Afinal o capitalismo é ainda mais merdoso do que podíamos imaginar. Já se sabia que a base do sistema era a exploração do homem por seres muito parecidos com ele.
O que ainda não sabíamos era que, quando esses seres, aparentemente humanos, vêem os seus negócios correr mal, têm auxílio financeiro suportado por aqueles que são explorados. Ou seja, o mito de que o sistema capitalista se auto-regula através das sacrossantas leis da oferta e da procura não passa disso mesmo: é um mito de merda.
Os últimos acontecimentos na terra do Tio Sam põem a descoberto a careca escondida do sistema. Se os capitalistas estão a ganhar muito dinheiro o mundo está de boa saúde. Se começam a perder dinheiro o mundo está doente e são sempre os mesmos que pagam a crise.
O casamento de gosto duvidoso entre as democracias parlamentares e o capitalismo é definitivamente posto em causa. Os capitalistas sacam o dinheiro "honestamente" e põem-no a render em paraísos fiscais, enganando o sistema democrático uma vez que os lucros que obtêm não são redistribuídos, como estava claramente especificado no contrato de casamento. A democracia é parte enganada neste negócio e não tem capacidade nem autonomia suficiente para reclamar divórcio.
Nós, filhos desta união, assistimos estupidificados ao desmoronar deste matrimónio de conveniência e não conseguimos compreender como foi possível termos co-habitado o mesmo espaço, durante tanto tempo, sem que tivéssemos sequer suspeitado da infidelidade do capitalismo em relação à nossa mãe, a democracia. Quer dizer, havia por aí muitas vozes de filhos desavindos, vozes que reclamavam maior atenção ao pai, maior respeito pela mãe, mas, o capital, tudo compra, tudo alisa, tudo consegue transformar em quase nada. Umas prendas oferecidas aos filhos certos na ocasião adequada foram iludindo a maioria, ávida do amor e dos favores do pai.
Agora vamos a ver no que vai dar esta salsada. O pai anda saído de casa e a namorar com as autocracias mais a Leste ou a Oriente ou lá onde moram as suas novas namoradas. Há quem diga que vai mudar-se de vez e por completo, deixando a nossa mãe agarrada às tetas, que já não lhe interessa apesar de se mostrar tão submissa e implorar que volte, que regresse, que lhe limpa os fatos e lhe lambe as botas até elas brilharem outra vez. Mas o pai não se comove, o capitalismo é macho, a democracia é fêmea. Lá para o Oriente o pai encontrou companhia mais ambígua, meio estranha, andrógina, há quem diga. O capitalismo namora agora uma coisa com dois sexos. Ao que parece acredita ter encontrado uma cama mais macia, uma via para a felicidade mais radiosa. Bem que nos enganou. Pelo menos a todos os que acreditaram nas suas qualidades como pai de família.
Um belo filho da puta, é o que é. Mas, afinal, de que estávamos nós à espera?
17 comentários:
Nesse assunto de família, não dou palpite! Quem sou eu para julgar papai e mamãe?...
Belo texto, Silvares. Escreves muito bem, principalmente quando estás f...chateado, quero eu dizer!
No Brasil, desde sempre vê-se dinheiro público sendo injetado em bancos em defesa 'da estabilidade'.
De quem? é o que sempre perguntei. E sempre respondi: dos mesmos de sempre, os donos do maldito e assassino capital.
O capitalismo fez da democracia um filho bastardo. Mas alguém julgava outra coisa? Inventam produtos financeiros "sofisticados" que ninguém entende e acham que isto não é burla. Em vez de irem presos, recebem prémios de gestão! A pergunta é: e vale a pena ter dinheiro?
Expresso, se ele for usado para que serve, gastar, vale. No mais, não.
"money makes the world go round...
money, money, money..."
e..."dinheiro só pra gastar..."
+++mal necessário, nesta nossa sociedade capitalista. SHIT!!!
Eduardo, este casamento já era.
Roserouge, obrigado. Esta história e outras do género deixam qualquer um f... chateado. A menos que seja dos filhinhos preferidos.
Beto, o valor dinheiro é uma convenção abstracta. O bem estar das pessoas não. O bem estar das pessoas é a realidade. As duas coisas andam desencaixadas.
Jorge, parece-me que estamos a chegar ao fim de alguma coisa ou, pelo menos, iremos em breve assistir a transformações significativas na organização global.
MUMIA, o money faz com que muito boa gente deixe de o ser.
A roda...a roda ...sempre a roda...
rui: outra grande verdade...a GANÂNCIA!!!
jo-zéi
rui: devias postar aqui a imagem(e a frase) do Groucho Marx que postei na MUMIA...para a malta comentar.
EINNN???
Silvares,
Sei não. O capitalismo é meio gato, tem sete fôlegos. É exímio nos jeitinhos. Faz o que precisar em termos de amor. Namora, transa, casa, separa, amiga, trai, é traído, dá e recebe. Goza por todos os poros e não está nem aí. Você tem razão no final. O que se esperar de quem não tem caráter?
Grande abraço
Muito consistente o comentário aí acima, como o post todo.
Taí... acho que sem gratidão e caráter ninguem chega a lugar algum...
Desculpa a demora e obrigadão pela visita! Um super beijo e bom resto de semana!
tudo que vai volta e eu não esperava mais nada além do que está acontecendo... está voltando.
Os capitais dão a volta no planeta muitíssimo mais rápido que os satélites em órbita.
Capitais impalpáveis, já que só trocam de mão ordens de compra/venda. Capital sem cara.
E nós, no meio dessa comunicação/negociação instantânea, ficamos a ver navios. À vela.
Ví, a roda não pára... pois não?
Jo-Zéi, o pessoal bem que pode ir até à MUMIA :-)
Lord, na verdade, que poderemos esperar a não ser aquilo que não queríamos receber?
Beto, o Lord tem um discurso bem consistente. Sempre.
Francine, volte sempre que desejar, não se sinta obrigada :-D
Alice, a esperança é sempre a última coisa a morrer mas está ficando moribunda.
Peri, e ficamos tontos. Tontinhos mesmo!
Silvares... de uma olhadinha no meu blog.
Um beijo grande!
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