sexta-feira, setembro 05, 2008

Desencontro eterno?

Li hoje uma entrevista com o senhor da foto, Gianfranco Ravasi, ministro do Vaticano para a cultura. Não podia imaginar tal personagem, mas, afinal, o Vaticano é um Estado, não é? É natural que tenha ministros que, além do ministério divino, se dediquem a outros, bem mais terrenos.
A ideia mais forte da conversa era o desejo manifestado por Gianfranco de fazer com que os grandes artistas contemporâneos se interessem por temas religiosos. Uma ideia interessante, sem sombra para dúvidas.
Monsenhor Ravasi recorda a grande tradição da arte europeia e a sua contribuição para a expansão do cristianismo, primeiro, e do catolicismo, um pouco depois. O discurso é um tanto desajeitado, no que à produção artística diz respeito, e baseia-se numa estranha inocência, como se o divórcio que actualmente se verifica entre a arte e a igreja fosse resultado de uma espécie de amnésia que tivesse atacado um lado e outro.
É evidente que, durante séculos, nesta velha Europa, a esmagadora maioria das obras de arte foram de inspiração religiosa. Eu diria antes que o dinheirinho da igreja inspirou muito boa gente. Os artistas ou representavam cenas inspiradas nos Evangelhos ou... nem sequer podiam trabalhar. Monopólios...
O problema que monsenhor Ravasi prefere ignorar é que os artistas contemporâneos são livres e raramente temem as chamas do inferno. Além de que há muitos chineses e indianos cheios de papel e prontos a investir balúrdios em obras não-religiosas. Haja dinheiro e os grandes artistas depressa se interessarão de novo pela Palavra.
"É a Economia, estúpido!" como dizia o outro,

12 comentários:

Jorge Pinheiro disse...

... E depois ainda há o "sapo"!

Anónimo disse...

Rui: se a Igreja pagasse bempoderíamos pintar uns santinhos, mas contemporâneos, assim como nas tuas pinturas.Só que depois Não os expunham nas Igrejas, abriam um Museu...
digo eu, para rimar.

Anónimo disse...

Não tenho nada contra os Padrecos(???).
Até andei numa Escola dos Salesianos(padres), para pobrezinhos.
Agora aquilo é só a pagantes e bem pagantes. A peso de dinheiro.

Sinal dos tempos---como cantou o PRINCE(the KING).
eheheheh...

Alice Salles disse...

Adoro as questões que você coloca aqui no seu blog...

Beto Canales disse...

A igreja é perigosa, ela tem dinheiro e poder para corromper metade do planeta. O melhor pra todos é não misturar religião com nada. Todos exceto "eles".

Beto Canales disse...

E pensei que a exposição fosse esta semana. Boa sorte e boas vendas semana que vem.
Já tem preço o meu preferido?

Anónimo disse...

Dominus et vobiscum !

A decadência da arte sacra é sensível lá no Museu Vaticano, na ala dita moderna, dá até arrepios passar ali depois de sair da Capela Sistina.
Monsenhor Ravasi terá uma tarefa árdua pela frente.

Esse é um aspecto bom da religião: só uma religião, muita fé e pouco dinheiro para conseguir a produção artística inigualável que a Igreja Católica esuas correlatas conseguiram.

Anónimo disse...

peri: é bem verdade, a Igreja sempre foi o maior Mecenas dos Artistas.
E as Grandes obras de grandes artistas(principalmente na Idade Média)não lhe faltam.

Silvares disse...

Jorge, o sapo é uma espinha cravada na garganta do Papa e dos fiéis lá do sítio. Se não tivessem dito nada ninguém ligava ao icho. Ao fazerem escândalo... deu a volta ao mundo em apenas um dia.

Jo-Zéi, os meus santinhos não são coisa de igreja. Na verdade nem sei de onde serão tais coisas!
:-)

Alice, obrigado!

Beto, quer-me parecer que já foram bem mais poderosos, lá os manda-chuvas da Igreja. Estão em perda de poder uniformaemente acelerada. Um dia batem no fundo. Não sei se vamos ver mas os nossos filhos têm uma boa hipótese. Agora estou armado em profeta! O seu preferido não vai entrar nesta exposição. Faz parte de um painel que irei expor em Outubro. Ainda faltam uns dias...

Peri, durante séculos só havia igreja para os antepassados dos arquitectos (construtores de catedrais e outros homens com qualidades extraordinárias em termos de projecto). Um catedral (ou apenas uma igrejazinha) implicava ainda pintura, escultura, e todo o tipo de artes que o dinheiro podia comprar e a devoção dos próprios artisatas proporcionava.

Como diz o Jo-Zéi, gandas mecenas (eles foram).

MUMIA disse...

Os outros artistas que não estavam ligados à Igreja, deveriam morrer à fome. Sem encomendas...

Silvares disse...

Não havia outros artistas. Não tinham razão de existir nem havia outro tipo de arte que não fosse religiosa.

Jo-zéi F. disse...

Pois, ao fim e ao cabo para que serviriam outras "borradas".
Como uma paisagem, ou uma mesa com frutas, ou um retrato(???), ou um cão...
*_*