Esta distorção da Democracia leva-nos a criar maiorias absolutas e, apesar de tudo o que aconteceu quando Cavaco foi dono e senhor do país, insistimos e agora temos Sócrates no papel de tiranete democraticamente eleito. As maiorias absolutas em Portugal têm sido desgraçadas mas continuamos a preferi-las e, de certo modo, a acarinhá-las. São monstruosidades mas são nossas e, como tal, amamo-las como se ama um filho que tem duas cabeças e nos morde sempre que tentamos ensinar-lhe a comer com as bocas fechadas.
Com maioria absoluta na Assembleia temos tido primeiros ministros que se tornam em caricaturas de monarcas absolutistas. Eles têm uma visão para o país e estão determinados a torná-la realidade, dê lá por onde der, contra e tudo e contra todos, se necessário fôr, mesmo contra aqueles que votaram e lhes deram o poder.
Basta passarmos os olhos pelo programa eleitoral que levou Sócrates a este poder (quase) absoluto para percebermos como ser eleito é uma espécie de atestado de ininputabilidade, de tal forma esse programa e as promessas nele contidas são imediatamente esquecidas e distorcidas.
Governar deveria ser um acto praticado com senso e não uma folia libertina de medidas quase pornográficas e desatinadas como as que vemos serem tomadas com demasiada frequência pelos nossos governantes.
Qual a lição que poderemos estudar? Talvez devamos reflectir sobre a bondade destas maiorias absolutas. Talvez devamos pensar que é melhor repartir o poder do que concentrá-lo nas mãos de uma única força partidária. Talvez... uma democracia não pode ser governada por déspotas (mal) iluminados sob o risco de se tornar uma ditadura de merda.
Esta afirmação leva-me a concluir que, no caso do Portugal actual, ou não estamos a viver uma democracia ou estamos a viver uma merda de ditadura, o que acaba por ser a mesma coisa e o seu contrário. Isto não faz qualquer sentido mas não importa, Portugal também não é nenhum modelo de objectividade e, no entanto, aí está em grande estilo, preparando-se para assumir a presidência rotativa da União Europeia.
Caramba, gostava mesmo de viver num país democrático. Há por aí algum? Aceito opiniões e agradeço pistas que me permitam encontrar um país verdadeiramente democrático. Quem sabe poderei emigrar!
8 comentários:
A democracia ainda é o melhor regime!
Boa semana!
mas o que é uma democracia? o direito de opinião não é unívoco, certo? acho eu que implicará saber ouvir outras opinioes, discutir pontos de vista, reorientar decisões, opinioes... , sei lá, tese, antítese, síntese...A maioria absoluta não implica e muito menos permite deixar de ouvir ou de respeitar outros pontos de vista.
Acho que o problema portugues é mesmo um problema de solidão (será do fado? ou este é já consequência?) !!! Falamos sozinhos, temos medo das inquisições e outros tipos de policiamento ao pensamento livre (ou à liberdade de pensamento...) e quando chega o momento da intervenção, da exposiçao, da assunção... ou vai `a bruta ou se não há maioria entende-se que não será posível fazer nada e fica tudo em águas de bacalhau (são frias, não são?)E como consequência dos choques/confrontos ficam os solilóquios traumatizados e proliferam os autismos.
Só vejo uma saída: aprender a falar e a ouvir, aprender a trabalhar em equipa e não dar campo ao cepticismo! não dar mesmo!! E, pá, não emigres, por favor, aqui é que se está bem, embora se possa vir a estar muito melhor, de acordo!!!
E não satisfeitos com as possibilidades de obter maiorias absolutas que o actual sistema eleitoral tem permitido, os partidos do centrão, preocupados com a “governabilidade” de Portugal (ou das suas cortes?), querem alterar o sistema de forma a permitir mais facilmente obter o poder absoluto, com claro prejuízo da diversidade de opinião e, para mim, da Democracia, com “D” grande.
Querem um sistema mais próximo do francês, em que nas últimas eleições, a UMP e aliados com 43% de resultado na primeira volta, se arriscava a ter 80% do parlamento, ficou-se pelos 59%.
Assim se vai construindo a ”democracia”, com “d” pequeníssimo.
Como canta o outro senhor:
"A Democracia é o pior de todos os sistemas Com excepçäo de todos os outros"
Há muitos países que julgam
Que têm democracia, inclusivé
às vezes, o nosso
Mas encha-se de justiça o fosso
E erga-se a liberdade ao meio
Que só de intençöes
Está o inferno cheio
Näo há justiça sem liberdade
E o vice-versa é também verdade
E essa é a luta, no fundo
Pelos direitos humanos no mundo"
Silvares,
Muito bem observado. Também temos aqui no Brasil o mesmo problema e, creio, no mundo inteiro. Os governantes, quando assumem, cuidam logo de fazer conchavos para obter maioria e não serem impedidos de exercerem seus mandatos absolutos. Aquilo que chamamos democracia, imaginando um parlamento que favoreça ao debate, e através dele a possibilidade de melhores soluções, inexiste. Ninguém quer aperfeiçoar idéias. Querem, sim, os poderes da "realeza". Vide o nosso Chàvez, na Venezuela.
Grande abraço
Eduardo, concordo contigo. Plenamente.
Guida, é preciso aprender a debater ideias e dar o braço a torcer, pois é, só que, diz o povo que "burro velho não aprende línguas". Não quero chamar burros aos detentores do poder mas lá que têm algumas dificuldades de aprendizagem...
Olaio, a nossa "d"emocracia anda pelas ruas da amargura mas, como se diz mais acima, ainda vai sendo o melhor sistema, está é desvirtuado!
Célia, os Direitos Humanos não andam lá muito bem cuidados. Algumas democracias têm-nos tratado com pouco carinho.
Lord, é isso mesmo "imaginamos" parlamentos onde se possa fazer o trabalho da "D"emocracia mas a realidade teima em fazer-nos duvidar que seja possível!
O Integracionismo a que Portugal está sujeito, reduz ao mínimo os instrumentos políticos a utilizar. Por esse motivo os programas dos dois partidos com legítimas expectativas de governar, são tão semelhantes. Nesse enquadramento, acho a maioria absoluta, de um ou de outro, um mal menor. Até porque, a atitude dos que ao longo dos anos têm estado na oposição, raramente tem sido de construir programas políticos alternativos. Isso custaria muito dinheiro, daria muito trabalho, e traria poucos votos. É sempre mais eficaz, preparar eloquentes discursos de crítica oca, para transmissão no jornal das oito. Mesmo que tais discursos colidam com iguais medidas que o mesmo partido tomou quando esteve no governo.
Algo vai mal no "reino" de Portugal. Alguma vez algo foi bem?
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