A Arte, assim escrita com "A" grande e pomposo, é coisa que não faz sentido. O "A" afasta a coisa da gente. Faz do Artista um gajo estranho quando podia ser mais simplesmente um artista, com um "a" destes. Sempre que um simples "a"rtista se arvora em "A"rtista, temos o caldo entornado e entramos num caminho sinuoso que leva frequentemente a becos sem saída nem horizontes. É como se enfiássemos a cabeça num saco de plástico opaco que serviu para transportar um quilo de sardinhas. Cheira mal e vê-se pouca coisa. O "A"rtista é um produto da sociedade de consumo, um excedente da vacuidade gerada pela perspectiva do lucro fácil e desmedido. Nem Picasso escapou (ele que foi um dos maiores "a"rtistas de todos os tempos acabou a brincar aos "A"rtistas). Salvador Dali, por exemplo, foi um miserável "A"rtista. Em oposição, e para clarificar o que quero dizer com esta patranha toda, Van Gogh foi o maior dos "a"rtistas. Está claro? Talvez esteja, o que é que isto interessa afinal?
Na minha óptica pessoal e particular interessa se quisermos clarificar o que é um artista, simplesmente, sem "A" nem "a" a rotular as personagens e, mais interessante (talvez mesmo mais importante), se quisermos clarificar o seu papel no teatro social. Um artista deve reflectir sobre o mundo que o rodeia na tentativa de influenciar uma mudança de perspectiva nos espectadores que contactarem a sua arte. O artista não se limita a lamber o umbigo, isso é coisa de "A"rtista.
Eu sei que isto soa a coisa do passado. Soa a realismo oitocentista, artistas engajados, utopias socialistas, operários miseráveis e capitalistas barrigudos de cartola e havano ao canto da boca. Sei que isto soa a coisa gasta, moralismo barato e barba por fazer de propósito para parecer um gajo de esquerda. Pois soa. Pois é. E depois?
8 comentários:
Concordo. Tanto assim que já levei para colocar no Varal....
Abçs
PS- Estou pensando em convida-lo para meu EDITORIALISTA!
(;-))
:-)
Esta questão merece maior reflexão. Como esta noite irei participar em "A Arte Fala" tenho tentado agitar a minha própria consciência.
Um abraço.
Um tema e tanto!!!!
um processo de auto-conhecimento entre o poder da mente e o poder do olho que lutam para tornarem-se um só.
bjs.
Ju gioli
O olhar é como uma torneirinha a jorrar sobre a mente sequiosa!
:-)
Olá Silvares
Estás a silvares, contra as artes e os artistas, porque,?
Haverá sempre os marruás,haverá os fracos de espírito os sem agudeza.
Pensar, buscar as dúvidas, encontrar as incertezas,exercitar o seu oficio é esse o artista.
Encontrar-se é para poucos e muitos são os perdidos.
Todos fazem os seus mapas, Upicinius de Canistri fez os dele, se cada um exercer o seu ofício para sua a maior clareza nas explicão de suas dúvidas, mais fácil será o entendimento, pelo valor da questão estudada.Isso é para poucos.
Silvares, chego meio atrasado, mas quero deixar minha colherada nisso.
Eu, muitas vezes fico a me perguntar que tipo de arte estão nos apresentando!
Tanto nas plásticas, como no teatro, no cinema e outras mais, vejo coisas que não me dizem nada e são o maior sucesso, empurradas pelos promotores das artes, que vivem disso.
Então se forma um conceito em torno de uma manifestação artística, mesmo que não goste, você tem medo de passar por ridículo, desinformado, inculto, é o patrulhamento ideológico da arte!
Por exemplo, eu detesto a arquitetura de Oscar Niemeyer. Morei em Brasília e freqüentei os prédios de sua criação!
Só excluo a Catedral, o resto são mostrengos como o Palácio da Justiça, o Palácio do Planalto, o Palácio da Alvorada e tome palácios pelo mundo afora!
Não têm a menor funcionalidade, muitos espaços perdidos, péssimo aproveitamento da claridade natural, difícil limpeza e manutenção.
Sei que vou levar cacetada pois é politicamente correto endeusar o Niemeyer.
Dane-se o patrulhamento, não sou obrigado a gostar do que não gosto!
Abraço
Ola, Santilli, qual o que.
Não há o que temer, o O.N. claro que fez porcarias, pensar que tudo o que ele fez é o máximo, nada disso.
V. viveu em Brasília e fui usuário dos espaços,portanto v. sabe o que está sentido.
Sobre as artes em geral, devemos estar atentos para saber o que é bom e tem futuro.Arte é um produto como outro qualquer, tem o seus objetivos comerciais bons ou maus.
Eu não entendo nada de pagode, detesto e jamais comprei o cd disso.Agora há turma que gosta, investe nesse mercado e vai em frente.
ab.
Amigos, este post já está um bocado esquecido, sem dúvida, por isso digo apenas que a acredito na afirmação do meu mestre E.H.Gombrich (que nunca vi mas conheci lendo a sua obra): Arte não existe o que existe são artistas! Qualquer coisa assim. Isto leva-nos noutra direcção e a discussão passa para outro nível.
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