As eleições timorenses para a presidência da república decorreram ontem. 8 candidatos apresentaram-se ao eleitorado que, segundo rezam as crónicas, acorreu em massa às mesas de voto.
Apesar de toda a confusão e violência, os timorenses agarram-se ao voto com a convicção de ser esta a única forma de poderem participar na mudança das condições de vida miseráveis que continuam a suportar.
Os textos de Paulo Moura nas páginas do Público têm dado imagens fortíssimas do que por ali vem acontecendo. Numa escrita límpida e directa, Paulo Moura consegue levar o leitor num vôo imediato até Díli e colocá-lo cara-a-cara com os eleitores que aguardam pacientemente a sua vez nas longas filas das assembleias de voto.
"Para milhares de timorenses, votar é a coisa mais séria do mundo. Por todo o país, das ruas imundas de Díli às aldeias isoladas das montanhas, esperaram horas ao sol, em filas intermináveis."
A esperança que sustenta o acto cívico dos timorenses há muito que desapareceu de entre nós, portugueses. As taxas de abstenção em actos eleitorais no nosso país são de fazer corar um cadáver. Em Portugal e no resto dos países da União Europeia. Comparada com a dos timorenses, a nossa fé nas virtudes do sistema democrático há muito que se perdeu, algures entre um passeio ao centro comercial e uma tarde ensolarada nas areias da praia.
Não deixa de ser comovente verificar que, no início, a Democracia é capaz de ser encantadora.
"Em cinco anos de independência [os timorenses] não vislumbraram uma única razão para acreditar na democracia. Os líderes que elegeram deixaram empobrecer ainda mais aquele que já era um dos países mais pobres do mundo. Depois lançaram-no na violência. Por fim chamaram as forças estrangeiras para evitar o massacre do país onde 200 mil pessoas morreram para o libertar de forças estrangeiras."
Mesmo assim e apesar de tudo, ontem lá estiveram, aos milhares. E votaram.
O mínimo que se exige é que o processo seja limpo e o vencedor seja aquele que, realmente, mais votos recolheu.
"Quando fecharam as urnas, em muitas assembleias os delegados vieram para as ruas contar os votos, para que todos vissem como o faziam seriamente. «O voto é a coisa mais séria do mundo», disse ao Público um homem descalço e desdentado vestindo uma camisa rota. E vota em quem? «Secreto»."
Depois disto... haja fé e Deus os livre de (mais) um banho de sangue.
2 comentários:
Sem favor algum acabo de indicar seu blog como um dos 5 melhores da blogosfera por mim frequentada! Parabéns!
Caramba Eduardo, fico sem palavras. Posso apenas agradecer. Sinceramente.
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