segunda-feira, junho 04, 2007

Aprendizes de feiticeiro

Vladimir Putin anda com cara de poucos amigos. Na verdade, pensando bem, essa é a sua cara habitual se calhar porque tem mesmo poucos amigos. Nos últimos dias retomou um discurso velho que esteve enterrado durante alguns, tenros, anos mas que agora ressuscita com inesperado vigor. Um discurso agressivo e belicista, ameaçador e dirigido aos vizinhos europeus.
É certo que o regime russo pós-soviético nunca se caracterizou por respeitar os direitos humanos ou mesmo o regime democrático, tal como é promovido no espaço da União Europeia. A guerra permanente na Tchetchénia ou as pressões contínuas sobre os países que formaram o antigo império comunista, a violência exercida pelo estado russo sobre os opositores políticos, a forma como a Rússia encara o seu próprio papel no mundo actual, são sinais contínuos que provocam inquietação do "lado de cá".
Quando Putin vem agora ameaçar a Europa com a possibilidade de voltar a apontar mísseis a alvos no espaço da União como resposta à intenção dos Estados Unidos virem a montar o seu célebre escudo anti-míssil em solo "aliado" marca o regresso da velhota Guerra Fria, uma senhora que já estava esquecida e regressa do túmulo, qual múmia animada por artes de magia negra. Ou Putin está a fazer bluff ou a brincar com o fogo, fiando-se na nossa tradicional moleza e incapacidade para tomar decisões militares de força. Do mesmo modo, os americanos que afirmam pretender defender a Europa de possíveis ataques lançados a partir dos "estados párias", Coreia do Sul e Irão que constituem o celebérrimo "Eixo do Mal", ignorando as dores de cabeça que tal intenção provoca no actual Czar, estão também a atirar umas quantas achas prá fogueira. O urso rosna e afia as garras.
Será necessário colocar o discurso a este nível? É de todo inevitável voltar a agitar estes fantasmas sobre as cabeças das democracias capitalistas da União? Não haverá um espaço de debate e diálogo onde as coisas possam passar-se de um modo um pouco mais... civilizado?
Talvez fosse hora de organizar um novo encontro entre Bush e Putin em que vestissem outra vez os fatinhos de feiticeiro e assistissem lado a lado à projecção do filme de Walt Disney, Fantasia. Podiam vê-lo todo, se tivessem tempo e capacidade de concentração suficiente, mas, muito particularmente, deveriam ver com atenção aquela parte em que o Rato Mickey (um dos heróis de Bush, só pode!) se arma em feiticeiro e a coisa acaba a dar para o torto quando as vassouras lhe fogem do controlo e quase destroem o castelo onde ele se encontra. Dramático!
No escurinho do cinema, Putin e Bush, pipocas, coca-cola e vodka e talvez a paz pudesse ganhar alguns pontos ao desvario militarista destes gajos.
Mostrem-lhes uns bons filmes infantis, caraças, é o que lhes está a faltar; uma infância mais ou menos feliz e informada. Talvez ainda vá a tempo.

2 comentários:

Anónimo disse...

Ótima e oportuna postagem.

Silvares disse...

Putin é agressivo e quase mete medo! Ao pé dele o Bush faz figura de personagem de história infantil.