O mundo deve ser tenebroso aos olhos um analfabeto que desça as encostas da serra para tentar a sua sorte entre os muros da cidade.
Procurar um lugar ou um trajecto entre todas as tabuletas, sinais, avisos e outras formas gráficas de comunicação características da agitação visual da urbe deixará o nosso querido analfabeto com náuseas e a cabeça a andar à roda. Assaltado pela nostalgia do espaço familiar nas agrestes mas acolhedoras encostas repletas de calhaus e urze, o nosso amigo é levado a recordar reconfortantes conversas com as ovelhas, essas excelentes companheiras, e a singela limpidez da paisagem visual que deixou para trás.
De igual modo, um estudante sentado na sala de exame perante um teste que não é capaz de descodificar por não compreender a linguagem em que este se lhe apresenta, se sente algo perdido. Uma ligeira vertigem basta para o levar dali, a pairar num pensamento ligeiro e recordar reconfortantes conversas com amigos virtuais numa linguagem singela e límpida como um céu sem nuvens. O mundo que faz sentido e se completa em sinais descodificáveis, não o mundo escuro e frio daquele teste.
Pastor e estudante, perdidos em intrincados labirintos de sinais crípticos e significados extraterrestres, irmanados pelo mesmo doce paladar da iliteracia funcional, recordam com uma pontinha de angústia mundos onde são reis e tudo podem. Mundos que fazem sentido, onde o infinito é outra coisa que ali e agora não existem. Mas que permanecem.
6 comentários:
Silvares,
Esse seu texto faz muito sentido para mim. Freqüentemente me sinto como o pastor, ou como o estudante. Olho o mundo ao redor sem entender direito e meu pensamento passeia, vaga por sítios mais ou menos sombrios, conforme o humor do dia. Atribuo a uma dificuldade crescente de concentração. Sinto-me cada vez mais altista.
Abração
Lord, todos nos sentimos perdidos em certas situações ou em certos lugares. Mas todos temos o "nosso" lugar.
:-)
No dia 11, (vespera dos exames de 2ª fase) sem saber como, cairam-me em cima os papeis de pastor e estudante. Sobrevivi, mas as "saudades das ovelhas" só me permitiram adormecer às 5 da manhã.
Até quando vamos aguentar???
Beijos
Alice R.
Bonitas imagens! Pastor e estudantes. Somos ambos na vida. No cotidiano. Uns mais outros menos, apesar de termos nossos lugares.
Alice, a vida não se esgota na pastorícia :-) daí que se aguente isto e muito mais que venha!
Eduardo, todos somos reis nos nossos palácios virtuais!
Não é mesmo?
:-)
e deuses nesses palácios, mesmo que autistas.. é difícil por vezes ler o mundo que nos rodeia e o homem que o habita, mesmo com estudos diversos..
mas não será o pastor quem melhor lê, no fundo? interrogo-me..
abraço
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