terça-feira, abril 25, 2006

Utopia

Mondrian foi um artista. Um dos mais completos.
Imaginou uma arte total, capaz de revelar aquilo que considerava a essência do mundo, uma espécie de estrutura primordial velada aos nossos olhos por uma cortina incomodativa. Procurou-a durante muito tempo escondida atrás daquilo que normalmente chamamos "verdade" ou "realidade".
A arte de Mondrian acabou por alcançar, em parte, o seu objectivo. Longe de pretender representar a Natureza (que, ao que consta, o incomodava), Mondrian acrescentou uma outra "natureza" ao mundo que nos rodeia, uma "natureza" totalmente artística logo artificial.
Na sua utopia particular, o Neoplasticismo, o pintor imaginava que a arte não podia existir separada da vida. Preconizava mesmo que uma e outra não eram mais do que partes da mesma essência, da mesma organização global. Sendo assim, viria o dia em que a nossa capacidade de organizar a vida, de organizar o espaço e a sociedade, resultaria na verdadeira Arte. O papel do artista deslocar-se-ia, o objecto de arte, tal como entendemos, tornar-se-ia obsoleto. A grande Arte seria, afinal, a nossa capacidade de construir um mundo capaz de satisfazer as nossas mais profundas necessidades. Todos seríamos artistas habitando o resultado da nossa criatividade. Em harmonia.
Mondrian morreu e nós continuamos à procura, não sabemos bem de quê.

3 comentários:

Vítor Mácula disse...

Olá, Silvares.

A ideia da matéria a trabalhar ser a existência encontra-se nos idos atenienses, de Heraclito a Diógenes (o primeiro sendo um situacionista obscuro e o segundo um accionista vienense da ascese… :)

Quanto ao dadaísta lá em cima, pode entender-se a sua acção como um trabalho de sapa negativo afim de permitir tal reapropriação positiva da vida enquanto sentido e tarefa.

Mas não há apropriações ou interpretações absolutas.

Bem, mas isto tudo e pouco ou nada, para informar que tomei a liberdade de te linkar.

Um abraço.

PS: Se soubessemos do quê, não procuraríamos...

Silvares disse...

Mondrian era um tipo com interesses no campo da religiosidade.
Foi adepto fervoroso da Teosofia, ao que parece uma seita algo obscura com origem na Rússia.
Uma personagem, este Mondrian.

Vítor Mácula disse...

Ah, Madame Blavatski, pois... Conheço muito mal a Teosofia, mas sei que estava "na berra" na primeira metade do séc. XX... Vou "investigar" melhor este Mondrian... Confesso que o seu abstraccionismo geométrico nunca me apelou muito, mas porventura apenas porque nenhuma porta de sentido com ele abri... Já tive muitas surpresas com isto da experiência estética...