sexta-feira, junho 15, 2007

A grande tanga da cultura


1. Um compromisso pela cultura

A política cultural para o período 2005-2009 orientar-se-á por três finalidades essenciais. A primeira é retirar o sector da cultura da asfixia financeira em que três anos de governação à direita o colocaram. A segunda é retomar o impulso político para o desenvolvimento do tecido cultural português. A terceira é conseguir um equilíbrio dinâmico entre a defesa e valorização do património cultural, o apoio à criação artística, a estruturação do território com equipamentos e redes culturais, a aposta na educação artística e na formação dos públicos e a promoção internacional da cultura portuguesa. A opção política fundamental do Partido Socialista não é colocar bens e objectivos culturais uns contra os outros, como fazem todos quantos gostam de opor património, formação e criação, mas sim de qualificar o conjunto do tecido cultural, na diversidade de formas e correntes que fazem a sua riqueza.


O texto acima transcrito foi retirado do programa eleitoral do Partido Socialista nas últimas eleições legislativas que pode ser consultado na íntegra visitando o site http://www.ps.pt/main.php.

Não precisamos de ser especialistas na matéria para constatarmos a enormidade das promessas quando comparadas com a dura realidade. Basta atentar na passagem que garante "o apoio à criação artística" e pensarmos que, estando já adiantado o mês de Junho, ainda não foram publicados os resultados dos apoios à produção pontual de projectos de teatro. Os criadores que tenham programado as suas actividades na expectativa de acederem a este tipo de apoio já devem ter mudado de ideias e improvisado outras orientações para o corrente ano.

Actores, encenadores e demais elementos das estruturas candidatas continuam pacientemente a aguardar os resultados. Mas também os projectos na área das artes plásticas, do design e da música têm de encontrar uma cadeira para esperar. Apenas os projectos na área da dança já conhecem os resultados. Os felizardos.

Se a esta extraordinária demora (ou será sempre assim?) acrescentarmos o pormenor de que os apoios recebidos deverão ser aplicados no corrente ano ficamos com uma ideia mais aproximada da capacidade dos "socialistas" para cumprirem as promessas feitas nesta área.

Outra passagem caricata é a que afirma a intenção de "retirar o sector da cultura da asfixia financeira em que três anos de governação à direita o colocaram". O ministério da cultura praticamente desapareceu do mapa e a ministra parece já se ter esquecido do cargo que ocupa mantendo-se, simplesmente, ausente da vida pública. A cultura portuguesa sobrevive ligada à máquina, em coma profundo, graças ás individualidades que ainda se fazem ouvir e ver por aí. Aliás, olhando bem para a actuação do governo apoiado pelo PS, não se vislumbra o que seja governar "à esquerda" seja qual for a perspectiva que utilizemos. Entre o PSD e o PS actuais não se encontram diferenças substanciais a não ser nas clientelas que servem os interesses particulares das respectivas estruturas.
Assim, no caso dos apoios à cultura, em geral, e no do teatro, em particular, a "esquerda" socialista revela-se tão "asfixiante" como a "direita"... social-democrata? Na verdade uns e outros revelam a mesma pasmaceira burocrática (o simplex é uma anedota de mau gosto) e a mesmíssima incapacidade para dinamizarem a paisagem cultural de um país atavicamente indiferente às questões do espírito e da inteligência. A mediocridade dos poderosos infecta, por esta via, a sociedade civil.
O período de algum vigor que a cultura conheceu nos tempos do Manuel Maria Carrilho Ministro, esvai-se definitivamente e podemos já encomendar-lhe o caixão. Em pinho novo e para enterrar em campa rasa que não há verba para mais.

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