domingo, abril 30, 2006

Infiltra-te

The Inside Man (O Infiltrado) de Spike Lee é um filme interessante. Muito interessante mesmo. Caso o espectador consiga entrar na sala sem saber muito sobre aquilo que vai ver pode ser ainda mais apelativo.
O argumento é surpreendente e a construção narrativa contida e eficaz. Penso que vale bem uma deslocação ao cinema. Curiosamente foi o primeiro filme desde há algum tempo a esta parte em que não vi nenhum espectador entrar na sala com um balde de pipocas. Ou terei estado simplesmente distraído?
Seja como for, com pipocas ou sem elas, Spike Lee surge em grande estilo. Bem fixe!

sábado, abril 29, 2006

Timor Loromonu



Andámos para aí a fazer manifestações pela independência de Timor. Lembram-se? Foi uma das últimas causas nacionais, que pôs os portugueses com os corações nas mãos. Todos os dias chegavam notícias. Os indonésios eram maus como as cobras, havia bandos armados liderados por um tal Guterres que era uma espécie de inverso do nosso Primeiro Ministro, o António. Todos os dias sabíamos das desgraças de um povo inteiro que adoptámos como nosso irmão. Foi uma cena do caraças.

Quando chegou, finalmente, a independência vimos a cerimónia em directo na TV. Chorámos, rimos, sorrimos, os portugueses sentiam que tinham cumprido o seu dever. Mas, com a paz no território, as notícias foram escasseando. Cada dia que passava afastava mais e mais Timor, até que ficou no seu lugar longinquo. Definitivamente.

Nos dias que correm só ouvimos notícias de Timor quando acontece alguma coisa má ou quando Xanana vem a Portugal assistir a um jogo de futebol. Até parece que os meios de comunicação social só se interessam pelas desgraças ou fait divers aparvalhados. Hoje chegou a notícia de confrontos violentos nas ruas de Díli e os timorenses voltaram a merecer honras (pelo menos) no jornal Público. Foto a cores na capa, uma carrinha a arder com alguns homens em poses dinâmicas de violência. Duas páginas quase completas no interior.

A paz não interessa nem ao menino Jesus. Timor será notícia apenas quando o sangue correr? Se fosse apenas Timor... descrever o sorriso e a hospitalidade dos timorenses foi tema fastidioso, talvez demasiado fantástico. A construção de uma nação não deve ser suficientemente interessante para fazer notícia. Até porque Timor é um país miserável (ao que consta) e só será curiosidade quando abrir em Díli uma dependência do Casino de Lisboa. Com coktail de gambas e putas finas.

quinta-feira, abril 27, 2006

Dada oh Dada!

“Enverguei um traje especialmente desenhado por Janco. As minhas pernas estavam cobertas por tubos de cartão azul-brilhante que me chegavam às ancas.” Nos ombros, Ball usou um grande colarinho e na cabeça um chapéu de cano de aquecedor. (…) Nesta indumentária, Hugo Ball apresentou-se à audiência como um alto sacerdote do Dadaísmo e quando, após uma breve pausa, avançou com a sua recitação, o espanto dos espectadores transformou-se numa violenta tempestade de protestos. Ele começou a sua actuação com as seguintes frases, declamadas em voz alta:
“Gadji beri bimba glandridi glandridi lauli lonni cadori
Gadjama gramma berida bimbala glandri galassassa laulitalomini
Gadji beri bin blassa glassala laula lonni cadorsu sassala bim
Gadjama tuffm i zimzalla binban gligla wowolimai bin beri ban
O katalominai rhinozerossola hopsamen laulitalomini hoooo
Gadjama rhinozerossola hopsamen
Bluku terullala blaulala looo”

Hugo Ball foi o inventor destes poemas sonoros que se tornaram a forma preferida de actuação em palco para os artistas dadaístas.
Texto de Dietmar Elger traduzido para Português por João Bernardo Boléo no livrinho Dadaísmo (o "D" maiúsculo é da mesma dimensão que as letras minúsculas) da Taschen

Vou a imprimir esta cenaça num acetato para mostrar amanhã aos meus alunos do 12º ano na aula de História da Arte. A coisa promete já que a turma tem alguns elementos que gostam de pensar nos assuntos em análise e não têm medo de se manifestar.
O Dadaísmo abre sempre horizontes e abismos nas cabeças dos jovens estudantes de artes.
É uma delícia deliciosa para mentes gulosas.

terça-feira, abril 25, 2006

Utopia

Mondrian foi um artista. Um dos mais completos.
Imaginou uma arte total, capaz de revelar aquilo que considerava a essência do mundo, uma espécie de estrutura primordial velada aos nossos olhos por uma cortina incomodativa. Procurou-a durante muito tempo escondida atrás daquilo que normalmente chamamos "verdade" ou "realidade".
A arte de Mondrian acabou por alcançar, em parte, o seu objectivo. Longe de pretender representar a Natureza (que, ao que consta, o incomodava), Mondrian acrescentou uma outra "natureza" ao mundo que nos rodeia, uma "natureza" totalmente artística logo artificial.
Na sua utopia particular, o Neoplasticismo, o pintor imaginava que a arte não podia existir separada da vida. Preconizava mesmo que uma e outra não eram mais do que partes da mesma essência, da mesma organização global. Sendo assim, viria o dia em que a nossa capacidade de organizar a vida, de organizar o espaço e a sociedade, resultaria na verdadeira Arte. O papel do artista deslocar-se-ia, o objecto de arte, tal como entendemos, tornar-se-ia obsoleto. A grande Arte seria, afinal, a nossa capacidade de construir um mundo capaz de satisfazer as nossas mais profundas necessidades. Todos seríamos artistas habitando o resultado da nossa criatividade. Em harmonia.
Mondrian morreu e nós continuamos à procura, não sabemos bem de quê.

Será tanto assim?


Quando olho para Cavaco Silva há uma coisa que me incomoda e inquieta. É a sensação de que não tem sentimentos de gente.
Como hei-de explicar? Parece incapaz de ultrapassar o óbvio biológico. Percebe-se bem que respira, executa gestos razoavelmente coerentes e é capaz de pensar. Só que o âmbito do pensamento do nosso presidente não parece particularmente alargado.
Não o imagino capaz de assistir a, por exemplo, um filme de Tim Burton na companhia dos netos (ou da neta, não conheço a árvore genealógica da família presidencial) descontraídamente. Não o imagino a ler um livro de contos de Tchekov sentado na cama com a companhia de um candeeiro cúmplice e os óculos na ponta do nariz. Parece-me incapaz de assitir com prazer a uma peça de Shakespeare ou a um jogo de futebol ao vivo, no estádio.
Tenho a sensação de que não possui qualquer traço de inteligência emocional e não consta que tenha interesses muito variados.
Talvez eu esteja enganado, talvez não seja tanto assim, mas não sou capaz de evitar olhar para ele e sentir uma pontinha de angústia por ser o representante, o magistrado supremo da nação portuguesa.
O pormenor de ter lido o papel sem cravo vermelho na lapela no discurso comemorativo do 25 de Abril, na Assembleia da República, mostra que não é tão inocente e bem intencionado como quer parecer. Sim, porque afinal cantou a Grândola em plena campanha eleitoral, se não estou em erro, no Alentejo. Isso mostra como a honestidade intelectual não está ao alcance de todos.
Já tenho saudades de Jorge Sampaio.

Revolucionado

O Último Crente, acrílico sobre papel, 2002, RSXXI
Ritual cumprido, Revolução recordada. Cá por dentro sinto-me revolucionado. Na normalidade previsível, a surpresa foi grande. No palco, bombos batidos a preceito por um bando de bimbos bem portugueses em cadência que deu para meter cabeçudos ao barulho e tudo, mais uma série de pretos com batuques, numa reunião feliz em ritmo confuso mas eufórico. A apoteose antes dos discursos da ordem. Entre o público pretos, brancos e nem por isso, sentem-se irmanados pelo som da percussão, o mais puro de entre todos. Sinto uma emoção especial, uma coisa morna que nos aconchega como um cobertor. Um cobertor que mostra como somos iguais, irmãos no espaço urbano. Pretos, brancos e nem por isso. Um arrepiozinho de felicidade ensaia um passeio pela minha coluna vertbral. Faz-me empertigar e sentir orgulho de estar ali, fazendo parte daquela massa indistinta. Somos humanos, caraças!!! É tão bom.
Depois lá vêm os bonecos do costume. Os discursos, a emoção da Grândola cantada. Esta noite cantei baixinho e não chorei nem nada. É a idade adulta a permitir uma outra comoção. A idade adulta da Revolução. Sempre são 32 anos, apesar das borbulhas e dos quistos sebáceos que teimam em resistir no focinho da nossa "jovem" democracia.
Reencontro tantos amigos que até parece mentira. Sinto-me satisfeito por rarear as saídas. Assim sabe melhor, dá para saborear o prazer dos reencontros. Pelas ruas vou vendo putos, alguns são alunos meus. Bêbados como autocarros, estendidos pelo chão, dando largas à vontade de explodir. Que saudade daquela paixão pelo que se adivinha da vida! Na próxima aula vou fazer de contas que não vi nada, não vi ninguém. Será melhor para todos. Há histórias que não devem ser cruzadas por não fazerem parte do mesmo universo. Não devemos confundir Verdade com Realidade. Nunca na Vida!
No fim da festa, aqui assim, a teclar calmamente no meu dulcíssimo teclado, não consigo evitar uma certa amargura. Se é isto a Democracia, esta festa que se esgota ao fim da noite como uma Gata Borralheira com sapatos de metal, então fui enganado. Esta merda não me serve, está longe de me satisfazer. Quero mais. Muito mais! Quero um palco repleto de bimbos. Uns brancos, outros pretos, outros nem por isso, todos a martelarem tambores de formas e feitios diferentes mas todos igualmente felizes, como eu, por estarem ali, seja a bater, seja a assistir. Quero isso todos os santos dias!
25 de Abril? Sempre! Fascismo... o que é isso?

segunda-feira, abril 24, 2006

Felicidade

Hoje é 24 de Abril, dia de tolerância de ponto na Região Autónoma da Madeira e véspera do Dia da Liberdade, nos Açores e em Portugal continental.
Neste dia costumo subir a rua e assistir à celebração na Praça de São João Baptista, lá em cima, em Almada. Há concerto e fogo de artifício, montes de gente com aspecto descontraído e discursos de punho no ar. Aparece a Presidente da Câmara no palco, juntamente com uma mão-cheia de personagens impossíveis entre Presidentes da Junta e Presidentes de Sociedades Filarmónicas. A Presidente da Câmara discursa, empolgada, uns grupos de claque bem distribuídos ajudam à festa e grita-se a plenos pulmões "Viva o 25 de Abril" ou "25 de Abril sempre, fascismo nunca mais!". Depois aparecem uns bacanos carregados de baldes a deitar cravos vermelhos por fora e o pessoal, lá de cima, do palco, atira as flores cá para baixo. É uma chuva de cravos. Literalmente.
Mas, o meu momento preferido, é quando todos os presentes entoam, a plenos pulmões a Grândola, Vila Morena. Aí não aguento mais e as lágrimas banham-me os olhos tornando tudo mais bonito. E sinto-me feliz de uma maneira especial como só me sinto neste dia.
Que lamechice!!!
É, não é?

domingo, abril 23, 2006

Figurantes e figurões

Uns quantos figurantes, contratados a recibos verdes, haviam de folgar um pouco os sobrecarregados cofres da República. Sim, claro, refiro-me ao caso vergonhoso dos deputados faltistas! Se temos tanto representante do povo há-de haver razões objectivas para que lá estejam, ou então não, já que entram e saem da sala do parlamento com a graciosidade de enguias fedorentas. Para levantarem o braço de quando em vez e, ainda por cima, estarem noutro lado quando são necessários, não se percebe que sejam pagos a peso de ouro e encontrem as benesses da reforma após dois mandatos deste género. Se fosse um tipo invejoso e maldoso diria que anda por aí muito filho da mãe a passar noites em claro em reuniões partidárias nas concelhias e outras associações de malfeitores do mesmo do género só com o fito de vir um dia a ocupar uma daquelas cadeirinhas abençoadas que almofadam o hemiciclo parlamentar.
Penso sinceramente que a contratação dos tais figurantes em dia de votação seria uma medida inteligente. Ainda por cima podiam contratar-se os figurantes em agências de modelos o que iria beneficiar grandemente a imagem da própria Assembleia. Por um lado saíam os figurões cinzentões que enxameiam o hemiciclo, por outro nunca haveria falta de quórum o que poderia restituir a fé a tantos portugueses desencontrados da sorte.

A Assembleia da República portuguesa envergonha a Democracia e não tem que ser assim, bem antes pelo contrário! A maioria dos deputados são gajos e gajas sem opinião ou, pelo menos, capazes de abdicarem dela sempre que a voz do dono lhes exige obdediência. Se são os líderes partidários e parlamentares quem decide a orientação de voto dos respectivos rebanhos não seriam necessárias tantas cabeças para aprovar leis na elaboração das quais nem sequer participaram.

Alguma coisa vai ter que mudar.

quinta-feira, abril 20, 2006

Uma História Legível

Foi em 2005 que o PÚBLICO editou A História da Arte de Gombrich. A leitura desta obra é altamente recomendável a quem se interessar pelo assunto e mesmo aos outros, que nem por isso se interessam.
Não sei se a querida ministra da cultura já lhe deu uma vista de olhos ou se os críticos de arte fazem deste volume livrinho de cabeceira, mas lá que lhes daria algum jeito, pelo menos, uma releitura circunstancial, disso não tenho a mínima das dúvidas.

Publicada originalmente em 1950, conheceu reedições sucessivas, revistas e aumentadas pelo autor em não-sei-quantas línguas por esse mundo fora. Em português havia edições brasileiras. Tenho um volume duma dessas edições, de capa cartonada já cheia de fita-cola mas, para minha grande felicidade, a família mais chegada ofereceu-me um exemplar da edição do PÚBLICO com mais imagens a cores e com reproduções em folhas desdobráveis. Esta edição é excelente, um objecto de culto para quem tem a "mania" de tentar perceber algo mais do que a ilusão de um olhar contemporâneo e a pretensão de poder transmutar as ideias que apreende noutras ideias, novas, pessoais e transmissíveis.

Veio isto a propósito de um dos preceitos fundamentais de Gombrich. O autor propõe que as formas artísticas perduram no tempo sendo adaptadas por diferentes artistas de acordo com o tempo e o espaço particular por eles habitado. A Arte, com "A" é, segundo Gombrich, uma espécie de bicho-papão inventado por uma comandita de críticos e historiadores preguiçosos que pretendem elevar-se à categoria improprável de guardiões do templo de uma impossível cultura superior. Para ele é mais válido observar os artistas e tentar enquadrá-los nas correntes de pensamento estético características da respectiva época, tendo ainda em conta os aspectos técnicos e tecnológicos observáveis. Reflectir mais sobre os artistas e menos sobre aspectos crípticos e estilísticos que nos conduzem demasiado depressa a rótulos e preconceitos.

Assim sendo, essas formas artísticas primordiais vão sendo moldadas ao longo dos séculos, num incessante processo de reformulação e busca de qualquer coisa um pouco (talvez mesmo muito) difícil de perceber na sua totalidade.
Haverá quem lhe chame Beleza, outros falam em Sublime, enfim, resta-nos experimentar a plasticidade das formas, dos materiais e das ideias. Há ainda quem diga que a arte acabará por nos conduzir à essência do Absoluto, em última análise permitirá a Grande Revelação: um vislumbre fugaz da face de Deus.

Lol.

quarta-feira, abril 19, 2006

Coelhos cor-de-rosa e outros fenómenos

Acreditar que vivemos numa Democracia é um acto de fé quase tão radical como aceitar o dogma da virgindade de Maria.

Cá na minha óptica, paranóica mas sólida como uma rocha, não desandámos grande coisa em relação ao Império Romano. O que quer isto dizer? Pois, a Economia, essa divindade do mundo contemporâneo, assentava no trabalho escravo lá para trás, nos velhos tempos do Império. Dir-me-ão os mais avisados sobre a bondade do mundo em que vivemos que os tempos da escravatura já lá vão há buéréré. Que hoje os trabalhadores têm direitos, que recebem salários (salários!!!???) de acordo com o valor social do trabalho que executam e desempenham. Sim, sim, já me tinham dito só que devo ter-me esquecido de ouvir como deve ser.

Cá para mim continuamos a assentar a nossa Economia em trabalho escravo. Só que o sistema, agora, tem requintes de malvadez. É verdade que os trabalhadores recebem um ordenado. Mas para quê? Para poderem consumir os produtos que aqueles que lhes pagam com uma mão lhes vendem com a outra. Assim, produzem os artigos que consomem e ainda têm de pagar por eles. Genial!!!

Esta herança da Revolução Industrial tem vindo a atrair as populações para as grandes cidades desertificando o interior. Este fenómeno desiquilibra a distribuição da fauna e gera confusões indescritíveis. Vistos do espaço a uma certa altitude, os aglomerados urbanos devem assemelhar-se a colónias de insectos barulhentos. Escravos aos pontapés acotovelam-se na mira de alcançar o Paraíso na Terra e em tempo útil que isso de esperar pela ressurreição já só convence papalvos.

Uma coisa que me faz uma confusão do caraças é imaginar para onde vão todas as mais-valias resultantes da produção e comércio mundiais. Sim, para onde vão os milhões de milhões de milhões de euros que resultam do esforço produtivo da Humanidade? Com tanta fome, tanta miséria, tanta desgraça sem nome que poderia ser resolvida com meia-dúzia de tostões... não percebo!

Estamos, obviamente, a ser enganados. Mas isso não nos preocupa muito. Desde que possamos ter acesso a alguns bens de consumo e outros tantos pequenos luxos que ilustram o nosso modo de vida ficamos satisfeitos e calados. Ponto final. Os outros que se lixem!

Para a Europa e os EUA poderem viver à tripa-fôrra alguém tem de ser sugado até ao tutano. A China e a Índia estão a levantar cabelo. A África continua a penar. Até quando?
Ainda será necessário verter muito sangue, durante muitos anos para que alguns possam andar nos seus jactos particulares e encher o peito de silicone de primeira qualidade.
Segredos e mistérios das nossas democracias que, nos últimos tempos, temos tido tantas dificuldades em exportar. Nem mesmo à marretada já lá vamos, como se vem comprovando no Afeganistão e no Iraque.

Maurizio Cattelan vestiu um dos seus marchands como se pode ver na imagem. Convenhamos que a indumentária assentaria como uma luva a muitos dos que nos governam em nome da Democracia e vão aproveitando para viverem como Cresus enquanto à maioria é distribuído o papel de escravo felizardo.

Hot Dog

Estes matrecos andam a brincar com o fogo e quem se lixa é toda a gente!
Tanto Bush quanto Ahmadinejad têm cara de estúpidos com pernas. Olhando bem os olhitos dos gajos sinto uma vertigem nauseabunda por ver apenas buracos onde deveria ver extensões cerebrais expostas ao mundo. Os olhos de um e de outro não parecem ver. Não parecem perceber nada. Chego mesmo a imaginar que são marionetas, personagens falsas animadas por um qualquer Stromboli, como o pobre Pinóquio.
Espero que morram depressa, fulminados por raios disparados do céu! Se Deus existisse e fosse bom e justo como nos querem fazer crer, havia de mandar estes dois cabrões direitinhos para um Inferno particular onde Hitler e Staline se dedicam à jardinagem, podando roseiras com os dentes e estrumando a terra com a merda do ódio que destilam.
Mas Deus ou está a dormir ou é, afinal, o Diabo disfarçado e estes cachorros quentes são dois dos seus anjos encarregues de fazerem da Terra um planeta selvagem.

terça-feira, abril 18, 2006

Imagem suspeitada

Há dias assim, não há?
Um gajo regressa ao trabalho após umas férias descansadas (não está em causa se merecidas) e nem dorme tudo da noite anterior por lhe tropeçar um olho num raio de luz que se esgueira pela fresta da persiana.
Já que assim foi, põe-se um tipo a magicar como vai ser esse tal regresso. Decerto tão banal como regressos anteriores do mesmo género... imagina ele (imagino (imaginei) eu). O olho são, o que não havia tropeçado, lá seduz o outro para o sono e assim ficam, abraçados, olhando para dentro.
Depois é o despertar, o a reatar das rotinas que, bem vistas as coisas, nunca se repetem assim tanto como queremos acreditar. Há sempre qualquer coisinha diferente, um pormenor até ali ignorado, uma textura que, afinal, era bem mais macia do que conseguíamos recordar. O mundo é bem mais complexo do que parece. É tudo uma questão de sensibilidade. E bom senso.
Assim passa o dia. Somado aos anteriores não parece destacar-se mas, lá no fundo, foi diferente. Nada de especial para dourar alguma recordação, nada de extraordinário. Mas um novo dia que se vai fazendo velho nunca pode ter sido aborrecido!
É tudo uma questão de intensidade.

segunda-feira, abril 17, 2006

Páscoa no meio das serras



Com os iranianos a destrambelharem-me as férias por causa do urânio enriquecido e o Papa a chatear os surfistas da NET nem dormi como deveria na última das noites que passei longe de casa.
Pronto. Estou de regresso, com as baterias recarregadas à força de amêndoas e recordações arrancadas ao baú do esquecimento. Sempre que dou umas passeatas por Viseu revejo personagens que já me havia esquecido que existem. Um rosto meio desbotado, uns cabelitos brancos ou uma careca reluzente, lá vêm essas personagens a emergir da névoa e relembro um gajo, recordo uma gaja, uma situação, um lugar, recordo-me a mim próprio, o jovem que penso ter sido e, se calhar, nunca fui.
Enfim, lamechices!
Aproveitei para revisitar o Museu Grão Vasco. Desde a remodelação que as obras do Mestre estão expostas com outra dignidade. O São Pedro (na imagem) pode ser visto, também, por trás. É uma experiência curiosa, que dá ao visitante um vislumbre sobre a forma de construir uma tal superfície de trabalho com base de madeira.
A pintura, propriamente dita, é impressionante.
A exposição do Retábulo da Sé também está bem engendrada e constitui um bom exercício de contemplação. Apesar da ordem sequencial ser um tanto estranha e, aparentemente, desconexa não deixa de mostrar a força comunicacional de um retábulo. Fico sempre com vontade de experimentar uma coisa do género e percebo um pouco melhor a minha "mania" de fazer painéis com as pinturas que executo.
Aquelas foram as primeiras pinturas "a sério" que vi em dias de vida. É bem possível que esteja ali a matriz da minha vontade de pintar. É bem possível que, tal como as personagens que emergem do passado nas ruas da cidade, sejam aquelas pinturas que se estendem nos planos menos recentes do meu imaginário.
Neste momento faço planos com o resto da família para um regresso a Londres, lá mais para o Verão. Um regresso à National Gallery para visitar e render homenagem, mais uma vez, a Van Eyck e ao seu inigualável Casal Arnolfini.

quarta-feira, abril 12, 2006

Férias

Em tempo de férias ando longe do meu computador. Muito longe mesmo e durante bastante tempo.
Poderia dar a sensação de que as 100 CABEÇAS estariam a sentir-se perdidas... qual quê, estão apenas a descansar.
Restam-me 12 minutos de utilização de um computador ranhoso, numa casa de jogos a cheirar a mofo, onde perdi (ou terei ganho) horas e horas da minha juventude passada entre jogos de flippers e de snooker. Hoje venho aqui em tempo de férias teclar umas cenaças e bisbilhotar a NET.

Não tenho maneira e colocar uma imagem a ilustrar o texto, pelo que este será o 1º post sem "boneco".
O tempo vai-se esgotando (tenho 9 minutos) e não disse nada do que queria dizer.

Aproveito para fazer notar que, enquanto povo, não detemos o exclusivo da estupidez. Os italianos batem-se bem. Nós temos o palhaço mau no bananal da Madeira. Eles têm o rei dos palhaços maus no país inteiro. Berlusconi mostra bem a fragilidade do sistema democrático. Se antes dele Bush ganhou umas eleições recorrendo a processos aparentemente fraudulentos, agora, a campanha eleitoral e os resultados que se desenham, mostram com somos vulneráveis em termos mediáticos.
Quem detiver os meios de fazer passar a mensagem, tem todas as hipóteses de se tornar o Senhor dos Anéis lá da rua dele!

Bom, 4 minutos, vou desligar.

quinta-feira, abril 06, 2006

Como se fosse outra coisa qualquer

Finalmente Joe Berardo e o governo da República chegaram a um acordo sobre o destino imediato da colecção de arte moderna e contemporânea que o empresário tem vindo a financiar. Durante 10 anos as obras estarão expostas no CCB e as partes interessadas, Governo e Berardo, vão disponibilizar anualmente 500 mil € cada para novas aquisições. E depois? Depois logo se verá.

Olhando para o atribulado processo que agora conhece um primeiro happy-end fica a sensação de que o negócio é extremamente vantajoso para o empresário e bastante arriscado para o Estado. Isto porque nada garante que, uma vez esgotado o prazo acordado, Berardo esteja disposto a manter a colecção por estas bandas. Fica a sensação de que se trata de um negociador algo casmurro e caprichoso, capaz de mudar de opinião com bastante facilidade, sempre de acordo com os seus interesses particulares. Qual será a sua opinião sobre a "coisa pública"?

Já me dei ao trabalho de ouvir uma ou outra entrevista deste homem que fala um português complicado e parece ter algumas dificuldades em alcançar o valor e o significado da colecção em causa. Fica a impressão que, para ele, a arte é um negócio como outro qualquer. Comprar um Picasso tem o valor aproximado de um carregamento de bananas ou uma mão cheia de pedras preciosas. Se calhar é assim mesmo. Quem tem dinheiro e o investe em artigos com valor comercial deve estar à espera do retorno devido ao risco do investimento. Só assim se enriquece, digo eu que sou um teso.

Já a Senhora Ministra exporta uma imagem estranha. Parece em stress constante, receosa de que, talvez, o céu lhe caia em cima da cabeça. Nesta aventura incerta andou de um lado para o outro e de trás veio prá frente, sempre ao sabor da inclinação do soalho. A dizer que disse, a pensar que pensou, enfim, demasiado vaga e insegura para convencer uma "elite" cultural que já a elegeu como alvo a abater, queimar, empacotar e mandar para Timbuctu em correio azul. O olhar desta senhora é inquietante. Quer-me cá parecer que uns óculos, mesmo uns de massa preta tipo Elvis Costello, lhe dariam um aspecto mais digno que aqueles olhos de boga fora de água. Lentes de contacto? Decerto, mas uma má opção, a mostrar fraco entendimento estético.

Também ela pareceu ansiosa por fechar o contrato, fosse ele qual fosse. Deu a impressão de qualquer solução que garantisse algo semelhante a sucesso seria, para ela, uma boa solução. Na minha mais que modesta perspectiva, o resultado final de toda esta história é um bom resultado para o comendador Berardo. No entanto...

O Centro Georges Pompidou ou a Tate Modern dão colorido a outras capitais europeias com colecções que são visitadas por milhares de pessoas todos os anos. O turismo cultural é um facto das modernas sociedades ocidentais. O CCB com a colecção de Berardo em "cena" poderá ombrear com estas significativas instituições e dar a Lisboa um cartaz que, no contexto actual, enriquecerá a cidade aos olhos do resto da Europa.

Haverá questões importantes por resolver (onde se poderão fazer exposições temporárias?) mas, assim à primeira vista, parece boa ideia. Dentro de dez anos voltaremos a falar.
Ai se o comendador Berardo resolver roer a corda!

quarta-feira, abril 05, 2006

V de Vingança

Um filme bem interessante sob todos os aspectos. "V for Vendetta" abre um espaço de reflexão política para os mais jovens. O facto de ser para "maiores de 16" poderá sugerir alguma gratuitidade na violência. Mas é um engano. Esta classificação poderá significar que espectadores mais jovens pura e simplesmente se sintam enfastiados com a complexidade das situações. Como um puto que estava à minha frente na sala de cinema, munido de um enorme penico de pipocas e uma namoradita com molas no cú. "Este filme é de gajas!" disse ele. De gajas!!?? Nem sequer deu para uma beijoca furtiva, não deu para nada que interessasse. Houve abandonos, bocas palermas, enfim, alguns espectadores não mereciam, de facto, estar ali. E pensar que poderiam ter ido ver A Idade do Gelo 2 ou outra película mais de acordo com a sua idade real.
Deixando este tipo de considerações pretensiosas quero apenas aconselhar o leitor destas linhas a ir ver "V" porque vale mesmo a pena!!!

Comer pode matar!

Pelos vistos o consumo de certos alimentos é prejudicial à saúde. Como se não soubessemos! As grandes empresas de fast food (ou junk food) começam a ser alvo de análises pouco abonatórias por parte de certos organismos preocupados com a qualidade de vida das populações. Desprotegidos perante a força da publicidade e o tremendo poder da gula, andamos a papar demasiada porcaria e os resultados estão à vista.
Sim, bem à vista já que a obesidade é difícil de ignorar. A quantidade de putos gordos como Buda começa a alarmar as autoridades sanitárias e constituem já um problema de saúde pública.

Da mesma forma que os maços de tabaco têm de trazer anti-publicidade em forma de mensagem aterradora (Fumar Pode Matar é das mais levezinhas) também certa empresas deveriam ser obrigadas por lei a avisar que os suculentos nacos de prazer que oferecem ao pessoal são bombas de colesterol ou atentados perigosos à sanidade do fígado consumidor. O que seria das cidades americanas onde é proibido fumar até na via pública se lhes fechassem os restaurantes de fast-food? E os locais onde os espaços de não-fumadores são encarados como santuários de saúde pública para que os clientes possam empaturrar-se alarvemente em batatas fritas, carne pré-mastigada e coca-cola?

Quando teremos as caixinhas de "happy meal" na McDonald's com o terrível letreiro "COMER PODE MATAR!!!"? Mal os consumidores desse produto aprendam a ler vão começar a pensar em processar os próprios pais por terem permitido que se envenenassem lentamente numa época das suas vidas em que deveriam tê-los protegido? Talvez se torne uma especialidade entre os advogados americanos.

Na verdade, o problema é que, entre nós, tudo o que constitua negócio rentável acaba por prevalecer. Analise-se o caso das drogas duras e teremos uma história de sucesso para servir de exemplo. Mas há quem decida por nós o que é lícito e o que não é, pois não nos é reconhecida a capacidade de pensar pelas nossas próprias cabeças. Deve ser isso.

Em última análise o verdadeiro problema é que para morrermos precisamos apenas de estar vivos. Razão tem Lili Caneças quando afirma com toda a convicção que "estar vivo é o contrário de estar morto". Pois é.

terça-feira, abril 04, 2006

Perder o futuro


No Domingo a capa do suplemento do Público trazia uma imagem dos tumultos em Paris com o estranho título de "Medo de Perder o Futuro". Falava-se das razões para a revolta da chavalada.
Perder o futuro... como pode perder-se algo que não se possui? Como pode perder-se o que ainda não aconteceu? O futuro possui-se? Eu possuo um futuro? Como poderei sabê-lo antes de lá chegar? Fiquei deveras confuso e a coisa não me tem saído da cabeça.
Poderei ter expectativas, desejos, anseios. Poderei sonhar com algo que venha a acontecer ao ponto de tentar influenciar os acontecimentos por forma a dar um jeitinho na realidade. Mas é tudo muito vago, muito no campo das hipóteses.

Decididamente, se há coisas que dificilmente se possam perder, o futuro será uma delas.
Nunca perdi o futuro. Simplesmente aconteceu muitas vezes que o futuro não correspondeu ao que imaginara, no passado, nada mais. O futuro não se perde. Quando muito não corresponde a algo ou a alguma coisa. O futuro pode apenas ser diferente daquilo que desejámos que ele viesse a ser.

Por outro lado também não me parece que se possa encontrar o futuro uma vez que ele acontece de acordo com o passado imediatamente anterior. Ou seja, o futuro é o momento que acabaste de viver, tão depressa se transformou em passado. O futuro precipita-se constantemente, tropeçando no passado, quase não deixando tempo ao presente. O presente será aquilo que mais dificilmente se compreende por não ter intervalo de tempo que lhe valha. Entalado entre o passado e o futuro, praticamente não existe. O presente sim, é constantemente perdido. Sempre perdido nas voltas do ponteiro dos segundos, passo a passo, o presente, na verdade, quase não existe.

Os jovens parisienses talvez protestem por não conseguirem encontrar o presente, embora tenham alguma dificuldade em compreendê-lo. Na verdade o que lhes faz falta é "o agora" e não "o amanhã". Se "o agora" os satisfizesse já não andariam aos trambolhões pelas ruas, em busca de glórias passadas, em busca de um tempo perdido que nunca lhes pertenceu nem poderá alguma vez vir a pertencer.

sábado, abril 01, 2006

Olé toureira!

Olé Toureira! é o título desta pintura que concluí recentemente. Uma pequena homenagem ao meu amigo João Fonte Santa que criou as personagens de BD Joe Índio e Tom S.I.D.A., dois boxeurs pestilentos que combatiam no ringue enquanto dois críticos de arte iam discutindo estética bem sentados entre o público. "Olé Toureira!" foi uma das aventuras destas duas duplas na qual Joe Índio arranca o nariz de S.I.D.A. com um violento uppercut!
Lembrei-me desta coisa a prpósito do Óscar Faria. Talvez lhe fizesse bem ir assitir a uns combatezitos de boxe. O cheiro a suor misturado com os bálsamos a pairar na sala, entre fumo e insultos variados, podiam trazer alguma luz sobre os assuntos da arte!

Crítica rotineira

Escrever a crítica de arte para um suplemento semanal deve ser trabalho lixado. Digo eu. Um gajo tem de ir a umas inaugurações, arrastar a carcaça até galerias e, mais raramente, museus. Olhar, ver, pensar e, fatalmente, escrever, construir uma opinião. O crítico não pode passar, avisar que não sai nada, que fica uma semana "de molho" por falta de qualquer coisa minimamente interessante para dizer. O crítico tem de criticar e mais nada. Ponto final.

Quando acontece não haver opinião que se leia, quando o relógio apressa a escrita e o teclado parece roer as pontinhas dos dedos ao crítico, o caso será angustiante mas não há-de ser nada! A crítica tem de estar pronta a tempo e horas. É preciso aprontar o suplemento, paginar a revista, retocar pormenores. O paginador vê apenas manchas de texto, o designer gráfico trabalha com formas e não com conteúdos. Esses são da responsabilidade do pobre escravo do dever que terá de assinar por baixo e assumir a paternidade da coisa.

Nem sempre me dou ao trabalho de ler as recensões críticas nas páginas dedicadas às artes plásticas mas, quando me entrego à tarefa, fico quase sempre com a sensação de que é mais interessante ler o resumo de um jogo de futebol entre o Rio Ave e o Gil Vicente.

No entanto é nesses textos, tantas vezes sem substância, que se vai fazendo a historinha da arte contemporânea. Criam-se reputações, ignoram-se outras, fala-se do trabalho de alguns amigos e já não é coisa pouca.

Vem isto a propósito do texto publicado hoje no Mil Folhas do Público, por Óscar Faria, com o título Rebentar com a pintura. É uma coisa amorfa, repleta de lugares comuns e ideias estafadas, um texto que me faz ter pena do escriba. Coitado.
Acredito que o trabalho de Bruno Pacheco, "analisado" neste texto, seja interessante. Não posso deixar de ter a impressão que, quem leia o dito cujo, não vai dar-se ao trabalho de arrastar os sapatos até à galeria Quadrado Azul, no Porto, para uma visitinha.
A menos que seja crítico de arte e tenha urgência em escrever qualquer coisa para justificar o cheque do ordenado, lá mais para o final do mês.