A palavra "solidariedade" não passa de isso mesmo; é uma palavra. Como tal ela ressoa no espaço quando a dizemos, ecoa nos nossos corpos, bem fundo no interior da caverna craniana. O que surge lá no fundo do nosso ser quando a ouvimos, isso é o mais complicado de explicar.
Por ser uma palavra, corre o risco de nada significar, de se tornar banal, uma coisa bonita para mostrar, como uma florzinha na lapela ou uma foto de família sorridente guardada na carteira. "Está a ver? Essa é a minha filha e aquela a minha mulher. Não são lindas?" São lindas? São maravilhosas, caramba! São, de longe, o melhor que o mundo foi capaz de me proporcionar. Mas a experiência de tanta felicidade é tão completa e individual que estou a falar de uma beleza que é só minha. Não há a mínima possibilidade de passar isso a outra pessoa por muito que essa pessoa me possa confortar afirmando que "São muito bonitas." Claro que são muito bonitas! Eu sei, estou seguro disso, amo-as tanto que nem sequer sinto o elogio, estou longe, não o ouço.
A imagem que ontem postei, "Sólido e solidário" tem um significado profundo no meu íntimo. Um significado que ainda não fui capaz de sintetizar na totalidade. Cada leitura que foi proposta pelos visitantes nos respectivos comentários é um reflexo dessa imagem. Ela funciona como um espelho onde cada um vê aquilo que tem dentro de si ou aquilo que o mundo, num determinado momento, parece significar, potenciado pela leitura da imagem.
Eu tenho a minha leitura. Nada me garante que seja a leitura correcta. Na verdade não acredito que exista uma leitura correcta. Existem tantas leituras correctas quanto as que forem feitas com honestidade. A leitura de uma imagem é uma questão pessoal, uma coisa que depende mais do leitor que do criador da imagem.
Acredito que esta é a essência da arte enquanto processo e meio de comunicação. O criador solta imagens nesse mundo e elas tornam-se coisas selvagens e tão livres... elas transformam-se naquilo que oferecem a quem as vê. Isso é beleza. Mesmo que possa não parecer.
9 comentários:
Concordo!
E tenho certeza de que frustrou quem queria uma definição exata e precisa do criador!
Acontece!
Forte abraço
Eduardo, você compreendeu a coisa perfeitamente. Está registado no Carapau Staline! Obrigado pela disponibilidade que revela para tentar encontrar um sentido nas imagens. Agradeço em nome de um mundo mais... solidário!
:-)
E mais: se olharmos pra uma mesma pedra posta em um gramado, eu posso ver uma coisa e você outra completamente diferente, apasar do gramado e da pedra serem o mesmo.
O que um artista faz não é o que os outros vêem. Sorte nossa.
Parabéns, Silvares, por estes posts.
Também concordo. Maso autor tem, teoricamente, uma base expressionista, mesmo que subconsciente.
Beto, há uma dimensão individual que determina a leitura da realidade. Isso é um facto. Mas a realidade, em princípio, é uma só. Isso será outro facto. Daí que se trone algo complexo definir "a" realidade.
Obrigado.
O autor pode não ter uma ideia definida à partida, pode estar a procurar, ele próprio, um sentido para o resultado do seu trabalho. Muitas vezes (como neste caso) o significado último, se é que isso existe, da imagem criada só vai ganhando contornos mais definidos "a posteriori".
Levo-te ...em parte...
????
Olá Silvares, já me aconteceu ver uma imagem, estar a anos luz daquilo que o autor me (nos) quer mostrar, com palavras ser orientada e descobrir que o que ele mostra é genial, muito melhor do que estava a ver.
(escrever é tortura ;-) com língua de fora )
Claire, as imagens são mundos infinitos que os nossos olhos mal alcançam. Mas já o nosso cérebro...
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