Avaliação
Cheguei a casa vindo da extraordinária manifestação de professores que hoje voltou a encher as ruas de Lisboa. Passaram apenas oito meses sobre a manifestação anterior e a força do protesto cresceu. Cresceu na forma e na razão, uma vez que, nestes oito meses, a ineficácia do modelo de avaliação que o ministério da educação teima em remendar a cada dia que passa, se torna cada vez mais evidente aos olhos de toda a gente.
Liguei a televisão e assisti à entrevista que Maria de Lurdes Rodrigues deu no telejornal do primeiro canal. Fiquei, mais uma vez, impressionado com a prestação da senhora. O discurso de Maria de Lurdes é sempre o mesmo. Afirma e reafirma, de forma automática e cara séria, a bondade das suas propostas. Insiste que os protestos são fruto de manipulação política e que os professores não têm razão. Afirma e reafirma a necessidade de avaliar, de reformar, de transformar o sistema educativo e, nesse aspecto, estamos todos de acordo. É necessário mudar, evoluir, transformar, porque o mundo não pára e é necessário acompanhá-lo. A Escola é um reflexo do mundo que a rodeia e, como tal, precisa de reformas como de pão para a boca. Mas essas reformas têm de ser razoáveis, inteligentes, ágeis, promovidas por pessoas capazes. Não se pede a um sapateiro que desenhe o currículo de um curso de Filosofia. Por muito eficaz que o sapateiro seja na sua profissão, que consiste em remendar botas e sapatos, um curso de Filosofia por ele concebido dificilmente terá qualidade suficiente, mesmo que o sapateiro coloque nele toda a sua paixão, capacidade intelectual e conhecimento geral do mundo circundante. O que Maria de Lurdes não consegue ver é que a qualidade do trabalho do ministério a que preside está ao nível desse hipotético curso de Filosofia engendrado com a sapiência de um sapateiro.
Desde a primeira hora que o trabalho desta equipa ministerial é mau. As demonstrações de inépcia, desconhecimento geral e falta de tacto e de sensibilidade são constantes e consecutivas. Basta fazer uma pequena retrospectiva e recordar alguns episódios exemplares para constatarmos a falta de competência dos secretários de estado e de toda a babilónica estrutura do ministério da educação. O modelo de avaliação que agora se discute não é mais que a cereja no topo de um bolo podre e malcheiroso.
Este é o problema que falta equacionar. Nas discussões em torno dos problemas que fazem do nosso sistema educativo um caos, raramente se coloca a hipótese de haver inépcia pura e simples por parte do ministério. Maria de Lurdes Rodrigues reafirma constantemente a necessidade das reformas que pretende impor mas nunca pensa que essas reformas podem, pura e simplesmente, estar erradamente equacionadas e ainda pior implementadas. E é isso que se passa, na dura realidade a que ela não consegue aceder.
Seria de primordial importância avaliar o trabalho de Maria de Lurdes Rodrigues e da sua equipa do mesmo modo que se pretende avaliar o trabalho dos milhares de professores que esta tarde se manifestaram em Lisboa. Se os secretários de estado da educação tivessem de declarar à partida para o ano lectivo objectivos relacionados com o sucesso dos que se vêem obrigados a trabalhar sob a sua orientação reprovavam sem apelo nem agravo. Se tivessem de apresentar grelhas de avaliação que reflectissem as suas práticas quotidianas ou fossem obrigados a submeter as suas sessões de trabalho preparatório das políticas educativas à apreciação de peritos imparciais não tinham a mínima hipótese e seriam postos no lugar que lhes compete: o olho da rua. É isso que faz falta para podermos aspirar a melhorias no nosso sistema de ensino, falta avaliar com qualidade e rigor o trabalho do ministério porque, com um tão mau serviço prestado pela tutela, não há a mínima hipótese de conseguirmos resultados positivos.
Cheguei a casa vindo da extraordinária manifestação de professores que hoje voltou a encher as ruas de Lisboa. Passaram apenas oito meses sobre a manifestação anterior e a força do protesto cresceu. Cresceu na forma e na razão, uma vez que, nestes oito meses, a ineficácia do modelo de avaliação que o ministério da educação teima em remendar a cada dia que passa, se torna cada vez mais evidente aos olhos de toda a gente.
Liguei a televisão e assisti à entrevista que Maria de Lurdes Rodrigues deu no telejornal do primeiro canal. Fiquei, mais uma vez, impressionado com a prestação da senhora. O discurso de Maria de Lurdes é sempre o mesmo. Afirma e reafirma, de forma automática e cara séria, a bondade das suas propostas. Insiste que os protestos são fruto de manipulação política e que os professores não têm razão. Afirma e reafirma a necessidade de avaliar, de reformar, de transformar o sistema educativo e, nesse aspecto, estamos todos de acordo. É necessário mudar, evoluir, transformar, porque o mundo não pára e é necessário acompanhá-lo. A Escola é um reflexo do mundo que a rodeia e, como tal, precisa de reformas como de pão para a boca. Mas essas reformas têm de ser razoáveis, inteligentes, ágeis, promovidas por pessoas capazes. Não se pede a um sapateiro que desenhe o currículo de um curso de Filosofia. Por muito eficaz que o sapateiro seja na sua profissão, que consiste em remendar botas e sapatos, um curso de Filosofia por ele concebido dificilmente terá qualidade suficiente, mesmo que o sapateiro coloque nele toda a sua paixão, capacidade intelectual e conhecimento geral do mundo circundante. O que Maria de Lurdes não consegue ver é que a qualidade do trabalho do ministério a que preside está ao nível desse hipotético curso de Filosofia engendrado com a sapiência de um sapateiro.
Desde a primeira hora que o trabalho desta equipa ministerial é mau. As demonstrações de inépcia, desconhecimento geral e falta de tacto e de sensibilidade são constantes e consecutivas. Basta fazer uma pequena retrospectiva e recordar alguns episódios exemplares para constatarmos a falta de competência dos secretários de estado e de toda a babilónica estrutura do ministério da educação. O modelo de avaliação que agora se discute não é mais que a cereja no topo de um bolo podre e malcheiroso.
Este é o problema que falta equacionar. Nas discussões em torno dos problemas que fazem do nosso sistema educativo um caos, raramente se coloca a hipótese de haver inépcia pura e simples por parte do ministério. Maria de Lurdes Rodrigues reafirma constantemente a necessidade das reformas que pretende impor mas nunca pensa que essas reformas podem, pura e simplesmente, estar erradamente equacionadas e ainda pior implementadas. E é isso que se passa, na dura realidade a que ela não consegue aceder.
Seria de primordial importância avaliar o trabalho de Maria de Lurdes Rodrigues e da sua equipa do mesmo modo que se pretende avaliar o trabalho dos milhares de professores que esta tarde se manifestaram em Lisboa. Se os secretários de estado da educação tivessem de declarar à partida para o ano lectivo objectivos relacionados com o sucesso dos que se vêem obrigados a trabalhar sob a sua orientação reprovavam sem apelo nem agravo. Se tivessem de apresentar grelhas de avaliação que reflectissem as suas práticas quotidianas ou fossem obrigados a submeter as suas sessões de trabalho preparatório das políticas educativas à apreciação de peritos imparciais não tinham a mínima hipótese e seriam postos no lugar que lhes compete: o olho da rua. É isso que faz falta para podermos aspirar a melhorias no nosso sistema de ensino, falta avaliar com qualidade e rigor o trabalho do ministério porque, com um tão mau serviço prestado pela tutela, não há a mínima hipótese de conseguirmos resultados positivos.
Rui Silvares
Carta enviada ao Director do jornal Público editada ontem, dia 11
3 comentários:
Mas a avaliação do ministério acaba por ser feita na rua e à custa de uma confusão desmedida. Eu que não percebo nada disto, entendo ser do mais liminar bom senso substituir uma equipa que, tendo ou não razão (não discuto), não conseguiu prever este desfecho e não consegue agora dar-lhe fim.
Jorge, não foi apenas neste caso que a actual equipa ministerial deu provas de precipitação absoluta e má qualidade técnica. O trabalho realizado tem sido abaixo de mau. Mas nada parece incomodá-los, continuam a governar como se fossem iluminados por Deus e a sua razão não mereça ser posta em causa. Estamos muito mal servidos.
Do ponto de vista dos alunos, parece-me que a opinião geral é a mesma. Mais especificamente, do ponto de vista de um estudante universitário, existem situações completamente absurdas. É retirado parte do dinheiro que iria ser utilizado em investigação para ser aplicado noutros fim (que, curiosamente, nunca são especificados nos vários emails que recebo) e o material de laboratórios é cada vez menos e mais danificado. Parece-me igualmente relevante acrescentar que, sem dinheiro para a investigação, as universidades/professores/bolseiros não registam patentes e não há interesse de empresas em fazer associações. A este ritmo, não me parece viável que haja uma (parcial) independência económica do ensino superior e todas as boas coisas que daí advêm..
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