quinta-feira, maio 17, 2007

Reformar a Reforma

Ele há coisas do arco da velha! Coisas que acontecem de modo tão abrupto e inesperado que parecem saídas de um conto absurdo ou da tola de um maluquinho qualquer a gozar férias vitalícias num hospício do Estado.

Em matéria de Educação, no nosso querido Portugalzinho, o hospício é o Ministério e, ainda assim, a nossa sorte é que os locatários não estão lá por toda a vida, antes se sucedem a um ritmo cadenciado de acordo com os ciclos políticos ditados nos actos eleitorais.

Cada novo titular da pasta costuma vir com ímpetos reformistas, ideias iluminadas por ciência certa e espírito arguto, características próprias dos génios e dos predestinados. Vai daí encomendam estudos, rodeiam-se das mais caras luminárias que possam encontrar em solo pátrio e, todos juntos, cozinham novas reformas, planos infalíveis e decretam.

Todos e cada um deles está firmemente convencido que conhece a natureza da maleita que emperra sistemáticamente o futuro de sucessivas gerações de portugueses e lhes passa certificados das mais variadas habilitações que mais não são que papeis vazios de sentido, sem qualquer significado.

A última Reforma do Ensino Secundário foi aprovada e despachada pelo ex-ministro David Justino no longínquo ano lectivo de 2004/2005. Apesar de se terem levantado e feito ouvir as mais variadas vozes entre os actores do sistema educativo, alertando para os erros crassos e evidentes que a dita Reforma trazia no seu ventre, o Ministro, animado pelo sopro da suprema visão que lhe toldava a vista, fez ouvidos de mercador e a coisa avançou apesar de todos os defeitos que lhe eram apontados.

Nós, meros professores, reles servidores das luminárias de serviço, tivemos de acatar as ordens e trabalhar sobre premissas que sabíamos de antemão serem ridículas e fruto de uma vaidade soberba sem consistência nem razão.

Agora, volvidos dois anos, um Grupo de Avaliação e Acompanhamento da Reforma, descobriu-lhe mais incongruências que no discurso do Chapeleiro Louco. Então não é que a Reforma está a precisar de... outra Reforma!!?? E pronto, lá vêm novas ordens e desordens, virar à esquerda, travar à direita, fazer marcha-atrás ganhando balanço para um salto em frente. Adivinha-se novo trambolhão mas que importa isso? Esta Ministra talvez já lá não esteja quando for preciso concluir que afinal continua tudo errado, que as coisas assim não fazem qualquer sentido. O problema passará para outro que não ela.
Nós, os professores que não estamos apenas a aquecer o lugar e fazemos disto a nossa profissão, teremos de engolir uma e outra vez este veneno que nos põem à frente do nariz garantindo-nos que se trata do mais fino néctar.É veneno que não mata... mas amolenta pra caraças!!!

4 comentários:

Lord Broken Pottery disse...

Silvares,
Muitas vezes, lendo os textos que escreves, me confundo. Ou Portugal é aqui, ou o Brasil é aí. Incrível como somos um só povo, uma só nação e, infelizmente, um só governo.
Grande abraço

Silvares disse...

Como disse Fernando Pessoa "A minha pátria é a língua portuguesa". Essa língua é a NOSSA pátria. Nada a fazer quanto a isso. Tudo a fazer por isso mesmo.
:-)
Não há que desanimar. Ainda havemos de lá chegar, seja onde for!

Anónimo disse...

Eu ao ler seu texto vim para os comentários exatamente com a mesma impressão a que se refere o Lord. Tudo igual. Ridiculamente igual. Não desanimar? Mas vamos chegar a onde?

Silvares disse...

Onde podemos chegar não sei. Mas sei de onde quero sair!
:-)