sábado, setembro 27, 2008

Morreu o Homem Novo

A notícia da morte de Paul Newman não surpreende. Ele desistiu do tratamento de quimioterapia com que tentava debelar um cancro no pulmão para descansar na paz da sua casa enquanto esperava a visita derradeira da dama da gadanha. E pronto. Já está.
É um pouco estranho quando morre um ícone do cinema. Ainda ontem milhões de pessoas o terão visto em diferentes filmes e em diferentes situações. Em casa, num cinema de reprise, com 30 anos, 50, 60, um Paul Newman representando várias idades da existência humana, numa aparente indeferença para com o passar do tempo. Agora está morto. No mundo real está morto. No mundo virtual permanece jovem ou nem por isso. Mas permanece.
Seguem-se os habituais exageros post-mortem. Toda a gente vai descobrir como ele sempre foi adorável, admirável, extraordinário, um actor fora-de-série. Vai haver rios de gente a considerar uma injustiça ter recebido um único Oscar em tão longa carreira. Vai haver montanhas de gente a recordar episódios em que o velho Paul protagonizou alguma situação picaresca. A morte santifica-nos a quase todos. Um mar de gente nos ama depois de morrermos.
Newman (Homem Novo) era uma figura carismática. Nem o envelhecimento lhe retirou aquele aspecto digno e galante que foi a sua imagem de marca. Um tipo duro, com um queixo perfeito para enfiar um par de sopapos e uma boca rasgada, óptima para sorrisos enigmáticos, trocistas de preferência. O olhar não deixou de ser azul mas a doença retirou-lhe fulgor. É estranho como a vida tantas vezes se apaga no olhar das pessoas.
Descansa em paz, Homem Novo, se é que a morte traz algum descanso.

11 comentários:

Anónimo disse...

Rest in Peace.

Jo-zéi F. disse...

PAUL NEWMAN is dead---83.

Ví Leardi disse...

Acho que o olhar se apaga conforme a idade avança...não necessáriamente por uma doença ...alguma coisa vai morrendo aos poucos... e os olhos não enganam nunca !
Naõ se fazem mais como ele...O bom é saber que para nós os apaixonados por cinema...não morrerá nunca.
Quanto a Mamma Mia...eu previa,voce nao é público para ele...mas...te asseguro, a alegria nele contida é para todos.
Bj

MoiMêMê disse...

A morte "santifica"?

Beto Canales disse...

Tem pessoas que não morrem, vão embora... este é um.

Silvares disse...

Roserouge, amen.

Jo-Zéi, that's it.

Ví, há algumas pessoas (talvez raras) nas quais o olhar se mantém luminoso apesar das rugas. E depois é como o Beto diz no comentário dele "há pessoas que não morrem, vão embora". De vez em quando fazem-nos visita.
Quanto ao "Mamma Mia", acredito em tudo o que você diz.

Célia, não há santos em vida, só depois da morte. É uma questão de segurança, acho eu. Um santo vivo é um perigo para a ordem pública!

Beto, concordo plenamente.

Alice Salles disse...

Eu creio que pessoas que mantém sua "vida" fora da morte, atores, artistas de todos os tipos, escritores etc, snunca terão descanso. É como se os evocassem (vixa essa palavra tá certa?) cada vez que chamassem sua memória de volta... algo deles ficam, e para quem busca vida eterna isso é o que há... para quem quer largar mão, já não...

MUMIA disse...

entrou directamente na "sala" dos Mitos.
ETERNIDADE ???
*_*

Jorge Pinheiro disse...

É sempre bom a redenção depois da morte. É a maneira que encontramos de apagar os defeitos que, afinal, todos temos.

Anónimo disse...

Silvares, espreita lá o Absolutely. Para quem aprendeu há umas duas horas atrás até já fiz umas gracinhas.

Silvares disse...

Alice, há uma frase que diz que "há vidas que a morte não apaga", esse é um caso assim.

MUMIA, a eternidade que durar a humanidade ou, pelo menos, a memória desta época.

Jorge, podes crer. "Everybody loves you when you're dead", como diz o tema dos Sranglers.

Roserouge, e como se vai até ao Absolutely?