Afinal de que falamos nós quando falamos de "bom tempo"? É o tempo do solinho e das areias da praia, das mangas-curtas e dos óculos escuros? Quando vemos sol forte pela manhã já ganhámos o dia! É o bom tempo em todo o seu esplendor. Mesmo que as pessoas continuem a ser tratadas como montes de merda com 2 olhitos e que o trabalho seja visto como um mal a suportar e não se dê o mínimo valor ao esforço de quem o faz. Mesmo que os tiranetes de opereta se riam do alto das suas barrigas ou os cães vadios continuem a ganir e a rosnar pelos cantos da cidade, haja sol, temos bom tempo.
Ou será que o "bom tempo" verdadeiro é aquele que já passou, aquele de que só restam vagas recordações que nos fazem saudosistas e desconfiados perante o momento que estamos a viver? "No meu tempo é que era!" ouço dizer e, quando volto a cabeça para encarar o autor do desabafo, vejo sempre um velho a tentar puxar para mais perto os tais "bons velhos tempos".
Pois é, é aí que reside o pormenor que faz a diferença. Quando falamos no singular e dizemos "bom tempo", é do sol que falamos. No plural, "bons tempos", é do passado, de quando fomos felizes, mesmo que isso não seja bem verdade nem tão-pouco mentira, apenas uma ilusão polida e aprimorada pela distância do Tempo (esse aí, com "T" já mete mais respeito mas não quero pensar Nele agora).
Isto a propósito de estarem a passar-se coisas incómodas e injustas e nítidamente mal intencionadas a toda a hora e momento, mesmo à frente dos olhos de todos nós. Mas, como o sol está ali mesmo a dourar a caca, nós dizemos, resignados, que está um belíssimo dia e um sol glorioso. Não está nada.
Está a ser um dia de merda!
2 comentários:
Percebo-te tão bem!!!
Não verbalizo da mesma maneira, mas sinto exactamente o mesmo, parece-me.
Queria ter alguma coisa positiva para te dizer, mas neste momento ainda não me ocorre nada. Nem hoje. E já li este post há uns dias... Pensei que já tivesse recuperado, francamente...
É. Isto anda mauzito. Sinto uma grande falta de respeito e uma indiferença quase bovina. A Escola não merecia tanta passividade nem tanta mesquinhez.
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