Finalmente Joe Berardo e o governo da República chegaram a um acordo sobre o destino imediato da colecção de arte moderna e contemporânea que o empresário tem vindo a financiar. Durante 10 anos as obras estarão expostas no CCB e as partes interessadas, Governo e Berardo, vão disponibilizar anualmente 500 mil € cada para novas aquisições. E depois? Depois logo se verá.
Olhando para o atribulado processo que agora conhece um primeiro happy-end fica a sensação de que o negócio é extremamente vantajoso para o empresário e bastante arriscado para o Estado. Isto porque nada garante que, uma vez esgotado o prazo acordado, Berardo esteja disposto a manter a colecção por estas bandas. Fica a sensação de que se trata de um negociador algo casmurro e caprichoso, capaz de mudar de opinião com bastante facilidade, sempre de acordo com os seus interesses particulares. Qual será a sua opinião sobre a "coisa pública"?
Já me dei ao trabalho de ouvir uma ou outra entrevista deste homem que fala um português complicado e parece ter algumas dificuldades em alcançar o valor e o significado da colecção em causa. Fica a impressão que, para ele, a arte é um negócio como outro qualquer. Comprar um Picasso tem o valor aproximado de um carregamento de bananas ou uma mão cheia de pedras preciosas. Se calhar é assim mesmo. Quem tem dinheiro e o investe em artigos com valor comercial deve estar à espera do retorno devido ao risco do investimento. Só assim se enriquece, digo eu que sou um teso.
Já a Senhora Ministra exporta uma imagem estranha. Parece em stress constante, receosa de que, talvez, o céu lhe caia em cima da cabeça. Nesta aventura incerta andou de um lado para o outro e de trás veio prá frente, sempre ao sabor da inclinação do soalho. A dizer que disse, a pensar que pensou, enfim, demasiado vaga e insegura para convencer uma "elite" cultural que já a elegeu como alvo a abater, queimar, empacotar e mandar para Timbuctu em correio azul. O olhar desta senhora é inquietante. Quer-me cá parecer que uns óculos, mesmo uns de massa preta tipo Elvis Costello, lhe dariam um aspecto mais digno que aqueles olhos de boga fora de água. Lentes de contacto? Decerto, mas uma má opção, a mostrar fraco entendimento estético.
Também ela pareceu ansiosa por fechar o contrato, fosse ele qual fosse. Deu a impressão de qualquer solução que garantisse algo semelhante a sucesso seria, para ela, uma boa solução. Na minha mais que modesta perspectiva, o resultado final de toda esta história é um bom resultado para o comendador Berardo. No entanto...
O Centro Georges Pompidou ou a Tate Modern dão colorido a outras capitais europeias com colecções que são visitadas por milhares de pessoas todos os anos. O turismo cultural é um facto das modernas sociedades ocidentais. O CCB com a colecção de Berardo em "cena" poderá ombrear com estas significativas instituições e dar a Lisboa um cartaz que, no contexto actual, enriquecerá a cidade aos olhos do resto da Europa.
Haverá questões importantes por resolver (onde se poderão fazer exposições temporárias?) mas, assim à primeira vista, parece boa ideia. Dentro de dez anos voltaremos a falar.
Ai se o comendador Berardo resolver roer a corda!
2 comentários:
O CCB esteve sempre fora do circuito internacional, tirando um caso ou outro, e no meio desta história acho elevado o montante para a actualização da colecção privada. Se ao fim de 10 anos o gajo se fartar as obras compradas com o nosso dinheirinho fica com quem? Que raio de negócio. ganhámos provisoriamente um museu de arte contemporânea, mas ficámos sem espaço para as temporárias. O melhor é fazer o tal turismo cultural. Eu vou até Leon ver a Pippilotti, por cá tudo na mesma, tirando Serralves.
Sparring Partners, come back, please!
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