domingo, setembro 30, 2018

A Arte não é para todos

 Um Amor Assim É Coisa Pra Não Ter Fim (2018)

Escrevo o título deste post e fico a pensar na diferença entre Arte e arte. Lembro-me de ser miúdo, quando, naquele mundo distante, os artistas eram os pedreiros e os carpinteiros. Depois cresci e fui modificando a forma como filtrava a palavra "artista". Durante muito tempo era sinónimo de vigarista ou de habilidoso, alguém que se safava na vida através de uma certa esperteza, as mais das vezes, saloia.


Estava longe de imaginar que um dia viria a ser considerado um artista. Nem pedreiro, nem espertalhão, mas um outro tipo de artista. Plástico.

Mas o que caracteriza um artista plástico neste Portugal do século XXI? Sinceramente, a resposta é algo que me escapa. Não sei como explicar. Tenho umas ideias...

Olhando para o panorama das artes plásticas tal como se me oferece através da janela dos meios de comunicação, quando a Arte é com "A", percebo que não faço parte daquela paisagem. Significa isso que, nas artes plásticas, há mais do que um mundo? Sim, obviamente.

Já aqui o escrevi mais do que uma vez: a minha arte é com "a". É o meu desejo, é a minha fé. Sonho produzir objectos que permitam estabelecer comunicação com um número alargado de pessoas, mesmo aquelas que desconfiam de mim e da minha arte por não terem o hábito nem a presunção de compreender o que está perante os seus olhos.

A meu ver a arte deve abrir hipóteses e oferecer possibilidades. Livremente e sem complexos. Sei bem que a Arte não é para todos.

quinta-feira, setembro 27, 2018

A demissão

Ai que comoção a historieta da demissão do director do Museu de Serralves. Que houve censura, que não houve, que a administração da Fundação andou a meter o bedelho, que não meteu bedelho nenhum: não há dito que não seja contradito. É como se fosse uma altercação entre vizinhas de banca no Mercado do Bolhão mas em versão sisuda. Sabemos bem que a Verdade é uma coisa e que a Realidade é outra, são coisas muito nossas. Seria de esperar que entre pessoas educadas e civilizadas, com tão grandes responsabilidades no campo da Cultura e da Arte, uma situação deste calibre se resolvesse com calma e elevação, lá dentro de casa. Mas não, a coisa transpirou cá para fora e, pronto! Tem sido um berreiro. Uns são a favor, outros são contra, todos têm opinião se bem que não se compreenda muito bem o que terá acontecido. Abaixo a censura! Que não houve censura, que a houve... muito gosta a gente de sentir indignação.

Bem vistas as coisas somos todos enxertados da mesma cêpa: directores, peixeiras, administradores, taxistas, simples opinadores, facebookeanos militantes e todos os demais, ansiosos por termos razão, decididos a mostrar ao mundo o valor da nossa perspectiva, a força da nossa inteligência, inflexíveis na defesa do nosso pedestalzinho. Eu sei que é difícil admitir que erramos mas, caramba, não poderíamos poupar-nos a mais esta ópera bufa? A exposição lá está, o artista é renomado mas já não é isso que importa. Teremos de nos contentar com a nossa colecçãozinha de cromos: director/curador, gestora/administradora, beautiful people, gente muito séria, gente muito culta e, onde o há, o verniz todo estalado. Descansa em paz Mapplethorpe.

quarta-feira, setembro 26, 2018

Vagar

Passam apressadas, com a urgência estampada no rosto, pessoas iguais a mim, cada uma transportando um mundo lá dentro. Vão daqui para ali, rápidas como águas de um rio revolto. Da parte que me toca faço um esforço tremendo para caminhar devagar.

Não falamos, trocamos olhares. Haveria tanta coisa a dizer! Ou talvez não. Talvez não conseguíssemos entender-nos caso tentássemos trocar duas ideias: toma lá; obrigado; dá cá; não tem de quê. Para que quero eu isto? Não me serve de nada.

Se calhar é melhor passarmos, apenas, um olhar que afaga o outro, uma ligeira carícia. Apetecia-me dizer: a senhora é tão bonita; mas temo ser mal compreendido. Calo-me. Sigo a minha vagarosa viagem para já aqui adiante.

Passam apressadas, com a ausência estampada no rosto, pessoas semelhantes a mim. Sinto que não sou ninguém mas, no entanto, estou aqui. Vagueando.

segunda-feira, setembro 03, 2018

Futuro?

Um gajo observa os recentes desenvolvimentos políticos em diferentes países da União (ou dela próximos) e não dá para ficar descansado. Nem um pouco mais ou menos.

Por todo o lado os ideais xenófobos da extrema direita ganham espaço e conquistam eleitores. Na verdade, os meios de comunicação expõem estes partidos como sendo racistas e soberanistas. Outras questões políticas (saúde, educação, economia) não são abordadas. Serão o racismo e a xenofobia os únicos combustíveis destes gajos?

A ascensão fascista é preocupante por todas as razões e mais uma. A agressividade fanática destas hordas de energúmenos cria uma tensão social insuportável e o confronto físico passa a estar na ordem do dia. A violência está ao virar da esquina. Muitas ruas deixam de ser seguras.

Há uma evidente conspiração de extrema direita para acabar com a União Europeia. Fica a sensação de que têm o apoio da Rússia de Putin e, agora, também dos EUA de Trump. A União não será um tesouro mas aquilo que se vislumbra nas acções e nos discursos dos fascistas é um lixo lamentável.

Podemos continuar à espera do Futuro ou teremos de ir buscá-lo, nem que seja preciso andar à pedrada?