sexta-feira, julho 27, 2007

Haja paciência

Que Hergé nunca se distinguiu por ser um autor políticamente correcto não é de admirar pois a sua obra foi maioritáriamente produzida e editada numa época em que esse conceito não existia nem faria qualquer sentido.
Tintin nasceu numa época em que havia pretos e brancos, comunistas e fascistas e outras classificações cruas e cruéis. O colonialismo ainda não era encarado como um crime e o saque dos países africanos era feito com maior descaramento do que actualmente. Os europeus estavam convencidos da sua superioridade absoluta e dominadora. Muitas das aventuras de Tintin reflectem o estado do mundo na época em que foram criadas. Veja-se Tintin no país dos Sovietes, Tintin no Tibete ou mesmo Tintin na América, para citar apenas alguns exemplos reveladores da visão maniqueísta que sempre caracterizou a obra de Hergé.
A actual polémica relacionada com Tintin no Congo mostra como a hipocrisia vai ganhando terreno no mundo ocidental. Em Inglaterra e nos Estados Unidos esta aventura de Tintin vai ser colocada na secção de adultos de algumas cadeias de livrarias (será em todas?) por "poder ser considerado ofensivo por alguns clientes". Pobres crianças que se poderão chocar com algumas passagens "indecentes" desta BD. Estas mesmas crianças são potenciais espectadoras de séries televisivas como os geniais Simpsons ou o abrutalhado Family Guy (http://pt.wikipedia.org/wiki/Family_Guy), brincam possivelmente com jogos como Grand Theft Auto (http://pt.wikipedia.org/wiki/Grand_Theft_Auto) e não perdem um programa de Wrestling na TV sem que ninguém trema por um momento que seja. Como pode Tintin no Congo ser considerado ofensivo num mundo como este? Posso concordar que se trata de uma BD de fraca qualidade e bastante desinteressante. O problema é que, pelo facto de haver boas histórias de Tintin, a crítica tende a meter tudo no mesmo saco e pode pensar-se que todas as obras de Hergé são primas. Mas não, há por ali muita obra menor. A hipocrisia não tem limites.
Para manter o nível atrevo-me a sugerir que, sempre que surjam nos noticiários personagens como Bush ou Blair, as crianças sejam retiradas da sala ou se lhes tapem os olhos e os ouvidos por uma questão de sanidade geral.
Haja paciência.

5 comentários:

Anónimo disse...

Silvares, você ao fazer a associação de idéias disse bem: a moda do políticamente correta institucionaliza a hipocresia geral.

Jo-zéi F. disse...

pois é são esses grandes CHEFES que lixam esta porra toda...
mandam postas de bacalhau lá de cima e o pessoal que se "amanhe".
Desenrrasquem-se...(...dâ-se!).
O Hergé é un santinho no meio desta globalização...

Anónimo disse...

curiosamente, são estes primeiros tintins, no pais dos sovietes, no congo, o lotus azul..., mais "naifs", os meus favoritos.
curiosamente tambem, o tintim era publicado num suplemento infantil de um jornal de propaganda católica.

Silvares disse...

Eduardo, a hipocrisia tornou-se um modo de vida no mundo ocidental... uma maravilha tecnológica!

Jo-zei, o Hergé de santinho não teria grande coisa mas concordo contigo, entre os tubarões actuais não seria mais que uma pequena sardinha!

Fonte, quando falo em obras menores refiro-me ao conjunto; grafismo e texto. Nesses Tintins "naifs" o grafismo tem uma dimensão arrasadora, reconheço, mas o argumento (se assim lhe podemos chamar) é mais para o mal-cheiroso. As histórias arrastam-se e mesmo as sequências das vnhetas têm falhas evidentes. A perfeição narrativa de umas "jóias de Castafiore" ou de um "Tintin e os Pícaros" estão na base do endeusamento de Hergé. Abraço.

Jo-zéi F. disse...

R.G. TINHA UMAS AMIZADES UM BOCADO ESQUISITAS...CHEFES DE ESTADO DAS DIREITAS(FACHOS), COMO O SEU AMIGO SALAZAR.
GOSTOS ESQUISITOS...OU MAL DAQUELES TEMPOS.