombo, nada de anormal se terá passado. Sim, porque a mansidão da ministra, conheço-a bem, não é mais que a maldade a recuperar compustura.
I'm back!!!

domingo, novembro 16, 2008

1,2,3, já cá estamos outra vez!


Fotos mostrando um dos momentos em que os manifestantes passavam em frente da sede do Partido Socialista, no Largo do Rato. Em cima, acenando lenços de despedida ao PS, no mais completo silêncio (foi um momento de intensidade emocional muito elevada). Em baixo, duas colegas exibem os cartões de militantes socialistas. Muitos deles garantem que não voltam a votar no partido enquanto Sócrates se mantiver no poleiro.
Fotos retiradas daqui http://fliscorno.blogspot.com/ onde estão disponíveis 116 imagens relativas a esta manifestação


O título deste post foi uma das palavras de ordem que ontem dançou nas gargantas dos milhares de professores que voltaram a manifestar-se em Lisboa contra as políticas educativas do actual governo.

Esta manifestação realizou-se à margem dos sindicatos, apresentando-se como um protesto espontâneo de base. Como realçou um dos oradores, junto à escadaria da Assembleia da República, a manifestação de ontem foi mais do que um protesto da classe docente. Foi, acima de tudo, uma manifestação de cidadania, uma prova de que a Democracia faz, para muitos de nós, pleno sentido e a rua é o palco preferencial da demonstração da vontade popular. Muito mais do que os gabinetes bafientos onde os nossos legítimos representantes estabelecem as suas negociatas de acordo com agendas políticas pouco visíveis cá de baixo, da calçada onde temos levado a cabo os nossos protestos.

Ontem vivemos mais uma jornada de luta intensa e plena de significado. Os discursos tiveram substância e foram ouvidos por todos os presentes. Notei a ausência dos habituais slogans que os dirigentes sindicais e demais políticos de carreira costumam usar qando se dirigem à turba. Foram discursos genuínos, de gente igualzinha à que estava cá em baixo e apaludia sentidamente as palavras que eram ditas.

Resumindo, para quem tinha dúvidas sobre a validade da manifestação de ontem (e eu tive muitas dúvidas, para ser sincero) estar ali acabou com elas. Os professores mostraram ontem ao que vêm com os protestos que têm promovido. Vêm ao reencontro do sistema democrático em que todos acreditaram e, nos últimos tempos, têm visto ser apedrejado a torto e a direito por um governo que se devia envergonhar de continuar a ostentar indevidamente a designação de "socialista".

sábado, novembro 15, 2008

Vai rebentar?


Várias vezes aqui manifestei a minha incompreensão. As explicações que explicavam o crescimento económico não me entravam na cabeça! As economias cresciam. Cresciam sempre. Mais nuns certos países que em outros, mais à noite que de dia ou até mesmo o seu inverso e era sempre verdade, tudo justificado com a leitura impossível de gráficos, tabelas e outras maravilhas da adivinhação contemporânea. A economia crescia, crescia, parecia não haver um limite para tanto crescimento. Até porque os economistas eram gajos que pareciam capazes de a fazer crescer ainda mais e de forma mais acelerada, até ao infinito, como o Universo, que é outra coisa que não cabe nos limites da minha compreensão.

Até que, de súbito, graças a esta crise milagrosa, a economia parou, primeiro, e depois entrou em recessão ou contracção ou lá como se diz em economês. Vejo na TV os homens das gravatinhas e dos gráficos ao fundo do cenário virtual a fazerem caretas de quase pânico, assisto a debates e leio notícias nos jornais que dão conta de uma terrível apreensão perante este cenário de esvaziamento da economia. O Armagedão aproxima-se? Talvez não seja tanto assim. Na verdade, do alto da minha incapacidade para compreender o fenómeno, até me parece motivo de alívio que a economia esteja em período de contracção e esvaziamento. Se continuasse a crescer decerto haveria de alcançar um ponto máximo e... rebentasse de vez!

Talvez o Planeta agradeça, quem sabe?

quinta-feira, novembro 13, 2008

Leitura na diagonal


Uma leitura feita na diagonal da edição de hoje do jornal Público leva-me a realçar alguns pormenores que me captaram a atenção e fizeram pensar um pouco.

Obras de Malhoa e Souza-Pinto falham venda em Londres
13.11.2008, Vera Monteiro

Dois quadros dos pintores portugueses José Malhoa e Souza-Pinto, integrados num leque de pinturas de arte espanhola, não atingiram ontem o preço-base de licitação no leilão da Sotheby's em Londres.A pintura de José Malhoa (1855-1933) em leilão, O Barbeiro da Aldeia, tinha como base de licitação 200 mil libras (240 mil euros) e a licitação mais alta foi 190 mil libras (228 mil euros). Já a obra A Pequena Guardadora de Vacas, de José Souza-Pinto (1856-1939), recebeu uma licitação de 75 mil libras (90 mil euros), mas precisaria de um mínimo de 80 mil libras (96 mil euros).

Será que só nós sabemos que Portugal não é, actualmente, uma província espanhola? Dizem-nos sempre que a pintura de Malhoa tem um carácter fortemente distintivo de um certo olhar genuínamente português. Talvez os leiloeiros da Sotheby's não estejam virados para certas especificidades de obras de arte provenientes de mercados periféricos. Terá sido por isso que os quadros referidos ficaram nas mãos de quem já os possuia?

Pedro Lapa, director do Museu Nacional de Arte Contemporânea, reforça uma tendência para a homogeneização, na qual a "valorização nacional tenderá a diluir-se". Aponta também a crise económica como uma possível explicação, ou até a evolução das colecções, que na última década se tem vindo a transformar, sobrepondo-se o gosto pelo contemporâneo ao gosto "mais tradicional, de tendência naturalista".

Eu diria mesmo que essa homogeneização é do tipo global. Artistas contemporâneos portugueses não têm tido muito mais sorte que estes mestres novecentistas nas grandes vendas de arte (que estão a tornar-se menos grandes a cada leilão que passa). A arte já não vale o que, ainda há bem pouco tempo atrás, chegou a valer. O Damien Hirst fez o seu leilãozinho na hora H. Olhem se o inglês tivesse marcado a venda das suas obras para o corrente mês de Novembro. Que flop!

Legumes tortos de regresso aos mercados
13.11.2008, Isabel Arriaga e Cunha, Bruxelas

A partir de Julho, melões menos ovais e cenouras nodosas vão voltar a ser vendidas. Os agricultores europeus estão contra e dizem que os preços não vão baixar para os consumidores

Os frutos e legumes de formas e dimensões menos elegantes, como os pepinos curvos, as cenouras nodosas ou beringelas tortas, vão poder voltar a ser comercializados na União Europeia (UE) a partir de Julho, graças ao fim da calibragem obrigatória que foi ontem decretado pela Comissão Europeia.A decisão foi tomada depois de uma discussão acesa entre os representantes dos Governos da UE. A maioria votou contra a proposta de Bruxelas (16 países contra, nove a favor e duas abstenções, incluindo Portugal). O número dos opositores não chegou, no entanto, a atingir o limiar da maioria qualificada dos Vinte e Sete que seria necessária para rejeitar a proposta.

Fico simultaneamente satisfeito e apreensivo perante esta notícia.

Satisfeito porque verifico uma espécie de "efeito Obama" uma vez que deixa de haver discriminação contra certo tipo de frutas e legumes só porque apresentam nódulos ou curvas antinatura. Em boa verdade será o fim da segregação vegetal que tem imperado nos nossos mercados, Europa adiante.

É de salientar ainda o calor da refrega argumentativa sobre as qualidades da cenoura marreca e o efeito pernicioso que diferentes configurações das maçãs num expositor podem ter no cérebro do europeu médio, habituado a imaginar que tudo tem uma forma exacta, um peso determinado e um brilho controlado genéticamente.

Fico apreensivo por reparar que a maioria votou contra a proposta. Isso mostra como a Europa continua a imaginar que o mundo pode ser, todo ele, normalizado, democratizado, repintado e restaurado de acordo com as conveniências e o gosto estético do eixo Paris-Berlim.

Uma referência ainda para a posição do nosso país. Portugal, como é costume, absteve-se. Nem no que diz respeito ao peso dos tomates ou à necessidade de comercializar pepinos rectilíneos os nossos representantes são capazes de tomar uma posição concreta, mantendo assim a sua habitual personalidade de banana equatoriana. Deve ser por isso que o Manel Durão Barroso foi escolhido para presidir à Comissão Europeia e, há quem diga, mantém fortes probabilidades de se recandidatar com sucesso. Convenhamos que, em termos de normalização, Durão tem um pensamento absolutamente igual ao que dele se espera.
Finalmente (e correndo o risco de já estar a ser chato) realço uma noticiazinha pequenina que surge na página 18:

Edição falsa do New York Times noticia o fim da guerra no Iraque
13.11.2008, Sofia Cerqueira

O regresso das tropas a casa, o livre acesso à universidade e a criação de um sistema de saúde universal foram algumas das notícias da cópia quase perfeita do jornal norte-americano The New York Times, distribuída na manhã de ontem, em vários pontos de Nova Iorque e Washington.Com uma imagem extremamente credível, que enganou muitos transeuntes, a edição de 14 páginas foi uma partida organizada pelo grupo de esquerda Yes Men, que diz ter ajudado apenas na distribuição. Segundo um elemento do grupo contactado pelo The Guardian que se identificou como Wilfred Sassoon, a edição de 1,2 milhões de exemplares foi financiada por pequenos doadores e inteiramente feita por voluntários, entre eles jornalistas do verdadeiro NY Times.A edição falsa, cheia de boas notícias, tinha a data do dia 4 de Julho de 2009 e foi acompanhada por uma cópia do site do NY Times, fiel ao original, onde se podia ler a distorção do lema do jornal: "All the news we hope to print".

Pelos vistos as boas notícias, mesmo que sejam a fingir, não caem bem entre os verdadeiros jornalistas, encarregues de nos darem uma certa visão do mundo circundante, já que o verdadeiro NY Times está a tentar descobrir os autores da brincadeira para os entalar fortemente na justiça. Com a realidade não se brinca!

Por falar nisso, já chega de brincadeira. Está na hora de ir trabalhar.

quarta-feira, novembro 12, 2008

Perdidos e achados


É normal perder a carteira ou o telemóvel. Perder o guarda-chuva por esquecimento é uma constante no Inverno. Perde-se a cabeça, perde-se a razão, tudo se perde, desde objectos a ideias ou sonhos. É normal. O que já não parece tão normal é perder uma bomba atómica. Mas foi isso que aconteceu há 40 anos atrás, na Gronelândia. Os EUA perderam uma bomba atómica e, apesar de a terem procurado afanosamente, nunca conseguiram recuperá-la.
Como poderíamos imaginar semelhante acontecimento?
Numa época em que tanto se discute quem pode e quem não pode ter acesso à mais assassina das bombas até hoje utilizada, esta revelação vem acrescentar um dado novo à reflexão.
Está visto que ter muitas bombas pode significar um desleixo tal que podem chegar a perder-se. Se, por hipótese, o Irão chegar a fabricar a sua bombinha estou em crer que irá guardá-la com todo o cuidado e mantê-la com o maior dos carinhos.
Será, portanto, desejável que, para poder fabricar uma bomba atómica, os que a isso se propõem dêm provas de virem a guardá-la a sete-chaves sem nunca a perderem de vista. Mais, quem tiver bombas dessas deverá ser obrigado a mantê-las sempre bem agarradas ao solo uma vez que, está provado, colocá-las no ar pode significar a sua perda. E uma bomba atómica não é coisa que se perca!
Nós, os que perdemos as nossas coisinhas banais e nos deitamos à noite a matutar onde raio ficou a chave do cacifo, estávamos longe de imaginar que se pudessem perder coisas como uma bomba atómica. Mas afinal é possível.
Que isto não nos tire o sono.

Um Monstro


Avaliação

Cheguei a casa vindo da extraordinária manifestação de professores que hoje voltou a encher as ruas de Lisboa. Passaram apenas oito meses sobre a manifestação anterior e a força do protesto cresceu. Cresceu na forma e na razão, uma vez que, nestes oito meses, a ineficácia do modelo de avaliação que o ministério da educação teima em remendar a cada dia que passa, se torna cada vez mais evidente aos olhos de toda a gente.
Liguei a televisão e assisti à entrevista que Maria de Lurdes Rodrigues deu no telejornal do primeiro canal. Fiquei, mais uma vez, impressionado com a prestação da senhora. O discurso de Maria de Lurdes é sempre o mesmo. Afirma e reafirma, de forma automática e cara séria, a bondade das suas propostas. Insiste que os protestos são fruto de manipulação política e que os professores não têm razão. Afirma e reafirma a necessidade de avaliar, de reformar, de transformar o sistema educativo e, nesse aspecto, estamos todos de acordo. É necessário mudar, evoluir, transformar, porque o mundo não pára e é necessário acompanhá-lo. A Escola é um reflexo do mundo que a rodeia e, como tal, precisa de reformas como de pão para a boca. Mas essas reformas têm de ser razoáveis, inteligentes, ágeis, promovidas por pessoas capazes. Não se pede a um sapateiro que desenhe o currículo de um curso de Filosofia. Por muito eficaz que o sapateiro seja na sua profissão, que consiste em remendar botas e sapatos, um curso de Filosofia por ele concebido dificilmente terá qualidade suficiente, mesmo que o sapateiro coloque nele toda a sua paixão, capacidade intelectual e conhecimento geral do mundo circundante. O que Maria de Lurdes não consegue ver é que a qualidade do trabalho do ministério a que preside está ao nível desse hipotético curso de Filosofia engendrado com a sapiência de um sapateiro.
Desde a primeira hora que o trabalho desta equipa ministerial é mau. As demonstrações de inépcia, desconhecimento geral e falta de tacto e de sensibilidade são constantes e consecutivas. Basta fazer uma pequena retrospectiva e recordar alguns episódios exemplares para constatarmos a falta de competência dos secretários de estado e de toda a babilónica estrutura do ministério da educação. O modelo de avaliação que agora se discute não é mais que a cereja no topo de um bolo podre e malcheiroso.
Este é o problema que falta equacionar. Nas discussões em torno dos problemas que fazem do nosso sistema educativo um caos, raramente se coloca a hipótese de haver inépcia pura e simples por parte do ministério. Maria de Lurdes Rodrigues reafirma constantemente a necessidade das reformas que pretende impor mas nunca pensa que essas reformas podem, pura e simplesmente, estar erradamente equacionadas e ainda pior implementadas. E é isso que se passa, na dura realidade a que ela não consegue aceder.
Seria de primordial importância avaliar o trabalho de Maria de Lurdes Rodrigues e da sua equipa do mesmo modo que se pretende avaliar o trabalho dos milhares de professores que esta tarde se manifestaram em Lisboa. Se os secretários de estado da educação tivessem de declarar à partida para o ano lectivo objectivos relacionados com o sucesso dos que se vêem obrigados a trabalhar sob a sua orientação reprovavam sem apelo nem agravo. Se tivessem de apresentar grelhas de avaliação que reflectissem as suas práticas quotidianas ou fossem obrigados a submeter as suas sessões de trabalho preparatório das políticas educativas à apreciação de peritos imparciais não tinham a mínima hipótese e seriam postos no lugar que lhes compete: o olho da rua. É isso que faz falta para podermos aspirar a melhorias no nosso sistema de ensino, falta avaliar com qualidade e rigor o trabalho do ministério porque, com um tão mau serviço prestado pela tutela, não há a mínima hipótese de conseguirmos resultados positivos.
Rui Silvares
Carta enviada ao Director do jornal Público editada ontem, dia 11

terça-feira, novembro 11, 2008

Paraíso a prazo


A notícia é estranha. "O primeiro Presidente eleito democraticamente nas Maldivas, Mohamed Nasheed, inaugurou o seu mandato com uma medida inovadora. O país vai criar um fundo de poupança para comprar novas terras onde a população possa viver, caso o nível das águas acabe por engolir o paradisíaco arquipélago, anunciou ontem Nasheed ao diário "The Guardian". (ler tudo aqui)"

Quantas vezes terão acontecido situações deste género desde que o Homem é Homem? A mítica Atlântida é o caso "mais conhecido" mas o seu desaparecimento terá ocorrido numa época em que a globalização mediática ainda não existia.

Se o nível das águas subir tanto quanto as previsões mais catastróficas indicam, os nossos descendentes irão assistir a acontecimentos de um dramatismo difícil de imaginar. Países inteiros serão ameaçados e, eventualmente, desaparecerão sob as águas do mar. O desenho dos continentes terá um aspecto diferente e não haverá dinheiro que possa comprar territórios suficientes para todos os que tiverem de se afastar em direcção ao interior. O interior desertifica-se, as pessoas deslocam-se em direcção às grandes metrópoles como borboletas atraídas por uma luz artificial. As maiores cidades do planeta existem perto do mar por razões óbvias.
Por agora temos o exemplo das Maldivas, um paraíso com curto prazo de validade, em busca de uma terra firme que possa acolher a sua população no futuro. São apenas 300 000 pessoas, uma ninharia. Como será quando houver milhões de pessoas a necessitarem de terras mais altas para não acordarem com os pés molhados?
Não haja dúvidas que a eternidade tem o tempo contado e que a Civilização, tal como a conhecemos actualmente, não é mais que um intervalo de tempo.

domingo, novembro 09, 2008

Recuperando posts antigos (2)

É no próximo dia 28 deste mês que as 100 Cabeças deste blogue fazem 3 anos de actividade blogosférica. Já em Setembro rebusquei o baú e (re)postei um post antigo, o segundo da vida do 100 Cabeças aqui. Recordar é um exercício interessante. Recordar textos, desenhos ou pinturas esquecidos, recordar ideias apontadas ou pensamentos meio roídos pelo Tempo é um exercício... curioso.

Hoje estou um pouco nostálgico e resolvi (re)postar o primeirinho de todos os posts deste blogue que foi assim:





Questão de Contexto



"A Fonte" foi eleita como a mais significativa obra de arte do século passado.O princípio consiste em retirar um objecto do contexto com o qual nos habituámos a relacioná-lo, dar-lhe um nome diferente e... aí está! Uma obra de arte completamente inesperada.



Mas... será esta atitude assim tão extraordinária?Quando passeamos a carcaça por entre as paredes de um qualquer museu, Europa adentro, admirando as obras expostas, estaremos tão longe do urinol de Duchamp quanto imaginamos?



O que diria um fabricante de sarcófagos egípcio ao ver a sua obra exposta sem pudor aos olhos de toda a gente?



E Bosch, ao ver a sua obra numa sala do Museu Nacional de Arte Antiga, junto a outras, igualmente retiradas do contexto para o qual foram criadas e ali espetadas para espanto do pessoal e demais papalvos?



Os museus são, na verdade, imensos depósitos dos mais variados readymade cuja principal qualidade é terem o condão de sossegar os visitantes quanto à grandeza do passeio que efectuam.



Tal como a montra do talho expõe o corpo retalhado da vaca, também o Museu expõe pedaços das criações de artistas e quejandos, roubados aos locais de origem, esvaziados de magia e significado, banalizando o acto criativo ao nível da bola de Berlim com um copo de água morna.



Talvez fosse melhor mijar no urinol de Duchamp.

Ontem fomos ainda mais...





Estranhamente a polícia recusou-se a fornecer dados relativos ao número de manifestantes presentes na tarde de ontem nas ruas de Lisboa. Os organizadores afirmam que terão estado na subida das avenidas, desde o Terreiro do Paço ao Marquês de Pombal, mais de 100 mil professores. Os números que avançam apontam para cerca de 120 mil, 85% do total de professores de todo o país estiveram ontem na rua para mostrar à ministra que o descontentamento e o desacordo com as desastrosas políticas que tenta levar em frente não são capricho de meia-dúzia de bruxas e feiticeiros (isso existe???) como ela parece acreditar. A ministra parece viver noutra dimensão tal é o desfasamento que demonstra perante os factos mais elementares de cada vez que dá uma entrevista ou se manifesta publicamente. Ou muito me engano ou ontem já lhe fraquejou a voz na entrevista que deu ao Jornal da Noite do Canal 1. Houve ali um falsete fora do lugar, um descontrolado esganiçar da voz a mostrar irritação (o costume) mas também algum medo (seria pavor?) o que constitui novidade. Será que a senhora prossegue, alucinada, cavalgando a pileca da loucura? Ou prefere dialogar com os representantes dos professores? A meu ver, com esta equipa ministerial já não há a mínima hipótese de diálogo. A incapacidade e inépcia, a mediocridade técnica que tem evidenciado em cada dia que passa desde que chegou ao poder exige a sua demissão. Para que possamos respirar de novo sem termos de tapar o nariz será necessário outra equipa no ministério da Avenida 5 de Outubro.

Ontem, sob o olhar metálico do Marquês de Pombal, os professores gritaram bem alto as razões da sua luta. Fico com a sensação que, apesar das semelhanças, a estátua do Marquês já compreendeu aquilo que Maria de Lurdes Rodrigues ainda não atingiu. Estou em crer que o Marquês é mais sensível que a ministra (até o leão que o acompanha).

sexta-feira, novembro 07, 2008

De regresso à rua

Amanhã é dia de os professores portugueses regressarem à rua em manifestação contra as políticas desastrosas que nos têm sido impostas à má fila pelo actual governo. No passado dia 8 de Março dizem que fomos 100 mil (na imagem). Amanhã, 8 meses volvidos, teremos de revelar a mesma gigantesca vontade de mostrar ao país que há razão nas razões do nosso protesto.

Não vale a pena desfiar aqui o rolambório desatinante que nos provoca até à raíz dos cabelos e nos faz (quase) odiar as cabeças falantes dos responsáveis pela confusão absoluta em que se transformou a vida quotidiana nas escolas de Norte a Sul cá do rectângulozinho.
Amanhã é dia de voltar a desfilar pelas avenidas de Lisboa.

Se na sequência da manifestação anterior a ministra da educação fez de contas que não se passou nada e o primeiro ministro continuou a afivelar o seu habitual sorriso de Pinóquio maldoso, desta vez irão reagir da mesma forma. É certinho! Vão voltar a acusar-nos de sermos marionetas ao serviço do Diabo Comunista, vão desvalorizar a coisa e afirmar que até compreendem as razões do protesto mas que não temos razões para protestar. Vão tentar minimizar a dimensão de um Oceano de gente chamando-lhe Mar (ou até mesmo confundi-lo com um lago) mas, tenho a certeza que, lá no fundo, estão mais acagaçados que um puto apanhado em flagrante a fazer asneira da grossa.

Que não fique ninguém em casa! Amanhã pelas 14h30minutos vamos estar todos no Terreiro do Paço e vamos voltar a fazer tremer quem não merece mais do o nosso desprezo. A luta continua! (sei que esta palavra de ordem soa démodée mas sabe bem pronunciá-la nas ocasiões adequadas).

quarta-feira, novembro 05, 2008

Simbólico

Então é assim que nascem os mitos! No futuro, quando se falar deste início de século, a eleição de Obama será, decerto, um dos acontecimentos que irão fazer parte daqueles quadros nos livrinhos de História que resumem os acontecimentos mais marcantes . O primeiro homem negro a alcançar a presidência numa república dominada por brancos, o homem que nos devolve a sensação de que o sistema democrático ainda funciona e poderá, afinal, sobreviver à voracidade dos tempos que vivemos. Obama parece-me ser, acima de tudo, um símbolo. Haverá, no futuro próximo, um movimento global a crescer em volta da figura do próximo presidente norte-americano?
Parece-me evidente que, uma vez na presidência, Obama irá perder a aura messiânica que, neste momento, o envolve. Afinal de contas ele irá governar os EUA e defenderá os seus interesses o que, à partida, não é lá muito simpático.
Aguardemos para ver. Agora, o mais importante é desfrutarmos o momento e a vitória da possibilidade de mudança sobre a certeza de termos mais do mesmo que significaria a vitória de McCain. Não custa muito sonharmos um pouco, mesmo que o despertar possa trazer uma dor de cabeça provocada por uma ressaca violenta.

segunda-feira, novembro 03, 2008

Divertidíssimo

Quando é assim é muito melhor. Tinha lido umas críticas pouco elogiosas deste "Destruir depois de ler", o último filme dos irmãos Cohen. Na verdade deixei-me embalar por essas vozes de sereia mas lá fui, no Domingo passado, até ao cinema com as expectativas bastante baixas. Na noite anterior fora a inauguração da "Seis Cadeiras e Uma Mesa", a minha cabeça estava assim a dar mais para o vazio que para o cheio. Na companhia de um grupinho familiar (mulher, filha, cunhada e sobrinho adolescente) não haveria nada que me estragasse a tarde, nem um filme a dar para o aborrecido. Como estava enganado!
Os actores são inexcedíveis (Brad Pitt tem mais um desempenho fora-de-série) e o argumento é delirante. Os acontecimentos sucedem-se a um ritmo de batucada electrizante e não param de surpreender os espectadores desavisados, como era o caso de todo o nosso grupinho. À estupefacção inicial segue-se o riso. A sala não tinha muitos espectadores mas encheu-se de risinhos e gargalhadas. No final estava toda a gente com um sorriso nos lábios. Só podia ser assim, o filme é hilariante.

domingo, novembro 02, 2008

6+1



E pronto, lá se realizou a inauguração. Muita gente presente, discursos de ocasião, sorrisos e aplausos... tudo está bem quando acaba bem? Imagino que sim. Agora é tempo de pensar noutras coisas. Seis Cadeiras e Uma Mesa já começa a ser passado.
No dia 21 os artistas participantes estarão presentes na Galeria para uma espécie de colóquio que, provavelmente, não será colóquio nenhum mas sim uma coisa parecida com um colóquio. O tema será confrontar os presentes com os objectos expostos, abrindo linhas de debate e diálogo sobre a forma como aquelas coisas surgem no mundo e depois aparecem ali. Talvez seja interessante.
A noite da inauguração foi animada. Na foto em cima estou eu a falar com a Cristina e à direita, um pouco à frente, está a Sara Bichão a falar com alguém que não ficou no enquadramento. Em baixo e de costas, no seu casaco amarelo, está o meu sobrinho Messias a olhar para o painel de 80 desenhos que montei para a ocasião.
Está tudo dito.