quarta-feira, fevereiro 28, 2007

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Cartas de Iwo Jima


Duro como aço. Um retrato onde até as cores se perdem não chegando bem a ser cores. Quando o filme terminou sentia-me incomodado como um perú em vépera de Natal. A imagem final da ilha deserta e o mar a bater na praia é o retrato mais absoluto da guerra que jamais pude ver. Eu, que não sei nem imagino o que seja a guerra.


segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Santa paciência!

Ele vai regressar. Na próxima manhã de nevoeiro estará pronto a anunciar definitivamente a sua disponibilidade para voltar a chatear-nos de morte por tudo e por nada.
Cansado de andar a falar para o boneco no inenarrável "Estado da Arte", o programa que imaginou ser suficiente para lhe alimentar o egozinho faminto, Paulo Portas não aguenta mais estar longe dos telejornais e das capas das revistas e vai voltar.
Pessoalmente não estou a ver que falta nos faz semelhante sacripanta mas alguém deve ter saudades dele para se arriscar a pegar outra vez naquela coisa mole e sem coluna vertebral que dá pelo nome de CDS (PP para os amigos).
Com a condecoração que Rumsfeltd lhe impôs num gesto de eterno reconhecimento pela sua capacidade de acreditar naquilo que nunca existiu, Portas aí vem, aliado à Virgem de Fátima e outras divindades menores, com a promessa de salvar a Nação e nos iluminar com a alvura da sua dentadura sorridente.
Não sei se me alegre pelo regresso do palhaço, se me lamente pela falta de talentos cómicos nas fileiras da direita portuguesa. Ribeiro e Castro tem sido uma desilusão. Incapaz de arrancar um sorriso que seja ao mais alegre dos portugas, o actual líder daquela Coisita Deplorável e Sorumbática já vai gemendo na dor de saber-se passado para trás a troco de nada mais que não seja o rapaz predilecto dos feirantes nativos.
Paulo, o Portas, vem convencido de que ainda cumprirá o destino que um dia sonhou ser o seu. Se Santana foi 1º Ministro, se Durão é Presidente da Comissão Europeia, porque carga de água haveria Portas de se contentar em ser animador televisivo de 3ª categoria? Ele aí vem convicto de que alcançará os mais altos degraus da vida pública. Hoje pequeno líder, amanhã grande, depois de amanhã... quem sabe?
Santa paciência!

domingo, fevereiro 25, 2007

Anunciação

Tinta-da-China sobre papel, formato A4
clicar na imagem para "ouvir" a conversa...

Estranheza

Vi recentemente (em DVD) "O Milagre Segundo Salomé" um curioso filme sobre aparições e outros mistérios. Uma obra cinematográfica limpa, sóbria e equilibrada, com uma fotografia bem conseguida, um grupo de actores em nível de desempenho bastante elevado e um argumento escorreito. Um filme a ver com agrado.
Já o meu avô materno me garantia, há muitos anos, que a aparição da Virgem aos pastorinhos não passaria de um logro. No interior de Portugal em 1917 qualquer coisa que ultrapassasse a vulgaridade da miséria poderia ser tomado como sinal divino uma vez que as histórias de extra-terrestres ainda não seriam do domínio popular, muito menos entre uma população analfabeta e faminta até mesmo de batatas cozidas.
Assim, a dita Virgem, ainda segundo o meu avô, seria uma mulher bem vestida e com os lábios pintados (esse pormenor parecia-me uma coisa estranha no meio da imagem global) ou um padre (um "pedaço-de-asno", expressão muito característica desse avô) escondido atrás de um penedo a assombrar o imaginário dos 3 pastorinhos capazes de engolir o que quer que fosse desde que causasse alguma estranheza extrema.
Como é evidente nunca mais fui capaz de olhar com bons olhos para essa patranha da igreja católica portuguesa que entretanto já deu origem a santos, a uma cidade tenebrosa, uma catedral imensa de betão e milhentas lojas de recuerdos e souvenirs com a Virgem de Fátima à cabeça do merchandising.
Neste filme vi a narrativa inflamada do avô Mário ganhar animação. Uma Salomé, bela como toda a santa de pau pintado, alisada pela lixa de um escultor habilidoso, surge aos pastorinhos como um meteorito disparado do Céu para iluminar os espíritos entrevados.
Um filme belo e cristalino na forma como descreve a pobreza de espíritos simples e bem intencionados em conflito com o incómodo desejo de ser feliz.

sábado, fevereiro 24, 2007

Ética para que te quero?

A Morte de Sócrates por J. L. David


O procurador-geral da República (PGR), Pinto Monteiro, disse hoje, em Coimbra, que “não há ainda em Portugal uma consciência ética forte que censure a corrupção”, comentando um estudo segundo o qual “os portugueses são permissivos face à corrupção”.
Talvez fosse boa ideia apostar numa disciplina de Ética nas nossas escolinhas. Agora que a Educação e Moral foi definitivamente posta no caixote do lixo da educação, onde é, nítidamente, o seu lugar, era de apostar na Ética. Mais disciplina menos disciplina nem havia de se notar...
Na Moral havia um madraço a vigiar as consciências daí que fosse mais fácil enxamear de vespas as cabeças da criançada. Deus, o pai, etc. e tal, não havia muito que enganar. Portas-te mal levas no focinho e ainda vais bater com os ossos no inferno. Linear.
Já na Ética será difícil encntrar macaquinhos para habitarem o sótão da consciência. Quem vigia quem? O próprio indivíduo? Está bem abelha, é um ver-se-te-avias de folguedo e depravação.
Temos de começar a pensar nesta merda com cabeça de gente. A Ética começa em casa, no seio da família, no grupo de amigos, na escola. Cada um de nós a ser modelo de si próprio para exemplo do outro.
Difícil, não? Mas apaixonante.

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

O Gandhi luso-madeirense

Jardim afirmou que a sua demissão se enquadra numa forma de "resistência passiva, sem violências, sem nada de desagradável." Adepto confesso de Gandhi, Alberto João adopta uma táctica defensiva, apostando na auto-vitimização.
Esta surpreendente atitude estará relacionada com uma dieta vegetariana ou com a variante humana da Creutzfeldt-Jakob, da qual o governante madeirense aparenta ser um espécime em tamanho gigante?
Seja como for temos um novo Jardim (mais um!) em versão angelical e pronto a oferecer-se em sacrifício pelo bem do povo madeirense esperando em troca um simples novo mandato até 2011,
benza-o Deus.

terça-feira, fevereiro 20, 2007

És lá agora!

Confirmaram-se as expectativas. Alberto João Jardim demitiu-se do cargo de presidente do Governo Regional da Madeira, tenta provocar eleições antecipadas e recandidata-se ao cargo. Uma oportunidade para os madeirenses "mostrarem ao País e ao mundo" que "repudiam a maldade e a injustiça" do Governo Sócrates, que lhes impôs a Lei das Finanças Regionais.
O Alberto João não resiste ao Carnaval. Este ano mascarou-se de político honesto (foi complicado encontrar fato que lhe servisse tendo que ser encomendado um feito por medida)
cruzado com virgem ofendida e lá veio explicar mais uma vez que se recandidata (...) porque acha que a Madeira "não merece passar a ter um governo de medíocres, de incultos, de traumatizados sociais e de subservientes a Lisboa", numa alusão ao PS/Madeira. Com esta afirmação, parece não acreditar que outra figura do PSD/M, a não ser ele próprio, possa vencer eleições na Madeira. Como Jardim sucede, mais uma vez, a Jardim, desde 1978, o líder de sempre pede aos madeirenses mais quatro anos, "apesar das dificuldades inesperadas pois só assim terá tempo para concretizar "serenamente" o programa de governo, tempo para "ajudar o portuguesas a mudar este governo da República", a preparar a futura revisão constitucional (2009), permitindo-lhe ainda criar uma mudança estruturante de um novo ciclo, caracterizado por mais investimento privado e maior internacionalização da economia regional.

Homem de palavra e convicções com a consistência de uma banana madura resta lembrar que Jardim Em 1996, garantiu ao eleitorado que era o seu último mandato. "Só mais uma vez", foi a frase mais dita em toda a campanha. Está à vista, já lá vão mais de 10 anos e o gajo continua alapado ao cadeirão. Olhando para os figurões que se alinham na cadeia de sucessão do soba madeirense também não se vislumbra grande mudança no panorama. Democracia é coisa do Demo?

Em itálico excertos de texto do Diário de Notícias online. Notícia integral aqui: http://dn.sapo.pt/2007/02/20/nacional/jardim_leva_socrates_a_referendo_mad.html

domingo, fevereiro 18, 2007

O palácio vazio

Mafra. Convento e Palácio, Palácio e Convento. O monstruoso edifício é um dos monumentos nacionais mais citados e, decerto, dos mais visitados. Saramago com a sua obra Memorial do Convento veio acrescentar personagens e alargar imaginários.
No dia 18 de Fevereiro lá fui, com a família, experimentar os ecos da História.
Ao chegar perto do Real Edifício, a primeira impressão não tem nada a ver com a imagem acima. O estacionamento em frente e à volta do Edifício é mais que caótica, é patética, nem sei. Depois havia uma feira montada com tendas das mais variadas naturezas. Junto à entrada para o Palácio, um comerciante de móveis alinhava o seu material quase até à porta envidraçada e, mais ao lado, uma carrinha expunha garbosamente lingerie, cuequinhas de cores variadas dançaricando ao sabor de uma brisa gelada mas marota.
Um enorme outdoor lembrava a quem estivesse interessado que vai haver uma votação on line para eleger e actualizar as 7 maravilhas do mundo propondo um voto no Real Edifício. Mmmmmh, não sei não.
Vamos entrar.
Lá dentro um grupo de visitantes (todos portugueses) aguardavam calmamente o início da visita guiada. Comprei os bilhetes (4€ para adultos e pessoas a partir dos 14 anos) e juntei-me com a família ao grupo.
Passados alguns minutos o guia deu luz verde ao pessoal e lá subimos a escadaria em direcção à suposta maravilha. O guia era uma personagem de filme. Com um sobretudo enorme, azul escuro, coxeava ligeiramente inclinado sobre o seu lado esquerdo e mantinha um sorriso constante. Ao falar notava-se um pequeno defeito na pronúncia de certos sons o que tornava praticamente impossível compreender a totalidade das suas palavras. Na sala do trono, por exemplo, com o eco, ninguém percebeu patavina mas depressa compreendemos que isso não faria grande diferença.
O recheio do palácio é extraordinariamente modesto. As melhores mobílias e obras de arte foram levadas para o Brasil, para onde partiu a família real quando das invasões francesas, em 1807. O palácio ficou notóriamente vazio. Assim lá nos passeámos por corredores e aposentos bastante mal equipados e com explicações pouco interessantes. O grupo foi avançando penosamente, tentando manter-se interessado mas era tarefa difícil.
Uma vez passados à zona do convento a nudez dos espaços arquitectónicos deixou de ser tão agressiva fazendo jus à expressão "pobreza franciscana". No fim do circuito lá chegámos à espectacular biblioteca. Imensa e bela como poucas, decerto, mas, logo à entrada, uma espécie de guita vermelha marcava a fronteira da realidade impedindo os visitantes de entrarem naquele espaço repleto dos mistérios próprios de um depósito de livros antigos.
Foi com uma sensação de frustração que fizemos meia-volta e regressámos em passo de corrida ao ponto de partida, percorrendo o trajecto em sentido inverso, passando exactamente pelos mesmos locais que havíamos percorrido e saindo pela mesma porta!
Meu Deus, que coisa mais estúpida!!!
Num edifício daquela dimensão não haverá a possibilidade de criar outro trajecto para os visitantes dali saírem?
Resumindo, a visita é má, o palácio é pobre e a sensação de alguma incúria por parte de quem organiza e mantém aquele espaço cola-se de imediato ao mais boçal dos visitantes. Os visitantes são tratados com pouco cuidado e, decerto, não aconselharão ninguém a fazer aquela visita se tiverem algo de mais interessante no horizonte (uma ida a um Centro Comercial, por exemplo).
Quanto à votação para maravilha do mundo, eu voto se mantiverem aquela roulotte da lingerie sempre junto à porta. Se a tirarem de lá, o Real Edifício de Mafra não merece o meu voto.
Deixo aqui esta entrada para um sítio com algumas imagens tipo postal ilustrado que permite acesso a outros sítios com mais coisinhas sobre o dito edíficio. Ainda se pode viajar por outros locais de intersse turístico. http://www.pbase.com/diasdosreis/mafra

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

À procura da beleza (8)













Democracia é coisa do Demo?

Estamos com a cabeça mergulhada na sanita e não há quem puxe o autoclismo!
Ele é a Câmara Municipal de Lisboa, o Jardim a falar em colhões publicamente e um gajo que andou supostamente a gamar na gestão das contas correntes do próprio Supremo Tribunal! Esta merda mete dó!!! E nós temos razões de sobra para ficarmos deprimidos. Sim, porque apesar de ninguém enfatizar o assunto o que parece ser um facto é que o desemprego em Portugal aumentou brutalmente e o Sócrates tinha andado a agitar a bandeirinha da redução do desemprego durante a campanha eleitoral que o guindou ao poleiro onde tem andado a cantar como se fosse capão de peito feito.
Tudo isto é de fazer chorar as pedras da calçada. Somos governados por tipos sem pingo de decência, que roubam à descarada e ainda gozam (olhai Fontão, o... ***rão) e respondemos a tudo isto com uma indiferença civil capaz de fazer sorrir a caveira do Salazar. O que andamos nós a fazer da Democracia?
A demissão da maioria dos cidadãos quando chega a hora de votar (o referendo de passado dia 11 não é o caso mais preocupante, a coisa tem contornos mais vastos), a indiferença perante vigaristas confessos, a incapacidade do nosso sistema de se auto-regular, tudo isto leva à pergunta que titula este post.
Sinceramente, caros compinskas, estou a deitar por fora e salta-me a tampa, não tarda.
Foda-se esta merda.
O que vale é que Carmona continua alapado ao lugar porque está de consciência tranquila. Benditos os que têm consciência tranquila... sinceramente!!!

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

À procura da beleza (7)




Admirável Mundo Novo!

Numa sociedade mediática globalizada e desvairadamente dependente da publicidade assistimos aos primeiros avanços do Big Brother (aquele tal que nos vigia do seu posto de trabalho, algures no limbo da existência).
Por um lado somos desafiados a consumir tudo e mais alguma coisa. Não há limites na forma como nos criam e acicatam necessidades artificiais. Logo a seguir inventam formas estranhas e repressivas para nos refrearem os ímpetos consumistas.
Veja-se a actual cruzada anti-tabagista ou a nova paranóia com a saúde dos indivíduos. Já mandaram o Marlboro Man para a galeria dos horrores, vão abrindo um lugarzinho destinado ao palhaço Ronald Mc Donald. Quando veremos a Nokia a ser alvo de campanhas difamatórias por promover a dependência entre legiões de jovens agarrados aos teclados dos telemóveis?
A nossa sociedade é, cada vez mais, esquizofrénica e nós com ela.
Com uma mão oferecem-nos o paraíso ao virar da esquina, com a outra seguram a moca que nos haverá de abrir um lenho no focinho caso nos atrevamos a agarrar aquilo que nos é oferecido.
Precisaremos assim tanto de quem nos proteja dos nossos próprios desejos?
Dirigimo-nos para um paradoxo democrático: aqueles que elegemos serão os novos sacerdotes de uma estranha religião, difusa e de duvidosos valores universais, eleitos por nós para nos ensinarem a evitarmos os desmandos a que o nosso corpo nos puxa. Elegemos polícias da nossa consciência?
Pobre Cavaco, palhaço pobre deste circo sem empresário visível em que se vão transformando as nossas sociedades democráticas. Se as campanhas de informação e sensibilização não funcionam (contra o tabaco ou o excesso de calorias) então venha daí a mocada que à traulitada tudo se resolve.
Não é bonito. Muito menos é eficaz. Mas, temo, é a dura realidade que se avizinha se é que não estamos já a vivê-la.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Um sítio...

... bastante curioso para amantes de BD e mais quem tenha a curiosidade na ponta do olhar http://www.bugpowder.com/andy/ww-index.htm .
Bom passeio!

Reencontro ao fim de muitos anos

Está por aí à venda a colecção Stanley Kubrick. Um conjunto de DVD que inclui títulos como Laranja Mecânica, 2001, Odisseia no Espaço, Shinning e este magistral Barry Lyndon. Não sei ao certo a que se deve o surgimento de tão excelente colecção, talvez alguma revista a tenha acrescentado na tentativa de incrementar as vendas, não sei bem. Sempre que ia comprar o jornal lá namorava os DVD, preço à volta de 9€, ali em cima das pilhas de revistas cor-de-rosa e respectivos brindes que fazem das tabacarias uma espécie de lojas dos 300, a deitarem "ofertas" por fora e pelos olhos dentro. Hesitei durante uns tempos, a aquisição de Citizen Kane numa outra colecção (saída com o Público há uma boa mão-cheia de meses) fizera de mim gato escaldado. O monumental filme de Wells vinha adaptado ao écrã de TV, com o formato escortanhado e os enquadramentos adulterados, o que muito me irrita e retira todo e qualquer prazer no visionamento dos filmes assim estropiados. Estariam os filmes de Kubrick no mesmo estado lamentável?
Barry Lyndon tantou olhou para mim que me decidi a comprá-lo.
É um DVD sem extras (daí o preço) que respeita o formato original. Rever o filme foi uma espécie de regresso à adolescência. Tinha-o visto no velho (hoje desaparecido) Cine Rossio, em Viseu e, logo ali, fiquei fascinado pelo grande cinema de Kubrick. A fluência narrativa deste Barry Lyndon, a grandiosidade da encenação e do guarda-roupa, os planos de mestre, janelas abertas sobre a comédia humana, a banda sonora... tudo regressou com este DVD. Não tenho outra vez 15 ou 16 anos, mas o prazer imenso de contactar uma obra de arte deste calibre é absolutamente intemporal. A idade não importa e nem as manhas adquiridas uns milhares de filmes depois retiram a frescura sentida perante Barry Lyndon. Obra-primeiríssima entre todas as obras-primas deste mestre do cinema.
Este reencontro ao fim de tantos anos despertou em mim a nostalgia de Laranja Mecânica. A memória de ter de enganar os porteiros do Cine Rossio para poder ver esse filme (era para maiores de 18 anos e naquela época sem BI a provar a nossa idade não entrávamos mesmo e ponto final!), metido no meio de um grupo de jovens adultos, o meu irmão e mais uns quantos lá da terra, a passar despercebido até ao meu lugar. O espanto e o terror que me provocou, aquele terror que somos capazes de controlar e perceber, o terror da realidade e do vislumbre da mais negra das maldades como coisa natural no homem, quase santa, voltaram-me à memória.
Hoje de manhã, ao comprar o jornal quis comprar também a Laranja Mecânica. "Está esgotado." respondeu-me a senhora da tabacaria, "Estes filmes vendem-se muito bem, estou admirada."até eu me admiro... e não devia!
Fiz uma encomenda e vou aguardar. Também não tenho pressa.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

O dia seguinte

E pronto. A novela referendária chegou ao fim. Ganhou o SIM, penso que todos ganhámos. O resultado não despoletou ondas de regozijo nem festejos nas ruas. Recebemos a coisa com serenidade e alívio. Afinal ainda há esperança para este país.
A economia continuará a ser uma espécie de fronteira farpada, o ensino um pântano voraz e a justiça uma estátua de pedra, mas Portugal tem nos portugueses uma reserva de esperança numa vontade difusa de mudar e ser diferente daquilo que foram os nossos trisavós.
A vitória da tolerância e da confiança na capacidade de cada um de nós poder ponderar livremente as suas opções de vida abre uma janela sobre o futuro que poderá significar uma sociedade civil mais madura e interventiva.
É claro que os mais ferrenhos adeptos do NÃO vão continuar a agitar fantasmas horrendos e sedentos de sangue aos olhos do pessoalzinho. Estão despeitados por lhes recusarem a bondade que ofereciam e a caridadezinha merdosa que continuam a imaginar ser o destino dos mais pobres. Metam a viola no saco. Essa merda acabou.
Espero que, a partir daqui, consigamos olhar a besta nos olhos agarrando-a pelos cornos até lhe torcermos o pescoço e a vergarmos de joelhos no chão. Sonho com um país capaz de assumir sem medo nem preconceitos uma perspectiva mais justa e solidária do significado e do sentido da vida da nossa comunidade. A vitória do SIM aproxima-nos mais do grau civilizacional do resto da Europa. Esperemos que a Assembleia da República tenha agora lucidez suficiente para legislar com sabedoria e prudência sobre o tema que ontem fracturou mais uma vez o território nacional num Norte tacanho e com medo do demónio, que se afasta de um Sul muito mais próximo do desassombro libertário que nos está na massa do sangue por herança cultural a desaguar vinda dos lados da Europa.
Esta treta acabou finalmente. É preciso explicar e mostrar aos mais ultramontanos de entre nós que eles não perderam nada. Ganharam algo e ganharam connosco.
Força Portugal. Por uma vez não me fizeram ter vergonha de ser quem sou (apesar do resultado na minha cidade natal ter sido o que foi).

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Votar SIM


A campanha chega ao fim. Fico com a sensação de que, seja qual for o resultado, se tratou de uma fraca campanha. Os argumentos cruzaram-se, debateram-se, as questões foram analisadas, reviradas, manipuladas, vimos, ouvimos e lemos. Poucos terão alterado o sentido de voto que haviam decidido antes de todo o falatório da campanha, a coisa extremou-se, muitas vezes, na vertigem do confronto de ideias. Tenho a sensação de que houve muita questiúncula pessoal, muita opinião disparada com a culatra de um ódiozinho de estimação, muito tau-tau e alguma birra.
A questão em debate é tão específica, tão íntima e pessoal, que ultrapassa as fronteiras da política ao ponto de, talvez pela 1ª vez em muitos anos, o meu voto ser semelhante ao de Rui Rio ou do Major Valentim, para citar apenas os primeiros que estranho estarem do mesmo lado da barricada. Estranho mas perfeitamente plausível.
Nesta altura do "campeonato" as principais preocupações prendem-se com o nível da abstenção. Fala-se do mau tempo que se adivinha. A chuva e o vento terão uma palavra a dizer neste referendo? O mais importante será a mobilização alargada dos votantes, os adeptos do "SIM" de preferência. Todos os votos são importantes. Penso que as manchetes dos jornais deveriam ir neste sentido em vez de lamentarem à partida uma abstenção que se imagina poder vir a ser elevada, o que não deixa de ser estúpido. Quem pretende votar vota, independentemente da chuva ou do vento. O cumprimento de um dever cívico dificilmente poderá estar condicionado pelo estado do tempo.
Resta apelar ao voto mesmo que isso pareça constituir um incómodo. Descalçar a pantufinha, abrir o guarda-chuva ou tomar a bica um pouco mais tarde não é nada. Votar é tudo. E, já agora, que se vote SIM!!!

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Criancinhas


"Pecados Íntimos" é o título português para o filme "Little Children" de Todd Field. ( http://www.littlechildrenmovie.com/ )
Kate Winslet está nomeada para o Oscar de melhor actriz pelo seu desempenho nesta película e certamente é uma nomeação merecida. O filme é "limpinho" e desenvolve um argumento interessante com um final algo inesperado.
Apesar de alguns momentos menos conseguidos em termos de representação, o tom geral aguenta-se bem e a realização é eficaz.
Mais um filme a ver com agrado se bem que sem gerar grande entusiasmo.
Uma nota final para o "nosso" título. Porque raio se continuam a dar títulos interpretativos aos filmes quando chegam às salas de cinema portuguesas? Vem-me logo à memória o inenarrável título "Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos" ("Little Miss Sunshine" no original) e os exemplos são mais que muitos. Será assim noutros países ou é mania nacional?

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

domingo, fevereiro 04, 2007

Recortes


Recorte da coluna "Diz-se", Público de 4 de Fevereiro

Um economista com sentido de humor...



Recorte da página de António Tavares-Telles no diário desportivo O Jogo de 2 de Fevereiro

Perante aquilo que se pode ler no recorte acima reproduzido dispensam-se quaisquer comentários. A coisa fala por si.

sábado, fevereiro 03, 2007

Mais estranho que ficção

"Contado Ninguém Acredita" é o título português para "Stranger Than Fiction" http://www.sonypictures.com/movies/strangerthanfiction/, um filme de Marc Forster com Will Ferrell, Emma Thompson, Dustin Hoffman e Maggie Gyllenhaal nos principais papéis.
O filme é interessante sob diversos aspectos sendo o mais curioso a ideia base da narrativa. Ferrell é um agente do IRS que ouve uma voz de mulher dentro da cabeça que vai narrando o seu quotidiano... a acção desenvolve-se sem um verdadeiro crescendo, de forma linear, mas o espectador mantém-se atento, à espera de que algo verdadeiramente estranho aconteça nas estranhas situações que vão surgindo. Um filme no território do absurdo que tenta manter-se na fronteira da realidade.
Pessoalmente fiquei um pouco desapontado com o desenlace da coisa mas admito perfeitamente que tenha sido fruto de opções absolutamente sustentáveis e que preencha as necessidades de uma parcela significativa dos espectadores.
Os actores cumprem com eficácia e mesmo Ferrell, que quase me fez desistir da ideia de assistir ao filme, acaba por ser adequado à função embora sem rasgos de brilhantismo, apenas porque nunca compromete a sua personagem.
Sintetizando, um filme agradável de seguir sem, no entanto, ultrapassar a barreira da mediania. Um objecto industrial eficaz e de qualidade aceitável.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Filme de Terror


O Lemos e o Pinho explicam as suas visões incomparáveis...
Há dias assim, em que o mundo, de repente, confirma a pior das suspeitas: a verdade é que a vida não passa de um argumento para filme de terror (daqueles de baixo orçamento). Se formos portugueses, vivermos em Portugal e ainda formos também leitores do Público, a coisa pode mesmo ganhar contornos inquietantes. Pessoalmente tenho a sensação de estar a delirar! Alucino com os relatos que me vão chegando de uma realidade exterior, seja na longínqua China comunista ou na proximidade da, bem lisboeta, Avenida 5 de Outubro.
Leio o editorial de José Manuel Fernandes de 2 de Fevereiro, “O fracasso do sistema” onde, pela enésima vez, o Director do jornal vem apresentar argumentos sobre a necessidade de o Estado ajudar as famílias com menos recursos económicos no financiamento dos estudos dos seus rebentos, proporcionando-lhes a escolha entre escolas públicas e privadas. Afinal pode haver “mais” Estado em certos sectores da vida pública… mas não é essa aparente contradição que me tira o sono. Concordo com o Director do Público em grande parte das afirmações que regista nesse editorial. Fico a imaginar que o papel dos responsáveis pelo Ministério da Educação é, na verdade, o de aterrorizar o sistema. As medidas descabeladas que sucessivamente vêm agitando a vida das escolas por esse país fora com a chancela ministerial fazem-me desconfiar que certas personagens, como Valter Lemos por exemplo, actuam a soldo de interesses inconfessáveis de grupos obscuros que vêem na degradação do ensino público uma óptima oportunidade de negócio, apostando no privado. O episódio dos exames de Física e Química, no final do ano lectivo anterior, mostram como a irresponsabilidade política e social gozam de beneplácito lá para as bandas do ministério. Há uma tradição de mediocridade na 5 de Outubro que apenas se compreende se acreditarmos numa grotesca teoria da conspiração, só aparentemente irresponsável. Deliro, certamente, mas deliro com razão! E tenho medo, tenho muito medo!
Depois, na página ao lado, Constança Cunha e Sá evidencia a dimensão “Frankensteiniana” do Pinho, monstro que foge constantemente ao controlo do seu criador para infernizar a existência dos mais pacatos cidadãos. O episódio chinês deste governante, com as suas afirmações inqualificáveis sobre os benefícios de investir em Portugal, mais uma vez me fazem tremer de pavor. Não é a primeira vez que este governante (!?) se excede para lá do basicamente aceitável. Outros episódios protagonizados por ele poderiam ser recordados, entre os quais a intervenção na casa de Almeida Garrett é paradoxal da dimensão ética, política e de cidadania do Pinho, verdadeiro exemplar “queiroziano” da actual política indígena.
O que liga o Lemos ao Pinho, além de pertencerem ao actual executivo que decide sobre os destinos da nação, é a sua absoluta falta de categoria para desempenharem os papéis que lhes estão atribuídos e, no entanto, continuarem como se nada se passasse contando com o apoio (ou pelo menos com o silêncio cúmplice) do chefe do governo.
Tudo isto me leva à tal ideia de que vivemos num filme de terror. Se personagens como estas têm as responsabilidades que têm e dão as respostas que todos podemos ver como é possível que não sejam corridos em pêlo? Quem os mantém nos seus postos como se nada de grave se passasse? A quem interessa tal desprestígio das instituições democráticas? Quem governa realmente Portugal e quais os seus interesses e objectivos?
Carta enviada ao Director do Público

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Ide chatear o Camões!


Quem acredita que Deus puxou Eva de dentro de um Adão adormecido na paz de um paraíso silencioso está pronto para aceitar tudo o que lhe queiram enfiar na cachimónia. Que esta história fizesse sentido numa Idade Média esquecida da sabedoria antiga até posso engolir (não custa nada). Mas que esta história continue a fazer sentido para um cidadão do século XXI já não me desce da traqueia a menos que seja à paulada e, mesmo assim, para regurgitar ao virar da esquina.
Quem nos anda a fazer a folha? Quem nos anda a impor dogmas obscuros embrulhados em papel colorido e falinhas mansas? Teremos de continuar a fazer de conta que a religião católica tem ponta por onde se lhe pegue só porque há uns quantos milhões de cidadãos dispostos a acreditar em todos os seus mitos e fantasias? Por mim passo. Não acredito neste Deus nem na Bíblia e muito menos nos ministros desta coisa tenebrosa, lobos escondidos sob pele de carneiro com um grande rabo de fora e a feder à distância.
Ficai lá com o vosso Deus, guardai bem os vossos anjinhos da guarda e deixai viver quem tem gosto em estar vivo. Não atrapalhem a felicidade do conhecimento com a vossa incapacidade para aceitar a liberdade tal como ela é. Total e absoluta. Muito mais grandiosa e omnipresente nos espíritos humanos do que esse malvado Deus de pacotilha que vos inferniza os sonhos com castigos tenbrosos a cada mijadela fora do testo.
Estou farto de escuteiros que se preocupam com velhinhas e crianças por nascer só porque gostam de praticar a caridade e têm medo de perder os objectos do seu desvelo de fim-de-semana.
Deixem-me ser quem eu quiser.
Em liberdade e órfão de Deus.
Obrigadinho e ámen!