terça-feira, junho 12, 2007

Adeptos

Notícia retirada da edição de O Jogo de 11 de Junho de 2007:

ASIAN CUP

Catar contrata 10 mil adeptos

A federação de futebol do Catar vai contratar 10 mil estudantes vietnamitas para apoiar a selecção que vai participar na Asian Cup (Hanói, 7-29 de Julho). Os adversários do Catar são o Japão, os Emirados Árabes e a equipa da casa, o Vietname. (...) Apesar da sua popularidade no Catar, as partidas de futebol no país têm assistências muito reduzidas. O Catar tem uma população de 744 mil habitantes, incluindo milhares de imigrante asiáticos.

O dinheiro compra tudo? É o que parece! Um país com uma população tão reduzida como o Catar tem necessidade de contratar apoiantes para a sua equipa de futebol. Para os portugueses esta é uma situação deveras estranha. Espalhados como estão por todo o planeta, sempre que a selecção nacional disputa um jogo, lá aparece, pelo menos, uma bandeirinha verde e vermelha na bancada e um grupo de portugueses aos pinotes. Em casos extremos, como aconteceu recentemente na Bélgica, pode mesmo haver tantos adeptos portugas como da selecção do país estrangeiro onde actuam os nossos magos do futebol. E são adeptos que pagam para assistir ao jogo, como seria natural. A situação narrada na notícia acima transcrita configura um novo paradigma pós-moderno: o espectador contratado.
Como será no jogo entre o Catar e o Vietname? Os adeptos contratados irão injuriar os jogadores da equipa "adversária"? Gritarão mais alto que os (outros) vietnamitas? Quando for ocasião de cantar o hino... será que a federação de futebol do Catar está a pagar aulas para que os seus indefectíveis adeptos vietnamitas aprendam o hino nacional? Convenhamos que esta é uma situação abstrusa!
Se dúvidas houvesse do alcance que tem no mundo globalizado a cultura do faz-de-conta esta história exemplar decerto nos permite confirmar algumas suspeitas. A aparência tem um valor extraordinário na sociedade da imagem (óbvio, não?) ao ponto de inventarmos pessoas, multidões mesmo, que não existem embora respirem e transpirem agitando a bandeirinha branca e grená daquele país meio inventado que dá pelo nome de Catar. Gostaria de ver até que ponto estes adeptos feitos à pressão serão capazes de torcer pelo patrão que lhes paga o ordenado. Tínhamos o exemplo dos mercenários nos conflitos armados, assistimos ao nascimento dos adeptos contratados. Se a moda pega vai ser interessante...




4 comentários:

Anónimo disse...

Depois do post anterior, "À procura da beleza (11)", qual é a admiração?

Silvares disse...

é mais uma confirmação!

Anónimo disse...

Silvares, antes era só o vasto e preciso conhecimento de artes, mas agora é muito mais, é um texto, uma prosa de profundidade humanista, social e economica, que me encanta a cada dia! Ao meu Mestre um singelos TOMATES.
E não me queira mal pela simplicidade do Prêmio.

Forte abraço.

Silvares disse...

Eduardo, deixas-me corado como um tomate!!!
:-)