O interesse redobrado nos combustíveis "verdes" tem enchido as manchetes dos jornais. Assim, à primeira vista, fica-se com a sensação de que, afinal, ainda poderá haver uma nesga de esperança para a sobrevivência do planeta Terra à nossa capacidade de destruição. A substituição dos combustíveis derivados do petróleo pelos designados biocombustíveis (propõe-se agora a designação de "agrocombustíveis" por uma questão de rigor) reduzirá a emissão de gases nocivos em percentagens estonteantes (terei lido menos 72% de CO2 ou sonhei com isso?). A camada de ozono teria a possibilidade de se refazer um pouco sem que o nosso modo de vida se alterasse substancialmente. Os agro-biocombustíveis permitiriam a manutenção dos hábitos de consumo e dos níveis de bem-estar das sociedades capitalistas (ou em vias de se tornarem nisso) sem que daí viesse grande mal ao mundo. Antes pelo contrário. Ler as tais manchetes sossega os mais cépticos e devolve um sorriso aos lábios mais maledicentes dos cérebros mais pessimistas. O paraíso na Terra é afinal uma possibilidade sem termos que deixar um planeta cadáver a pairar no universo. Ufa!
Mas, se lermos o resto das notícias, a sensação de alívio aperta-se-nos na garganta. Os preços das matérias-primas para produção dos combustíveis "verdes" tendem a aumentar tornando a vida (ainda) mais difícil para as populações dos países mais pobres. Isto numa perspectiva mais imediata. Numa perspectiva mais complexa será importante perceber de que modo o actual "equilíbrio" mundial será afectado. Como irão reagir os mercados internacionais apoiados na produção e comercialização de petróleo? Que transformações profundas e radicais se irão operar no mundo tal como o conhecemos actualmente?
A complexidade das questões expostas ultrapassa largamente a minha capacidade análise. Fico com a sensação de que a aposta nos biocombustíveis e nas energias renováveis só por si não bastarão para colocar um travão eficaz na destruição do planeta. Essas apostas só terão o efeito esperado caso sejam acompanhadas por alterações profundas nos nossos hábitos e modos de vida. Não podemos continuar a consumir recursos nos volumes actuais e pretender melhorar em simultâneo a saúde do planeta.
Assistimos aos primeiros passos numa nova direcção mas, ou modificamos radicalmente aquilo que somos ou nada disto terá valido a pena. Não precisamos só de novas fontes de energia, precisamos ainda mais de novos paradigmas civilizacionais.
Estou com a cabeça a andar à roda!
5 comentários:
Silvares, muito se poderia falar (ou escrever) sobre o tema, e certamente o faremos, mas ainda ontem a noite aqui nestes confins de mundo que é Imbituba, conversavamos entre leigos e amigos sobre o tema. Isso é o mais importante no momento. De Lisboa a Imbituba todos estão preocupados com o assunto. Esse já é , a meu ver, o primeiro passo.
Bio-deesel, certamente mais uma alternativa, mas já se sabe que o combustível do futuro, e talvez, não tão distante seja o hidrogêgio. Novamente e em novas tecnologias. Esperar para ver. Enquanto isso cada que faça a sua parte.
Sim, o tema é importante mas a coisa está brava! A nossa parte individual representa grandes mudanças na nossa vidinha... seremos capazes de mudar?
Sobre este assunto, só os questões que julgo serem de ter em conta: Recentemente no México registaram-se manifestações da população protestando contra o aumento do milho, base da tortilha que por sua vez é base da alimentação do México. Acontece que o milho que é importado dos EUA aumentou de preço devido ao seu desvio para a produção de agrocombustivel.
Ou seja, para ser viável o agrocombustivel necessita de grandes quantidades de matéria prima, o que levará ao desvio dos terrenos para a sua produção, podendo gerar conflitos com o abastecimento alimentar das populações.
Por outro lado podemos assistir a grandes extensões de terreno de monocultura, o que não sei se será o mais conveniente para o bom equilíbrio do planeta.
Isto vai criar novos tipos de problemas. A questão que coloco é: o consumo de combustíveis "verdes" serve para alguma coisa se não reduzirmos drasticamente os nossos níveis de consumo?
"Maria Luiza Rolim
Expresso
A procura dos biocombustíveis já está a encarecer o preço dos alimentos, revela um estudo divulgado hoje pela OCDE e FAO.
Um estudo divulgado hoje em Paris pela FAO – organismo das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação – e OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico, revela que a crescente demanda por biocombustíveis já está a provocar uma alteração no mercado agrícola internacional, com a consequente subida dos preços de alguns alimentos.
O prognóstico dos organismos das Nações Unidas é tornado público no mesmo dia em que Bruxelas discute as políticas de apoio aos biocombustíveis."
retirado de; http://infoalternativa.org/ecologia/ecologia064.htm
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